O primeiro-ministro das calamidades

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AO Dr. António Costa pertence a um grupo restrito de personalidades que justamente merecem o epíteto de “ puros políticos”, não de “políticos puros”, note-se bem, porquanto nada de relevante fizeram fora da política, mas que, ainda assim, ousaram alcandorar-se a dirigentes máximos da monstruosa máquina que é o Estado português. O que de alguma forma explica a desgraça que é hoje Portugal. A esse grupo de elite também pertence o Eng.º José Sócrates que foi o principal fautor da calamidade que culminou com a intervenção da afamada Troika, o inesquecível conjunto das três entidades que entre 2011 e 2014 providenciou o Programa de Assistência Financeira Externa que resgatou Portugal da bancarrota. Calamidade para a qual igualmente contribuiu o próprio Dr. António Costa na qualidade de ministro de Estado e da Administração Interna do governo do Eng.º José Sócrates, precisamente. Poderíamos igualmente incluir no citado grupo o Dr. Passos Coelho mas a verdade é que este desempenhou vários cargos profissionais fora da vida política, como consultor e gestor, ainda que pouco relevantes. Para lá de que enquanto o Eng.º José Sócrates foi o artista principal dessa nacional desgraça que justificou a humilhante intervenção estrangeira, o Dr. Passos Coelho, justiça lhe seja feita, é tido por muitos portugueses como o corajoso e patriota primeiro-ministro que tomou em mãos a ingrata tarefa do providencial resgate. Ainda assim, a outras altas personalidades assenta que nem uma luva o galardão de “puro político” em função da sua exclusiva e extremosa entrega ao múnus político partidário, que não à causa nacional propriamente, como é o caso do Dr. Durão Barroso, do Dr. Santana Lopes e, em certa medida, do próprio Prof. Marcelo de Sousa. Ainda assim, o Dr. António Costa é, incontestavelmente, o “político puro” mais genuíno da democracia portuguesa. Desde logo porque, como é típico desta espécie política, começou a vida a colar cartazes partidários, cresceu nos gabinetes e corredores do partido socialista e paulatinamente foi ganhando o seu próprio espaço no Largo do Rato, primeiro, na Praça do Município, depois, e no Palácio de São Bento, por fim, o que lhe granjeou o invejável traquejo político que agora lhe abre as portas de Belém, ou de Bruxelas, quem sabe. De salientar que toda a vida social, cultural e política do Dr. António Costa sempre esteve centrada no coração de Lisboa, não se lhe conhecendo experiencia directa no mundo fabril, empresarial ou mesmo agrícola, o que lhe poderia ter acrescentado o indispensável conhecimento real do país concreto. E, sobretudo, corrigido a sua atávica predisposição política para chamar desgraças ao governo. É por demais evidente, por outro lado, que o Dr. António Costa não tem sido feliz na chefia do governo, para mal de Portugal e dos portugueses. Talvez por infortúnio, talvez por manifesta incapacidade para coordenar eficazmente as políticas dos diversos ministérios, como compete ao primeiro-ministro, ou pelas duas razões conjugadas. Muitas e graves são, de facto, as calamidades e as desgraças, naturais, políticas e sociais, que se sucedem, sem parar, durante o já longo consulado do Dr. António Costa. Com destaque para os incêndios florestais, que em Pedrógão Grande ganharam a dimensão trágica que se sabe, mas que, apesar disso, se repetem ano após ano. Também para a seca que cada vez mais calamitosa assola todo o território nacional, sem esquecer a pandemia Covid 19 que ainda produz efeitos preocupantes e o deplorável funcionamento do Serviço Nacional de Saúde e não só. Muitas outras desgraças poderiam ser invocadas, ainda assim, das quais a menor não foi, certamente, a Geringonça que antecedeu esta outra que agora está em franco desenvolvimento: a maioria absoluta. Maioria que o eleitorado lhe deu para bem governar o país e não apenas para partir e repartir o bolo do Plano de Recuperação e Resiliência. Ou para abertamente subordinar o interesse nacional aos interesses do partido e beneficiar, despudoradamente, a multidão de amigos, assessores e consultores que gravitam à sua volta. Maioria absoluta que constituiria, se para tanto o Dr.º António Costa tivesse suficiente coragem democrática e rasgo patriótico, uma óptima oportunidade para promover as indispensáveis reformas do Estado e do próprio Regime que, entre outras coisas, pudessem por termo à calamidade da corrupção e à desgraça da Justiça. Mas não. Fica-se até com a ideia de que o Dr.º António Costa e a sua gente se dão bem com estas desgraças e calamidades. Nada deixa adivinhar, por isso, que os desígnios do Dr.º António Costa sigam pelo caminho das reformas, pelo que, mais certo será, passar à História como o primeiro-ministro das desgraças e das calamidades. Esta a funesta graça do Dr.º António Costa.

Henrique Pedro