Qua, 24/08/2022 - 15:31
Com apenas quatro anos de experiência, o alojamento Glamping Hills, em Santa Comba de Rossas, Bragança, tem a lotação esgotada desde 22 de Julho. “Só temos disponibilidade a partir de 4 de Setembro”, afirma João Madureira desta unidade que junta acampamento e glamour, num conceito ecológico e inovador. Nas seis cabanas, ou pods, podem alojar até 18 pessoas em simultâneo, dispondo de um restaurante que está também aberto ao público em geral.
Por outro lado, nos meses de Junho e Julho, a ocupação diminuiu para metade, o que justifica com o facto de haver festivais e outros eventos que as pessoas privilegiaram. Mas este mês o alojamento esteve lotado. “Agosto é um mês atípico, com muitos emigrantes também, as pessoas procuram o espaço já para férias. E temos pessoas do litoral, gente da Madeira e dos Açores e do Algarve e não tenho ninguém do Norte”, uma mudança em relação ao turista típico da região. “Acho que é um paradigma que está em mudança”, relacionado com a pandemia. “Nestes dois últimos anos, termos sabido receber e promover imenso tanto a nossa gastronomia como a cultura, como o património, foi o que fez valorizar o território. E esse retorno está a ser evidente no passa-a-palavra entre quem nos visitou e quem chega agora”, considera.
Apesar de terem já procura ao longo de vários períodos espalhados pelo ano inteiro, em épocas como a da castanha, da brama do veado, no Carnaval e Páscoa, “para já este ainda não é um turismo sustentável, há determinados períodos do ano em que a procura é menor e daí termos de aumentar a nossa capacidade para podermos ser um turismo mais sustentável a nível financeiro”, sublinhou o proprietário deste alojamento. Os gerentes da empesa turística têm, por isso, planos para expandir o projecto turístico com mais unidades. “O que queremos é que as pessoas nos visitem e que cada vez o turismo na região seja mais procurado”, refere.
Segundo João Madureira os turistas vêm para “desligar, saturados do quotidiano das grandes cidades e para descansar e relaxar”. “Costumo incentivá-los a conhecer o nosso território”, conta, sublinhando que a unidade tem como trunfo ser o primeiro glamping em Portugal certificado na área da sustentabilidade.
Na casa de Turismo Rural Curral D’Ávo, o mês de Agosto está a ser igual ao de 2019, ou seja, com muita procura e praticamente lotação completa. Já em relação aos meses de Junho e Julho “foi melhor quando comparado com os mesmos meses antes da pandemia, registando uma lotação acima dos 60%”, refere Maria João Sousa proprietária do alojamento local. “Já não vêm só para estarem isolados e sozinhos, vêm mesmo para conhecer a região, talvez porque nestes dois anos os turismos rurais do interior foram um bocadinho mais divulgados”, afirmou.
José Luís Pires tem casas de turismo rural na aldeia de Montesinho em Bragança há 24 anos. “Comecei com uma, depois fui fazendo as outras”, conta. Este ano não se queixa. Em Agosto, tem tido tudo ocupado. “Uns hóspedes saem hoje, estiveram 15 dias, amanhã saem outros que estiveram 12 e depois já há gente, outros casais que vêm. Agosto está com uma boa ocupação, vem muita gente”, conta o proprietário da Casas da Eira, de 84 anos, e que, com a mulher Constância Rodrigues, foi o primeiro a apostar no alojamento naquela aldeia típica do Parque Natural de Montesinho e em que predominam as casas recuperadas de pedra e com telhados negros de xisto. Esteve 10 anos emigrado em França e foi ele que construi ou recuperou cada uma das quatro casas de turismo rural que tem na aldeia. A aldeia tem 24 habitantes a tempo inteiro e o mesmo número de pessoas que não têm ali origem já recuperaram casas na localidade para segunda habitação. Mas além destes, a pequena localidade transforma-se por completo no Verão, mas José notou “uma falha muito grande nos últimos dois anos, só alguns conhecidos” é que se aventuraram a subir à aldeia, no entanto, fica satisfeito por agora já voltarem todo o tipo de turistas e em maior número em relação a antes da pandemia. São mais os portugueses que ficam ali hospedados, já espanhóis vêm só de passagem, conta.
Irene de Fátima Rodrigues também é habitante da aldeia e tem o alojamento de turismo Casa do Alpendre há 13 anos, com cinco quartos e capacidade para 10 pessoas. A procura este Verão tem sido melhor que nos últimos dois anos, admite, mas aqui ainda não chegam tantos hóspedes como acontecia antes da pandemia e há alguns dias vazios em Agosto. “A procura está um bocadinho menor que em 2019. Nessa altura, havia mais gente à procura, estávamos cheios e a ter de recusar reservas, agora não e ficam menos tempo que há dois anos, só uma ou duas noites”, afirma. A Irene alguns turistas dizem que Montesinho é muito longe e que os combustíveis estão muito caros e por isso a reserva nem sempre se concretiza ou a estadia é mais curta.
Também aqui são mais os turistas nacionais a procurar o alojamento, e escolhem Montesinho porque “é uma aldeia da serra, gostam do descanso, do sossego, da natureza e da paisagem”, conta Irene Rodrigues que disponibiliza bicicletas para alugar.
Luís Macieira veio do Porto para ficar alojado em Montesinho, um ritual que repete há muitos anos com a esposa, em especial “pela paz e tranquilidade” e apenas interrompido com a pandemia. “Gosto muito de ver vida selvagem e por aqui, por vários caminhos, vêem-se veados, corsos, ontem vi lobos. Gosto das pessoas daqui, que nos recebem muito bem, temos um tratamento VIP. Agora por exemplo vou levar abóboras e batatas para casa”, conta.
Como ficam alojados na aldeia há muito tempo já conhecem a maior parte da zona, mas vão “explorando alguma coisa mais e passeando”. “Às vezes estamos aqui tranquilos, o que também é bom, gostamos deste ambiente”, afirma despedindo-se dos donos da Casa da Eira com um “até à próxima”. Já Laura Oliveira, viajou da Figueira da Foz para conhecer a região. “Esta zona de Trás-os-Montes era possivelmente a única que eu não conhecia e desta vez foi”, conta.
Acabou por não ficar alojada em Montesinho, mas não deixou de conhecer aquela aldeia, tal como a de Rio de Onor. “Já fiz uma caminhada até à barragem”, afirma e admite que o que gostou mais neste território foi “da paz, sossego, o silêncio e o facto de ainda termos alguma coisa preservada em Portugal e em que possamos ainda reconhecer algo do que foi há uns tempos o Portugal mais profundo”. Depois da rápida passagem admite a possibilidade de regressar e futuramente ficar mais tempo.
Vinda de Oviedo, Espanha, Judit Táscon, já esteve em Portugal mais vezes, mas é a primeira vez que visita a zona. “Porque era uma área que não conhecíamos e ficava relativamente perto”, referiu. Ficaram alojados em Bragança e aproveitaram para conhecer a zona, tendo passado também por Podence e pelo Azibo, além do Parque Natural de Montesinho. “Estamos a gostar muito, come-se muito bem, há coisas bonitas para ver, as paisagens os povos, a tranquilidade que há aqui”, referiu. David Sanz, de Valladolid, veio ter a Montesinho por referências de amigos que já conheciam. “É uma povoação muito bonita, muito bem conservada e a manutenção das casas, a arquitectura é muito bonita”, destacou o visitante que além de visitar Montesinho, seguiu com o grupo conhecer ainda Gimonde.