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Luís Ferreira

Jogos de guerra

Com o avanço das novas tecnologias, as crianças e mesmo os adultos, divertem-se em frente à televisão e não só, com jogos que exemplificam a verdadeira natureza agressiva do homem e cujos objetivos são sempre os mesmos, vencer. Como qualquer jogo de guerra, um dos lados do conflito utiliza todos os meios para conseguir os seus objetivos e subjugar o adversário ao seu poder e domínio. Decalcados de uma realidade de aprendizagens de séculos, só nos penaliza que essa aprendizagem se limite a vencer e não a divertir no verdadeiro sentido dessa mesma realidade. Vivemos hoje um exemplo terrível e que será certamente transposto para um jogo de computador dentro de meses, com a intenção de divertir crianças que se entusiasmarão com essa nova realidade em que dois países se enfrentam ferozmente, sem se importarem com quem morre ou com o que se destrói, mas simplesmente com quem será o vencedor. Neste momento não sabemos. A Rússia e a Ucrânia contabilizam cinco meses de guerra e milhares de mortos e feridos. A destruição é quase total, mas parece não importar, pelo menos para a Rússia de Putin. É um jogo onde cada lado luta com as armas ao seu dispor. Como em todas as guerras há avanços e recuos. Mas o problema vai muito para além da Rússia e da Ucrânia. As consequências que hoje se alastram a todo o mundo são já enormes e terríveis. Os preços dos produtos subiu enormemente tornando incomportável a compra de determinados produtos nos países mais pobres onde a escassez de cereais, por exemplo, é assustadora. Perante a crítica internacional e a pressão das Nações Unidas com intermediação da Turquia, conseguiu-se a assinatura de um acordo entre a Rússia e a Ucrânia para desbloquear os portos da Ucrânia e os barcos que esperam por mais de 25 milhões de toneladas de cereais com destino aos países africanos mais carenciados como a Nigéria. A Nigéria estava já a comprar cereais à América do Sul a preços proibitivos, comprometendo a sua economia já por si demasiado débil. Mas este é um jogo diferente que também não interessava muito à Rússia continuar a jogar. Na realidade, se a Ucrânia é um dos maiores exportadores de cereais do mundo e a Rússia é talvez o maior, a verdade é que à Rússia, por um lado, não interessava reter os seus próprios cereais, mas também não interessa ficar com os produtos fertilizantes e fito fármacos destinados aos tratamentos agrícolas de que são grandes exportadores. E perante um decréscimo enorme da sua economia resultado das sanções internacionais, continuar a não ver o óbvio seria um enorme erro de estratégia económica e social. Isso foi ultrapassado, para já, com o acordo assinado entre as duas potências. Mas, como em todos os jogos, há sempre um trunfo que se tem de ter para ultrapassar as barreiras que o próprio jogo apresenta. E neste caso o trunfo, que os dois tiveram de usar, foi a Turquia. Este país desempenha um papel crucial neste conflito. Controla o estreito do Bósforo e sem a sua autorização, não há barco que por lá passe sem sua permissão. Aberto o Bósforo, os barcos ucranianos retidos nos portos ucranianos, já podem zarpar rumo aos países que aguardam os desejados cereais. A fome, um jogo difícil de jogar, vai poder parar um pouco e atenuar a ansiedade dos povos. Com a culpa toda em cima dos ombros, Putin não teve outro remédio senão aceitar a assinatura de um acordo que também lhe interessava enormemente ou não. O bombardeamento do porto de Odessa é disso um exemplo ao mesmo tempo que não se importa nada com o poder interventivo da ONU nas negociações para o acordo. Mas a questão é muito mais vasta. As críticas a que estava sujeita a Rússia e Putin eram de tal forma pesadas que só um acordo deste tipo o salvaria por mais algum tempo, embora ele ligue pouco a acordos. Todos os países do mundo, perante a horrível consequência da fome, especialmente em África, condenavam Putin e não auguravam um fim satisfatório para o ditador. Poucas eram as exceções a esta condenação ou porque lhe devem favores, ou esperam dele algo em troca ou mesmo porque simplesmente são pára-quedistas e oportunistas como o líder da Bielorrússia. Estes jogam um jogo de conformidade e paralelo que só complicam e em nada ajudam o jogo real. Papel importante coube também a Guterres como representante da ONU que acabou por liderar também o processo acordado, manchado pela atitude de Putin ao bombardear Odessa poucas horas depois. De qualquer forma, marcou pontos positivos para organização internacional e para Portugal. Assinado o periclitante acordo resta agora saber como se vai desenrolar a guerra na Europa. Para Putin e seus bajuladores, ela está para continuar e para além do Donbass. Para Zelensky, travar os russos é uma prioridade em que acredita, mas que depende de mais armas. O jogo de guerra continua e como em todos os jogos, quando se esgotam as armas, há que recuperar mais utilizando outras formas de as conquistar. Para Zelensky é mais difícil, mas para Putin as armas também se esgotam. Afinal quando é que este jogo de guerra vai acabar? Não será para já.

O desafio

A verborreia retórica e as mentiras a que Putin já nos habituou, não nos deixam levar muito a sério o que ele frequentemente verbaliza, principalmente quando se dedica a vangloriar as suas ações e as do exército que ele faz questão de comandar a seu bel-prazer. Na verdade, o povo costuma dizer que quer se quer matar não o diz a ninguém nem ameaça fazê- -lo e o mesmo é válido para os que ameaçam constantemente realizar qualquer maldade e nunca passam da ameaça. Penso que neste caso será o mesmo. Quantas vezes já ameaçou Putin os países ocidentais com o nuclear de que tanto se orgulha? Ele sabe que no momento em que o fizer, a Rússia e Moscovo desaparecem igualmente do mapa e milhões de pessoas desaparecem da face da Terra. Ele não quer isso seguramente. No entanto, o show-off da política russa, especialmente para consumo interno, leva-o a dizer o que lhe apetece, intimidando o ocidente com uma série de ameaças e desafios, como se isso fosse de tal modo impactante que o ocidente tremeria de medo perante tais ameaças. Como é evidente, não mereceu qualquer resposta o desafio que recentemente fez ao ocidente. A semana passada numa conferência de ministros e líderes russos, em que foi permitida a televisão russa estar presente para divulgar o que interessava divulgar, Putin lançou um desafio ao ocidente, ao referir que os ocidentais lutariam contra a Rússia até parar a guerra na Ucrânia nem que fosse até ao último ucraniano, acrescentou “eles que tentem”, “nós ainda não utilizámos quase nenhum do nosso potencial bélico”. Enorme desafio. Contudo, logo acrescentou que “evidentemente estamos abertos ao diálogo, mas quanto mais tarde pior”. O desafio talvez tenha caído em saco roto, no entanto, para o ocidente será sempre de levar em conta quando um louco como aquele atira atoardas ao ar e não se sabe se magoam alguém. A verdade é que ele necessita de dizer alguma coisa deste género para que a população russa acredite nos seus objetivos e na sua política, mas talvez não seja tanto assim. A opinião pública tem um peso enorme nas políticas e nas decisões que se tomam e a única forma de controlar esta força popular é tentar moldá-la mentalizando-a do que é melhor segundo o líder. Daí que toda a informação russa seja controlada e sejam proibidas as comunicações que critiquem as atitudes do governo. Quem o fizer, é preso e condenado. Isto é a democracia russa. A juventude russa que se vem manifestando aos poucos em toda a Rússia, está a ser altamente controlada e reprimida para que se contenha nessas suas manifestações. Mas a realidade vem sempre ao cimo como o azeite. A situação na Rússia está muito mal economicamente, muito embora eles não deixem passar essa mensagem. Então um dos maiores produtores de batata não tem batatas para a cadeia nova do Mac Donald? Desapareceram as batatas? Já não há batata frita nos pacotes de hambúrguer? Isto é um pequeno exemplo do que se está a passar a nível económico e até alimentar na Rússia. É necessário distrair o povo russo com a guerra, com as supostas vitórias nas terras ucranianas e com as destruições que conseguem fazer nas cidades que não lhes pertencem. É um abuso. Algumas fações russas exultam com estas notícias e terão ficado radiantes com o desafio feito por Putin ao ocidente. São as que o apoiam incondicionalmente e vivem à sombra dos grandes ordenados e cargos que ocupam. Outras estarão altamente receosas das loucuras de todos estes desafios. Na sua passividade, o ocidente resolveu levar a cabo mais um pacote de medidas de sanções contra a Rússia. O aperto é enorme, mas Putin parece não se amedrontar. Não o pode fazer, pois não dá sinal de fraqueza nunca. Contudo, ameaça e desafia, não um país, não um Estado, mas todo o ocidente, como se isso fosse coisa pouca. Ninguém leva a sério as palavras de um louco, mas estou certo que os países ocidentais ficarão mais alerta do que nunca à medida que o tempo passa. No estertor da morte, nem o louco quer morrer. Com o objetivo de ocupar 20% do território ucraniano, Putin continua assim a sua caminhada de destruição, de morte e de ameaças a tudo e todos os que se põe no seu caminho. Pasma, no entanto, que o ocidente não desafie nem ameace Putin da mesma forma que ele o faz. É um jogo que parece só ele saber jogar, mas a Europa e todo o ocidente estará a aprender. Preze aos céus que não seja tarde demais. Nunca fiando! A brutalidade do que está a acontecer na Ucrânia é uma vergonha para todas as democracias, mas nem por isso elas tentaram ameaçar as intenções de Putin. A verdade é que ele invadiu um país soberano, sem razões legais para o fazer. Da mesma forma, a Ucrânia ou outro país poderia fazer o mesmo à Rússia com o pretexto de acabar com um governo ditatorial e antidemocrático e, com alguma possibilidade de acertar, acabar com o nazismo que ainda por lá anda. Desafio por desafio. Claro que o desfecho seria catastrófico, possivelmente. Seria só mais uma ameaça e um desafio. Afinal, todos têm esse direito. As razões seriam as mesmas para justificar os desafios. Enfim!

Azáfama política

Há sempre um tempo em que parece que o próprio tempo é escasso e nos foge por entre as mãos. É o que sucede à maior parte dos líderes políticos neste momento. A guerra da Ucrânia que já dura há quatro meses e sem fim à vista, parece movimentar todas as atenções dos políticos do mundo inteiro, no sentido de encontrar soluções para travar o conflito sem que um dos interessados não o queira efetivamente. Terá as suas razões, ou não, mas sem dúvida o seu orgulho para lhe preencher o ego que penso já lhe começa a falhar. Seja como for, aí estão os líderes do G7 a reunirem quase à pressa para desbloquear a situação insuportável do que se vive na Ucrânia. Os mais ricos do planeta tentaram uma vez mais, conseguir o dinheiro e as ajudas necessárias que o Presidente Zelensky pede com toda a urgência para defender o seu território das garras do usurpador russo. Mais uns milhares de milhões e mais umas armas sofisticadas para a defesa do país ucraniano. A verdade é que as armas que têm chegado à Ucrânia conseguem impedir um pouco o avanço do exército russo e até conquistar algumas posições, mas não têm ido muito mais além disso, já que a superioridade russa é enorme. A sua capacidade de ataque e os mísseis que vai lançando a seu bel-prazer sobre alvos civis, é demonstrativo dessa vontade de conquista indevida, sem se preocupar com os residentes e as crianças que vão perdendo a vida num conflito que não entendem e para o qual não foram chamadas. Isto não é um conto de fadas com o qual elas se possam divertir. Não. Gostaria de saber qual será a postura de Putin ao tomar conhecimento das mortes de tantas crianças provocadas pelos seus mísseis e pelas bombas que indiscriminadamente manda lançar por todo o lado. Será que mostra um sorriso sarcástico na cara de galã? Será que consegue verter uma lágrima que seja com pena dos horrores que está a causar? Claro que não. Ele é demasiado frio para ter sentimentos tão quentes. Após esta reunião, pouco irá mudar a este respeito, mas resta-nos sempre a esperança de que um dia, mais perto ou mais distante, algo terá o seu efeito no sentido de pôr fim ao descalabro da guerra na Europa. Que os políticos tomem as decisões acertadas e que consigam encurralar Putin de modo a travar definitivamente o conflito, é a nossa esperança. Com esse propósito, reúnem-se em Portugal, os políticos mais influentes que têm nas mãos o controlo do dinheiro e a sua distribuição, para estudar a formas de melhor o utilizar, ajudando quem necessita, estando na linha da frente a Ucrânia. Lagarde saberá chegar a alguma conclusão? Esperemos que sim. Aos políticos o que é dos políticos. Mas o mundo vive uma quantidade enorme de conflitos ao mesmo tempo. E se o tempo é sempre o mesmo para todos eles, a sua duração pode não ser. É verdade que esta guerra nos tem levado sempre para o mesmo tema chegando a esquecer outros tão premente e importantes como ele. Falamos mais da guerra porque não estávamos à espera que isso viesse a acontecer no seio do velho continente depois de duas grandes guerras nos terem devastado o território. Mas aconteceu. Também é verdade que outras guerras se têm mantido e nos têm chamado a atenção, umas mais do que outras, mas como se travam fora da Europa, nós desligamos mais facilmente e a sua referência noticiosa é menos impactante. Mas são tão horríveis como a da Ucrânia. Contudo há guerras que se não travam nem com armas nem com bombas, mas que necessitam ser encaradas como prioritárias. Para isso, Portugal abriu as portas ao debate dos oceanos onde se deve iniciar uma guerra urgentemente para travar a poluição que já vai matando milhões de peixes e da fauna marinha e da flora que vai já desaparecendo em alguns locais como os bancos de corais. O planeta vive atormentado e vai reagindo por si só, embora pensemos que não, e cabe aos políticos influentes do mundo inteiro tomarem as decisões adequadas à sua manutenção. A extinção de algumas espécies já está em causa e com elas a sobrevivência do próprio homem. Salvar o planeta é missão dos políticos e dos homens de bom senso. Cabe a todos a responsabilidade de olhar para o que há de bom e querer manter essa visão lindíssima do nosso Globo. O planeta azul, se não for cuidado, corre o risco de se tornar negro e feio, arrastando tudo e todos para um abismo sem retorno. A azáfama político que se tem vivido a este respeito é enorme. São cimeiras sobre o clima, cimeiras sobre os oceanos, cimeiras sobre a poluição, cimeiras sobre a fome no mundo, cimeiras que clamam pela paz, mas pouco de concreto se tem visto. A fome, com a guerra na Europa, é uma realidade assustadora, a paz está longe de se conseguir e o Planeta continua cada vez mais aflito na sua sobrevivência. Os políticos que tomem decisões sérias e duradouras em vez de passar o tempo em reuniões onde se passeiam os fatos e os vestidos de última moda. Qualquer dia não há moda que lhes valha!

sem fim à vista

Com o Verão à vista e a praia à espera de muita gente, seria normal esquecermo-nos da guerra que assola a Europa e cujas consequências se vão espalhando rapidamente a todos os continentes. Já era tempo de acabar de falar da guerra, mas nada se consegue sobrepor a tão horrível episódio. Se Putin pensava que em sete dias dobrava a Ucrânia e prendia Zelensky, enganou-se e do mesmo modo também nós nos enganámos ao pensar que a guerra não durava tanto tempo. Durou, dura e vai durar e ao que parece Putin não está muito preocupado com esse aspeto. A única coisa que o incomoda é o facto de o ocidente não aceitar a sua supremacia militar e continuar a alimentar o exército ucraniano, fazendo prolongar o inevitável. Como isso é algo que não se resolve por vontade própria de um dia para o outro, resolveu mandar julgar alguns soldados do lado ucraniano, presos em combate e condená-los à morte como modo de pressionar o ocidente e conseguir troca de soldados ou, levantamento de sanções. Depois dos dois cidadãos britânicos e um marroquino terem recebido como castigo por combaterem ao lado do exército ucraniano uma condenação à morte, está já agendado um novo julgamento, também de um combatente estrangeiro, desta vez sul-coreano. E não se pense que isto foi obra do acaso. Não foi. Os dois cidadãos britânicos servem bem o seu propósito pois é um golpe em Boris que tem ajudado com tudo o que pode o Exército ucraniano neste combate desigual e o sul-coreano é só lembrar que a Coreia do Sul é aliada dos EUA e, por este meio, atinge Biden. Pior é que o caso vai ser ouvido na “república” popular de Donetsk, um território separatista controlado por forças russas e pró-russas e que apenas é reconhecido como Estado pela própria Rússia, ou seja, legalmente e internacionalmente, não existe já que continua a fazer parte integrante da Ucrânia. Por crimes de lutar como simples soldados ao lado da Ucrânia, os britânicos Aiden Aslin e Shaun Pinner e o marroquino Brahim Saadoun foram condenados à morte num julgamento que durou apenas cinco dias. Simplesmente absurdo. As Convenções de Genebra para os prisioneiros de guerra dizem que os combatentes não podem ser julgados por ter participado no conflito a ser julgado. O que fazer então? Como é evidente, a Grã-Bretanha já disse que iria fazer tudo para reverter a sentença dada, mas não será fácil convencer a Rússia de Putin a ceder, mesmo sendo em território que não lhe pertence, mas onde pensa que é dono e senhor. Será? Zelensky pode até abdicar da entrada na NATO, mas a sua entrada na União Europeia é coisa assente e vai rolando cada vez mais depressa. Com esse objetivo, reuniu-se mais uma vez com a presidente da Comissão Europeia em Kiev e voltou a frisar que é possível vencer a Rússia e que está muito mais em jogo nesta guerra do que apenas o futuro da Ucrânia. As forças russas tentam ainda capturar Sievierodonetsk, a leste, até agora uma das batalhas mais sangrentas no conflito de quatro meses. A verdade é que o Donbass está quase perdido. Facto a discutir é para quem vai ser o território. Será que a Rússia pretende apoderar-se dele? Não creio, até porque terá de o reconstruir já que destruiu todas as cidades e pouca gente lá tem. Para que serve? Só tampão? E se for para os pró-russos, onde têm dinheiro para a reconstrução? Vivem de quê? As fábricas estão destruídas, os prédios caíram com os bombardeamentos, os campos estão abandonados e os serviços não funcionam. Como vão fazer? A quem interessa a terra queimada? A par disto, os cereais continuam fechados em armazéns e sem solução de exportação enquanto meio mundo espera por eles e passa fome raiando uma crise alimentar sem precedentes. É triste como se pode ir tão longe! Isto é um verdadeiro crime de guerra. Para que nada fique esquecido, Volodymyr Zelensky, anunciou que Kiev pretende elaborar um “Livro dos Torturadores” com as informações recolhidas sobre os “crimes de guerra” que terão sido cometidos pela Rússia durante a invasão do país. O “novo livro” vai incluir “dados específicos sobre pessoas em concreto e que são culpadas por crimes violentos contra ucranianos”. Zelensky disse ainda que o documento vai ser “um dos fundamentos da responsabilidade não só dos perpetradores diretos de crimes de guerra, soldados do Exército de ocupação, mas também dos comandantes”. A intenção é boa, mas o resultado não altera nada porque nenhum dos responsáveis vai ser condenado efetivamente. Fica escrito no livro, mas será mais uma página da História, sobre as mais absurdas guerras da História. Entretanto a guerra continua e continuam a destruição, as mortes, as incertezas, a fome e tudo sem um fim à vista. 

Carne pra canhão

Três meses de guerra e sem solução à vista. O que parecia inconcebível para a Europa tornou-se tão real que ofuscou completamente as mais elementares ideias de um otimismo bacoco. A cada dia que passa torna-se mais evidente que a guerra não está para acabar. A destruição que se tem verificado, à margem de todas as leias da guerra, leva a que milhares de mortos não justifiquem este massacre que não tem qualquer justificação objetiva e que toda a comunidade internacional a condene. Mas condenar é o mínimo que se pode fazer. Putin invadiu a Ucrânia chamando a essa ação uma operação militar especial e dando uma justificação que em nada concede o direito de o fazer em território alheio pertencente a um país independente. À sombra desse argumento, enviou para a frente de batalha, soldados inexperientes como se fossem para um jogo de cabra-cega em que sairiam de cabeça erguida. Puro logro! Autênticas crianças, sem eira nem beira, lançadas para a boca dos leões. Tudo se complicou e muito. As imensas baixas que se têm verificado do lado russo, tanto em homens como em armamento, levaram e têm levado Putin a equacionar todo o esquema falhado para esta operação. Agora tudo se concentra na região do Donbass e Luhansk. Ele quer lavar a face, mas será que consegue? A verdade é que está a sofrer demasiados revezes. Como se sabe Putin está doente e equaciona-se a sua substituição no Kremlin. Isto a acontecer, livra Putin de um descalabro e deixa para outros o insucesso da operação especial. Por enquanto existe um certo mal-estar entre os generais russos e mesmo os que ambicionam o poder. Já houve uma tentativa falhada de golpe de Estado e Putin está receoso que outro aconteça quando menos espera. Sem alternativas, o Kremlin está a deitar mão a toda a gente que pode. Mais de mil mercenários russos e sírios saíram da Líbia, onde apoiavam as forças do senhor da guerra Khalifa Haftar. Também lançou contra a Ucrânia tropas vindas da Ossétia do Sul e Abkhazia, dois territórios separatistas da Geórgia. Grande parte das tropas colocadas pelo Kremlin na Ucrânia é oriunda da vastidão da Rússia, sobretudo das minorias étnicas mais pobres, sejam elas budistas, muçulmanas ou xamanistas, que vivem perto das suas extensas fronteiras. Estes não se queixam, não têm famílias que o possam fazer e a morte é quase um mal menor. Quase crianças, pobres e infelizes, morrem sem saber porquê. São pura e simplesmente carne pra canhão. As pesadas baixas sofridas pelas forças russas tornaram incapazes de quebrar o impasse em Donbass apesar de alguns avanços nos últimos dias. São necessárias cada vez mais tropas. Vêem-se cada vez mais carrinhas móveis de recrutamento por toda a Rússia. O material pesado sofreu pesadas baixas. O Kremlin começa a tirar dos armazéns, velhos tanques soviéticos T- 62, considerados obsoletos desde os anos 80, de maneira a conseguir reequipar algumas das suas forças. Mesmo os recentes avanços nos arredores de Severodonetsk, têm sido feitos à base de esmagadoras barragens de artilharia. Não que isso torne o avanço russo menos aterrorizante para os civis apanhados pelo meio. A dependência dos russos em relação à sua artilharia é um sintoma de uma falta de recursos humanos enorme. Para o Kremlin uma mobilização em massa seria desejável, mas seria extremamente impopular, já que tem enfrentado mais de uma dezena de ataques contra centros de recrutamento, este mês, pela calada da noite, recorrendo a cocktails molotov. Limita-se a recrutar vassalos de zonas periféricas, constituídos por buriat-mongóis, daguestaneses, tuvanos e outros que não o desafiam nem fazem barulho, sendo aliciados sem saber que são efetivamente carne pra canhão. Combatem e morrem sem propósito no exército do Kremlin, enquanto os russos de etnias mais ricas das regiões como Moscovo ou São Petersburgo, não são recrutados. Não espanta que o primeiro condenado por crimes de guerra durante a invasão seja um jovem sargento siberiano, que cresceu perto da Mongólia. Foi apanhado nas malhas de uma guerra que não era sua e arrisca uma pena de vinte anos de prisão por ter cometido um crime de guerra que possivelmente nem sabia que existia. Perante tantas atrocidades que assolam o Mundo e especialmente a Europa, a guerra da Ucrânia parece ter feito esquecer a guerra da Síria, do Líbano e as escaramuças na Palestina e em África, que passaram para segundo plano. Foi preciso aparecer outra criança louca e armada em herói, com arma de guerra na mão e entrar numa escola e matar 20 crianças e adultos para, por momentos, ser notícia de primeira página. Influências da guerra? Enfim! Até o famigerado Covid-19 quase esquecido. A verdade é que a pandemia está de volta e começa a assustar novamente. Esta guerra ainda não está ganha. É uma nova vaga acompanhada de novos sustos e receios, em que os números sobem a cada dia que passa. Talvez se o vírus apanhasse o exército russo e os remetesse a um confinamento forçado, ajudasse a que a guerra se encaminhasse para o final desejado. Mas não. Até o vírus parece ter receio desta guerra louca.

Abril, Maio e outros meses

Simples, mas profundo, o 25 de Abril marcou a transição global da sociedade portuguesa, em termos políticos, sociais e mesmo culturais, implementando-lhe um cunho próprio, que somente pecou pela pressa que lhe estava associada. Era a pressa de vencer, de chegar ao fim ou de começar. Para trás ficava um regime ultrapassado, gasto pelo tempo, indesejável pelas pessoas e pela Europa. Depauperado pelas suas próprias premissas, o sistema caía às mãos de meia dúzia de capitães que, serenamente fizeram a mudança e escolheram os novos governantes. Não era necessário possuir qualquer arte de ictiomancia para adivinhar o que se iria seguir. Anisómera, a revolução para uns, significava nem mais um soldado para o Ultramar, para outros o fim da ditadura, para outros o caminho para a liberdade e democracia. E em vez de o galo cantar três vezes, cantou o Paulo de Carvalho, dizendo adeus. E depois cantaram outros. Uns de galo, outros nem por isso! Crucificados foram alguns, outros ficaram para mais tarde. Alguns nem crucificados foram! Uns morreram... de verdade. Outros... nem morreram. Alguns... ressuscitaram, ou... quase! As anisometrias existentes eram por demais evidentes. Valeu a aquiescência do povo que, com a sua anódina paciência, soube esperar. A sociedade portuguesa vivia momentos ímpares da sua História. Libertava-se de algumas amarras, velhas de anos e de propósitos e caminhava rapidamente para uma plataforma libertadora, ânsia de décadas, desejos de sempre. O ónus de cada revolução está no seu âmago e também no seu objectivo primário. E só o seu êxito justifica o seu aparecimento. Só a consecução de todos os planos, justificará a sua existência. Foi mais uma revolução pacífica nesta história de homens e do mundo. Algumas são tão semelhantes, que conseguimos encontrar pontos comuns e semelhanças tão fortes que nos interrogamos se não acontecerão por acaso, por vontade dos homens ou por obra divina!? Efetivamente, Abril será sempre um marco e continuamos a celebrá-lo quarenta e oito anos depois, mas o tempo vai esmorecendo o fervor de outros tempos tal como esmoreceu o 1º. de Dezembro ou o 5 de Outubro. As revoluções têm um tempo de vida e embora a memória que delas resulta permaneça, acabam por ser apenas uma memória, boa ou má, mas somente memória. A intensidade com que se vivem esmorece e ainda bem já que o tempo também traz coisas novas, momentos renovadores, novas ideias, novas políticas, novas visões da vida e do mundo. Hoje referimos historicamente revoluções que transformaram as sociedades, os países, as políticas e cada país terá as suas claramente e Portugal tem as suas. Não as pode esquecer como é evidente, mas que as adapte aos novos modos de pensar e de agir que modernize os seus contextos. A juventude de hoje, que não viveu esses momentos de transformação, não os entenderá se não forem devidamente contextualizados e comparados ao que hoje eles conseguem perceber. Mas hoje entendem a guerra porque a vivem, ela é atual e lhes causa transtorno. Por isso a detestam e criticam quem a promove. Da sua boca saem vociferações de ódio e raiva contra os causadores de tanta morte e destruição. Hoje a guerra está bem presente e entra pelas suas casas sem pedir autorização. Não é uma revolução qualquer que logo acaba e se remete a um só país ou local. É um acontecimento bem maior. Do tamanho do mundo e talvez assim eles entendam melhor as guerras mundiais anteriores. Os meses não têm interesse. Seja Abril, ou Fevereiro ou até mesmo Dezembro ou Maio. As revoluções cabem em todos eles e as guerras de igual modo. Mas no dia 1º. de Maio, dia da Mãe, elas decerto choram os filhos perdidos em qualquer desses meses, por razões que desconhecem tanto elas como eles. O que fica tem sempre um sabor amargo.

Crime e castigo sem vergonha

Na insofismável tendência que envolve a natureza humana para se diminuir ou engrandecer, humilhar ou ser superior, deparamos com exemplos abomináveis de uma e de outra vertente que nos chocam e nos tornam irascíveis descontrolando os nossos egos. Causas são várias e culpas ninguém a quer. A verdade é que se jogam no palco europeu e mundial jogos demasiado perigosos, assustadores e destruidores, arrastando a dignidade humana para um campo de lama imenso de onde, demasiado tarde se poderá, quiçá, levantar com as mazelas condizentes à sua nova condição. Estamos todos fartos de viver uma guerra que não sendo nossa também o é, que nos entra pela casa dentro com os contornos horríveis que uma guerra obviamente tem, que nos incomoda, que nos irrita e nos transforma em seres capazes de levar a cabo o que nunca faríamos em estado normal. Ficamos fora de nós próprios e envoltos num ódio terrível por quem deflagrou um conflito contra quem nada fez para o merecer. As razões, sejam elas quais forem e certamente os beligerantes as terão, nenhuma justificaria uma guerra desta natureza. Aliás, nenhuma guerra tem justificação. No palco desta Europa vive- -se uma guerra que vem pôr a claro falhas graves de um e de outro lado do palco, revelando que a Europa não estava minimamente preparada para este tipo de conflito. Porquê? Porque nunca nenhum país da União pensou que houvesse uma nova guerra no seu território e por isso mesmo não se preparou para essa eventualidade. Agora está a sofrer as consequências dessa incúria. Corre atrás do prejuízo e as alternativas não são nada boas nem fáceis de tomar. Porquê? Porque a Europa depende e muito dos países que estão em conflito. A Rússia e a Ucrânia. Um abastece a Europa de energia, gás, petróleo e cereais e o outro abastece o Mundo de cereais. Isto faz com que a guerra se alastre para outros continentes nomeadamente o africano onde a fome se agrava. Lançadas as sanções contra a Rússia, elas não serão suficientes para impedir estas consequências, já que ela é demasiado grande e orgulhosa para reconhecer que errou, ou não, e acabar com as atrocidades que está a cometer. A paz está longe, muito longe e a revelação dos crimes de guerra que estão a ser divulgados pelo Mundo inteiro em nada ajudam a que a Rússia os admita e se rendas às evidências. Sabe que os comete, sabe que castiga inocentes, sabe que já matou milhares de civis, mas não admite nada como seu. Não tem vergonha nenhuma. Os supostos crimes de guerra que nos têm sido apresentados pela comunicação social e a forma como são revelados, são aterradores, arrepiantes. Como é possível levar a cabo tão hediondos crimes? Como é possível matar a sangue frio pessoas que nada fizeram, idosos, jovens, só porque um louco os mandou arrasar tudo por onde passassem? É fácil saber quem tem culpas, mas não admitem nem nunca admitirão. As culpas merecem castigo e eles não querem ser castigados. Mas sê- -lo-ão certamente um dia. A esta altura já com cinquenta dias de guerra, não se vislumbra um cessar-fogo. Putin quer obter uma vitória, seja lá ela qual for, mas até agora não conseguiu nada de especial a não ser destruir vilas e cidades e matar só por matar. Mariupol está desfeita, mas os chamados neonazis ucranianos resistem e talvez seja por isso mesmo, que a Putin os quer aniquilar e talvez seja essa a razão proferida como justificação da invasão: acabar com a nazificação na Ucrânia. Também não concordamos, com toda a certeza, com este tipo de especificação militar. Já nos chegou Hitler e o que conseguiu fazer em nome desse suposto partido durante a Segunda Guerra Mundial. Basta. Mas isso nunca pode justificar o início de uma guerra. É evidente que o interesse da Rússia se prende com o porto de mar e o acesso ao mar de Azov e ao mar Negro que, ao ser conseguido, deixará a Ucrânia sem porto de mar para fazer as suas exportações. Seria uma machadada enorme na sua economia externa. Putin pode expor todas as suas razões, mas ninguém é burro para não entender os seus propósitos. Ele não quer a Ucrânia. Ele quer uma Ucrânia dependente do seu poder, submissa e que sirva de tampão aos interesses do Ocidente e dos países da Nato. Só isso. Uma Ucrânia destruída, para ele nada serve, pois não tem possibilidades de a reconstruir. Quem vier depois que faça esse serviço. Ele jamais o fará. Contudo, os seus objetivos parecem não estar a ser atingidos e as baixas estão longe do esperado, quer em soldados, quer em material bélico. Isto tudo é mais do que suficiente para irritar o grande chefe. Agora é só destruir e matar por onde passar. Nada interessa. Não tem vergonha, não tem que justificar nada, pode cometer os crimes de guerra que quiser, pois ninguém o julgará. No fundo, ele sabe que não será castigado por isso. E vergonha nem sequer precisa de o demonstrar, porque teria de se esforçar demasiado e não conseguiria. Enfim.

Temos governo

Finalmente foi empossado o novo governo. Agora parece que temos quem nos governe com a legitimidade de qualquer outro governo legitimamente eleito. Deste modo parece que ficou para trás o fantasma dos duodécimos que ainda nos orientaram nestes primeiros meses do ano. A causa do atraso, sabemos que se prende com a nova votação do círculo da Europa e não só, já que houve milhares de votos que foram anulados por falta de identificação dos eleitores. Trapalhadas que deram em ter muitos milhares de votos a menos. Assim, ganhou o PS dois deputados em vez de um como costumava acontecer. Nada teve a ver com a maioria absoluta, mas podia ter. Depois de contados os votos e de se saber quem tinha ganho as eleições e com que percentagem, a nova votação já não tinha interesse de maior. Enfim. O governo agora empossado tem menos ministros, é verdade, mas isso pode ser uma ilusão ou um mau indício de governação. Não é que ter muitos ministros seja mais fácil governar ou mesmo governar melhor, não é isso. Mas o novo governo tem muitas pastas acumuladas num só Ministério, o que pode causar uma dispersão enorme nas causas de cada Ministério e para cada Ministro. Será que os novos Ministros saberão dar conta do recado? Alguns não têm experiência de governo e não conhecem as pastas que lhes são distribuídas e vão levar algum tempo a inteirar-se de todos os assuntos de modo a saberem pronunciar-se sobre eles. António Costa certamente saberá o que anda a fazer e conhecerá minimamente quem convidou para ocupar esses Ministérios, mas se alguns Ministros têm um currículo extraordinário, já outros são pessoas absolutamente normais e será com essa normalidade que irão enfrentar as dificuldades que vão ter pela frente. Entretanto temos de esperar que eles façam o seu melhor para não agravar a situação em que vivemos. Na tomada de posse o Presidente Marcelo deixou alguns recados a Costa e ao governo no seu todo e, eles certamente perceberam que o espaço de manobra é diminuto. Marcelo cortou as asas a Costa, impedindo-o de levantar voo para Bruxelas para onde, parece, que tinha intenções de voar, se fosse convidado. Não sabemos se será ou não, mas sabemos que isso, a acontecer, significará nova mudança de governo com todas as complicações daí resultantes. Não seria a primeira vez. Todos nos lembramos o que fez Durão Barroso, mas também sabemos o que aconteceu com a substituição do primeiro ministro. Houve a dissolução da Assembleia e do governo. Marcelo lembra-se bem de tudo isso e não quer passar pelo mesmo. Os tempos que hoje vivemos são de sobressalto e de aflição. Há cerca de dez anos que não saímos de uma situação de crise. Foi a de 2010, depois a pandemia que nos dizimou cerca de vinte mil pessoas e agora a guerra da Ucrânia. É demasiado e carece de um esforço tremendo para ultrapassar todos estes problemas e enfrentar novos desafios. Portugal tem-se portado bem e o governo conseguiu resolver razoavelmente a pandemia que ainda, apesar de tudo, nos continua a martirizar. Ela não desapareceu e não será tão depressa que isso acontecerá. Veio para ficar. Felizmente, a Ministra da tutela manteve-se e como conhecedora de todo o sistema, melhor que ninguém saberá orientar o Serviço de Saúde de modo a que tudo funcione cabalmente. Foi difícil, mas conseguiu-se ultrapassar os vários picos da pandemia. Neste novo governo, penso que as dificuldades serão menores, mas nunca fiando! Temos também um novo Ministro das Finanças. Um risco que Costa está a correr ao entregar esta pasta a um elemento que desconhece certamente os meandros da nossa economia e o que as Finanças esperam que se resolva e, igualmente, que Bruxelas espera seja resolvido de acordo com as suas exigências. Leão, talvez um pouco amorfo, conhecia os dossiers já que trabalhou diretamente com Centeno, o que não acontece com Medina. Enfim! Logo se verá. De realçar a Ministra das Forças Armadas. Pela primeira vez Portugal tem uma ministra que espera que os militares todos lhe “batam pala”. Com um currículo invejável e provas dadas, pode ser que no terreno seja tão capaz como na secretaria. É um mais um risco que Costa corre. Para a Educação também há um novo Ministro. É pouco conhecido, mas para bem deste Ministério, é bom que desempenhe um bom papel. Já chega de tanto enterrar a Educação e não se conseguir enfrentar os problemas a ela inerentes, com sabedoria e com a coragem suficiente sem estar preso a números impostos pelas Finanças que levam a que tudo emperre. Haja coragem para resolver e pôr todo o sistema a funcionar para bem dos alunos, dos professores e das escolas deste país. É verdade que temos governo, mas será que vai governar como deve? Esperemos que sim.

Os efeitos da guerra

A Europa não vivia uma guerra tão cruel e sangrenta há muitos anos e quando ninguém esperava, eis que surge quase do nada, uma guerra tão brutal como qualquer outra guerra. Como sempre é a estupidez de quem não combate que obriga outros a combater e a morrer por causas que não lhes pertencem. A ambição, o ódio, a religião, a vingança e talvez a visão de um mundo operado por um poder superior, é que faz despoletar qualquer guerra. De outro modo não se compreende nem se justifica esta como outra qualquer guerra. Para Putin todas estas razões são válidas para invadir a Ucrânia e destruir uma Nação, um povo, uma cultura ou mesmo várias culturas. Não há justificação nenhuma seja ela histórica, política, social ou até cultural que permita iniciar um conflito desta envergadura. É e continua a ser, um desmantelar de tudo o que se construiu naquele país nos últimos trinta ou quarenta anos. Como qualquer guerra, os efeitos são devastadores. Morte e destruição, fome e separação. Crianças que morrem sem se aperceberem da injustiça dos homens, da crueldade da guerra, mães que fogem deixando para trás os maridos para combater os invasores, invasores que não sabem que razões justificam matar os seus irmãos, lares destruídos, cidades desfeitas. Mas um país é muito mais do que isto. Está embrulhado numa cultura própria que não se fica só pela tradição. É o seu sentimento, as suas vivências, a sua literatura, o seu desporto, o seu teatro, a sua música, os seus artistas, os seus heróis. Séculos de construção, de identidade cultural e de afirmação que se esvaem por vontade de um invasor que só o é porque lhe dá gozo, porque quer ser um imperador a exemplo de outros que o tempo aniquilou, porque quer mostrar ao mundo que tem poder e que consegue esmagar um povo que nenhum mal lhe fez. Num tempo em que as guerras deveriam ser obsoletas e inexplicáveis, eis que novamente alguém nos vem lembrar que isso é mentira. Que prazer poderá tirar Putin desta guerra, desta destruição, destas mortes e deste genocídio? Eu pessoalmente não sei responder. As consequências deste conflito sem sentido são imensas. Todos vemos nos meios de comunicação social as cidades completamente destruídas, recém-nascidos que não sobrevivem aos bombardeamentos, infâncias destruídas, famílias desfeitas, lares destruídos, mulheres viúvas, famílias sem eira nem beira que fogem para longe à procura de um país novo, de um novo lar, um novo emprego, um novo futuro. Talvez um dia, talvez, cheguem a voltar à terra que os viu nascer. E as mulheres barrigas de aluguer que se prestaram a isso e que agora, depois de dar à luz, esperam pelos pais que não chegam em busca dos filhos que não conhecem. Mas há muito mais do que isto. Os efeitos são enormes. A Europa dá-se conta agora que o preço a pagar também pode ser insustentável a curto prazo. O preço do petróleo subiu, o preço do gás segue-lhe as pisadas, os transportes subiram, os produtos estão cada vez mais caros e escasseiam especialmente o trigo do qual a Ucrânia era um dos grandes exportadores, as sanções impostas à Rússia irão destabilizar a sua economia e certamente o leão meio adormecido irá rugir mais forte ainda. O que esperar mais de tudo isto? Os governos dos vários países europeus felizmente estão solidários na receção a todos os refugiados desta guerra insana. A Polónia, critica aos emigrantes, recebe no seu seio milhões de refugiados, mas a situação está crítica. Outros países estão igualmente receptivos. Portugal. Com uma comunidade de ucranianos bastante grande, continua a acarinhá-los e a dar-lhes as oportunidades para refazerem as suas vidas. Voltarão se for possível, ou não. António Costa tem mantido uma política acertada neste âmbito, aceitando os refugiados que nos chegam por meios legais. O que não me parece tão acertado é o governo querer trazer para Portugal as barrigas de aluguer. Que barrigas de aluguer? Porquê? Para quê? É demasiado delicado abordar este assunto. É preciso coragem. Depois de uma crise grave como foi a de 2008, depois de uma pandemia que ainda teima em não nos abandonar e que já causou milhões de mortos em todo o mundo, só nos faltava efetivamente uma guerra no nosso continente. Não sei se a culpa também é da Europa se é só da Rússia ou melhor, de Putin, já que os russos certamente não quereriam esta guerra, mas seja de quem for, não tem desculpa. Putin julga-se com todos os direitos e acusa a Ucrânia de crimes de guerra, quando é ele que os comete, que não os evita e que constantemente está a ultrapassar todos os limites dos direitos humanos. Ele sim que é um criminoso de guerra, um genocida e que será certamente julgado pelo seu próprio povo e pelo mundo a seu tempo. Talvez tarde demais. Mas sê-lo-á com toda a certeza. E a paz? Onde fica? Quando chega a este povo martirizado? Já é tempo de ter bom senso.

PORQUÊ?

Passamos a vida a perguntarmo-nos sobre todas as coisas que acontecem ou não à nossa volta e muitas vezes não encontramos respostas que nos satisfaçam. E isto não é mera retórica ou ensaio filosófico apesar de se dizer que a Filosofia é a ciências dos “porquês”. Faz parte da nossa vida e do nosso crescimento enquanto seres humanos. Mais do que em qualquer outro momento, é no presente que mais nos questionamos sobre o que se vive actualmente no mundo e em especial na Europa. Não me refiro só a uma pandemia que se vai combatendo com própria ciência, mas a uma guerra que se instalou na Europa sem perceber o porquê da sua existência. Podemos dar muitas explicações e respostas avulsas para entender este momento, mas a verdade é que me parece que não há nada que o justifique. O que pode justificar uma guerra? Nada o justifica se utilizarmos o bom senso e uma análise neutral. Seja qual for a guerra que exista ou tenha existido, não tem razão para ter acontecido ou acontecer. Mas elas têm existido. O que as explica então? Simplesmente a ambição, o poder, a ganância e o dinheiro. Porque será que aqui não existe o ser humano? Ele não conta nesta equação bélica a não ser para combater, para morrer por interesses de outrem, para lutar por quem não é capaz de lutar. Em suma, para dar a vida pelos loucos que comandam e pensam que podem ser donos do mundo ou parte dele. E esses têm consciência? Não, não têm. O louco não sabe que é louco e pensa sempre que tem razão em tudo o que faz. A guerra da Ucrânia que Putin fez questão de despoletar, é bem exemplo de tudo isto. Um louco que não se importa com nada e com ninguém, que tem uma ambição desmedida e que pensa que ainda pode refazer o antigo Império Russo. Se calhar até pode, mas a História não se refaz. Os factos históricos passados ficam no passado e nas páginas da História Universal e nada os pode alterar. A simples tentativa de reconstruir impérios passados só porque sim, é de loucos como Putin. Não vou assacar culpas somente a este autocrata, já que todos têm culpas. Os EUA, a Europa e o Kremelin, todos têm culpas. Esta guerra só acontece porque nenhum deles a soube evitar a tempo e talvez porque Putin não quis que ela não acontecesse. Havia que experimentar forças, políticas e economias. Poder, em suma. Mas porquê? Para quê? Que mal fizeram os ucranianos para merecer esta sorte? Famílias desfeitas, crianças separadas, crianças mortas, crianças nascidas no horror das sirenes da guerra, jovens que combatem sem saber porquê. Que mal fizeram os jovens russos que foram enviados para a frente de batalha sem saber o que lá estão a fazer, sem perceber porque é que lá estão e que razão os manda matar quem nada de mal lhes fez e que por sinal até fala a mesma língua? Porquê? A democracia anda mesmo longe de quem persegue o poder e a riqueza e só pensa em mostrar ao mundo a sua força sem se preocupar com a vida humana. A mentira serve-lhe de suporte a uma propaganda extraordinária que faz questão de espalhar pelo mundo como se todos fossem estúpidos e não percebessem o que se está a passar. Para impedir essa divulgação recorre a leis ilegais e contrárias à liberdade e à democracia, mandando prender todos os que se atrevam a manifestar-se contra esta guerra. O povo russo não quer esta guerra. Já todos perceberam isso, até mesmo Putin, mas é mais fácil prender do que deixar espalhar a verdade do pensamento de um povo que pode, um dia, prendê-lo a ele, acusando-o pelos crimes que está a cometer. Na verdade, o que aconteceu a alguns ditadores como Kadafi, Sadam Hussein ou Pinochet, por exemplo, pode ser o que vai acontecer a Putin, a não ser que faça como Hitler que se matou antes de ser preso. Pois que se mate Putin antes que seja tarde. Os horrores a que estamos a assistir diariamente na Ucrânia não têm justificação alguma. Putin até pode dizer que a Rússia tem direitos sobre o território ucraniano, até pode pôr as culpas todas nos governos comunistas que durante setenta anos governaram a União Soviética, como já fez, mas que culpa têm os ucranianos que a História tenha sido escrita deste modo? A Ucrânia não nasceu ontem. Não nasceu há trinta anos. Mas hoje é um Estado independente e soberano. Mas isso não chega para Putin, pois tem de se submeter ao seu poder com a justificação de que não pode aderir à NATO pois é uma ameaça à segurança da Rússia. Quem é que ameaçou a Rússia? As únicas ameaças que pairam e sempre continuarão a pairar, são económicas, mas isso todos sabemos. Nunca se podem parar. O mundo gere-se nas economias dos países e quem mais tem mais ganha. É uma verdade absoluta em termos económicos. Mas também é verdade que a economia Russa é frágil e que o território da Ucrânia faz-lhe falta para aumentar o seu poderio. O argumento geopolítico que ele tão bem conhece, não é desconhecido do governo da Ucrânia e dos europeus. Putin também sabe disso. É um jogo terrível onde quem perde sempre é quem serve de peão no meio das torres e dos reis. Já não estamos em tempos disso. Mas Putin também deve saber que ninguém dura para sempre. Cuidado.