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Luís Ferreira

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À caça com Leopard ou uma viagem de balão?

As coisas que se dizem e se contam a propósito das políticas são verdadeiramente alucinantes. A verdade é que possivelmente o modo como nos referimos às notícias sobre o que vai acontecendo um pouco por todo o mundo, levam-nos a que aligeiremos a crítica e adicionemos uma pitada de doçura, de molde a que tudo se torne mais aceitável. Brincamos com as coisas sérias! De facto, no momento atual, vivemos num clima de guerra global e mesmo que não se ande aos tiros em todas as esquinas, nada faz esquecer a terrível realidade que se nos apresenta a cada dia que passa, desde a Ucrânia às ruelas de Olhão. A guerra da Ucrânia é um dos mais relevantes episódios que todos conhecem e que afeta todo o mundo. Sabemos disso e esperamos diariamente o momento em que a sensatez surja na cabeça de Putin e a guerra chegue ao seu final. Não será tão cedo. Os avanços que a Rússia tem protagonizado nos últimos tempos, têm encontrado a oposição possível do exército da Ucrânia que reclama por mais máquinas de guerra para fazer frente aos russos. Conseguiram movimentar os países do ocidente para que isso fosse possível, pelo menos no envio de Tanques Leopard 2, entre outro material de guerra. Entre os países que estão disponíveis para enviar esses tanques, está Portugal. Um país tão pequeno e com tão poucas possibilidades económicas, vai enviar Tanques Leopard 2 para a Ucrânia? Claro que sim. Quantos? Só 2. Temos 11 que não funcionam e 2 deles que vão ser reparados com material alemão para poderem servir o exército ucraniano. É triste, mas é verdade. Como não estamos em guerra com ninguém, não se percebe a razão para ter estes tanques tão sofisticados. E se os temos e não servem, será essa a razão do seu não funcionamento. Melhor que se enviem para a Ucrânia, realmente. O caso é que se faça tanto alarde com essa oferta e afinal não funcionem! Francamente senhor Costa! A Ucrânia acredita que com os Leopard 2 conseguem empurrar os russos e dar-lhe caça séria, mas o tempo que vão demorara a chegar ao teatro de guerra é demasiado e pode ser demasiado tarde. Mas também pedem aviões de combate F-16 que os EUA já disseram que não enviam. Isso seria acelerar uma guerra que poderia ser enorme e envolver mais países do que o desejável. Contudo, há países que aceitaram enviar aviões de combate, mesmo sem serem F-16. É uma caça aérea mais séria e que pode levar alguma contenção à Rússia. Entretanto, um pouco à margem da guerra, a Rússia e a Ucrânia trocam 179 prisioneiros. E para que servem os prisioneiros? Para nada. Funcionam temporariamente como troféus para troca futura. Antigamente, há muitos séculos, os prisioneiros tornavam-se escravos e com esse rótulo, trabalhavam em tudo o que lhes pediam. Assim se construíram muitas cidades, estradas e pontes por esta Europa fora e que agora, as guerras modernas se entretêm a destruir. Outros tempos! Não vai muito longe o tempo da guerra das estrelas e da tentativa do domínio do espaço, quer pela União Soviética, quer pelos EUA. Era um modo de defesa e uma tentativa de saber antecipadamente o que outras potências estavam a preparar secretamente. Foi uma guerra inútil aparentemente, embora os satélites tenham tido um papel importante, como foi o caso dos mísseis de Cuba, que quase davam lugar a uma terceira guerra mundial. Hoje, contudo, em vez de satélites, a China prefere os Balões. Quem diria? É uma novidade? Claro que não. Os balões antecederam os aviões, mas estes parecem balões de S. João. Será que os chineses se enganaram na festividade e anteciparam a data? Pouco provável, pois eles não têm S. João e os americanos também não. Pois parece que é mesmo uma subtileza de espionagem moderna. Os EUA abateram o Balão dizendo que foi uma violação inaceitável da soberania. A China reclama dizendo que os EUA violaram o direito internacional. Nem outra coisa era de esperar. Ninguém quer ficar com as culpas, mesmo quem as tem todas. O espaço de qualquer país não pode ser invadido, sem permissão, por terceiros, sem ser considerada uma violação de soberania. A questão está, segundo parece, na altitude em que se movimentava o balão, pois não está determinada a altitude vertical considerada pertença de um país. Normalmente considera-se que essa altitude vai até aos 20/30 Km, teto onde dificilmente consegue chegar um avião de guerra. A verdade é que nada está determinado sobre este assunto e a ser assim, o balão possivelmente, viajava dentro dos limites normais da ilegalidade, já que estava a cerca de 20Km de altitude, facto que permitiu o F-22 atingi-lo e destruí-lo. Viagem ou espionagem? À caça certamente.

Derrapagens

Este governo anda completamente louco. Razões há um punhado delas. Quando pensamos que as maiorias absolutas dão segurança e estabilidade, quer ao país quer ao governo, verificamos que afinal isso é pura retórica. A ânsia de mostrar serviço, leva o governo a questionar-se sobre a atuação de alguns ministros e secretários de estado que a opinião pública vai atingindo com setas demolidoras. Atrás dessa necessidade arrastam-se problemas que, sem serem solucionados em tempo útil, levam a que os seus mentores mostrem os rabos-de-palha que vêm agarrados. E aí estão à mostra de todos, os favores, a corrupção desregrada, os abusos de poder e muito mais. São assim, razões suficientes para enervar o governo e questionar-se sobre quem será substituível e quem poderá subir de nível ocupando os lugares vagos. Interessa saber as disponibilidades e conhecer os interessados e especialmente que sejam socialistas, com ou sem experiência. A experiência adquire-se à posteriori! Puro engano. Os últimos dez meses de governo foram uma autêntica desgovernação e um desatino sem tamanho. Já lá vão dozes substituições de ministros e secretários de estado e cada um melhor do que outro. Tão bons que alguns tiveram a sorte de exercer somente vinte e poucas horas antes de serem afastados pelos rabos-de-palha que vinham atrás e ficaram à mostra de todos. É uma vergonha que um governo com maioria absoluta consiga atingir um tal nível de descrédito nacional! Ainda por cima, os problemas já vinham de há alguns meses e não foram capazes de os ultrapassar da melhor forma, acabando com o falatório e o jogo do empurra, envolvido numa burrice de teimosia que só levou ao total descalabro. Foi o que aconteceu com a TAP. O governo não conseguiu resolver e além disso fez com que o ministro responsável se demitisse. E ficou por aqui? Ficou resolvido? Não. A demissão ou não da responsável e o subsídio de meio milhão que lhe foi dado, agravou toda a situação e levou a que se escavasse mais fundo o buraco que se acabava de abrir. Uma vergonha! Nuno Santos que inicialmente não se lembrava de ter dado autorização para que se pagasse o subsídio, lembrou-se agora, muito mais tarde, que afinal tinha autorizado. Fraca memória! Lapsos inconvenientes. Depois de perfurar mais um pouco, acabou por se descobrir que não era a primeira vez que a quase falida TAP dava um subsídio ainda mais chorudo a outra responsável da administração. Será melhor não escavar mais fundo, pois podem surgir outros rabos-de-palha. Perante estes problemas demasiado graves num governo que deveria navegar águas calmas, eis que o encontramos à deriva, sem timoneiro encartado e em águas turbulentas. A necessidade de consultar o comandante Marcelo teve alguma urgência. Tornava-se prioritário preparar o porto de abrigo em caso de necessidade. Reconheceu a instabilidade e aconselhou calma ao timoneiro admoestando-o para manobras apertadas. Mas os avisos não passam disso mesmo. São tantos os problemas que vão surgindo que se equaciona se vale a pena o governo continuar nesta rota sem rumo. E eis que surgem mais problemas graves que adensam a confusão governativa. O Ministro da Defesa é confrontado com uma derrapagem enorme no Hospital Militar do Restelo. Nega e desculpa-se, mas o problema mantém-se e sem resolução. Há um buraco enorme e quem vai pagar somos sempre nós. Mas ninguém nos perguntou se estávamos de acordo com essas obras! Enfim! Mas como se não bastasse, agora vem à baila o Ministro das Finanças que nega muitas coisas e acaba por assumir outras. As culpas estão em cima dele e as investigações também. São derrapagens sem conta que levam a que este governo esteja com um pé dentro e outro fora. Se as investigações culpam o Ministro das Finanças, ele é obrigado a sair e se cair, com ele cai o governo. Costa anda à deriva e já não quer falar com ninguém. Está completamente ultrapassado e já não confia nos seus pares. A complicar tudo isto está a greve dos professores. Uma greve a nível nacional e que já dura há umas semanas e que se vai prolongar até meados de fevereiro. Mais um ministro que está à porta para sair por não conseguir fechá-la a tempo. Costa demarca-se, com medo de sequelas. Com o Ministério da Educação à deriva, o Ministro da Defesa em derrapagem e o Ministro das Finanças a derrapar todos os dias, já pouco resta ao governo e a Costa para sobreviver a esta turbulência maioritária que não tranquiliza ninguém, nem mesmo o próprio Partido Socialista. Quando acabarão estas derrapagens? Quando cair o governo? Parece que sim.

Céus turbulentos

Portugal está coberto de nuvens. O Sol visita-nos durante alguns minutos, envergonhadamente, no intervalo de duas nuvens que se desprendem por ação do vento que por lá sopra. A chuva é forte e constante e as enxurradas acontecem um pouco por todo o lado. A seca prolongada que nos tocou por demasiados meses e alterou completamente a sustentabilidade económica dos agricultores e comerciantes e até do governo, finalmente acabou. Para já, a seca foi ultrapassada e o nível das barragens está reposto. Contudo, o novo ano parece que não está na disposição de nos presentear com bons augúrios. Continuamos sob céu tempestuoso. Demasiado tempestuoso. É quase impossível voar sob um céu tão negro, carregado de nuvens espes- sas, sem rumo certo e com grande falta de orientação. O dossier TAP se já estava complicado, de um momento para o outro, saiu de controlo. A suposta demissão de Alexandra Reis depois de receber uma indeminização de meio milhão de euros, foi a gota que uma das nuvens deixou cair e fez alertar para uma enxurrada enorme que se avizinhava. Inicialmente ninguém sabia de nada. O governo estava ausente, o Primeiro-ministro não sonhava o que estava a acontecer, o Ministro das Finanças desconhecia e só a administração da TAP sabia o que estava a fazer. Sabia?! Ninguém paga tanto dinheiro quando se queixa que não tem dinheiro e quando os seus trabalhadores fazem greve por causa dos salários! Continua-se sem saber qual a melhor rota para a TAP, se a privatização se a nacionalização. Ou outra qualquer. O governo continua à deriva. Sob céus turbulentos terríveis, Costa não sabe para onde ir. Ficar ou levantar voo? Talvez remodelar. No mundo da agricultura as coisas não andam melhores. Depois da seca, vieram as cheias e até o ministério ficou inundado. Havia que encarar a situação de uma remodelação para prevenir mais enchentes. A Ministra da Agricultura convida uma Secretária de Estado, que não conhece, Costa dá o aval e Marcelo dá-lhe posse. Um vendaval faz com que as nuvens se adensem e uma tempestade surge quase do nada e inunda novamente o Ministério da Agricultura. A nova Secretária de Estado, por não saber nadar, tem de abandonar o barco rapidamente antes que se afunde. Marcelo dá-lhe a mão! Maria do Céu Antunes fica mal ao leme, mas tenta aguentar o barco que baloiça terrivelmente. Foi apanhada desprevenida! Diz ela! Terá que se explicar. Mas este céu tempestuoso não desaparece facilmente. O Ministério da Saúde está muito doente. Pizarro voa sob um céu repleto de nuvens e não há sinais de uma aberta para breve. Os hospitais têm serviços fechados, os enfermeiros fazem greve, os serviços vários que deveriam oferecer os principais hospitais do país, estão fechados ou fecham intermitentemente e não há médicos suficientes para cobrir as urgências que cada vez mais rebentam pelas costuras. A CP vive igualmente momentos de completa inundação. Também foi apanhada pelas enxurradas que levaram ao fecho de linhas, à greve de funcionários e suspensão de inúmeros comboios. O voo rasteiro que caracteriza a CP, está quase subterrâneo. É que há estações de Metro que fecharam por estarem completamente inundadas! Mas isso é outro assunto. Cobertos por um céu que não se compadece com nada do que existe cá por baixo, é difícil sobreviver aos caos. Não se consegue voar seja em que ramo for: aéreo, fluvial, marítimo, rodoviário, ferroviário, agrícola ou sanitário. Os tempos mais amenos vividos durante as festivi- dades, agravaram-se agora um pouco por todo o lado. E se nós, cristãos, vivemos a nossa época natalícia com mais ou menos fulgor, já os ortodoxos festejaram só agora o seu tempo de Natal. Cada povo e cada religião têm o seu timing próprio para estas comemorações. Curioso é o facto de, mesmo sendo um tempo de paz e amor, a Rússia de Putin proclamar um cessar-fogo com a Ucrânia de dois dias para festejar o Natal que, segundo diz, é um tempo de celebrar valores como a misericórdia, a compaixão, a bondade e a justiça. Como se pode ser tão cínico? O cessar-fogo foi fictício pois continuou a bombardear a Ucrânia e vice-versa. Afinal o que pretendia o autocrata russo ao arvorar-se de bonzinho? Ficou muito mal na fotografia e ainda mais coberto de nuvens negras. O céu turbulento está cada vez mais negro também por aquelas bandas.

Não podemos esquecer

As datas importantes que há na vida de todos nós, são lembradas eternamente, mas o que elas significam são muitas vezes esquecidas. E se esquecemos é porque deixaram de ser importantes. Um escritor disse um dia que “esquecer é o suicídio da alma, mas se a alma é imortal, esquecer é impossível”. Quanta alma já se remeteu ao silêncio! O dia 25 de dezembro é lembrado com carinho e muita ansiedade. É Natal. É dia de união, da família, da paz, da esperança, do nascimento. Desejamos todos, muito amor e paz, alegria e saúde e também esperança em dias melhores. Vêm de longe as pessoas ter com as famílias para poderem festejar juntos o Natal. Matam-se saudades, há demonstrações de amor e carinho pelos mais idosos e pelos mais novos. Festeja-se a data. O pior vem depois. A realidade tem sempre duas faces como as moedas que gas- tamos para festejar o Natal. Uma é o momento em que se festeja e convive, a outra é quando nos esquecemos do que desejamos uns aos outros. Quão curta é a memória dos homens e quão rápido o esquecimento! Suicidamos a nossa própria alma sem nos apercebermos. Porquê? No entanto, passamos a vida a dizer que o Natal é sempre que o homem quiser. Então porque será que não quer? Porque será que depois de o Natal passar, tudo volta à guerra, à mentira, à confusão, à falta de esperança e, a família é muitas vezes esquecida no meio do deambular sem destino do dia-a-dia? É triste, mas é verdade e a verdade dói. Há quem se esqueça dos pais que estão nos lares ou nos hospitais só porque estorvam o seu regime diário. Há quem se esqueça dos filhos nos Jardins de Infância porque simplesmente andava às compras e o tempo passou. Há quem se esqueça do filho dentro do automóvel, ao sol, com as janelas fechadas e ao regressar encontra-o morto. As compras eram mais im- portantes! Mas as datas importantes não podemos esquecer e se o 25 de dezembro não se esquece, porque havemos de esquecer outras igualmente importantes? Tão ou mais importantes do que isso é o significado que elas têm e que nos esquecemos rapidamen- te. Continuamos a celebrar o 25 de abril, mas muitos não sabem o seu significado ou confundem com outro. Festejamos o 1º. de dezembro e poucos sabem porquê. Todos os dias são dias de qualquer coisa. Marcaram-se os dias do ano para que todos estejamos alerta para o seu significado. Claro que isso é impossível recordar. Alguém o fará por nós e ainda bem, caso contrário já todos estariam esquecidos. Amanhã, a Rússia festejará o 24 de fevereiro certamente. Por boas ou más razões, ela não se vai esquecer da data, tal como a Ucrânia não se esquecerá. Hoje, também nós sabemos o seu significado, mas não temos que o festejar porque não nos toca. Amanhã, vamos esquecer esse dia tal como esquecemos o dia em que algo semelhante aconteceu na Crimeia. Cada povo tem as suas datas para comemorar de uma forma ou de outra. Cada povo tem as suas razões. As datas universais e que todo o mundo comemora, ninguém as devia esquecer. E o seu significado também não, contudo depressa isso acontece. Estamos ainda na época do Natal e todos desejamos o melhor a cada um de nós. Então porque será que não cumprimos o que desejamos? Se não cumprimos é porque o que desejamos é falso. Sai da boca para fora porque é bonito que assim seja e seria bom que assim fosse. Cumprir? Cada um sabe de si. É bom que se deseje muita saúde, pois até não está nas bossas mãos dá-la. Esperança e amor cada um toma o que quiser, até porque a esperança é a última coisa a morrer. Mas a paz está mas mãos dos homens porque a guerra é produto da ambição e da prepotência dos homens e isso não se deseja a ninguém em data alguma. É revoltante celebrar o Natal, a que a paz é associada e, fazer a guerra como se ela fosse corolário dos desejos de Natal. Como pode Putin, por exemplo, fazer uma guerra a um povo independente só porque lhe apeteceu estoirar com o armamento obsoleto que possuía já desde os anos 60? Como pode ele celebrar o Natal e certamente desejar prosperidade, saúde e paz quando ele próprio promove a guerra e acaba com a prosperidade do seu próprio povo. Esquece-se do que promete? Não podemos esquecer o significado das datas mais importantes e de como a elas estamos ligados. Celebrámos o Natal e endereçámos os nossos desejos aos amigos e familiares. No meio deles ia embrulhada a paz e a saúde. A saúde é a coisa mais importante especialmente porque estamos a sair de uma pandemia terrível e a paz para ser mantida que se recordem as datas das guerras e a quantidade de mortos que ficaram abandonados nos campos de batalha. E que promover a guerra que seja castigado por se ter esquecido da importância da paz para a Humanidade.

Outras realidades

Vivemos constantemente ao som da música que nos querem dar, seja nas televisões ou em outras plataformas de informação. Chegamos a ser bombardeados diariamente com o desenrolar de uma só notícia, que sendo primordial, abafa inquestionavelmente todas as que deveriam ser veiculadas de igual forma e não são. É facto assumido. Desabafamos frequentemente que as notícias são sempre as mesmas ou que só dão notícias tristes e muito negativas e que as coisas boas ninguém as chama a terreiro. Também é verdade, mas porque será? O que interessa é informar e de preferência o que mais pode chamar a atenção das pessoas. O tema quanto mais horrível, mais sugestionável e mais impressiona os ouvintes ou leitores. Curioso é uma notícia boa não interessar tanto à opinião pública. Mas mesmo dentro das notícias más, há as que são menos más e por isso passam para um segundo plano ou porque não interessa que se saiba ou porque iam desviar a atenção das que são efetivamente chamativas e vendem. No fundo o que interessa é vender. Triste, é que se tenha de vender o que é mau. E há quem compre, aliás compramos todos. Há quase nove meses que não se fala senão na guerra da Ucrânia e nas patifarias que Putin tem feito a que ele chama danos colaterais da guerra. Hipócrita. Não que os ucranianos também não façam das suas, mas têm de se defender. Enquanto a guerra durar, as outras notícias passam para segundo plano, a não ser que entretanto surjam outras dignas de primeira página. Pois foi isso que aconteceu com o Mundial de Futebol. Todo o mundo foi chamado a participar e o coração das seleções bateu mais forte. Deixou de haver guerra? Não. Mas passou para um plano inferior embora continuem a ser divulgadas as peripécias diárias que por lá se vivem. Portugal viveu numa ansiedade terrível até ao dia da estreia. Elogiou-se a seleção e o plantel e aventou-se a hipótese de sonhar, não se sabe bem o quê, se em passar à próxima fase, se chegar aos quartos ou até à final. O que interessa é sonhar. E enquanto sonhamos, o mundo avança em toda a sua plenitude. E as outras seleções igualmente. Durante a espera verificaram-se algumas surpresas neste campeonato. Seleções aparentemente fracas, ganharam às mais fortes e todos abriram a boca de espanto. A Laranja Mecânica empatou com a do Equador, a Argentina perdeu com a Arábia Saudita e até a seleção do Irão de Carlos Queirós ganhou à do País de Gales. Portugal, confiante e com todo o apoio possível, entrou em campo com a confiança de que o Gana era fácil e que ganhar era verdadeiramente o que interessava. Se olharmos para os últimos campeonatos, nunca entrámos a ganhar e andamos sempre a contar com os erros dos outros, ou seja, andámos sempre com as calças na mão. Desta vez a confiança era maior, mas nem por isso jogaram melhor. Tiveram sorte e não se diga o contrário. O penálti de Ronaldo foi forçado, mas ajudou a subir um pouco a confiança que estava a ficar em baixo. Enfim, o segundo golo veio melhorar tudo e o terceiro era quase a certeza de que tudo estava resolvido. Mentira. O descuido de Diogo Costa ia custando caro à seleção. Terminámos aflitos. De um momento ao outro tudo ia mudando, e a realidade do jogo ia sendo completamente diferente e lá íamos nós para o rol dos aflitos novamente. De tudo o que se falou e disse sobre a nossa seleção e o plantel extraordinário que temos, ia engasgando as gargantas nacionais e causando ataques cardíacos a muita gente. Até ao fim, ainda temos um longo caminho a percorrer. Acreditemos na seleção, mas deixemos de elogiar muito os craques pois eles falham como todos os outros. Ronaldo não falhou. Mas atentemos na hipótese de isso ter acontecido. Todo o mundo o trucidava e o treinador do Manchester bateria palmas de contente e diria que tinha toda a razão. Claro. Enganou-se, felizmente. Pois e cá estamos nós a tentar esquecer as outras notícias que poderiam ser mais importantes. Nada disso. A discussão e votação do Orçamento de Estado passou para segundo plano, até porque a maioria sempre o aprovaria, e as propostas dos outros partidos só algumas foram aprovadas porque nada traziam de alteração às previsões do Governo. Era mais um jeito do que outra coisa. Coisas vulgares, diriam uns, moedas de troca diriam outros. Enfim. À opinião pública pouco interessava porque já se sabia o resultado. Era uma notícia menor. E a guerra da Ucrânia? Bom, essa não acabou nem Putin deixou de bombardear e matar as pessoas onde as bombas caíam. Se a Rússia estivesse no campeonato do Mundo, talvez a história se escrevesse de outra for- ma, mas não está, tal como a Ucrânia. É pena, porque se assim fosse, haveria certamente outro tipo de notícias e de realidades.

Realidades

Nunca poderemos jul- gar seja quem for e o que for sem levarmos em linha de conta a realidade ou as realidades do momento. É a realidade a base dos acon- tecimentos e ela serve também para julgar esses mesmos acontecimentos. Tudo se passa em determinada realidade. E a realidade atual que embrulha este mundo é simplesmente terrível. Vivemos um momento assustador em várias vertentes. A crise que assola a Europa e o mundo vem no seguimento de uma pandemia que ainda continua a matar milhares de pessoas e não se sabe quando vai desaparecer se é que isso vai acontecer. A guerra da Ucrânia veio acelerar a crise tornando maior o descalabro económico mundial. Os biliões de dólares que são gastos em armamento enviado para o exército ucraniano, enfraquecem obviamente as economias de todos os países contribuintes, especialmente os ocidentais. As consequências de toda esta realidade são enormes e extraordinariamente horrendas. Os mi- lhares de mortos e a fome que se espalha cada vez mais, não só na UE, mas também em países africanos, dão um colorido tétrico a esta realidade. Falar da guerra da Ucrânia é redundante, mas inevitável, até porque somos bombardeados diariamente pelas notícias sobre essa realidade. É um acontecimento inacaba- do, constante e durável sem termo à vista. De igual modo é um evento incaracterístico, injustificável e embrulhado numa estupidez sem limites que ronda a loucura. Oito meses de uma guerra sem sentido, é mais do que a média de duração das guerras nos últimos duzentos anos, excluindo as grandes guerras mundiais. Os objetivos da Rússia ou antes, de Putin, não foram conseguidos e não o serão. Os contornos desta guerra são agora bem diferentes. Contabilizam-se vitórias e derrotas. A Rússia está a perder e a recuar no terreno. O exército ucraniano soma vitórias e avanços, recuperando posições e cidades importantes como Kherson. Esta é a realidade presente. No entanto não se pode subestimar a grande nação que é a Rússia e o seu poderio. Mas também é verdade que o seu exército está mal preparado e o armamento completamente obsoleto. Restam-lhe os mísseis e a ameaça do nuclear. Perder Kherson é a derrota que Putin não esperava ter de admitir. Ter de criar uma nova capital para a região que, segundo ele, pertence à Rússia, é sinónimo da assunção de derrota, por um lado, mas por outro a teimosia de querer manter como seu, por decreto, um território que não conquistou, nem irá conquistar tão cedo. O futuro não o podemos prever e esta é a realidade do momento. Isto leva-nos a outra realida- de que é “a guerra ainda não acabou”. Neste momento a Ucrânia sente-se forte e só pensa em levar a Rússia à mesa de negociações para assinar um acordo de paz. É assim que acabam todas as guerras, mas para isso Zelensky quer todo o território que a Rússia já ocupou incluindo a Crimeia. Putin nunca assinará nada que implique esta cedência. De igual modo Zelensky também não, se a Crimeia não fizer parte do acordo. Está em cima da mesa esta realidade bem dura. Procurando cada vez mais protagonismo, o presidente da Turquia quer continuar a ser o mediador entre as duas fações com objetivo de conseguir um acordo que termine com a guerra entre as duas nações. De momento, Putin continua a ter um trunfo importante que é o corredor por onde deverão passar os barcos com cereal tão necessário para o resto do mundo, que só continua aberto se quiser e nada o impede de fechar por tempo indeterminado. Claro que a pressão mundial será enorme e ele já tem muitos países contra ele o que não interessa muito se não quiser ficar cada vez mais isolado. A Rússia pode ser um gigante, mas tornar-se-á um anão se ficar isolada. Aliás, as recentes reações de Putin, como não querer participar na cimeira do G20, demonstra bem o medo que tem de enfrentar os líderes mundiais e ter de justificar o que é injustificável. Putin está encurralado politicamente e enfrenta dentro da Rússia enormes pressões e também a condenação da sua política de guerra contra a Ucrânia. Está a perder a guerra e isso ele não quer admitir pois seria trucidado pelos opositores. Aos poucos está a deixar de ser um líder e quer queiramos quer não, esta é uma realidade que ele vai ter de encarar mais dia, menos dia. Há já quem pense dentro da Rússia que ele se prepara para deixar o poder e ir viver para o estrangeiro. Para onde? Será que há algum país que o aceite? É ridículo! Por outro lado, Zelensky não acredita nas boas intenções de Putin ao abandonar a cidade de Kherson sem nada em troca, mas a realidade parece estar a ser diferente, já que a população festejou pe- las ruas da cidade a sua inde- pendência e reintegração na Ucrânia. Por agora limitemo-nos às realidades e esta é uma delas. Putin perdeu Kherson e está a perder território e a Ucrâ- nia está a somar vitórias. O futuro poderá ser diferente e sê-lo-á certamente no dia em que a guerra acabar. Essa é a realidade que todos ambicio- namos.

A descompensação da Rússia

Mesmo que queiramos deixar cair o tema da guerra, a verdade é que ele ressurge sempre devido a novos factos cada vez mais acutilantes. Embora Putin continue a fazer aparições em atos formais e com alguma importância, o certo é que não consegue ultrapassar o síndroma da guerra em que se meteu. Culpa própria. Contudo, aproveita essas ocasiões para atacar o Ocidente e culpar os EUA pela ajuda que fornece à Ucrânia. Não assume qualquer culpa nem admite as ajudas que eventualmente recebe da Chi- na, da Coreia do Norte ou de outros países como a vizinha Bielorrússia. De facto, se ninguém ajudasse a Ucrânia, seria fácil derrotá-la com todas as fragilidades que apresentava em fevereiro. Enganou-se. Passados tantos meses desta guerra sem razão, Putin desfalece aos poucos e vê-se obrigado a tomar decisões à margem de tudo o que esperava. A requisição de mais de 200 mil soldados reservistas para enviar para a frente de batalha é bem a prova disso. Autêntica carne para canhão. Esta atitude levou, como sabemos, à fuga de milhares de jovens que abandonaram a Rússia, procurando estar a salvo em países vizinhos e longe das garras de Putin. Depois da explosão da ponte que liga a Rússia à Crimeia, mostrou-lhe que as coisas não estavam controladas e que poderia enfrentar graves problemas a nível militar e até político. Uma vez mais atirou-se contra a Ucrânia e contra quem os ajuda, culpando-os de terrorismo, ele que é de facto, o verdadeiro terrorista. Além disso, inventa culpados sempre que necessita, para desmistificar as suas próprias culpas. Na Rússia só há santos! Como as coisas não lhe estão a corre bem, agarra-se a tudo o que pode para ganhar terreno e mostrar que quem controla é ainda ele. De facto ele ainda consegue controlar alguma coisa! Mas muito do que controlava já perdeu e em Kherson até mandou evacuar todos os civis antes que os ucranianos conquistassem o que resta da região e da cidade. Admitiu alguns revezes, mas também afirmou que vai voltar mais forte. Talvez. Seja como for a Rússia está descompensada, quer no terreno da guerra quer no seu próprio território onde as manifestações são muitas e a atuação das forças policiais se vingam prendendo quem se manifestar contra a situação. Se assim continuar não haverá prisões suficientes para enclausurar tanta gente! Mas Putin, no seu estertor de morte, não querendo perder a mão neste jogo complicado, resolve jogar sujo, muito sujo, ao cortar o abas- tecimento de cereais aos países que anseiam a sua chegada para minimizar a fome que os invade. Esta tomada de força baseou-a na justificação de que os drones que atacaram navios russos em Sebastopol foram lançados de um navio civil situado no corredor por onde passavam os navios carregados de cereal e tinha na sua composição material canadiano. Isto foi suficiente para Moscovo suspender o acordo de exportação de cereais ucranianos. Francamente! A fome de milhões de pessoas nos países africanos e não só, não conta para Putin, desde que continue a demostrar que tem força para controlar tudo e todos. Putin está a transformar alimentos em armas e isto é indigno. Há mais de 10 navios à espera de entrar ou sair, para transportar os cereais ucranianos e não podem graças a esta toda de decisão tão estúpida como o seu mentor. A verdade é que a Rússia bloqueia cerca de dois milhões de toneladas de cereais em 176 navios todos os dias, o que é suficiente para alimentar cerca de sete milhões de pessoas. Isto é inadmissível. A união Europeia já exigiu que se implementasse novamente o acordo e se libertasse o corredor de passagem aos navios, mas ainda nada foi dito ou feito por Moscovo a este respeito. Putin gosta que lhe peçam delicadamente as coisas para se sentir no comando e ter os outros em subserviência completa. Mas as coisas nem sempre são assim. A Turquia, mediadora no conflito e no acordo dos cereais, está a negociar o retomar do acordo com a Rússia, mas ainda não há luz verde. Na verdade, a descompensação da Rússia é enorme e chega ao ponto de se servir dos alimentos tão importantes a quem deles necessita com urgência, para negociar e impor a sua vontade. A descompensação não é só da Rússia, mas sim do seu líder Putin que aos poucos se vê cada vez mais abandonado dentro do seu próprio país. Várias fações se opõem a Putin mesmo correndo o risco de serem presos ao virar da esquina. Enfim.

A força do acossado

Foi preciso aparecer a discussão do Orçamento do Estado para 2023, para nos desviar a atenção da continuada guerra da Ucrânia. Na verdade, quando se trata de dinheiro, os portugueses acordam e ainda mais quando esse dinheiro lhes é subtraído numa extensa conta onde o símbolo de somatório não entra. Perante tantas notícias sobre inflação, sobre aumentos de bens face a salários que nada gesticulam, é difícil não tomar posições. Mas será que adianta tomar uma posição de força? Que força temos nós perante uma realidade que é global? Parece que temos de entender que a subida dos preços é inevitável face ao aumento dos combustíveis que são, no fundo, o motor de toda a economia. Sem combustíveis nada funciona. Não há transportes, não há eletricidade, não há aquecimento, não há alimentos. Tudo pára. Se os combustíveis sobem de preço também terão de subir os produtos. Percebemos tudo isso, mas será que tem de ser assim mesmo? De facto, os governos têm tomado decisões avulsas e todas elas de acordo com os países onde se integram, no entanto nem sempre são bem recebidas e não são iguais, pois cada país é um caso diferente. A União Europeia tem tentado manter-se à tona e manter alguma uniformidade e concertação nas ações dos governos, mas não é fácil. Os subsídios que vão dar cujo destino é minorar os gastos e a inflação, são pontuais e nada vão resolver, mas são bem-vindos pois sempre ajudam a pagar algumas contas. Para o ano não há mais! A força dos acossados portugueses e outros que tais, limita- -se a reclamar, a fazer greves e a exigir aumentos de salários, mas pouco mais do que isso. E adianta? Não. Todos temos o direito de reclamar e devemos fazê-lo, mas para que os governos tenham a noção de que não estão sozinhos e não governam só para eles, embora até pareça que assim acontece em alguns casos, basta ver as últimas notícias sobre os favores que os membros do governo têm feito e até das incompatibilidades de alguns ministros. Todos se tentam governar pensando que nada se sabe, mas tudo vem a lume, assim funcione a liberdade de expressão. Deste modo, o acossado povo português sobrevive ao sabor das ondas que o governo vai fazendo esperando na praia algum raio de Sol neste fim de época balnear, na esperança de tornar mais leve o amargo que vai sentindo na boca em cada dia que passa. Acossado, mas não resignado. O Orçamento tem promessas, mas já sabemos que estas não são para cumprir. A força de um povo mede-se na sua atitude, na sua decisão, na sua exigência. Temos de esperar para ver a força que vai utilizar para reverter a situação. Mas atenção, pois todo o acossado não mede bem as suas reações! E de facto assim é. Se toda a Europa e o Mundo estão numa crise económica cada vez maior e sem sentido, ela deve-se à guerra da Ucrânia despoletada por um louco insensível e lunático por quem o mundo tinha alguma consideração há um ano atrás. As reticências que então se levantaram acabaram por ter razão. As consequências desta guerra que dura há mais de sete meses e que já destruiu muitas vilas e cidades e matou mais de cem mil pessoas, é absolutamente intragável. Nada consegue explicar este extermínio no século XXI. Numa sociedade dita moderna e avançada onde pautam as grandes descobertas científicas que podem contribuir para o bem da Humanidade, eis que surge um retrógrado governante com ideias imperialistas, autocrático e ditador, trocando as voltas ao progresso e ao avanço e liberdade dos povos. Contudo, a reação do exército ucraniano tem permitido contrariar os seus objetivos ao reconquistar as cidades que estiveram em posse dos russos. Putin e a Rússia estão a ficar acossados pelos ucranianos. A recente manifestação de vitória que Putin fez com a suposta anexação de quatro regiões ucranianas, nada mais foi do que a afirmação do seu falhanço no terrenos. Ele sabe que nenhuma dessas regiões está totalmente sob o seu domínio, antes pelo contrário. O exército ucraniano soma vitórias cada dia. Putin teve de mostrar somente a força do acossado que, sem outra justificação, fez a festa antes de a festa começar. E para que todos julgassem a sua vitória, lançou mais umas dezenas de mísseis sobre algumas cidades depois de os ucranianos, segundo ele, terem destruído a ponte de ligação entre a Rússia e a Crimeia. Foi a vingança do acossado. Foi o estertor da morte. O recente acordo entre Putin e Erdogan para o abastecimento de gás à Europa, nada mais é do que o acordo de interesses. Erdogan quer parecer o elo mais importante entre o ocidente e a Rússia e Putin quer-se fazer passar por “bonzinho” ao conceder o seu gás para abastecer a Europa, pois de outro modo não o venderia já que os boicotes europeus estão a funcionar. A Putin fazem falta os muitos milhões de dólares que diariamente entram. Acossado, um e outro por razões diferentes, tentam chegar a bom porto e sair airosamente do conflito. Poderá ser um bom caminho se chegarem a um acordo global onde se vislumbre o final da guerra. Putin não está em posição de querer muito mais tempo de guerra. Cada vez mais acossado, só o nuclear o vai mantendo à tona. Que fique por aí.

A farsa e o farsante

Ao longo da História da humanidade, são vários os factos onde imperou a farsa e em que através dela se atingiram objetivos perversos, menos dignos e até horrorosos. Manchas que nada dignificam as páginas da História onde, contrariamente, outras enaltecem positivamente a ação do Homem. Farsantes houve muitos e continuam a haver. Todos os dias deparamos com alguns, sendo que alguns não têm importância alguma e outros se mostram perigosos. A questão principal é saber se os farsantes são necessários ou não. Penso claramente que não. Contudo, algumas farsas até nos fazem rir, lembremo- -nos de como Gil Vicente as trabalhou para criticar a sociedade da época. Hoje as coisas são diferentes e as farsas podem ser bastante perigosas especialmente quando o objetivo a atingir é demasiado elevado ou não se consegue de forma lícita. É o caso da suposta anexação das quatro regiões ucranianas, pela Rússia. É facto que Putin, a perder a guerra contra a Ucrânia, teria urgentemente de apresentar um sortilégio de vitória, ainda que não fosse completa. Os referendos feitos à pressa e quase impossíveis em tão curto prazo de tempo, só foram possíveis através de uma enorme farsa de Moscovo. Por outro lado, a população não votou na sua totalidade, sendo contabilizados apenas alguns milhares de votos em cada região. Claro que muitos não eram a favor desta anexação nem querem continuar a prestar juramento a Putin, mas terão de o fazer, apesar da ilegalidade e farsa que rodeou todo o processo. A comunidade internacional não aprovou nem considera válidas as anexações. Ao lado de Putin apenas dois ou três países porque precisam dele e dos seus favores ou têm medo das suas ações se o não demonstrarem. Mas anexar regiões que não se controlam na totalidade e nem sabe se algum dia controlará, é uma farsa e uma presunção que só um louco poderá fazer. Tudo é uma farsa. A teatralidade com que a cerimónia de anexação feita no Kremelin se apresentou deu a impressão de que todos estavam a assistir a uma peça de Teatro ensaiada e cujo fim já era conhecido. As mentiras proferidas por Putin contra o Ocidente foram ridículas e despropositadas, principalmente quando ele parece ter-se esquecido do que foi praticado pela antiga União Soviética em termos de atrocidades e horrores. De nada serve acusar o Ocidente de colonialismo, quando a Segunda Guerra serviu para acabar com essa política e da qual a URSS participou. Agora é tarde e de nada serve. É bem pior o assassinato dos líderes da oposição que ele mandou liquidar e prender para não lhe fazerem frente em futuras eleições, mesmo controladas pelo regime. Autêntica farsa! Navalny é prova disso mesmo. Como está a perder a guerra contra a Ucrânia é fácil culpar o Ocidente das maleitas que o atingem ainda que essas mesmas maleitas sejam por ele provocadas. Culpar a Ucrânia de bombardear as suas próprias cidades e matar as suas gentes, é caricato e impensável, mas a guerra justifica tudo, ou talvez não. Agora culpa o Ocidente de explosões que provocaram ruturas do Nord Stream 1 e 2, deixando sair milhões de toneladas de gás, poluindo a atmosfera de forma letal. Que ganharia o Ocidente ao fazer uma tal destruição quando necessita do gás que por lá passa? Toda a Europa é abastecida por essa via e nada ganharia em destruir essas infraestruturas. Certamente que para colocar a culpa em outrem, só provocando ele próprio o desastre, poderia safar-se. Mas não será tão fácil. O tempo dirá quem o fez. Mas o farsante pode ir mais longe. O corte dos cabos submarinos que passam na costa da Irlanda e atravessam o mar Báltico e o Oceano Atlântico, pode cortar a Internet na Europa. Isto poderá ser outro desastre com consequências incomensuráveis. Deste modo a guerra deslocar-se-ia para as águas geladas do Báltico e do Atlântico. Quem não pode ganhar a guerra em terra, sempre pode mudar o campo de batalha para o mar, usando armas diferentes das convencionais. Voltamos à força dos submarinos, só que desta feita são controlados de longe e só levam a facilidade de “cortar” os cabos sem que ninguém esteja por perto. A sabotagem destes cabos é uma possibilidade já que são longos quilómetros sem a possibilidade de uma vigilância acurada e constante. Os efeitos deste “ataque” seriam devastadores para a economia europeia e mundial. Tudo isto pode soar a mais uma farsa de um farsante conhecido, mas nunca é de descartar a possibilidade da loucura do farsante se tornar realidade. As ameaças mantêm-se e agora mais do que nunca, já que ao considerar as novas regiões como parte integrante da Rússia, o seu ataque poderá ser um ataque à própria Rússia. Contudo, para Zelensky, a farsa vai continuar e não se vai dar por vencido, até porque está a recuperar territórios, antes ocupados pelos soldados russos. Estes admitem estar a perder a guerra. Será?

A dignidade perdida, ou não

Há ocasiões em que perdemos toda a dignidade ou onde ela deixa de ser importante. São, de facto, momentos em que deixamos de ser tão importantes como julgávamos ser e passamos a ser mais um elemento de uma imensa cadeia igual a tantos outros. Mas também há o outro lado, aquele em que a dignidade pessoal não conta e deixa de ser especial e aquela que é realçada devido a exemplos de vivências que marcam um tempo e uma época. Assim, temos como exemplo a Rainha Isabel II de Inglaterra que morrendo, perdeu a sua dignidade pessoal, mas não perdeu a dignidade que marcou toda a sua vida e pela qual foi altamente elogiada e louvada. Ao morrer perde-se tudo, mas não perdemos tudo. A pessoa em si, perde a dignidade porque não se pode comportar seja de que modo for, pois está morta, mas mesmo sendo-lhe destinada uma morada subterrânea e com sete palmos de terra a cobri-la, mantém, de alguma forma, para quem a recorda, a dignidade com que sempre foi considerada. A pompa e circunstância com que o funeral da rainha decorreu, foi digno de uma Chefe de Estado, como não poderia deixar de ser, mas a dignidade da rainha foi com ela. É a lei da vida. Contudo, muitos foram os que a quiseram acompanhar nestes momentos. Uma fila de sete ou oito quilómetros, pelas ruas de Londres, de gente desconhecida, só para se despedirem da sua Rainha, é quase surreal. Nove horas de espera numa fila só para ver a urna da Rainha e entrar de alguma forma no cerimonial fúnebre real, é de admirar. Foram setenta anos de reinado e eles não querem esquecer quem reinou todo esse tempo. Não vão esquecer certamente. Comparemos agora essa pompa e circunstância do funeral real com o enterramento sem identificação e com as valas comuns na Ucrânia, agora descobertas na Região de Karkiv, em Izium. Pessoas desconhecidas, sem nome, sem funeral, sem acompanhamento e abandonadas simplesmente no meio da floresta, para que o tempo se encarregasse de todos eles. Além de terem perdido toda a dignidade, perderam a própria identificação. Uma coisa é comum aos dois casos: Putin não foi ao funeral nem da Rainha nem destes soldados e civis ucranianos. Não por que não tentasse, mas porque não o deixaram. Aliás nem sei se tentou, mas certamente que não já que tem medo que algum tresloucado quisesse acabar com a vida dele, acabando com a sua dignidade e importância que pensa que tem e talvez tenha. O mesmo aconteceu à delegação chinesa que não foi autorizada a entrar na abadia para prestar homenagem à Rainha. Aqui foi uma vingançazita dos ingleses pelo facto de a China ter expulso diplomatas ingleses devido ao facto de eles terem condenado publicamente atuações da política chinesa relativamente ao incumprimento de direitos humanos. Coisa rara! Deste modo, a Inglaterra, subtilmente, vingou-se de Putin e da China, jogando uma cartada Real absolutamente vencedora. A morte da Rainha Isabel II deu finalmente ao filho Carlos a oportunidade que aguardava há muitos anos. Ser Rei é agora a tarefa para que sempre se preparou e que a mãe lhe ensinou. Carlos III tem pela frente muitas dificuldades e terá de saber usar toda a sua sabedoria e subtileza para as ultrapassar. Não começou da melhor forma ao dispensar cerca de um terço do seu pessoal e mandá-lo para o desemprego. Foi já criticado severamente por isso. A opinião pública em Inglaterra funciona muito bem e ele perante o que já foi dito e escrito, só poderá reverter a situação se não quer mais conflitos dentro dos muros da dignidade da realeza. Não se saiu nada bem. A continuar assim, terá de abdicar e dar o lugar a William, seu filho, dentro de pouco tempo. Com menos dignidade, a Rainha Consorte, sempre teve alguma sorte. Preterida por Carlos quando casou com Diana, acabou por ter a sua oportunidade depois do divórcio em 1976 e depois da sua morte acidentada. Liberto pelo infortúnio, Carlos logo correu para os braços de Camilla Parker Bowles com quem casou em 2005. Vivendo na sombra de toda a realeza e odiada por metade do povo britânico, viu agora surgir a sua oportunidade como rainha consorte. Sem qualquer poder real, tem pelo menos a dignidade que o casamento lhe confere para acompanhar o marido para onde ele for. Não reina, não governa, mas é rainha. Deste modo, os que um dia foram dignos acabaram por perder a sua dignidade como é o caso de Putin após invadir um país soberano. Outros foram tratados indignamente sem se saber o grau de dignidade que um dia tiveram e possivelmente foi muito alto, como foi o caso dos mortos encontrados em valas comuns na Ucrânia, completamente desconhecidos do mundo. E ainda aqueles que têm a dignidade de falar sobre acontecimentos deste tipo e acusar os que perderam toda a dignidade que possivelmente um dia tiveram. Não a voltarão a ter.