Vida de vendedor ambulante

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Qua, 12/06/2019 - 10:07


Olá familiazinha!

Desde que comecei com o programa do Tio João, já lá vão quase trinta anos, registo diariamente numa agenda os nomes das pessoas que me ligam e das suas localidades, assim como as temperaturas mínimas e máximas de cada dia. Certo é que nunca tivemos temperaturas tão baixas para esta altura do ano, como foi o caso nos dias 6 e 7 deste mês, em que as temperaturas mínimas foram de 4º e as máximas de 16º. No Inverno houve muitos dias em que as temperaturas mínimas e máximas foram mais elevadas. Não é um fenómeno novo, porque há pessoas que se lembram de já ter sido assim noutros anos.

Como diz o povo “até ao S. João (dia 24), guarda a velha o melhor tição”.

A tia Corina, de S. Martinho (Miranda do Douro), já se tinha lamentado da geada do dia 19 de Maio e, agora, voltou a dizer-nos que no dia 6 de Junho voltou a gear, queimando todo o renovo, obrigando-a a plantá-lo de novo. Também nesse dia o tio Manuel Pastor, do Zoio (Bragança), nos disse que, por lá, estavam os pastos todos branquinhos. Muitos ouvintes nos contaram que estavam, nessa manhã, com a lareira acesa. Mas nem tudo foi mau, porque a ‘rega automática vinda do céu’, fez com que os ‘escritórios do campo’ ficassem regados por uns dias. Quem não ficou muito satisfeito foram os que já tinham os seus fenos segados.

Estiveram de parabéns nos últimos dias a tia Lurdinhas poetisa (93), de Bragança; Carlos Pires (56), de Mirandela; Carlos Sarmento (61), de Vale de Janeiro (Vinhais); João Carlos (55), de Bragança; Maria José (74), das Quintas da Seara (Bragança); tio Bernardo (76), da Ribeirinha (Mirandela); Leonel Lázaro (45), de Souto da Velha (Torre de Moncorvo); Maria da Glória (61), de Vilar Seco (Vimioso); tia Aninhas Sernadela, senhora minha mãe (79), de Bragança e nesse dia ainda teve fôlego para nos cantar o fado “Subi à Montanha”. Que todos tenham saúde e sorte para lhes podermos festejar os aniversários por mais anos.

O tema desta semana é a vida de feirante, vendedor ambulante, também designado tendeiro.

 

No Domingo, dia 9, estivemos no Especial Domingão, em directo de Edral (Vinhais), na promoção da reabertura da feira mensal, que já há trinta anos não se realizava. Agora, a Junta de Freguesia resolveu reeditar esta feira mensal para dar mais vida às aldeias da zona de Lomba. Tivemos um programa muito concorrido, desde as orações da manhã a participações das pessoas mais idosas da aldeia, que nos contaram histórias de antigamente. Também estivemos à conversa com o presidente da Junta de Freguesia de Edral e com o presidente da Câmara Municipal de Vinhais, sempre com a animação das concertinas «Marotos Flavienses». Oxalá a nossa colaboração tenha ajudado para que a feira mensal de Edral continue a realizar-se por muito tempo.

No último dia de feira em Bragança, sexta dia 7, fomos à feira para tentar conhecer melhor a vida de tendeiro. Como já conhecia o senhor José Gi, por ser seu cliente de calças e ele ser nosso ouvinte, que nos dá boleia para todas as feiras onde vai, fui falar com ele. É natural de Campo de Víboras (Vimioso), mas reside em Macedo de Cavaleiros, tem 52 anos e desde os 12 anos começou a fazer feiras, pela mão do seu pai. Está há trinta anos por sua conta e risco.

Disse-nos que “ser feirante não é fácil. É preciso gostar. Fui habituado nisto e não me vejo a fazer outra coisa. É muito complicado montar e desmontar a barraca todos os dias, com a incerteza do negócio que se vai ou não fazer. Já fiz feiras debaixo de muita chuva, a molhar a mercadoria, já fiz feiras com neve, mas o maior inimigo do feirante é o vento.

Os Domingos tenho-os todos ocupados: faço as feiras de Podence (Macedo de Cavaleiros), Bouça (Mirandela), Rebordelo (Vinhais) e Pópulo (Alijó). Tenho cerca de vinte e duas feiras por mês. Ser feirante é bater no incerto: nunca se sabe se vai ser um dia bom ou mau. O que sei é que tenho de pagar os meus impostos, além do lugar cativo que tenho nas feiras”.

Também nos confidenciou que sente saudades da feira dos Chãos (Vale de Nogueira – Bragança) “pois fui o último feirante a abandoná-la”, quando foi substituída pela de Podence. Ficamos contentes por saber que com o dinheiro ga­nho nesta profissão conseguiu formar dois filhos. Que tenha muita saúde, já que afirma que “clientes certos e amigos não me faltam”.