Luís Ferreira

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As luzes de setembro

Extinguiu-se agosto com toda a sua pujança onde a onda febril dos que procuraram dias de descanso foi um dos objetivos a alcançar. De regresso ao lugar de partida e onde tudo pode voltar à normalidade, eis setembro, o mês de quase todos os regressos e em que se espera voltem a brilhar as luzes de outros descansos. Setembro é, por assim dizer, um recomeço. Recarregadas as baterias, há que deitar mãos ao trabalho novamente. Mas, nem tudo é assim tão fácil e em como todos os recomeços, há obstáculos que se poem no caminho. Por cá, como lá fora, nem tudo é um mar de rosas neste recomeço. Os problemas continuam e alguns agravados por contingências conjunturais difíceis de ultrapassar. Alguns que navegavam na sua continuidade mantêm-se, outros que, ao largo e que pouco se manifestavam, dão à costa com toda a força. Quando falamos de setembro lembramo-nos imediatamente de aulas, de escolas, de professores e de colocações. Ao fim de dezenas de anos a lutar por uma educação mais digna, mais completa e menos burocrática, nada se avançou. Os problemas neste âmbito, agudizam-se ano após ano e não há Ministro da Educação que consiga resolver todos os problemas. Antes, penso que ainda os conseguem agravar cada vez mais. A desvalorização da carreira docente e as greves voltam a marcar o início do ano letivo. Mas nem estas conseguem dobrar a ideias férreas do atual Ministro, nem levar o governo a tomar medidas, ainda que avulsas, de modo a resolver algumas das situações da carreia dos professores e das suas colocações. É assustador quando nos deparamos com casos em que vemos uma professora com mais de cinquenta anos, com mais de vinte anos de serviço, a ser colocada a 500 quilómetros de casa e a ter de alugar um quarto caríssimo para ir dar aulas num bairro complicado de Lisboa, deixando para trás a família. Isto é um mero exemplo de um problema onde as exceções são muito poucas. Claro que este problema é tanto pior quanto maior é o problema da habitação. Não há casas para alugar a preços razoáveis e os quartos que se alugam são de preço proibitivo, o que deveria ser controlado e até sancionado por uma lei governamental que diminuísse os abusos e os aproveitamentos dos proprietários. Estes, a maior parte das vezes, alugam quartos e não pagam imposto, já que não declaram os alugueres e ainda por cima pedem dois meses adiantados pelo aluguer. É uma vergonha! Como pode brilhar a educação? Como podem os professores arriscar as suas vidas em aventuras deste género? Como podem os alunos ter aulas em situações normais, sem que faltem professores, sem que tenham receio de não cumprir os programas ou de os professores desistirem por falta de capacidade monetária para suportar os disparates das colocações? É esta a educação que queremos para os nossos filhos e professores? Quando a educação não é libertadora, o oprimido pensa sempre em vir um dia a ser o opressor. Certamente não é esta educação que queremos. Deste modo não brilham as luzes de setembro. E o que dizer da greve dos médicos num país em que se contratam médicos cubanos para colmatar a falta de médicos? Definitivamente, este setembro não tem bom recomeço. Não brilha. Mas lá fora também as coisas não andam iluminadas neste mês de setembro. O povo marroquino sofreu na pele mais um dos piores sismos dos últimos anos. Cidades quase todas destruídas, mais de 3.000 mortos e mais de 5.000 feridos. Aqui às portas de Portugal, isto faz-nos pensar seriamente no que nos pode esperar. As terríveis cheias na Líbia arrasaram cidades e mataram milhares de pessoas. Uma tragédia enorme a juntar às outras. Setembro muito triste, muito escuro. O Homem do Cavalo de Ferro, Kim Jong-Un, lá foi até à Rússia. Deslocando-se sempre de comboio especial blindado, encontrou-se com Putin. Encontro entre dois necessitados. Um precisa de munições para aguentar uma guerra que está a perder e outro a querer vender as que tem em excesso e a precisar de cereais para matar a fome ao povo e tecnologia nuclear para ameaçar os que nem sequer se metem com ele. E no seu discurso, disse estar ao lado de Putin contra o imperialismo. Não vive neste mundo. Uma aliança entre os dois será quase impossível. Enfim! Dois faróis quase apagados e que definitivamente não brilham neste mês de setembro. Com algum brilho, ainda que reduzido, mantém-se o Presidente da Ucrânia, já que aos poucos vai conseguindo algumas vitórias na frente da guerra e até no mar. A Rússia enorme, atravessa dificulda- des que não imaginava, mas que ela própria criou. Se quer brilhar aos olhos internacionais, terá de acabar com a guerra estúpida que teima em continuar. Mas não será já neste mês de setembro! Apesar de tudo, por cá, algumas luzes brilharam este mês. A seleção de sub-19 de futsal, tornou-se campeã da Europa. Um êxito extraordinário que elevou Portugal ao mais alto patamar. Será um farol brilhante que vai durar algum tempo bem aceso. Também a seleção de fute- bol brilhou ao golear por 9 a 0 a seleção do Luxemburgo. A maior vitória já conseguida nesta competição. Falta apenas um pequeno salto. Assim, felizmente, por cá, algumas luzes se acenderam em setembro para não nos mantermos em plena escuridão.

Universidades inteligentes

Para quem está com alguma atenção depois do regresso de férias ou mesmo durante as mesmas, há sempre uma intenção enorme dos Partidos Políticos e dos seus líderes, levarem a cabo alguns eventos, juntado assim algumas centenas ou milhares de militantes dispostos a ouvir o que eles têm para dizer. Se pensam que Portugal é único nesta vertente, desenganem-se porque isto acontece um pouco por todo o lado. Há necessidade de lembrar aos eleitores que eles estão vivos e que as férias foram apenas um tempo de descanso para ganhar forças para o recomeço. António Costa começou por adiantar algumas ideias futuras a levar a cabo depois de setembro, mas não quis adiantar muito mais do que isso com receio de se comprometer. No entanto ia criticando o que o líder do PSD ia dizendo a seu respeito. Contudo Montenegro, igualmente receoso, limitou-se a criticar o que Costa dizia, colando-se a alguns farrapos de verdade do que ele dizia, mas chamando a si o protagonismo da resolução futura, se o PS quisesse. Apalpadelas subtis para amaciar a fruta que alguém irá comer! Com as rentrées do mês de agosto, quase todos os parti- dos quiseram realçar as suas criticas e as suas apostas de mudança na continuidade do governo. Sim, porque o gover- no continua, mas as apostas só são de quem as aponta, sa- bendo de antemão que pou- co ou nada resolvem, já que o governo tem maioria. Mas tentar não custa. Com algum interesse, apa- rece sempre a universidade de verão do PSD, onde os jo- vens vão iniciar-se nos mean- dros da política, nas ideias dos políticos e numa visão global do que se pretende ou se vive no mundo atual. É uma aposta do PSD há muitos anos e que tem resultado, segundo parece. Na Universidade aprende-se alguma coisa e aqui também é esse o propósito. Os professores são variados e os temas da aprendizagem também. Mas a aposta está nos professores que vão discursar e apresentar as suas teses. Assim encontramos um peso pesado nesta universidade de verão do PSD. Paulo Portas, convidado especial, apresentou a sua visão de uma geopolítica global, prendendo a atenção dos mais curiosos e até dos mais im- berbes politicamente. Foi uma aposta ganha. Aqui Mon- tenegro teve a ideia sublime de querer vencer e ganhar a sua aposta. Falar de Marcelo e das uni- versidades de verão do PSD é redundante. Está sempre pre- sente. Este ano só quis falar da Ucrânia para fugir a ques- tões polémicas. Tem tempo para se pronunciar sobre o que pensa que vai menos bem e que o governo teima em não mudar. É um modo de intervenção diferente. Todos ficam a saber que algo vai mal e que deveria mudar. Montenegro vai-se desdobrando por todo o lado desde o Algarve a Castelo de Vide e à Madeira. A aposta imediata é ganhar a maioria na Madeira e para isso faz disso alarido e tema principal para se lançar para as europeias que diz querer ganhar. Claro que quer, mas a distância ainda é enorme. Se isso acontecer, a proposta apresentada na universidade de verão é ganha e, uma vez mais, serviu para o lançamento do partido e dos seus objetivos. O PS parece ter dado já as aulas todas. Não há univer- sidades de verão nem aulas avulsas, mas há críticas e propostas. Critica o que diz Montenegro e este critica o diz Costa. O PSD quer ganhar as eleições legislativas e até pede a maioria absoluta para que não tenha de fazer algu- ma geringonça com o Chega ou com a Iniciativa Liberal. Pedir não custa. Embora a distância percentual não seja muita, é preciso muito mais para ter a maioria absoluta. Penso que não vai ter e, se ga- nhar as eleições, isso servirá para saber negociar com as restantes forças políticas se quiser governar com sabedoria e com democracia. Parece que alguns se esquecem que a democracia passa por aí. A este propósito e a imitar as universidades de verão que por cá se vão fazendo, também Putin as quis fazer, mas com uma diferença enorme como é seu hábito. Falou sozinho, não convidou ninguém para falar e transmitiu aos jovens que vão iniciar novamente as aulas do novo ano letivo, a ideia de que a Rússia é um país invencível e que o que ele fez e faz na Ucrânia está certo e tem toda a razão para o fazer. Pelo meio elo- giou os soldados que por lá vão andando e caindo em combate, fazendo deles uns heróis dignos de futuras lem- branças. Esta universidade de verão de Putin não agrada a ninguém e parece que nem aos alunos que, silenciosos, assistiram à verborreia política que durante largos minutos ouvira da boca do Presidente da Federação Russa. Semelhanças? Com quem? Nas universidades tem que se ser honesto, sério, inteligente e democrata. Coisa que Putin ainda tem de aprender.

O regresso do terceiro F

Durante muitos anos, Portugal foi conhecido como o país do Fado, Fátima e Futebol. Eram tempos glorioso onde pautavam Amália, Eusébio e Fátima como símbolos incontornáveis que identificavam um povo à beira mar plantado. Essa época já vai longe, mas mantém-se viva a memória. No entanto, há poucas semanas, Fátima foi centro de atenções durante as Jornadas Mundiais da Juventude, recebendo milhares de jovens e do próprio Papa Francisco. Todos os anos, mais do que uma vez, Fátima é local de peregrinação e esse símbolo jamais se apagará da memória do povo. Por sua vez o Fado, onde Amália brilhou e elevou o género ao mais alto nível, tanto em Portugal como no mundo inteiro, continuará o seu caminho, mesmo sem a Diva. Hoje o Fado perdeu algum do seu carisma e até foi um pouco desvirtuado do que sempre foi o seu traçado original. A verdade é que hoje vemos grandes fadistas a cantar um fado diferente e até onde a guitarra quase desaparece. Coisas dos tempos! Não deixam de ser agradáveis de ouvir, mas perderam o tradicional. Não podemos dizer que em agosto tudo e todos estão de férias, mas é verdade que o futebol quase pára depois de julho. Nota-se um vazio, principalmente aos fins de semana, onde escasseiam os temas de conversas. As discussões clubísticas não são abor- dadas porque também não há jogos para discutir os lances mais duvidosos. Os jogadores vão de férias que bem merecem. Também eu estou de férias, mas tenho de dizer duas coisas. Agosto marca o final das férias e o regresso do terceiro F. O futebol a sério começa em todo o mundo e têm lugar as transferências mais extravagantes e inimagináveis. Falam os milhões e os jogadores são negociados como simples objetos de luxo. Os clubes precisam de dinheiro e para isso rentabilizam o melhor que podem os seus jogadores onde as cláusulas de rescisão se impõem. O início dos campeonatos faz regressar as conversas e discussões sobre os jogos, os árbitros e o Var. Tudo passa a ser polémico, até o Var, cujas decisões são decisivas. A este propósito, no jogo entre o Casa Pia e o Sporting, parece que houve erro na avaliação do fora de jogo no primeiro golo apontado pelo Sporting. Erro humano. Erro na colocação da linha de fora de jogo. A informação e validação do golo foi rápida, a admissão do erro do Var veio depois. O futebol, que sempre nos caracterizou como tendo bons profissionais e com boas equipas, surge agora, também ele, desvirtuado onde até o Var é objeto de sanção. Nunca visto. Que mais irá acontecer ao terceiro F português? Certamente não é este o F que sempre caraterizou o nosso país e os nossos clubes e árbitros. Este início de campeonato é desastroso. De facto, o Benfica, campeão em título, perde com o Boavista e o treinador culpa o guarda redes dos golos sofridos. E mais, substitui-o no jogo com o Estrela da Amadora. Porquê? Acho que gosta de apanhar sustos e até apanhou, pois não conseguiu marcar até ao minuto 79 e foi no tempo de compensação que marcou o segundo. Aqui já o treinador ficou descnsado. Mas também o Futebol Clube do Porto está a viver momentos bem sofridos. Sérgio Conceição perde a Taça e é expulso logo no primeiro jogo oficial. Correram rios de tinta sobre o seu comportamento e o seu futuro. Agora vê a possibilidade de ficar sem Otávio já que os milhões da Arábia parece pesarem um pouco mais. Suspenso e com uma multa para pagar, não é o melhor começo de campeonato para Conceição e para o Porto. E por falar de milhões e de Arábia, é bom não esquecer que foi Ronaldo que abriu esse palco aos jogadores europeus. Criticado e muito, agora todos buscam os milhões dos sauditas. E o futebol? Onde fica este desporto rei? Bem, quando os milhões falam mais alto, a bola rola de outra maneira e depois logo se vê. Uma coisa é certa: quem saiu a ganhar foi a liga árabe que não era vista nem achada na Europa, agora tem transmissão televisiva assegurada para toda a Europa. Ninguém dá nada a ninguém. Há sempre alguma coisa em troca. Não se enganem. Em Portugal o terceiro F parece que se está a per- der para mal do desporto nacional e da tradição. Tomem juízo senhores responsáveis pelo futebol.

Tendências políticas

Na sempre tendenciosa luta política, perfilam- -se os diferentes partidos com os argumentos que consideram mais válidos e que lhes podem trazer mais dividendos, ainda que esses argumentos sejam, a maioria deles, simples promessas eleitorais. A cada ato eleitoral, seja em Portugal ou em qualquer país mais ou menos democrático, verifica-se sempre o mesmo burburinho político. Nada é substancialmente diferente a não ser as caras de alguns dos políticos que, sendo novos no palco, enfrentam espectadores mais seletivos ou tendenciosos. Mas as promessas, essas todos as fazem, como se fossem a garantia de um casamento abençoado, mesmo em dia de tempestade. Na vizinha Espanha assistimos novamente a eleições, desta feita, antecipadas. Não sei se terá valido a pena. Pedro Sanchez não tendo as sondagens a seu favor, acreditava na vitória e apelou a uma grande participação para que isso pudesse acontecer. Era difícil, mas os votos só são contados no final e parece que uma nova coligação terá de resolver o impasse. Feijóo agarrou-se igualmente às sondagens e como lhe davam alguma vantagem, estava a contar que isso lhe permitiria formar governo. Como a maioria nenhum deles a tem, ambos contavam com uma coligação que viabilizasse um governo. De esquerda ou de direita? A extrema direita parece estar arredada do novo governo e ainda bem. Santiago Abascal contava com um resultado heroico, mas só isso não chega. Ele sabia disso. A “coligação” é o terceiro partido e o mais importante para resolver contendas deste género. Mas resta saber que tipo de coligação a Espanha vai ter. Assim, contam-se os votos, um a um, pois por um se ganha e por um se perde. Apesar dos desentendimentos existentes entre o PP e o Vox, certo é que não se têm de entender pois o Vox está afastado dessa possibilidade. Enquanto se contam os votos finais e os últimos resultados serem totalmente conhecidos, a viragem à direita que estava ao virar da esquina em Espanha, parece agora ser uma possibilidade remota. Sanchez voltará a governar se conseguir fazer uma coligação credível. A Espanha apanhou um susto. Em Portugal e apesar das eleições estarem longe, as sondagens saem como patos bravos de um pantanal. Há uns dias o PSD estava à frente do PS, depois outras sondagens davam empate técnico e agora as últimas conhecidas davam um ponto de vantagem ao PS. Nada que seja muito diferente do que a manutenção de um empate técnico. E assim sendo, as tendências políticas, tanto em Espanha como em Portugal vão manter-se. Em Espanha tudo está resolvido e as tendências já estamos a par delas e os espanhóis também. Em Portugal vamos ter de esperar mais uns tempos até às eleições. As sondagens que forem divulgadas só marcam mais as tendências que também nós já conhecemos e como um país não se governa com tendências e sondagens, só no dia das eleições saberemos que formará governo. Seja como for, as sondagens não são para desprezar já que embora errem por pontos, não costumam errar nos partidos ganhadores e as surpresas são mínimas. Mas existem! Mas voltando às sondagens em Portugal, quem está a subir é Mariana Mortágua e o BE. É a novidade dentro da antiguidade! O discurso é diferente do da sua antecessora. Pessoalmente preferia o discurso da Catarina, mas Mortágua vai ter de mostrar outra tendência, quer discursiva, quer assertiva. Sem ter precisado puxar dos galões, que ainda não lhe assentam bem, já fez subir o BE nas sondagens e, só por isso pode ficar satisfeita. É uma pequena vitória, mas que pode marcar uma tendência. Outra subida verificou-se no Chega. Já Rui Rio tinha alertado para essa possibilidade na semana passada quando o MP mandou fazer investigações mais ou menos despropositadas. Isto é igualmente uma tendência e não das melhores. Tal como se verificou em Itália e quase em Espanha, uma viragem à direita pode acontecer em Portugal dentro de algum tempo. Culpa dos políticos e dos partidos que esgrimem soluções para os problemas que criam sem resolver seja o que for. Conseguem é que os portugueses fiquem fartos de políticos e das suas promessas e da falta de assertividade governativa. E quando isto acontece, as viragens políticas estão de acordo com as tendências. A História repete-se ciclicamente. Já vimos o que aconteceu quando na Europa, os governos das democracias liberais não conseguiram resolver a crise económica e política que desestabilizava tudo e todos. O desemprego, a fome, a discórdia e a inépcia política levaram a que os partidos extremistas de direita assumissem os governos na Itália e na Alemanha. Pois se já temos exemplos por esta Europa fora, o melhor é guardar o nosso quintal de modo a que o furão e as raposas não nos comam as galinhas que ainda por cá andam. Deixemo-nos de tendências e toca a governar em consenso o pouco que ainda nos resta.

Onde pousa o pardal?

Realmente, nem tudo o que parece é. Quando acontece alguma coisa inesperada, mas que pode satisfazer as ambições de alguns, não significa que seja mesmo o que está a acontecer na realidade. Hoje, muitas coisas que se passam nos quatro cantos do mundo, não indiciam uma realidade absoluta, pois vem-se a verificar posteriormente que afinal eram puras manobras de distração ou, no mínimo, erros de cálculo. O que aconteceu com a rebelião de Prigozhin e que todos pensaram ser de facto uma tentativa séria de derrubar o poder de Moscovo, muitos revelaram a sua satisfação ao imaginar a possibilidade de isso realmente acontecer e de pôs um ponto final às loucuras de Putin e à guerra contra a Ucrânia. E que mais se podia pensar nesse momento? A realidade que se nos apresentava era efetivamente essa. E pelas notícias, Putin tremeu e o seu avião particular até levantou voo para aterrar em Sampetersburgo, não fosse o caso de ter de fugir, facto que, aliás, foi igualmente noticiado. Uma movimentação extraordinária se verificou em todo o mundo, quer nas redes sociais, quer nos meios de comunicação mais variados, quer mesmo nos meandros políticos que, com maior ou menor contenção, se expressaram sobre o assunto. O que poderia acontecer? Muitos já adiantavam que, a ter sucesso, Perigozhin era muito pior que Putin e que as coisas até podiam ficar muito sérias em termos de política internacional. Na verdade, a China não se pronunciou no imediato sobre tal acontecimento, pois a ser verdade as suas relações com Moscovo ficariam certamente comprometidas. Os EUA, não levaram muito a sério a rebelião do grupo Wagner e pouco disseram sobre isso, fazendo crer que podia tratar-se de uma manobra de diversão. Mas os países europeus desejavam ardentemente que Putin fosse derrubado e a guerra na Ucrânia acabasse de vez. Realmente, o que Perigozhin sempre disse é que era uma guerra sem sentido e para a qual Putin só fornecia soldados sem preparação, sem condições de estar na frente da guerra e que nada mais era do que carne para canhão. Chegou mesmo a dizer que Putin não tinha condições para continuar à frente da Rússia. Isto era música para os ouvidos de muitos que queriam o mesmo. O que acontecesse depois, não interessava. Mas as coisas não seriam assim. Se até aqui tudo parecia ser verdadeiro e uma ameaça real a Putin, o que se passou a seguir fez desconfiar de tudo. O grupo Wagner foi travado com negociações onde o presidente da Bielorrússia aparece, milagrosamente, como intermediário. Fizeram-se promessas a Perigozhin e aos soldados do seu grupo. Ninguém seria castigado e os soldados poderiam ser integrados no exército russo sem qualquer sanção. A Bielorrússia poderia ser a acolhedora do grupo Wagner e do seu chefe. O mundo parou e esperou que Moscovo se pronunciasse. Putin permaneceu calado, dias e dias seguidos. Afinal o que se passava? As notícias que se seguiram davam conta de que Perigozhin já estava na Bielorrússia e que os soldados seriam abrigados num campo militar desativado, onde permaneceriam por tempo indefinido. Mas ninguém teve a certeza de que isso se estava a passar. Alguns órgãos de comunicação adiantaram que Perigozhin já estava na Bielorrússia e comandava o seu grupo no campo militar que lhe tinha sido concedido. Mas logo foi adiantado que não foi por lá visto o chefe do grupo. Onde estava Perigozhin afinal? De Moscovo não chegaram notícias sobre o seu paradeiro. Ninguém sabia onde parava o pássaro! E ainda se não sabe. O certo é que tudo isto pode ter sido uma manobra para enganar os próprios russos e dar força a Putin, ou então foi mesmo verdade e Putin sente-se ainda demasiado ameaçado. Fala-se que Perigozhin tem a cabeça a prémio, tal como todos os que ameaçaram o poder de Putin. Se a rebelião foi verdadeira, então Prigozhin pode ter os dias contados se não se acautelar. Mas também se pode dar o contrário, ou seja, Putin que se cautele para que não lhe aconteça o que já fez a muitos e acabe por ser morto pelos amigos mais próximos, como aconteceu antigamente aos últimos imperadores romanos. Há sempre um dia em que tombamos. Resta saber como e onde. A verdade é que ninguém sabe onde para o chefe do grupo Wagner. O que estará a preparar. Há muitos locais e países onde o Grupo atua presentemente. Estará por lá o senhor Perigozhin? Ou estará a preparar o grupo para fazer nova investida a Moscovo? Putin que se acautele!

Prigozhin, o rebelde

Aparentemente nada de novo na evolução desta guerra insana que Putin desencadeou contra a Ucrânia, colocando a Europa e o Mundo inteiro em pleno alvoroço. Nada de novo, é uma forma de dizer, pois eu já tinha referido, não há muitas semanas, que o que esperava Putin não era mais do que o que aconteceu aos outros ditadores que promoveram guerras e as perderam. O que está a acontecer agora na Rússia, era portanto, esperado mais dia menos dia, ou seja que o povo russo se amotinasse contra o poder ditatorial de Putin e de alguma forma, tentasse mudar o rumo dos acontecimentos. E isso foi acontecendo, um pouco por toda a Rússia, mas sem organização, o que fez com que muitos fossem presos e castigados pelo regime. Era um sinal que Putin deveria ter interpretado positivamente antes que fosse tarde. Por outro lado, a entrada na guerra do amigo Prigozhin, cozinheiro de Putin e agora comandante de uma força militar conhecida como Wagner, veio alterar as coisas. Para o líder russo, Prigozhin seria o testa de ferro que faria vergar a Ucrânia e conquistar posições importantes para o avanço russo. Mas nada é tão certo como o esperado. Desde cedo se percebeu que Prigozhin queria um pouco mais do que o que lhe tinham prometido e fê-lo saber atacando o comando militar russo e o próprio Putin. Tudo se agudizou depois dos combates de Mariupol. O que se passou na conquista desta cidade ucraniana foi um completo holocausto. Uma população de 73.000 habitantes desapareceu. Uma cidade completamente destruída, pejada de milhares de mortos. Prigozhin contribuiu muito para este desfecho. Putin acreditou que o seu amigo lhe daria os louros necessários após várias vitórias. Depois seguiu-se Bakhmut. Outro desastre completo idêntico a Mariupol. Uma cidade desfeita e uma população desaparecida, acompanhada por milhares de mortos, tanto do Grupo Wagner como do exército russo. Prigozhin alertou o comando russo da situação. Não acreditaram. Putin contradizia as comunicações do comandante do grupo Wagner e adiantava outros números favoráveis à Rússia e ao exército russo. Não tardou Prigozhin em desmascarar toda uma situação calamitosa em termos falta de armamento e do número de mortos e do real avanço do exército ucraniano. Putin continuou alheio às reivindicações e aos protestos. A comunidade internacional, limitando-se aos vídeos que eram colocados na Internet pelo Grupo Wagner, não sabia muito bem em quem acreditar. Na dúvida, levava um pouco a sério as afirmações de Prigozhin, mas na esperança de que Moscovo tomasse uma decisão séria sobre o conflito. Putin continuou confiante na sua política de desmilitarização da Ucrânia, sem conseguir informar que afinal a Ucrânia nestes dezasseis meses de guerra, aumentou o seu exército enormemente, que as suas armas e blindados passaram a ser dez vezes mais e que o exército russo, esse sim, se desmilitarizou, perdeu os carros de combate obsoletos que tinha, os tanques e milhares de homens que foram enviados para a frente de batalha como carne para canhão. Isto nunca ele admitiu. Mas a Rússia é enorme. Subitamente, deparou-se com o imprevisto. O seu amigo rebelde, virou-lhe as costas e quase começou uma guerra civil com o objetivo de o tirar do poder. De um dia para o outro tomou a cidade de Rostov, centro nevrálgico do exército no sul da Rússia. Subitamente, mais ou menos consciente da realidade das coisas, Putin não sabe o que fazer, se fugir do país, se reagir arrastando a Rússia para uma guerra civil, também sem sentido, ou pedindo ajuda e conselho aos ainda apoiantes como o Irão, a Bielorrússia ou a Turquia. Putin percebeu as ameaças de Prigozhin de que haverá um novo Presidente na Rússia dentro de pouco tempo e que quer um país sem corrupção, sem mentiras e sem burocracias. Daí ele pedir contenção a ambas as partes. Mas o que irá fazer Putin? É demasiado orgulhoso para se render e para entregar o poder a outro. Foi o Presidente da Bielorrússia que rapidamente serviu de moderador do conflito e negociou com Prigozhin a mando de Moscovo. A Rússia é um país enorme e não é fácil controlá-lo na íntegra e por isso, nem Prigozhin nem outro como ele, serão capazes de o fazer. Putin está bem protegido e tem um exército próprio muito maior do que Prigozhin. Resta saber se a fidelidade continua a ser a mesma! Obrigado a recuar quando avançava para Moscovo, Prigizhin parece ter aceite ir para a Bielorrússia e sair de Rostov. Quem ganhou? Até agora, ninguém, a não ser o próprio povo russo e o seu exército. No meio de tudo isto, a Ucrânia poderá tirar dividendos? Como ficará a guerra? O que poderá fazer Putin? O que se segue? Acredito que a indecisão será enorme. Na Rússia já há abandono em várias cidades incluindo Moscovo. Putin já faz promessas de amnistia aos soldados do grupo Wagner se abandonarem. Que Putin terá de abandonar o poder, mais tarde ou mais cedo, não tenho dúvidas, mas não será facilmente nem tão depressa como o comandante do Grupo Wagner pretendia. Cada dia será uma aposta no escuro. O dia de amanhã poderá ser completamente diferente e os russos acordarem com as armas apontadas à cabeça. Putin dificilmente poderia imaginar tal situação! Moscovo já estava cercada com exército russo com medo do possível avanço de Prigozhin. A fragilidade do regime foi posto à prova. Putin chamou o amigo rebelde para o defender e agora teve de se defender dele. Mas será que as coisas ficarão por aqui? A ver vamos.

Tempos de mudança

Na complexidade da vida e das barreiras que ela nos coloca pela frente, há sempre decisões que será preciso tomar. Podem ser as certas, ou não, mas temos de as tomar, seja em que contexto for. A Europa vive hoje momentos difíceis e que não eram esperados há bem pouco tempo. Desde uma pandemia que nos colocou entre a vida e a morte, entre a clausura e uma liberdade temerária, uma guerra inesperada e que se pensava nunca mais acontecer nesta Continente e ainda todas as consequências que tudo isto provocou. As consequências que são sempre imaginadas antes de as conhecermos, revelam-se gigantescas depois quando temos de conviver com elas. Absolutamente. Com a pandemia convivemos com a morte bem perto de todos nós e pensávamos que só acontecia aos outros, mas depressa nos apercebemos que afinal estávamos errados. Os nossos familiares e amigos morriam ali ao lado e nem sequer podíamos ir aos funerais para uma derradeira despedida. Foi terrível. Mas desengane- -se quem pensar que acabou. Não acabou e lá pelos lados da China, vão adiantando mais uma pandemia de milhões com um novo vírus que grassa por lá. Simplesmente assustador! A guerra desmesurada e que se pensava ser uma pequena escaramuça entre a Rússia e a Ucrânia, a exemplo do que tinha acontecido com a Crimeia, também foi um engano. Afinal não era uma escaramuça e muito menos uma quezília entre dois protagonistas que ansiavam por imediatismo precoce. A guerra veio para ficar e por muito tempo, destruindo cidades inteiras numa ambição desmedida e insuportável, onde as justificações não têm sentido, já que nada há que justifique os milhares de mortos espalhados pelas ruas das cidades ucranianas. É uma chacina levada a cabo por um homem doente, sem consciência, sem sentido de vida, de oportunidade ou de futuro. Desprezível. Um homem à espera de ser julgado, como todos os outros seus iguais, se ainda for vivo quando for apanhado. Porque todos são apanhados e julgados. As consequências desta guerra só ainda as conhecemos pela metade. A contra ofensiva ucraniana começou já. A destruição da barragem no rio Dnipro, ao que parece de iniciativa russa, vai ter consequências enormes a todos os níveis. Terrenos férteis submersos que vão ficar sem produzir, vão provocar fome e ainda mais desigualdades sociais. A par disto, o preço dos produtos a aumentar diariamente devido ao custo do petróleo, dos transportes e de tudo o que envolve a manutenção desses produtos. A fome que já se vive porque não há dinheiro para comprar os bens alimentares mais necessários, a falta de empregos, o aumento geral do custo de vida. Enfim, um sem número de consequências que será difícil enumerar e resolver no imediato. Tudo por causa de uma guerra absurda. Mas há mais consequências a que podemos apelidar de paralelas. São as consequências políticas. Se alguém pensava que os governos se aguentavam sem serem atingidos por toda esta crise mundial, estavam enganados. Foram e muito. Os governos europeus estão a braços com eleições e as oposições espreitam a oportunidade de alcançar bons resultados e até de ganhar. A Direita está atenta e vai ganhar pontos. Para isso propõem mudar tudo, dar melhores condições de vida, aumentar salários e descer os impostos. Promessas, que em tempos de crise fazem ganhar eleições. Aconteceu com Hitler na Alemanha, com Mussolini na Itália e com mais alguns países. Nessa altura a viragem foi essencialmente à direita. Os governos liberais que tinham ganham eleições igualmente em tempo difíceis, era a vez destes ganharem igualmente em tempos de crise. Hoje e, depois de tempos mais serenos e democráticos, reclamam-se alterações governativas uma vez mais à Direita. A Espanha acaba de ter o seu sabor amargo. O PS demitiu- -se do governo e vai a eleições. Perdeu a confiança do povo. O governo socialista não conseguiu sobreviver à crise. A Direita irá ganhar certamente. Vai acontecer a mudança. A Itália já está a governar com a Direta no poder. Tempos que fazem lembrar Mussolini. A mudança já se deu. Estamos no início. Na França, Macron está nas mãos da oposição. Ganhou as eleições, mas sem maioria. É contestado em toda a França e pedem a sua demissão. O aumento da idade da reforma, levou o país a uma situação de ferro e fogo. Saíram à rua e incendiaram o que lhes apeteceu, assaltaram as lojas, queimaram carros e pediram a cabeça de Macron. Ele não cedeu, mas o tempo está a contar e não é a seu favor. Está a iniciar-se a mudança. Na Turquia Erdogan conseguiu manter-se no poder, mas apanhou um susto. Em Portugal, também com tempos muito difíceis, Costa aguenta-se porque tem maioria, mas nem assim consegue governar descansado. O caso Galamba veio para ficar e causar confusão. O povo está na rua e as greves não páram. Pede-se a queda do governo e novas eleições. Marcelo não está pelos ajustes. Mas os tempos são deveras difíceis. Será que Costa aguenta, ou fará como fez o seu amigo e correligionário Sanchez? Nunca se sabe. Os tempos são mesmo de mudança!

Não chamem nomes à democracia

Há muitos governos que se apelidam de democráticos e exercem um poder nada condizente com a democracia a que recorrem para arvorar uma bandeira que não lhes pertence, mas que fica bem aos olhos da comunidade internacional. Mas esta não é lorpa. Não sei se os dedos das mãos chegam para contar os países que não sendo democráticos, se identificam como tal. No entanto, muitos deles foram eleitos a coberto da democracia e só por isso mereceram os votos dos eleitores, embora estes se arrependessem mais tarde. Exemplos temos muitos. A Venezuela diz-se democrática e no entanto é liderada por um ditador que não admite oposição organizada e que ameaça quem se opuser ao seu governo e à suas leis. Todos condenam o regime, mas para Maduro ele é o mais democrático que existe. Nunca ninguém ouviu dizer que a China não é democrática e o seu líder faz disso bandeira de regime. É comunista ou socialista como dizem, mas isto é democrático! Como se pode ser democrático se o governo não é eleito através do voto? Claro que há uma diferença enorme entre ser comunista e ser socialista. O primeiro é extremista e ditatorial, o segundo até pode ser democrático se não cair no extremismo e na tentação do poder absoluto. É o que aconteceu a alguns governos. Aqui situam-se, por exemplo, a Turquia e a Rússia. Dois países que desempenham na atual conjuntura política um papel primordial. Um porque vai ter de enfrentar eleições e outro porque não as quer perder custe o que custar. Pois é verdade. Erdogan vai enfrentar sessenta e oito milhões de eleitores e terá de os convencer que vale a pena continuar a governar a Turquia. É um trabalho duro, especialmente quando dez mil eleitores são curdos e estão contra ele. Erdogan foi eleito prometendo muita democracia, muitas reformas e melhor economia para o país. Enfrentou logo a seguir um povo enfurecido pelas reformas que não eram as esperadas e uma guerrilha fronteiriça que em nada o favoreceu politicamente. Reforçou o seu poder político e hoje é quase um ditador. Ultimamente tem tentado tirar alguns dividendos ao esforçar-se por mediar o conflito entre a Ucrânia e a Rússia. Os acordos da exportação de cereais ucranianos e russos deram-lhe alguns pontos, mas poderão não ser os suficientes. A situação interna do país não é a melhor. Os turcos querem muito mais e melhor. A Rússia de Putin é outro caso. Putin ao assumir o governo, não deixando de ser socialista como disse, prometeu ser mais democrático e liberal. Isto deu-lhe um certo campo de manobra que ele soube aproveitar a seu favor. Já correu os cargos mais importantes sendo ora presidente, ora primeiro-ministro e presidente novamente. Foi trocando pelo simples facto de não poder ocupar o mesmo cargo mais tempo do que a lei permite. Mas isto não poderia ser um impedimento, pois Putin logo decretou alterações que lhe permitem fazer o que quiser. Isto é, aos seus olhos, o mais democrático possível. Mas não houve eleições democráticas! Para quê? A Duma decidiu, está decidido. Ele manda na Duma democraticamente. Já Lenine e Estaline assim faziam. Ou seja, Putin nada mais é do que um ditador que se assume como democrático e critica as democracias ocidentais que acusa de o serem. Não lhe interessa! Aliás, invadir um país estrangeiro e fazer guerra sem razão aparente contra ele, é o mais democrático que existe aos olhos de Putin. Por que será? Porque é um ditador democrático! Simplesmente. Para não enfrentar uma oposição concertada em eleições próximas, Putin mandou encarcerar Navalni, o seu mais acérrimo opositor e possivelmente o ganhador das eleições, se fossem democráticas. Acusado sem razões plausíveis, foi preso para enfrentar alguns anos de cárcere, os suficientes para não ser opositor a Putin. Como isso pode alterar com o tempo e a conjuntura, não será de excluir mais um envenenamento na prisão. Sempre pode justificar a sua morte com uma doença súbita. Claro que isto é tudo muito democrático! Enfim. Se Erdogan não ganhar as eleições, as relações entre a Rússia e a Turquia podem alterar e muito e quem vai acabar por apanhar os destroços são os países ocidentais, já que a guerra da Ucrânia vai tomar outro rumo certamente. Não podemos esquecer a força dos Curdos dentro da Turquia e fora dela. Terão sempre uma palavra a dizer. Não sei se a democracia passará muito por aí, mas não é uma carta fora do baralho. A ver vamos. Cá por casa, a democracia anda um pouco esquecida. As maiorias levam a alguma prepotência governativa e a meter a democracia na gaveta quando interessa. Felizmente a separação de poderes funciona e isso impede a tentação da exacerbação dos mesmos. Mas não digam que é democrático o conjunto de asneiras e desonestidades que se têm praticado ultimamente neste governo. Terá outro nome certamente!

E agora, quem se segue?

A falta de respostas adequadas ou certas, a perguntas que todos fazemos em situações complicadas, só são possíveis quando não temos a certeza das soluções que são necessárias para ultrapassar as complicações que aparecem. Aqui, o problema está no quem, pois exige saber a pessoa que, aparentemente, pode resolver as complicações expostas. O atual governo tem sido exposto a situações tremendamente caricatas, por sua própria culpa, como todos sabemos. Não sei se é uma falta de tacto político ou se é mesmo falta de pessoas capazes de ocupar os lugares para que são indicadas. Seja como for, o certo é que entram e saem do governo como se fossem empurrados por um vendaval. Alguns nem sequer chegam a aquecer o lugar. As razões que conhecemos para que tal aconteça não são as melhores. E o mais caricato é que nem se apontam falta de conhecimento ou de perfil ou outra qualquer razão para a saída dos cargos políticos, como falta de habilitações. É falta de honestidade, falta de sabedoria, falta de ginástica política. É, em alguns casos, um assomo de prepotência indevida. É um querer mais do que se deve. Perante tudo o que tem acontecido a este governo completamente desatinado e sem rumo, chego a ter pena de Costa, pois possivelmente nem merecia ter gente desta no seu partido e que o tem levado a enfrentar situações deveras assustadoras. Não, não merecia ou se calhar até merecia, pois tinha o dever de conhecer os seus pares e de os saber escolher. Escolheu mal, tem escolhido mal e continua a não ser servido devidamente. Cada um é pior que o outro. Depois de tanta remodelação já feita e desfeita, Costa continua encostado à parede e sem saber o que fazer. Ele bem esbraceja, bem barafusta, fala alto, grita no aniversário do Partido, mas não vai além disso. São palavras para o interior de que a comunicação social faz eco. Resultados positivos, nenhuns. Os vários Partidos da oposição, criticam o governo, apontam os erros e as indecisões, mas também pouco adiantam. Não podem. Quem tem maioria é que deve governar! Será? A verdade é que não se tem visto essa governação de quem sabe, de quem ouve as criticas, de quem quer resolver os problemas do país. Os vários setores estão em greve constantemente. São os professores que ameaçam continuar as greves e fazer greve às avaliações no final do ano, são os enfermeiros que não vêm resolvidas as suas exigências, são os trabalhadores da CP e, enfim, é a questão da TAP que se transformou num sorvedouro de milhões que nós teremos de pagar. Para agravar tudo isto, continuamos a não saber onde vai ser construído o próximo aeroporto. Mas a polémica está no ar e todos apontam soluções. Contudo, há sete ou oito ou nove locais possíveis e em estudo e tudo isso nos leva milhões em estudos e mais estudos. À conta de todos estes imbróglios, alguns ministros e secretários já rolaram e outros estão em vias de rolar. E Costa tenta segurar-se aos ramos que estão na margem, antes de se afundar. Não tem solução fácil. Todos estão a empurra-lo para o fundo. Não tem ajudas. A única com que ainda conta é, curiosamente, do Presidente Marcelo que não está interessado em derrubar o governo e partir para novas eleições. É uma ajuda de peso! Na verdade, o problema da TAP e da CEO demitida e dos milhões que giram à sua volta, tem feito perigar a continuidade do Ministro das Finanças e, mais recentemente, o Ministro das Infraestruturas, Galamba. Embora ele diga que não sai pelo seu pé, o mais certo é sair pela porta das traseiras. A demissão do seu adjunto, veio complicar o que, para ele, seria fácil, mas não foi. Sucedem-se então uma série de ilegalidades, quer da parte do Ministro, quer dos que ele envolveu, desde o SIS à PJ passando pela Ministra da Justiça. Como é possível? É o descalabro total. Perante estas situações, a oposição pede o derrube do governo. O PSD e o seu secretário-geral exigem que o governo caia e que se passe à fase seguinte. Montenegro diz que está pronto para substituir Costa. Estará? É verdade que tomou algum alento ao saber que as sondagens lhe dão uma pequena margem acima do PS, mas não chega. Tomar conta de um barco desgovernado e em plena tempestade e levá-lo a bom porto, não é fácil. É preciso ter muita experiência. O Chega também está à espreita e diz que sem ele não haverá governo. Pois pode estar enganado. Curioso é que mais ninguém parece estar disponível para tomar conta do barco. Resta saber se perante tudo isto, Marcelo vai continuar em manter o governo e o seu amigo Costa até ao fim da legislatura, ou se, como pede a oposição, dissolve a Assembleia e vamos para eleições. A altura é péssima para isso, mas alguma coisa terá de ser feita. O país está no caos. Se formos para eleições, quem se seguirá? Apesar de tudo, Costa ainda não está derrotado e não admite perder. Montenegro ainda pretende ganhar. Ventura só espreita, por enquanto. Adivinham-se tempos difíceis. Nós ficamos à espera do senhor que se segue. Quem será? Todos. À esquerda e à direita. Sem excepção!

Venderam a vergonha

A vida é complicada, mas tem que ser vivida enfrentando em cada dia as agruras que nos aparecem pela frente, ultrapassar as barreiras tremendamente injustas que nos põem à prova, experimentando a nossa capacidade de resistência. Mas é deveras difícil conseguir e tanto mais difícil quanto menos possibilidades se tem para encarar as dificuldades do dia-a-dia. Desde os tempos imemoriais que o homem procura o seu próprio abrigo. É lá que se sente seguro. Primeiro, uma caverna profunda que a própria Natureza lhe concedia. Nus, sem vergonha, lá se abrigavam, passavam os tempos livres e se entretinham a sonhar com os dias seguintes. A Natureza foi-lhe fornecendo o que precisava e o resto foi o engenho e a arte que o bafejaram juntamente com a sorte da própria sobrevivência. Lá criavam os filhos e a família. Depressa porém, as exigências levaram esse homem a construir as suas próprias casas e a criar os seus animais. Deixou de andar de um lado para o outro à procura de alimentos e a fugir ao clima agreste de certas regiões. Surgiram assim os aldeamentos e depois as cidades. Com o tempo, elegeram quem os governasse e orientasse. Ruas e avenidas ligavam as casas espalhadas pela cidade. Todos tinham direito a viver na sua casa, fosse própria ou até mesmo alugada. Na verdade, os alugueres não surgiram só agora. E no meio de todos estes alugueres, havia quem se aproveitasse da miséria dos outros. Quanto mais a procura, maior o preço! Leis do mercado. Com o passar dos anos e dos séculos, as coisas não melhoraram muito no que diz respeito ao aluguer de casas, de casas próprias e mesmo da construção de casas e prédios. Quem é dono procura ganhar o mais que pode. Vergonha, não têm. Na Grécia antiga, já se referia que todos deviam ter direito à propriedade própria incluindo a casa para morar com a família. Era um direito de todos os cidadãos. Já se referenciava a democracia como o regime mais justo para combater as desigualdades, as injustiças e a corrupção. O facto é que poucos aprenderam que deveria ser sempre assim e desviaram o rumo de acordo com os seus interesses económicos e políticos. Agora em pleno século XXI e vivendo em democracia, segundo dizem, vemos o governo de Costa completamente desorientado e a braços com o problema da habitação. Os Bancos sobrepõem os seus interesses aos do governo e obriga este a pensar duas vezes antes de agir. Sem solução à vista, o povo sai à rua e manifesta-se contra a política de arrendamentos e da falta de habitação. A Ministra da tutela não sabe o que fazer e, quase calada, encolhe os ombros sem nada dizer. Costa encurralado, faz asneira atrás de asneira, sem ter consciência da gravidade do que pretende fazer. Decreta arrendamentos forçados e perante a acusação da oposição, vem desculpar-se dizendo que não é expropriação. Era o que faltava! O confronto leva a PSP a atuar com alguma violência, uma vez mais, e a ser acusada de prepotência por não saber lidar com uma manifestação legal e pacífica. Onde pára a vergonha? Duas raparigas são presas sem justificação aparente. Só porque sim. Todos pediam habitação para quem ganha pouco. Todos pediam que se alterasse a lei do arrendamento. Todos queriam e querem ter o direito à habitação. É um direito inalienável. Ninguém nasce para viver na rua como os animais. O governo é criticado e com razão, pelo desmando que está a tomar em relação às habitações, aos alugueres e à ocupação de casas desabitadas. Parece o tempo do PREC! Que vergonha! Quando o Estado tem centenas, se não milhares de casas a cair e não as repara nem as vende, deixando-as ao completo abandono, que moralidade tem para exigir que quem tem casas rurais ou desabitadas, que as alugue, que as dê para ocupação, que as declare para habitação por terceiros, caso contrário o Estado pode ocupá-las? Não há moralidade nenhuma. O que há é falta de vergonha. Quando não se sabe resolver um problema, aceita-se o conselho de quem pode ajudar ou então, olha-se ao espelho e pergunta alto e bom som, como fazer sem ficar mal visto. A política que os Bancos estão a seguir no que se refere aos empréstimos para habitação, tem de mudar e cabe ao governo impor um limite, quer nos empréstimos, quer nos juros a cobrar. Mas o problema não se resume só a isto. Quem ganha um salário mínimo, como pode pagar uma renda de 400 ou 500€? Com que direito, os donos dos apartamentos e das casas, pedem um valor de arrendamento que quase ninguém pode pagar? Como viver depois? O caso dos professores, que todos já conhecem, é disso exemplo. Não ganhando muito, vêm-se deslocados e a ter de pagar rendas longe da família e por vezes a ter de suportar duas rendas. É vergonhoso. Mas o governo não tem vergonha. Venderam a vergonha e vivem bem assim, até um dia. Até quando?