População de Carviçais teme avanço de extractora de bagaço que já tem pareceres positivos

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Ter, 07/06/2022 - 12:04


Os pareceres positivos, ainda que condicionados, à construção de uma fábrica de extracção de bagaço na aldeia de Carviçais, no concelho de Torre de Moncorvo, estão alarmar quem ali vive

Em Julho de 2021, soube- -se que a Casa Alta- Sociedade Transformadora de Bagaços, que tem já uma empresa em Odivelas, tem interesse em também investir em Carviçais. Os terrenos já foram comprados. A primeira habitação ficará a uma distância de 900 metros e a aglomeração populacional a menos de 3 quilómetros. São conhecidos os impactos ambientais causados por extractoras espalhadas no país, desde o cheiro provocado, à nuvem criada e até à poluição das águas. No distrito de Bragança, há uma extractora de bagaço em Mirandela, mas mais perto ainda de Torre de Moncorvo, no Pocinho, concelho de Vila Nova de Foz Côa, está outra. Tendo em conta o cheiro que é notório por quem ali passa, os habitantes de Carviçais receiam que o negócio avance. Sabe-se que inicialmente o projecto apresentado teve parecer global negativo. Na reunião de Câmara de Torre de Moncorvo a 22 de Outubro de 2022, o presidente de câmara, tendo em conta o parecer emitido, referiu que o projecto como estava era “desfavorável à sua concretização”. No entanto, o projecto já foi ajustado e os pareceres, da CCDR-N e da Infra- -estruturas de Portugal, começaram a ser positivos à pretensão, quer isto dizer que, há condicionamentos, que resolvidos, dão permissão para que se avance com a construção da fábrica. Há meio ano foi criado um movimento de cidadãos que vivem ou são naturais de Carviçais que querem impedir que o projecto avance. Luís Libano, um dos representantes, disse que são poucas as respostas que têm obtido das várias entidades relativamente ao ponto em que se encontra o processo. Referiu ainda que “a partir de uma determinada fase a informação é quase inacessível”. Está já a ser feito um estudo de impacto ambiental, pela Agência Portuguesa do Ambiente, que as gentes desta aldeia temem que seja positivo, sendo uma porta escancarada para que a construção a fábrica seja mesmo feita. Luís Libano acredita mesmo que se todos os pareceres forem positivos, a câmara não terá capacidade para impedir que o processo avance. “A câmara está precisamente à espera dessas respostas para que possa no final dizer ‘bem já que todos aprovaram nós não estamos em condições de fazer o contrário’”, apontou o membro do movimento. O assunto já foi levado à Assembleia Municipal e o Partido Socialista, que é da oposição, apresentou uma moção onde é possível ler que desde que a autarquia soube do investimento, em campanha eleitoral, houve “falta de transparência” e “ziguezagues dos responsáveis autárquicos”. O socialista José Aires explicou que o objectivo da moção era pedir esclarecimentos da posição do presidente de câmara sobre o negócio e também impedir a construção da fábrica. No entanto, a moção foi chumbada. “A análise que nós fazemos a nível legal é que quem pode ou não, em última análise, deferir ou indeferir a construção da fábrica é a câmara municipal porque tem poderes legais para isso. O que nos preocupa tem sido a posição intermitente e os constantes ziguezagues que têm sido efectuados essencialmente pelo executivo, na pessoa do sr. presidente da câmara”, frisou. Mas até ao fecho desta edição do Jornal Nordeste, também não foi possível obter qualquer esclarecimento ou posição do presidente de câmara, Nuno Gonçalves, embora tenha sido contactado diversas vezes. Já o presidente da Junta de Freguesia de Carviçais, Francisco Braz, apesar de termos conseguido chegar à fala, referiu que não ia prestar declarações e que não ia acrescentar mais nada ao que tinha dito anteriormente. Sabe-se apenas que, em Janeiro, nas redes sociais da Junta de Freguesia mostrou estar contra a instalação da fábrica. Na mesma Assembleia Municipal, a bancada da coligação PSD/CDS-PP mostrou também o desagrado com a construção da fábrica. José Meneses, líder da concelhia e chefe de gabinete do presidente de câmara, explicou que nas redes sociais da concelhia também já tinha emitido um comunicado onde se pode ler que é contra a implementação da extractora, porque considera que “coloca em causa a qualidade de vida dos habitantes da freguesia, mas também da qualidade do ar, prestando assim um conjunto de desvantagens ambientais e sociais”, além de que “colocaria em causa a fruição turística da freguesia”. José Meneses disse ainda ao Jornal Nordeste que não acredita que seja dado “parecer favorável à construção naquele local”. Acrescentou ainda que a “comissão política dos partidos da coligação PSD/CDS-PP, foi junto da direcção regional de Agricultura saber qual era a opinião deles e eles foram peremptórios em informar- -nos que há dez licenças no país deste tipo de fábricas e não vão licenciar mais nenhuma”. Contactada a Casa AltaSociedade Transformadora de Bagaços, relativamente aos impactos que a extractora terá naquela região, a empresa referiu que tem em conta “as melhores práticas industriais respeitando o ambiente e as comunidades de que faz parte”, acrescentando que “cumpre escrupulosamente todas as regras e regulamentos ambientais, tanto de nível europeu como nacional”. Quanto à possível contaminação das linhas de água, explicou que não irá acontecer, porque “as lagoas de armazenamento serão impermeabilizadas por telas de polietileno, resistente a roturas, e telas de geotêxtil, para protecção mecânica”. Trata-se de investimento de cerca de 7 milhões de euros que, inicialmente, terá capacidade «para receber 70 mil toneladas de bagaço. Estima-se que poderá criar 15 postos de trabalho directo.

Jornalista: 
Ângela Pais