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A morte de Sócrates

Qua, 30/03/2011 - 02:35


“Mas eis a hora de partir: eu para morte, vós para a vida. Quem de nós segue o melhor rumo ninguém o sabe, excepto os deuses”. Sócrates – Filósofo grego (469–399 a.C.)

Sócrates foi condenado por uma acusação de "impiedade": foi acusado de ateísmo e de corromper os jovens com a sua filosofia. Mas na realidade, estas acusações encobriam ressentimentos profundos contra Sócrates por parte dos poderosos da época. Entre as acusações houve uma que se referia à introdução de novas entidades divinas negando os Deuses da pátria. Os acusadores foram: Ânito, Meleto e Lícon.
Ânito era um líder democrático, representava a classe dos políticos. Homem rico, defendia ainda os interesses dos comerciantes e industriais. Era poderoso e influente. Foi o mais importante dos acusadores.
Meleto era um poeta trágico, novo e desconhecido. Era o acusador oficial, porém nada exigia que ele como acusador oficial fosse o mais respeitável, hábil ou temível, mas somente aquele que assinava a acusação. Representava a classe dos poetas e adivinhos.
Lícon, era um retórico obscuro e o seu nome teve pouca importância e autoridade no decorrer da condenação de Sócrates. Representava a classe dos oradores e professores de retórica.
Na acusação, Meleto proferiu que: "...Sócrates é culpado do crime de não reconhecer os deuses reconhecidos pelo Estado e de introduzir divindades novas; ele é ainda culpado de corromper a juventude. Castigo pedido: a morte" .
O acusador pediu a morte e o tribunal reconheceu Sócrates culpado por maioria. Porém, a lei ateniense permitia que Sócrates propusesse uma pena inferior. Era portanto do interesse de Sócrates propor uma pena aceitável como adequada. O tribunal tinha de escolher entre a pena da sentença e a proposta pela defesa.
Então Sócrates interrogou o acusador acerca de quem é que melhorava a cidade. Este citou primeiro os juízes; depois gradualmente, acabou por dizer que todos, excepto Sócrates, melhoravam a cidade. Retorquindo, Sócrates felicitou a cidade pela sua boa sorte.
Propôs então uma multa de trinta minas. Mas o castigo era tão pequeno que o tribunal irritou-se e condenou-o à morte por maioria superior à que o declarara culpado. Sem dúvida, ele previra o resultado; é claro que não queria evitar a pena de morte por concessões que pareceriam reconhecimento da culpa.
Depois da sentença e rejeitada a alternativa da pena de 30 minas, Sócrates fez uma última exposição, legando aos juízes a responsabilidade da sua morte para a eternidade e ao mesmo tempo realizou uma profecia:
"Eu predigo-vos portanto, a vós juízes, que me fazeis morrer, que tereis de sofrer, logo após a minha morte, um castigo muito mais penoso, por Zeus, que aquele que me infligis matando-me. Acabais de condenar-me na esperança de ficardes livres de dar contas das vossas vidas; ora é exactamente o contrário que vos acontecerá, asseguro-vos (...). Pois se vós pensardes que matando as pessoas, impedireis que vos reprovem por viverem mal, estais em erro. Esta forma de se desembaraçarem daqueles que criticam não é nem muito eficaz nem muito honrosa”.
Platão considerou que Sócrates foi condenado por questões evidentemente políticas. Por seu lado, Xenofonte atribuiu a acusação a Sócrates a um facto de ordem pessoal, pelo desejo de vingança.
O propósito não era a morte de Sócrates mas sim afastá-lo de Atenas e se isso não ocorreu deveu-se à teimosia de Sócrates que em vez de escolher o exílio preferiu a proposta de uma multa irrisória, vindo a ser, assim, condenado.
Deu-se, enfim, o dia da execução. Sócrates, pediu o veneno, pegou na taça de cicuta com uma mão firme e bebeu sem desgosto nem hesitação até ao fundo.
Proferiu então as suas últimas palavras: "Críton, somos devedores de um galo a Asclépio; pois bem pagai a minha dívida, pensai nisso".
Sócrates é tido simultaneamente como o herói da linguagem e o seu mártir, no entanto, foi vencido pelos discursos dos seus acusadores.

“O triunfo de Sócrates sobre os seus juízes data do dia da sua execução" (Jean Brun).

PS: (de post scriptum, claro!) Qualquer semelhança com a realidade actual é mera coincidência.

José António Ferreira