Ter, 29/01/2008 - 11:46
Falámos de Vinhais, autorizo-o a dar o meu número de telefone ao jornalista. Não tarda a ligar-me a dar conta das suas precisões, combinámos almoçar nesse mesmo dia e depois em minha casa verificámos papéis e documentos relacionados com o filho do Abade de Vinhais, já que tenho intenção de escrever um livro sobre o antigo militar, exímio atirador e professor no Colégio Nacional. Vemos certidões de nascimento, topo o nome do meu trisavô – Francisco Xavier Buiça, o do meu bisavô – José Manuel Buiça e o do meu avô – Francisco do Nascimento Buiça. Digo ao jornalista estar a ensaiar um artigo a publicar na revista Brigantia, intitulado: Buiça, um apelido perigoso! A razão prende-se com o facto de o meu avô depois emigrar para o Brasil ter ido trabalhar para a majestática “Ligth and Power”, e um dia ter sido chamado à presença do todo-poderoso director inglês. Entrou no gabinete, o homem perguntou-lhe o nome completo, o meu avô declinou-o, o “beef”voltou a perguntar: tem parentesco com o Buiça que matou o rei de Portugal? O antigo professor nas horas vagas respondeu: sou primo direito dele. Pode retirar-se, assim fez o natural de Lagarelhos e passado pouco tempo deixou a dita companhia de transportes, tendo singrado como comerciante de padarias e cafés, não sem antes ter trabalhado duramente. Este episódio contei a Mário Robalo, enquanto ele tentava estabelecer os nexos de parentesco existentes entre diversos membros acobertados debaixo do apelido Buiça. Nessa altura, perguntou-me:”porque motivo a sua mãe não tem o apelido Buiça, enquanto os irmãos o têm?” Mas tem o apelido Buiça, retruquei e para o provar fui buscar um livro em que ela assina lindamente – Clemência Maria Buiça. O jornalista hábil, persistente, volta à carga: porque razão o Armando não recebeu o apelido Buiça? Respondi sincera e frontalmente, como é meu timbre: na alta adolescência gostava de ter tido o mal-afamado apelido, mas quando podia fazê-lo, isto é: “requisitá-lo” não o fiz, pois vanidades ou snobismos deste calibre não fazem o meu género, deixo isso para os queques. Agora, uma coisa é certa, o apelido Buiça continua a suscitar censuras e olhares de soslaio, como muitas vezes tenho recebido quando divulgo o parentesco. Acrescentei: é minha convicção não ter recebido o dito apelido e à minha mãe ter sido subtraído por razões de protecção aos dois, apesar do meu tio José o usar e não o impedir de pertencer à Polícia de Segurança Pública. O Expresso já publicou a peça, por isso mesmo tenho recebido muitos telefonemas a pedirem mais referências e outros a perguntarem aquilo que o jornalista perguntou. O meu avô nunca mostrou desprezo pelo seu apelido, antes se orgulhava de continuar o nome de uma família antiga, honesta e trabalhadora. Em sua homenagem a casa de Lagarelhos é a “Casa Buiça”. Na altura do regicídio tinha ele doze anos, dadas as notícias ameaçadoras contra a família nessa casa hoje minha propriedade foi feito um falso para lá ser enfiado caso se concretizasse a morte de todos os parentes até à sexta geração. Não aconteceu, ainda bem digo eu, enquanto alguns acéfalos pouco admiradores da minha pessoa dirão: Que pena! Que pena! A família tem-se, os amigos escolhem-se, dizem os sábios, o conhecimento tão exaustivo quanto possível que tenho do Buiça, leva-me a convicção de ele na altura estar apossado de um violento idealismo vanguardista e maleável a ouvir o canto da sereia. Mas isso fica para o artigo acima referido. No mais, nenhum dos membros da família jamais mostrou regozijo pelo acontecido, muito menos incensou o parente mais ou menos chegado de todos, que originou alterações políticas de tomo e também levou à perda do apelido para alguns de nós.