Suspeitos da morte de Luís Giovani Rodrigues terão agido por razões fúteis e ficam em prisão preventiva

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Ter, 21/01/2020 - 10:28


Os cinco homens que estarão envolvidos nas agressões a Luís Giovani Rodrigues, que morreu a 31 de Dezembro, dez dias depois de ser violentamente espancado em Bragança, vão aguardar julgamento em prisão preventiva.

As medidas de coacção foram conhecidas sexta- -feira, dia em que os indivíduos, sem antecedentes criminais, foram interrogados, durante sete horas, no tribunal de Bragança. No primeiro interrogatório judicial apurou-se que os agressores, com idades entre os 22 e os 35 anos, todos do concelho de Bragança, estão fortemente indiciados pelos crimes de quatro homicídios qualificados, um deles na forma consumada, dele sendo vítima o jovem cabo-verdiano de 21 anos. Os restantes na forma tentada, por agressões aos três amigos de Giovani, que o acompanhavam na noite em que ocorreram os factos. Apurou-se ainda não existirem indícios de razões de ódio racial. “A especial censurabilidade que, nesta fase indiciária, justifica a qualificação dos crimes, assenta na circunstância de os arguidos terem sido determinados nas suas acções por motivo fútil e ainda por acturem em grupo”, lê-se no comunicado do tribunal de Bragança. As cerimónias fúnebres de Giovani decorreram no sábado. Nelas participou o presidente do IPB, Orlando Rodrigues que, numa publicação na Internet, se mostrou emocionado. “No final, uma senhora abeirou-se de mim e, numa voz serena, disse-me: ‘sabe, nós vamos agora rezar pelo Geovani, mas também pelos que o mataram, para que possam voltar a ser homens’. Na verdade, o gesto heróico do Geovani, arriscando a sua própria vida para repor a paz onde se impunham a desumanidade e a violência, não pode ser em vão”.

Estará encontrado o “núcleo duro”

A Polícia Judiciária de Vila Real que, em articulação com o Ministério Público, está a investigar o caso, informou sexta-feira, de manhã, que havia detido os indivíduos, de madrugada, após buscas domiciliárias, inquirições e interrogatórios de várias pessoas, tendo sido apreendidos “elementos probatórios relevantes”. Em conferência de imprensa, horas antes dos suspeitos terem chegado ao tribunal de Bragança, o director nacional da PJ esclareceu que a investigação é “dinâmica” e que “continua”, podendo, nos próximos dias, haver mais detidos, ainda que o número de agressores, inicialmente falado, seja menor. “Não há intervenção, nos factos, de todas as pessoas que estiveram envolvidas nesta contenda”, avançou ainda, mostrando que a polícia saberá quantos agressores são, no total, e que houve gente que se limitou a assistir às agressões. Reportando-se aos sujeitos como “gente violenta”, Luís Neves disse que o “núcleo duro” que espancou os quatro jovens seriam estes cinco.

Pai de Giovani desagrado com a PSP

Joaquim Rodrigues, pai do jovem, que estava em Bragança a estudar Design de Jogos Digitais, garantiu, segundo um jornal luxemburguês, que a PSP de Bragança não o quis deixar apresentar queixa relativa à agressão. Contactado pelo jornal Nordeste, Joaquim Rodrigues confirmou que assim terá acontecido e apenas quebrou o silêncio porque ficou desagradado com o comunicado da PSP, na semana passada, em que se lia que tinham sido desenvolvidas as “diligências necessárias” desde o primeiro momento. Joaquim Rodrigues entende que as coisas não se desenrolaram bem assim já que, segundo contou, nem mesmo os jovens que acompanhavam Giovani puderam apresentar queixa no dia a seguir às agressões, tendo- -lhes sido dito que teria de ser o próprio agredido a fazê-lo. Joaquim Rodrigues garante que lhe aconteceu o mesmo quando, três dias antes do filho morrer, esteve em Bragança, tendo sido “mal recebido”. Joaquim Rodrigues terá explicado que o filho não poderia apresentar queixa porque estava em coma profundo e, nessa altura, a PSP terá acrescentado a informação à queixa apresentada pelo hospital, quando Giovani foi agredido. O comandante da PSP de Bragança, José Neto, em declarações ao Jornal Nordeste, confirmou que o pai de Giovani esteve nas instalações da polícia, depois do Natal. Houve um primeiro contacto que não terá sido o mais “assertivo” mas, depois de ter esperado cerca de um quarto de hora, foi recebido e esclarecido sobre a situação. Terá saído convencido de que as coisas esta vam a ser tratadas como deviam e que não era necessário apresentar nova queixa, por se tratar de um crime público.

Caso não reflecte ambiente de Bragança

Quarta-feira, antes das detenções, o embaixador de Cabo Verde em Portugal esteve em Bragança. Eurico Monteiro disse, na altura, que pelas “informações” que corriam, havia “sinais” de “esperança” e que queria crer que “as autoridades estão empenhadas em esclarecer, o mais rapidamente possível, a situação”, trazendo certa “serenidade”. Definindo o caso como “lamentável”, ressalvou que não vai afectar a confiança que tem trazido vários dos seus conterrâneos estudar para a cidade. “Todos reconhecem que isto não tem nada a ver com o ambiente estudantil que se vive nesta instituição”, acrescentou. O presidente da câmara de Bragança, Hernâni Dias, também se pronunciou e disse que a questão racial, como motivo para as agressões, “não fazia qualquer sentido” porque os brigantinos “têm sido um exemplo de integração da comunidade estudantil estrangeira”. Está marcada para hoje uma reunião do Conselho Municipal de Segurança, convocada pelo município de Bragança.

Pai de Giovani falou ao Nordeste:

“A detenção das cinco pessoas, apresentadas ao tribunal, a quem foram decretadas medidas de prisão preventiva, constituiu um motivo de alívio e um certo conforto. Sei que nada pode ser feito para que o meu filho Luís Giovani, possa voltar, mas fiquei um pouco confortado com esta notícia. Aguardo com muita expectativa o veredicto final do tribunal, sobre os suspeitos detidos e também espero que as investigações prossigam, para que outros elementos que se encontravam no grupo possam ser identificados e apresentados ao tribunal. O meu filho primogénito deixou-me um vazio enorme, que não sei como contornar na minha vida. Um filho que nunca se meteu em problemas, muito educado, servidor da Igreja Católica, pianista, um jovem exemplar que mexeu com Cabo Verde inteiro”.

 

Foto: O PAÍS

Jornalista: 
Carina Alves