class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-taxonomy page-taxonomy-term page-taxonomy-term- page-taxonomy-term-77">

            

Luís Ferreira

À procura de soluções

Acabaram as eleições legislativas, mas ainda se está à procura de resolver muitos problemas que ficaram em aberto e necessitam de resolução e um deles é a realização de novas eleições para os círculos de fora da Europa.

Mas há muitos outros e algumas eleições a serem feitas no curto prazo. Os resultados inesperados revolucionaram o Parlamento e mesmo até a sociedade civil. Os partidos sofreram na pele, poruma razão ou por outra, as consequências dos seus desmandos. O PS ficou agradecido com a maioria recebida e inesperada, de igual modo que foi inesperado o resultado para todos os  outros partidos. O desaparecimentodos Verdes e do CDS e quase do PAN do Parlamento foi, não só inesperado como um grave problema a necessitar de resolução urgente. Também o Chega tem o seu problema que é saber se a sua representação se vai consolidar depois da legislatura prestes a iniciar-se. E o PS? Pois também tem, já que será difícil manter a maioria depois da legislatura que vaicomeçar.

Problemas idênticos vão ter tanto o Pan como o PCP ou mesmo o Livre. Faz parte do ADN dos partidos. Temos assim, um espetro alargado de procura de soluções várias para muitos partidos. Mas não vai ser fácil resolvê-los já que cada um tem vicissitudes diferentes. Mas porquê todos estes problemas? O que motivou toda esta alteração? Penso, como muitos outros analistas, que a explicação está em quem votou e como votou, ou seja, no voto das mulheres e no dos homens. Dirão vocês “claro, quem mais poderia ser?”. Sim, mas é o sei conjunto que conta. Se só tivessem  votado mulheres, a esquerda teria mais deputados e o PS teria uma maioria mais largada. Mas se só votassem homens, o PS já não teria maioria absoluta e até o Chega teria mais votos e deputados. Mas também a idade interfere nos resultados. Se votassem só pessoas menores de 35 anos, o PS e o PSD ficariam empatados e haveria uma maioria de direita. Neste caso a Iniciativa Liberal seria a terceira força política. Quer isto dizer que houve uma assimetria de género nas votações de 30 de Janeiro. O voto feminino mais à esquerda que o voto masculino, não tinha chegado ainda a Portugal, mas chegou agora.

Neste momento andam todos à procura de soluções. O CDS já tem candidato que está disposto a reposicionar o partido e levá-lo de novo para o Parlamento de onde nunca deveria ter saído. A palavra de ordem é “União” e tem razão. Só a união faz a força. Nuno Melo já apelou a essa união e muitos dos que abandonaram prematuramente o partido ou se afastaram da anterior liderança, já manifestaram intenção de regressar. Um partido fundador da democracia em Portugal, não pode deixar o seu lugar livre para usurpações alheias. A dispersão dos votos de mulheres e de homens, mais novos e mais velhos, acabou por ditar o resultado. Não agradou a muitos, mas em democracia tem de se saber aceitar o que o povo determina. Hoje foi assim, amanhã será certamente diferente. O caminho é espinhoso, mas terá de ser feito. E para isso é necessário abrir horizontes, criar novas dinâmicas.
Também os sociais-democratas estão em ebulição. Rui Rio não quer culpas e também não quer continuar à frente do partido. Para Rio, as razões do descalabro eleitoral, são essencialmente
quatro: voto útil à esquerda para evitar que o PSD ganhasse as eleições; muita gente dependente de subsídios e muitos funcionários públicos; as promessas em catadupa do PS e finalmente a deturpação e a máquina de propaganda do PS. E balizando o partido entre duas posições para a resolução, acabou por dizer que ou o partido deveria comportar-se como uma máquina eleitoral
ou manter-se com os objetivos partidários que sempre teve não se desvirtuando do seu papel social-democrata inicial. E com isto, disse tudo. Luís Montenegro será o principal candidato à liderança do PSD, segundo parece. Derrotado no confronto com Rui Rio em 2020, Montenegro deverá voltar a ir a jogo e está a reunir apoios em todos os setores do partido. Não terá tarefa fácil.
Outros poderão posicionar-se nesta corrida, mas todos correm o risco de serem as lebres da próxima caçada. A travessia do deserto será enorme para todos.

Quatro anos de abstinência. As soluções não se compram ao virar da esquina. É preciso equacioná-las, elaborá-las e desenvolvê-las. A sua posta em prática será a prova da sua aprovação ou não. De uma forma ou de outra, a procura de soluções é inevitável para todos os partidos, muito embora o percurso seja longo e difícil. Cabe-lhes a eles procurá-las.

Os lugares a quem se senta

Na hipocrisia anódina da análise dos resultados eleitorais, salta-nos no imediato uma maioria absoluta, que ninguém esperava e que quase ninguém desejava. Pouco resta para dizer. Sabemos quem ganhou e também sabemos porquê. Alguém tinha de ganhar e os dois partidos maiores estavam na grelha de partida. Chegou à meta o PS. Já outras vezes ganhou e outras perdeu, como é natural em democracia. Assim, será natural e lógico que da próxima vez ganhe o PSD. É a alternância política a trabalhar e a manifestar-se. O que não é tão normal, é o povo português, tão avesso a maiorias, ter dado essa primazia a António Costa e ao PS. Em Portugal elas não são de boa memória. Deram pelo menos em duas crises económicas e entre elas uma bancarrota. Vamos a ver o que dá desta vez todo o poder que depositaram nas mãos do primeiro-ministro. Agora, temos um Parlamento com nova composição, com outros valores, com outros objetivos e com outra oposição. Apesar do PS estar em maioria, isso não lhe dispensa o máximo de atenção às críticas da oposição e não lhe permite democraticamente governar a seu bel-prazer, como se de uma ditadura se tratasse. Era o que faltava. Se tal acontecesse, seria o fim do partido socialista certamente. Saíram alguns partidos da Assembleia ou ficaram bastante reduzidos por falta de representatividade. Foi pena que assim acontecesse, pois eram fundadores da democracia como é o caso do CDS e do PCP. Deram os seus lugares a outros que certamente os não irão dignificar. São as alternâncias da democracia e as ondas de movimentação do povo que, por vezes, causam verdadeiros tsunamis. Varridos o CDS, o PEV e reduzido o PCP e o BE, os lugares vagos foram ocupados por novos teorizadores da política portuguesa. Todos, oposição ao PS e ao futuro governo. As desculpas que cada líder deu para o fracasso eleitoral, foram diversas e puseram a tónica no logro que o PS proclamou durante a campanha e nas promessas não cumpridas. O povo julgou e esse juízo terá consequências obviamente. Contudo, a autodesculpabilização de Francisco Rodrigues dos Santos do CDS foi positiva e em tempo certo. Não tinha outra alternativa senão assumir as culpas de alguns desmandos em tempo inoportuno. Mas como é evidente, o CDS não morreu. Ele mantém-se vivo em quase cinquenta autarquias nacionais, nos governos insulares e na Europa. Fora do Parlamento, é verdade que tem uma árdua tarefa de reconstrução nos próximos quatro anos e caberá ao novo presidente, após Congresso Nacional, esse trabalho penoso, mas certamente reconfortante. A próxima Assembleia da República terá com certeza a sua representatividade. É um partido democrático e um dos fundadores da democracia em Portugal e não pode ser banido do espetro político nacional sob pena de ser uma forte machadada não só para a democracia cristã, mas também para a democracia em geral. O crescimento do Chega no Parlamento, veio alterar substancialmente os assentos a ocupar na casa da democracia nacional e igualmente subverter, quiçá, a oposição a fazer ao PS. Se vão tomar assento, foi porque os portugueses assim o escolheram e contra isso nada a fazer. Como se vão comportar como oposição, como vão apresentar as suas propostas e como as vão discutir, é o que se vai ver logo que se inicie a discussão dos vários diplomas. Até agora, era um partido de um homem só e daqui para a frente? Vamos assistir aos debates também de um só deputado? Ventura não deixa falar mais ninguém! Dentro de algum tempo poderemos constatar se é mais um partido condenado a desaparecer ou não. Outros surgiram de igual modo e depois de uma ou duas legislaturas, desapareceram do quadro político nacional. Enfim. Coisas da democracia. Vimos agora o que aconteceu também ao PEV, ao BE e ao PAN. A tendência decrescente dos partidos não fundadores da democracia tem sido grande. Possivelmente o CDS reerguer-se-á, mas estes poderão não ter estofo para tal. No final de tudo isto, a bipolarização irá sempre ser uma constatação. O próximo governo de Costa será idêntico ao anterior e poderá ser o último, segundo creio a seguir a lógica dos últimos quarenta anos. O PSD poderá ser o vencedor das próximas eleições legislativas, com ou sem maioria. Penso que as maiorias são prejudiciais e tendencialmente redutoras da democracia fazendo lembrar um pouco as ditaduras de má memória na Europa que aliás, ainda hoje se mantêm. Sendo Costa um governante sagaz e inteligente habituado a lidar com outros governos e tendências, saberá demarcar-se dessas tentações onde só um manda em todos. Temos quatro anos para julgar. Agora meus senhores ocupem os seus lugares e mostrem que a democracia tem pernas para andar e, por favor, não nos façam ir a eleições novamente daqui a dois anos.

As voltas do vira

Ora viras tu, ora viro eu, ora viras tu mais eu. É assim que costumamos dizer quando nos referimos ao Vira, dança caraterística do Minho, mas conhecida em todo o Portugal. Mas também há as voltas da vida e para isso dizemos as voltas que a vida dá, para justificarmos o que não é muito justificável, mas inesperado. Leva-nos isto a concluir que nem sempre acontece o que se espera e que também nem sempre o que parece é. Previsões, todos as podemos fazer e como dizem os aficionados do futebol, prognósticos só depois do jogo. A este propósito, ou talvez nem por isso, temos vindo a assistir a debates televisivos entre os vários partidos e os seus líderes que se vão alinhando para as eleições de 30 de Janeiro. E o que não temos visto efetivamente, são as voltas que se adivinhavam tornando as refregas mais interessantes. Na verdade, se estivessem todos em palco preparados para dançar um Vira, nada aconteceria, pois ficavam estáticos sem dar um passo sequer em direção ao par seguinte, nem que fosse uma pequena volta rodopiada dando colorido à dança. Não. Nada tem acontecido além da monotonia dos bailados. Não houve introdução de temas novos. De facto, é pena que assim seja pois o monocromático e monolítico discurso com que temos saudado o PCP, a famosa cassete, parece ter-se agora instalado nos outros argumentistas partidários, nomeadamente em António Costa que, brandindo o seu Orçamento reprovado, mas que quer aprovar, continua na senda de mais do mesmo, sem nada alterar como se o Orçamento reprovado tivesse forçosamente de ser aprovado na próxima legislatura. Isto é dramático, já que nada indica que possa ser aprovado e a ser assim, deveria ter alterado o que o levou ao chumbo na Assembleia. Se as premissas são as mesmas, a conclusão dificilmente será diferente da anterior. Inteligente e astuto como é, Costa deveria esgrimir outras armas e objetivos diferenciados em todos os debates sem se tornar repetitivo, cansativo e desmotivador. Já está a ser acusado de ter engolido uma cassete. É óbvio. Agora, em plena rua, pouco mudou. Mas não é o único, infelizmente. Todos os outros acabam por defender as suas ideias primitivas sem lhes introduzir nuances que levem a acreditar ser possível discutir, aprovar e melhorar a economia, educação e saúde deste país. Mas insistem no mesmo. Todos sabemos que há linhas essenciais no programa de todos os partidos e que eles as defendem com toda a força e galhardia, mas há modos diferentes de as apresentar e de as discutir sem cair no ridículo da repetição, mas há quem já peça maioria absoluta. Na verdade, os debates acabaram por não ser interessantes e serem redundantes. Para mudar isto era preciso termos outros políticos. Realmente se queremos mudar os paradigmas políticos, teremos de mudar também e rapidamente, os seus líderes partidários. Renovar será a palavra-chave a ter em conta na cabeça dos portugueses. E se mudarmos, damos a volta necessária na dança do vira. E neste folclore político só haverá uma dança bem executada se todos os pares dançarem bem, certos e com as voltas completas. As caravanas dos partidos arrancaram e espalham-se pelos quatro cantos deste palco num vira fantástico, mais vivo certamente que os discursos apresentados pelos seus presidentes nos debates a que assistimos. Serão quinze dias de euforia partidária em que a deslocação se fará por todos os meios possíveis e mais rápidos, seja por combóio, por estrada ou por avião. Sabemos que as arruadas serão poucas devido à pandemia o que parece salutar. Há que evitar mais problemas de saúde a quem já tem tanto a temer. O Chega é de outra opinião e faz arruadas sem conta e medida. Os parceiros deste Vira são bastantes, mas só um deles poderá no fim, exibir o estandarte da vitória. Vitória que não será absoluta certamente, mas que permitirá conjugar os esforços necessários para arranjar par para acabar de dançar o vira. É que só se dança se houver par, caso contrário não há dança nenhuma. Não quer isto dizer que outros pares não se perfilem, mas nem todos servem para este vira. Antigamente, nos bailes da aldeia as raparigas esperavam que os rapazes as chamassem para dançar e muitos levavam uma tampa pois não lhes agradavam as aparências e o contrário também se verificava. É tudo uma questão de namoro. Sem par não se dança e quem ganhar terá de arranjar par que sirva, Agora, em palco, todos estão perfilados e a dança já começou, no entanto, todos sabem que só PS ou o PSD poderão aguentar até ao fim. O Vira é cansativo, mas quem melhor dançar é que vai conseguir erguer o estandarte do partido, muito embora isso não signifique que vai poder governar. Vai ter de dar mais umas voltas e não levar tampas. São as voltas do vira!

Luta contra o tempo

O tempo é uma moeda de troca para quase tudo. Diz-se que o tempo tudo faz esquecer, que o tempo tudo apaga, que o tempo é uma escola da vida, que não se deve correr atrás do tempo, enfim, muitas coisas se dizem, mas penso que o tempo é uma invariável que não se modifica por nada deste mundo. Dizemos frequentemente quando estamos mal que, temos pouco tempo de vida, quando deveríamos dizer que temos pouca vida no tempo interminável. O tempo não tem fim e tudo acontece no tempo. Diz-se também que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem, o que equivale dizer que o tempo é só um e todo o tempo lhe pertence. Ora assim sendo, nós pertencemos ao tempo. Mas seja como for, gostamos de medir o tempo, de contar o tempo e ver quanto tempo temos para fazer uma tarefa, seja ela qual for. E aqui, talvez, possamos lutar contra esse tempo que pode ser comensurável, já que tem o fim para a tarefa proposta. Roubamos simplesmente um pouco de tempo ao total do tempo que governa o universo. É perante este paradigma temporal que a conjuntura atual nos posiciona. Se por um lado nós não sabemos quando é que a pandemia nos vai deixar, por outro sabemos que vamos ter eleições legislativas no dia 30 deste mês. Não há mais tempo. O que os partidos políticos enfrentam agora é uma luta contra o tempo e, quiçá, contra os eleitores. Mas será que a questão da pandemia e as eleições estão relacionadas? Claramente. A luta não é só contra o tempo, é também contra a pandemia. A verdade é que os eleitores se vêm constrangidos perante o ato eleitoral já que têm receio de ir até às urnas para descarregar o seu voto. Há um medo latente que vai impedir muitos eleitores de sair de casa para votar. A pandemia está cada vez mais a afirmar-se em todo o território português e a levar muitos a um confinamento indesejável que, por sua vez, os vai impedir de sair de casa para votar. Numa altura em que é urgente eleger um novo governo e virar a página, como se diz, eis que há impedimentos externos à vontade popular e governativa e aqui, nem o tempo é chamado a decidir seja o que for. Esta relação, não gostaríamos que existisse, mas existe. Felizmente os partidos políticos gozam do privilégio de poderem transmitir as suas ideias pela comunicação social, onde as televisões têm primazia apresentando debates entre os líderes partidários. Mas não podem exceder um tempo marcado: 20 minutos, ou seja 10 ou 12 minutos para cada um. Tempo demasiado restrito, mas que não estica e é para cumprir. O que acontece é que eles nesses debates lutam contra o tempo para conseguirem responder e explicar o que pretendem para o país. Não conseguem. Atropelam-se as ideias, entaramela-se a língua e as palavras não saem com a fluência que deveriam. Há coisas que não devem ser feitas à pressa. O que temos visto nestes frente a frente é mais do mesmo. Repetem-se as mesmas ideias que todos conhecemos porque não se pode inovar coisa nenhuma sob pena de não ter tempo para explicar coerentemente o que se pretende. A pressão que o entrevistador exerce sobre os líderes é tanta que os baralha e, as interrupções que fazem ainda mais os confundem quando estão no meio de uma explicação qualquer. Pouco se retira do que realmente dizem. As ilações são feitas depois pelos analistas que, assumidos em suprasumo da matéria política, nos fazem crer que A ganhou a B ou C ganhou a D. Pura retórica. Nós também sabemos analisar e vemos quem nos agradou mais ou menos no que disse ou defendeu. O mês de Janeiro vai assim ser uma corrida contra o tempo. As campanhas a sério estão quase a começar e o país vai ser invadido por enormes paragonas políticas onde as frases mais chamativas terão lugar para convencer os portugueses mais indecisos a escolher o seu futuro primeiro ministro. Acabados os Reis em que ninguém votou, cabe-nos agora eleger o rei que nos pode governar nos próximos quatro anos, ou não. O problema não é de fácil resolução. As equações estão feitas, resta resolvê-las. Incógnitas todas as têm, mas qual será o resultado? Para os estudiosos de Matemática, podemos dizer que há aqui um sistema de três ou quatro incógnitas, o que torna a sua resolução muito mais difícil. Teremos de aguardar para ver se o povo português consegue chegar a um resultado que agrade à maioria. Vai ser uma luta contra o tempo, como já estamos habituados. Não haverá muito de novo, a não ser que estas eleições estão no tempo errado. Se o tempo não fosse tão enorme como é, talvez tudo se tornasse muito mais difícil, já que seria necessário incluir no tempo certo, um tempo errado, mas o tempo não se importa. Enfim!

Vendavais- Do Natal aos Reis, servi o que bem sabeis

É Natal, festa da família, do convívio e da degustação do trivial. Os tempos mudaram, mas a tradição é quase a mesma desde há um século. Parece ser no Norte que se verifica mais a exclusividade de uma tradição ligada ao bacalhau que à mesa acompanha as couves na ceia de Natal. Há mais de um século ele era a delícia dos mais pobres que o comiam cozido com as belas couves galegas e às vezes cebolas. No Sul, as coisas não são tão tradicionais. Aparece mais o peru e é o dia de Natal o mais celebrado. A consoada parece não ter tanta importância. Mas é em Lisboa que o Bolo-Rei surge e se transforma num sucesso tremendo, mesmo antes da implantação da República, em cujo regime se alterou o nome para Bolo de Natal, mas rapidamente veio a recuperar por vontade popular o nome real. O espírito de Natal esteve sempre envolto em animação na cidade do Porto e em todo o Norte. Se hoje na última feira antes do Natal, todos vão comprar o que precisam, o mesmo acontecia na última feira na cidade do Porto, onde as ruas se enchiam com a população da cidade e das regiões vizinhas, todas aperaltadas, passeando-se pelas barraquinhas dos vendedores de mel, do pão-de-ló, do pão de trigo e da regueifa. Era uma animação extraordinária que não se perdeu em todo o Norte, já que ainda hoje o mesmo se verifica nas feirinhas que por todo o lado acontecem. As pessoas são aos magotes, procurando as hortaliças e frutas secas para a ceia de Natal e enfeitar a mesa que, em muitos casos, não se desmancha até aos Reis. Se antes tínhamos o bulício das ruas onde podíamos encontrar os tocadores de gaitas de fole, hoje também os temos em muitos momentos, quer na cidade, quer nas aldeias do interior. Os garotos no Nordeste e não só, costumam “cantar os Natais” andando de casa em casa recebendo o que lhes é possível dar. Mas se há algum sentido profano nestas comemorações, enganemo-nos pois o espírito de Natal também acontecia nas igrejas. No século passado faziam-se as novenas ao Menino Jesus, não só na cidade do Porto, mas também em outras localidades. E não nos esqueçamos da Missa do Galo, que na noite da consoada é o ponto marcante das cerimónias religiosas da véspera de Natal. Reza a tradição transmontana e até minhota, que se deveriam alimentar as “alminhas” e para isso deixavam à entrada das portas uma “mesa posta” para que elas de alimentassem, participando da refeição natalícia. Outra tradição que se mantém é a construção do Presépio que já desde a Idade Média tem as suas raízes bem estruturadas. Faziam-se nas igrejas e em todas as casas. Era uma azáfama emocionante a sua armação, pois era necessário ir ao musgo e ter as figuras essenciais para a representação do estábulo e do que o circundava. A imaginação dos garotos era posta à prova para ver quem conseguia as melhores figuras e o melhor Presépio. A par do Presépio vinha a Árvore de Natal que se encontrava nos espaços públicos e nas casas mais tradicionais. Arranjar o pinheiro ajustado ao espaço disponível da sala e enfeitá- -lo era uma tarefa interessante. Antigamente, em que faltavam meios para adquirir os enfeites mais chamativos, tinham lugar o algodão, os rebuçados e as fitas coloridas. As bolas coloridas eram mais caras e por isso andavam arredias das Árvores de Natal em ambiente rural. Nos espaços públicos, hoje tão em voga, era diferente no século passado. A primeira Árvore de Natal parece ter aparecido no Porto no Palácio de Cristal, em finais do século XIX, enfeitada com brinquedos variados, balões e as fitas douradas. Hoje há quase uma concorrência entre as cidades para ver qual tem a maior e mais bonita Árvore de Natal. Ligado ao Natal está também o hábito de dar presentes. Essa tradição mantém-se em todo o mundo, apesar de há cem anos atrás só as famílias aburguesadas terem essa primazia. Hoje as crianças anseiam pelo Natal e invocam o Pai Natal como o distribuidor das prendinhas que caiem pela chaminé no dia de Natal à meia noite e vão parar ao sapatinho de cada um. Hoje podemos dizer que a tradição, na sua essência, se mantém. É a festa da família ligada pelo bacalhau cozido e as couves pencas e também o polvo que termina na Missa do Galo. O dia seguinte serve-se o peru e a roupa velha e a mesa está já posta com toda a doçaria onde não podem faltar as rabanadas, o Bolo-Rei, as filhós, os bolos de bacalhau, a aletria e o leite-creme. A mesa normalmente não é levantada até aos Reis. Quem quer serve-se e quem vier que se sirva também. De ontem até hoje, a tradição mantém-se. A única iguaria que não faz falta nesta festa, é o vírus que não permite que as famílias se juntem alegremente e à vontade. É pena.

Vendavais- O jogo da cabra cega

Todos já ouviram falar e até conhecem o jogo da cabra cega. Os mais novos não sabem, não conhecem e não jogam já este jogo engraçado que era habitual jogarmos no tempo da escola primária. Os recreios eram animados e todos estavam ansiosos para que a professora nos mandasse para o intervalo. Era uma festa ainda que durasse breves minutos. De olhos tapados, a criança procurava encontrar e comprometer outro colega do jogo, apanhá-lo e obriga-lo a andar de olhos tapados à procura de outro incauto ou menos espevitado. Hoje os tempos são outros, já sabemos e, os divertimentos são substancialmente diferentes e mais perigosos, quer para as crianças, quer para os adultos. Os jogos são tentadores e os mais incautos arriscam demasiado em busca da vitória que nem sempre compensa. Até parece que de olhos vendados já ninguém anda nem quer andar no meio deste jogo onde muitos se comprometem e só um ganha. A cabra cega, apesar de tudo e dos tempos, continua a ser jogado. Não propriamente pelas crianças, mas pelos adultos e com uma diferença enorme: não andam de olhos vendados, mas pensam que os outros usam vendas e por isso não os apanham. Erro fatal. Se antigamente eram as crianças que vibravam com este jogo, hoje são os crescidos, conhecedores do jogo e das regras, que adoram correr os riscos e ver se ninguém os agarra. Contudo e embora as regras sejam de quem as faz, é preciso cumpri-las o que nem sempre acontece. O falsear das normas e a tentativa de ludibriar os parceiros não significa que o jogo se possa ganhar facilmente. Exemplos disto temos imensos, desde a criança que é seduzida pelo adulto que está do outro lado da linha de olhos vendados tentando apanhar no engodo o parceiro de jogo que, se deixa enredar e só tarde demais se apercebe que caiu numa cilada e perdeu o jogo, até ao espertalhão que enganando tudo e todos se aproveita da suposta inocência dos parceiros e foge com o produto da vitória. Falsa vitória. No meio de tudo isto há milhares de exemplos. Jogar à cabra cega é jogar na universalidade de oportunidades. Não é um jogo só português já que se joga em todo o mundo. Infelizmente o que nos toca a nós é bem representativo da falsidade das regras e do abuso de confiança e do logro em que facilmente as instituições são capazes de cair. Nos últimos tempos, quantos banqueiros foram apanhados a jogar à cabra cega? Muitos. Uns estão presos, outros estão a aguardar julgamento, outros indiciados de vários crimes ligados à manipulação indevida de capitais, outros simplesmente fugiram à justiça e andam por lugares incertos, ou quase. Em alguns casos, até quase dá pena saber a sanção que apanharam e terem de passar o resto da vida numa cela, deixando a família ao abandono. Será que não conheciam as regras do jogo? Não, o que pensavam é que os outros andavam de vendas nos olhos e não seriam capazes de os ver descarrilar. Mas viram. A justiça é cega, diz-se, mas consegue ver longe. Pode demorar, mas acaba por ver e apanhar o mais incauto ou, melhor, o que pensa ser mais esperto. Foi o que aconteceu recentemente a Rendeiro. A segurança com que afirmava que não voltaria a Portugal e que vivia bem num país estrangeiro, que não queria revelar, e ainda que o Estado português lhe teria de pagar uma indeminização de 30 milhões, roça o ridículo, o incrédulo e a maior estupidez possível de quem deveria ter maior esperteza e discernimento. A sagacidade que aparentava ter caiu sem que se apercebesse disso. O jogo da cabra cega, neste caso, jogou-se às avessas, já que Rendeiro não andava vendado à procura de apanhar os parceiros. Não. Ele pensava que eram os outros que andavam de olhos vendados, mas claramente ele é que estava completamente cego e foi apanhado sem contar. Quem não andava de olhos fechados era a Polícia Judiciária que trabalhou bem e em segredo e conseguiu apanhar o prevaricador. E agora Rendeiro? Valeu a pena? Não. Talvez o muito dinheiro que possui o ajude a dilatar o tempo de liberdade, comprando tempo em reclamações na justiça, em justificações injustificadas, em jogos e joguinhos de cabra cega, mas acabará certamente por cumprir a pena de não ter cumprido as normas com que se deve jogar este e qualquer outro jogo. Os jogos de poder são demasiado perigosos para jogar mesmo sem vendas. Como sabemos, não é só Rendeiro que está à perna com a justiça. Outros vivem a mesma situação e talvez a justiça tire exemplos de uns que sirvam a outros e assim, possivelmente Rendeiro continue a jogar à cabra cega, mesmo com justiça.

Vendavais- E o inferno aqui a lado

Parece que o destino nos lidera até ao fim dos nossos dias. Há quem não acredite neste fatalismo provinciano e opte por dar à vontade alheia e à sorte essa liderança da vida de cada um. Será assim ou não, mas a verdade é que tudo o que acontece tem uma causa e às vezes também tem explicação. Sim, porque muitas vezes não conseguimos explicar o porquê das coisas acontecerem. Vivemos num mundo a desfazer-se, a decompor-se, a desmoronar-se e todos sabemos disso, mas não conseguimos impedir que isso aconteça, ou porque os que podem não querem e os que querem não podem. Um dilema atroz que nos empurra cada vez mais para o abismo. Se dermos mais um passo em frente, caímos. O pior de tudo é que as vontades de uns não se identificam com as vontades dos outros, ainda que esses outros estejam mais certos ou pelo menos aparentem ter mais razão ao defender determinadas atitudes. Procuremos a razoabilidade das coisas e tomemos atitudes mais consentâneas com a realidade que vivemos e talvez este mundo em pedaços volte a unir-se e possamos voltar a poder olharmo-nos de frente e sem receios. Seria bom. Efetivamente, tudo seria diferente se tal acontecesse. Há já dois anos que rodopiamos em volta do receio de um vírus que por sua vez se vai transformando fugindo ao combate que a ciência lhe vai fazendo e quando se pensava que tudo estava a correr bem, eis que ele se volta a transformar pondo a comunidade científica e mundial novamente em sobressalto. Num ápice, o abismo volta a estar cada vez mais próximo. Ainda o anterior Delta se tentava debelar, mesmo contra a vontade dos negacionistas que não sabem avaliar exatamente o valor da vida e do próximo, e já temos nova preocupação. Países como a Áustria, a França, a Eslováquia e até a Alemanha, estão a braços a lutar para conter o avanço extraordinário do Covid19 – Delta, levando a Europa a ter de tomar precauções redobradas e a confinar novamente algumas cidades. Esta situação começava a estar longe das lucubrações dos mais ousados, mas é uma realidade, talvez porque a capacidade de vacinação é pouca ou porque a juventude que pensa que as adversidades só acontecem aos outros, jamais os apanharão. Enganam-se. Vive- -se um verdadeiro inferno na Europa central e de leste. São milhares a serem contagiados diariamente e os óbitos sobem cada vez mais ultrapassando os de há um ano atrás. O medo está a alastrar e a insegurança é cada vez maior. Portugal que pensava igualmente que se estava a debelar o perigo e se ultrapassava a situação caótica que se tinha vivido no Natal passado, treme agora perante um ressurgimento inesperado, ou talvez não, do número de casos que estão a surgir. Tem valido termos mais de 87 por cento da população vacinada o que incute alguma segurança acrescida, mas não total. Novamente, vemos que está na camada mais jovem o alastrar da pandemia. Isto deve-se obviamente, a uma certa irreverência e falta de responsabilidade que tem caracterizado a juventude. O abuso das liberdades e a vontade de recuperar o tempo perdido, leva-os a um comportamento irresponsável e demasiado perigoso. Por enquanto, ainda podem ir às discotecas, mas até quando? Cabe-lhes determinar a data do seu próprio impedimento. O aproximar da época natalícia e da confraternização familiar, é um momento igualmente perigoso e por isso terá de estar sujeito a uma certa contenção nos festejos. Família é família, mas se a queremos ter sempre perto de nós, temos de a saber preservar. Já todos pensávamos num Natal igual a muitos outros de há uns anos atrás, mas a cortina que se está a levantar, corre célere e temos de esperar pelo inesperado. Oxalá não aconteça. O melhor é não descurar as possibilidades perante a nova estirpe que chega à Europa vinda da África do Sul e cujas referências ainda estão por decifrar. Meio incógnita, parece trazer sinal de morte e de rápido contágio. Novamente o Inferno aqui ao lado. Fronteiras fechadas, testes obrigatórios, aceleração da vacinação, teletrabalho obrigatório, aulas adiadas, escolas fechadas, hospitais a rebentar pelas costuras e falta de pessoal médico. Pior Inferno não há. Esta nova variante ainda não chegou ao nosso país, mas não demorará muito. Se acontecer, todos corremos o risco de viver mais um Natal e um Fim de Ano, que não queremos, e não desejamos, porque ninguém quer viver num Inferno deste tamanho, se é que o Inferno tem tamanho. Deus nos livre de tal coisa.

Vendavais- Sem brilho

São desconcertantes algumas das notícias que nos são veiculadas e que põem em causa o nome de Portugal e dos portugueses, pela simples razão, de nos vermos envolvidos em esquemas extraordinários e até inimagináveis. A verdade é que os esquemas são apanágio dos portugueses, embora uns sejam envoltos em boas intenções e outros nem por isso, mas esquemas é mesmo coisa dos portugueses. Se não fosse estar a corrupção ligada a estes esquemas, ainda poderíamos apreciar a capacidade de invenção que temos para organizar a diversidade com que eles se apresentam. Infelizmente, acabam por ser organizados por quem tem instintos menos lícitos e objetivos mais ambiciosos, não se importando com os que lhes estão mais próximos, arrastando-os para um lamaçal terrível. Sem culpa aparente, Portugal vê-se igualmente envolto pela polémica e acaba por ser conotado como um país corrupto afastando possíveis interessados em investimentos mais dignos e promissores. É um sobe e desce que descarateriza o nosso lindo cantinho à beira mar plantado. O brilho que a ancestral cultural habitualmente nos dá, acaba por se ofuscar e perder toda a fulgência que sempre nos serviu de emblema. A ganância de uns não pode servir para denegrir a clarividência dos outros e arrastar tudo e todos para um poço sem fundo onde a dignidade desaparece e se confunde com aldrabice, mentira e desrespeito. Os Comandos sempre foram uma referência de elite no plantel das forças armadas portuguesas. A infiltração de alguns elementos que nada mais são do que empreendedores do crime, acabam por arrastar esta organização para o pátio lamacento do crime, da corrupção e da aldrabice, desrespeitando tudo e todos. A operação Miríade acabou por desvendar toda a rede e trazer a lume os interesses abjectos destes indivíduos. Colocados em terreno fértil a tais atos e perante o brilho do carbono puro, tão antigo como a própria Terra, depressa se alquilaram a comandantes do negócio brilhante que os poderia levar a um brulho fora do comum. Enganaram-se. No entanto, puseram em causa, além da organização a que pertenciam, o próprio governo e o Presidente da República que andaram completamente à deriva durante toda a investigação, desconhecendo toda a trama. Felizmente, perderam o brilho os traficantes de diamantes que, percebendo pouco do assunto, até andaram a tentar comercializar diamantes que nada valiam. Infelicidades de amadores. Contudo, não se pense que o brilho se apaga somente nestes criminosos. Outros há, que não sendo criminosos, perdem o seu brilho com as ações que praticam e o interesse que demonstram. O brilho de antigas eleições quer nos partidos, quer das legislativas, estão a perder o seu brilho em cada dia que passa. Estamos a par certamente do interesse que tanto Rio como Rangel têm nas próximas eleições legislativas, mas mais do que isso, na importância que cada um tem de se afirmar como o próximo primeiro-ministro. Para isso um deles tem de ganhar as eleições partidárias que estão envoltas em polémica devido aos prazos que o Congresso impõe e à data em que se pode realizar. E se um promete fazer isto e aquilo, o outro não promete menos, nem que seja o seu contrário. E por vezes parecem estar em sintonia. Como decidir? Mas nada disto tinha um interesse maior se não fosse o facto de o PS poder ganhar novamente as eleições legislativas. Só uma maioria de Centro-direita poderia evitar este cenário e uma nova espécie de geringonça do PS. Tudo voltaria a ficar na mesma e de nada teria servido a dissolução da Assembleia. Alianças sim, mas com quem? Catarina não quer ser excluída e tudo fará para que o PS não lhe diga que não. O PC está atento e aberto, certamente. E Costa nada diz. Quase sem brilho, nesta fase, vai esperando pela decisão dos portugueses. Não arrisca, mas a medo, vai pedindo uma votação em massa que lhe permita ganhar com maioria. Não é certo e não irá tê-la porque os portugueses já não vão em cantigas. Deste modo, o cenário não tem qualquer brilho. Por outro lado, Ventura levado sem querer a eleições internas, vê-se novamente envolto na ilegalidade da sua eleição. A falta de democracia interna, vai levá-lo a nova votação e ao adiamento do Congresso. O brilho que pensava ter, está-se a perder e um nevoeiro terrível baixa sobre si neste conturbado dilema. Mas há um brilho que pode servir de exemplo: a Arábia Saudita vai ter futebol feminino no final deste mês de novembro. No meio de tanto obscurantismo, eis que surge um brilho imenso na possibilidade de as mulheres aqui, brilharem com uma bola nos pés e uma ponta de democracia no coração. Finalmente.

Vendavais- Um animal de estimação chamado loucura

Acabou-se a loucura do Orçamento que é um animal de estimação de todos os partidos. Contudo, os partidos têm o seu animal de estimação que é a loucura. Há hoje em dia uma tendência para que se tenham animais de estimação que obrigam a quem os tem a uma ginástica temporal diária, o que não é impeditivo a que se mantenham e com direitos de mordomias. Sinais dos tempos. Todos os dias, no bairro onde se vive ou nas ruas que percorremos, lá vão eles presos pela trela ou não, com os donos num amigável passeio digestivo e sanitário. Não dão grandes liberdades para que eles não causem problemas de maior quer aos donos quer aos que com eles possam cruzarse. Mesmo com todos estes cuidados, os problemas surgem quando menos se espera. Mas se uns têm em casa animais desta espécie, outros há que mantêm espécies diferentes como se fossem animais de estimação e que levam a passear por ruas e ruelas bastantes apertadas correndo o risco de saírem machucados. Curioso é que, mesmo sabendo dos riscos que correm, não abdicam de passear os seus “animaizinhos” por estes lugares muito perigosos. A loucura tem vários modos de se manifestar. Uns mais meigos, outros mais agressivos e ainda outros mais exigentes e perigosos. E tem ainda uma forma subtil de se mostrar, de se insinuar e de querer mostrar que não é de modo algum, a loucura que todos apregoam e rotulam. Afinal, ela só é loucura porque as consequências do seu comportamento podem ser demasiado gravosas. Contudo, os seus progenitores não se coíbem de a passear e mostrar quão importante é lidar com ela. No fundo é só mais um animal de estimação no meio de tantos outros. A única diferença é que falam pela voz do dono. Todos os anos assistimos a uma luta de galos para aprovar o Orçamento do ano que se segue. Acabámos de ver o Governo fazer manobras mirabolantes para convencer os partidos de que a solução apresentada seria a melhor para manter equilibrada a balança do desespero económico do Estado. Mas, como vimos, não é fácil consegui-lo. Há que namorar e muito, os possíveis parceiros de quarto. O problema surge quando eles não gostam das investidas namoradeiras e se recusam a fazer parte desse jogo. Aqui exigem e dizem não. Uma autêntica loucura. Todos sabem os riscos que correm os portugueses que assistem a estes namoros de parapeito. E, mais listo que todos eles, o Presidente da República, no patamar superior, foi chamando à atenção de todos eles, para o perigo de o namoro correr mal e a necessidade de se entenderem, deixando as loucuras e as pretensões de vitoriazinhas de lado. É que este animal de estimação é demasiado perigoso para passear pelo orçamento, que é apenas uma das ruas estreitas lá para os lados de São Bento. Mas não pensemos que é só o governo a ter este animal de estimação a que, por sinal, foi dando alguns metros de liberdade nos seus ténues passeios de fim-de-semana. Não. Os outros que com ele se cruzaram fizeram alarde de os mostrar igualmente, com rédea bem mais curta e com exigências bem maiores. Outra loucura de estimação, que lhes deu gozo passear, sem se preocuparem muito com os transeuntes que poderiam ficar afetados ou até mutilados por esta loucura terrível. O que é importante de igual modo, é saber que os nomes dos donos destes animais de estimação a que chamam loucura, são conhecidos de todos e não é por isso que eles se importam. Seja o PC, seja o BE, seja o PAN ou outro qualquer, adoraram passear a sua loucura pelos meandros do Orçamento e pelo caminho foram mostrando onde queriam ir e com quem e, o mais importante, como queriam ir. A companhia era importante, mas só uma servia e se adequava à sua própria loucura de estimação. Mas todos sabiam que as ruas eram demasiado estreitas para esses passeios. Foi pena que assim fosse. Se não servia ao Governo qualquer companhia, o certo é que ele escolheu e delimitou as escolhas somente a alguns e o mesmo aconteceu aos outros. Restava esgrimir a força das suas loucuras e ver qual delas aguentaria mais as outras ou se entendia com elas. No fundo, além de passear a loucura pelo Orçamento, seria ter um Orçamento, mesmo que fosse de loucos. Mas não houve. O Presidente da República tinha avisado. Todas as tentativas se finaram e como estamos em época de finados, até serviu para enterrar a Geringonça de vez. Todos sabiam que corriam o risco de ir a votos para escolher nova loucura. Derrotado, Costa, não se demite e está pronto para ir a eleições. Parece que todos estão. E quer queiramos quer não, teremos de viver todos a loucura que se instalou de novo. Penso que chega de loucuras. Pelo menos destas de estimação. O melhor é comprarem cães e levá-los a passear pelas avenidas da capital, mas com juízo, que chega de brincadeiras.

Vendavais- Seguir em frente

Há uma canção cantada no Nordeste brasileiro que refere a necessidade de seguir em frente. Seguir com a “boiada” atravessando os perigos vários que os “condutores” teriam que atravessar. É uma canção com uma música muito bonita e serena, que revela a força que é necessária para conduzir as manadas pelas terras perigosas, atravessando mesmo a zona imensa do Pantanal. Mas é preciso seguir mesmo em frente ou a tarefa pode soçobrar. Esta canção e o tema que aborda, pode servir de paradigma a imensas situações e não nos cansaremos demasiado a procurar algumas que se adaptem, mas o que deveras importa é mesmo ter de seguir em frente, seja qual for a situação. Recentemente tivemos as eleições autárquicas, muito disputadas, mas por poucos interessados, já que a abstenção rondou os 50%. Um desinteresse absoluto e inexplicável. Ou talvez até tenha explicação. Partidos foram demasiados. Votos poucos e ganhadores não foram tantos como desejariam os próprios. Foi desinteressante assistir ao que se passou nas sedes dos partidos, já que nenhum tinha a sensação de ganhar fosse o que fosse. Era um abatimento geral, sinónimo de uma incerteza tremenda e um vislumbre de uma derrota possível. Os que antes das eleições reclamavam vitória certa e se assumiam como alternativa, não só nestas eleições, como nas futuras, viam fugir-lhe cada vez mais essa possibilidade. Mais tarde diriam, como justificação, que umas nada têm a ver com as outras. Boa maneira de se justificarem depois da derrota. Outros, com mais alguma dignidade, assumiram o desaire e prometeram um combate mais acérrimo no futuro. Claro. Isto chama-se seguir em frente, sem medo e sem temores. Não duvido que custa admitir a derrota e até para os que não contavam ganhar fosse o que fosse, sempre gostariam de ter ganho uns lugares nas muitas freguesias do país. Pelo menos minimizavam a derrota, já que é melhor ganhar uns lugares do que não conseguir ganhar nada. Alguns partidos não conseguiram lugares nem nas freguesias, mas isso não os poderá levar à desistência. É preciso seguir em frente. Curiosamente, também houve quem admitisse a derrota, ao mesmo tempo que assumia uma vitória. É ridículo, mas é verdade. É uma incongruência, mas foi dita. É um bom trocadilho para justificar uma derrota que não se esperava e não se quer real. Há sempre o outro lado. Mais curioso talvez, é o facto de um dos partidos concorrentes às eleições ser considerado ilegal, arrastando toda a ilegalidade ao longo deste processo eleitoral. Resta perguntar agora, o que é que acontece aos poucos eleitos desse partido, se fazem parte de um processo ilegal que não deveria ter-se apresentado a eleições. Não deveria haver listas, mas houve. Não deveria haver votos nessas listas, mas alguém votou. Não deveriam ser eleitos, mas alguns foram. E agora? Serão demitidos? Substituídos? Serão votos nulos? E quem os vai substituir? Mas é preciso seguir em frente, resta saber como. Para já o presidente demitiu-se e o partido não tem líder, já que está revestido de ilegalidade partidária. Até ao próximo congresso, o barco não tem timoneiro, já que ninguém tem carta válida para o conduzir. Sem leme e sem rumo? A contabilidade final ditou surpresas enormes em várias autarquias. Coimbra, Figueira da Foz e Lisboa, para referir somente algumas. O que ressalta é o facto de os independentes ganharem Câmaras sem precisarem do apoio dos partidos. Leva-nos isto ao que muitos referem como estarem fartos de políticos e de promessas que não cumprem. E acrescentam que os partidos são todos iguais e que os políticos são isto e aquilo e que só se servem dos lugares para atingirem outros fins. Pois talvez, mas não podemos medir toda a gente pela mesma rasa. Há crivos diferentes! Por isso é que na Figueira se cantou vitória embora comedida. Mas Lisboa foi diferente e inesperado. Medina nunca esperou tal resultado. Tinha uma certeza quase absoluta de vitória, mas saiu derrotado e quer se queira ou não, arrastou Costa nesta derrocada, embora ele venha dizer que não. Custa admitir uma derrota, ainda mais quando não é esperada, mas a verdade é que é preciso seguir em frente. Ele próprio o disse. Vamos ver. Agora Lisboa com Moedas terá de mudar. Muito ou pouco, terá de cumprir o que prometeu, caso contrário dará razão ao que o povo diz sobre os políticos. Não vai ter tarefa fácil, até porque terá de dialogar com os outros partidos e sem diálogo, não há nem governo nem obra e os lisboetas gostam de cobrar. Eles têm a faca e o queijo nas mãos e se Moedas quer seguir em frente, terá mesmo de mostrar ao que veio. Não se ganha impunemente. E o PSD e o CDS e os outros coligados, também estão à espera que assim seja … para seguirem em frente.