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Veados destroem centenas de castanheiros no concelho de Bragança

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Ter, 03/09/2024 - 10:34


Agricultores pedem a intervenção do ICNF uma vez que as aldeias afectadas pertencem ao Parque Natural de Montesinho

Os produtores de castanha, no concelho de Bragança, deitaram as mãos à cabeça quando viram dezenas de castanheiros destruídos pelo veado, na semana passada. Na Aveleda, só o produtor Adriano Fernandes viu 150 castanheiros destruídos, que vai ter que replantar. “Quando cheguei à propriedade, que está vedada, os veados saltaram e arrancaram dois postes e tombaram a rede, entraram para dentro da propriedade e destruíram aproximadamente 150 castanheiros, com idade entre os 7 e os 10 anos”, contou. Disse que vai dar conhecimento deste ataque ao Instituto de Conservação da Natureza, uma vez que é a entidade que gere a zona de caça da Lombada, abrangendo a aldeia da Aveleda. “Nós queríamos que o ICNF arranjasse mecanismos, como fazer semeadas para os veados, recuperar os lameiros que estão perdidos na aldeia para os veados, que é para eles não descerem tanto para a aldeia, porque o problema é o veado não ter comida na montanha”, disse. Tem castanheiros que custaram entre 10 a 15 euros, sem contar com todo o trabalho de plantação. Mesmo que seja ressarcido pelo ICNF por causa dos estragos, sabe que só receberá cerca de três euros por cada um, o que “não é nada”. “Os valores não são os correctos e devia repensar, falar com as associações e perceber qual seria o valor correcto”, vincou. Adriano Fernandes tem cerca de 10 hectares de plantação, que começou em 2012. Até agora já teve prejuízos que rondam os “30 mil euros”. “É difícil e é quase impossível, porque temos um grande investimento em máquinas, e depois é uma destruição por causa do veado”, lamentou. Em Cova de Lua, o veado também fez estragos. Um dos lesados é Pedro Santos. Disse ser recorrente o ataque desta espécie. “Este ano, destruiu-me 15 castanheiros replantados e agora, segundo informações que me transmitiram, nas últimas três noites destruíram-me cerca de 30 castanheiros. Daqui a nada não ganhamos para repor”, disse. Para o agricultor, fazendo esta aldeia também parte do Parque Natural de Montesinho, o ICNF deveria “criar batidas a veados e corsos para as conseguir controlar, porque senão vai ser impossível manter o castanheiro”. Além disso, pede que pelo menos doem novos castanheiros ou então que paguem a “totalidade” dos prejuízos. “O problema é que um castanheiro está 16 para dar algum fruto de rentabilidade e 16 anos é uma perda muito grande. Já não chegam as doenças que o afectam e agora o veado”, apontou. Os soutos de Marcolino Pires também receberam a visita do veado. Desta vez o prejuízo não foi tão grande como nos anos anteriores, mas ainda ficou com sete castanheiros partidos, que já tinha reposto. Os “maiores”, que já dão cerca de 30 Kg de castanha, também sofreram uns abanões dos veados. “Aqui estamos muito mal, é uma coisa exagerada”, afirmou. O agricultor considera que o ICNF devia ir ao terreno e ver os prejuízos, para que os pudessem “compensar”. “Só o castanheiro custa 10 euros, fora o transporte e depois pô-lo com a máquina acaba por ficar em 20 euros. O problema é o atraso, porque mesmo que plante outro castanheiro, o atraso que eles têm para dar os quilos de castanha outra vez”, disse. Os produtores já fizeram contas aos prejuízos. David Fernandes, outro dos lesados, prevê que podem ser superiores a dois mil euros. “O ano passado já houve a necessidade de repor 40 castanheiros, este ano já vão em 60, mais o custo da máquina ir ao local e mais protecção, já estamos a falar de dois mil euros”, avançou. Devido aos ataques recorrentes do veado, o jovem agricultor quer que o ICNF tome medidas e tenha em consideração a vulnerabilidade daquela zona. “Fomos afectados há dois anos pelo incêndio que houve em Vilarinho, que afastou os veados para a zona de Cova de Lua. Este ano o incêndio que já houve em Rabal voltou a empurrar os veados para ali. Numa estratégia da co- -gestão e os municípios vão ter de dedicar tempo a esta questão, vão ter de declarar aquilo como uma zona especial, com vulnerabilidade para estes ataques e vai ter de haver o assumir de custos por ICNF e dos municípios, não sei, mas dos responsáveis pela co-gestão”, defendeu. Confrontada a directora regional do ICNF, Sandra Sarmento, explicou que na zona da Lombada “os prejuízos causados pelas espécies cinegéticas da zona de caça são assumidos pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas”, o que significa, que o agricultor da Aveleda pode ainda receber algum apoio. Já os de Cova de Lua, uma vez que o ICNF não é o gestor dessa zona de caça, não assumem a responsabilidade. Ainda assim, Sandra Sarmento disse vão trabalhar com as zonas de caça associativas no sentido de criar “áreas para alimento das espécies”, para que não invadam as culturas nas aldeias.

Jornalista: 
Ângela Pais