Luís Ferreira

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Vendavais- A saúde, o governo e o futebol

O que devemos prezar, mais do que outra coisa qualquer, é a saúde, mas nem sempre assim é. Em variadas ocasiões e momentos mais ou menos solenes, desejamos saúde, felicidade, alegria e claro muitos anos de vida para gozar tudo isso. Faz parte intrínseca da cultura do povo português que desde sempre aprendeu a viver com o pouco que sempre teve e só a saúde lhe permitia enfrentar as agruras da vida e, com ela, poder ter alguma felicidade, intervalada pela alegria de ver os filhos correr e crescer à sua volta. Hoje, tudo é diferente. Mas a diferença não reside somente no contexto familiar. É muito mais alargada e abrange a totalidade de todo um povo. E mais, abrange o próprio governo e até o que ao povo faz falta como o futebol, que lhe dá a tal alegria momentânea que se transforma, muitas vezes, na felicidade de um dever cumprido. Mas a saúde é muito mais do que isto. A saúde é o governo e os responsáveis que ocupam os lugares de destaque. Ter saúde no governo é ter a certeza de ocupar um lugar com responsabilidade e saber. Não é estar doente ou temer pela saúde com medo de apanhar o Covid19 ou uma constipação vulgar. É estar bem com a roupa que se tem. O que não aconteceu nos últimos dias. Marta Temido, ministra da saúde, temendo pela sua saúde, resolveu afastar a sua Secretária de Estado, Jamila Madeira sem lhe dar, ao que parece, qualquer satisfação. Claro que ela não gostou e fez questão de o dizer. Segundo ela saiu de consciência tranquila e com a satisfação do dever cumprido. Pelo menos, tanto quanto pôde. O PS tremeu. Tremeu, não por falta de saúde, mas com receio de adoecer. Por isso, correu a tomar uns comprimidos antes que Costa fosse contagiado, pois isto de andar de um lado para o outro e com o vírus à solta, tem que se lhe diga. António Sales ocupou o lugar, pela certa, como remédio eficaz para a falta de saúde. Mas será que Costa ficou fragilizado? O tempo o dirá. A verdade é que além da saúde da ministra, está em causa a saúde de Costa, embora por razões que não se prendem directamente com Marta Temido ou Janila Madeira. E não é uma questão de gripe prematura ou constipação sazonal. È mais do que isso. Como todos sabem, Costa estava na lista de honra de Luís Filipe Vieira na sua candidatura à presidência do Benfica. Ninguém gostou disso. Quase todos criticaram tal postura, até mesmo o Presidente Marcelo que, por sua vez, se recusou em iguais circunstâncias, a fazer parte de outra lista de honra em outra equipa de futebol. Sempre o futebol! Vieira está agora acusado e vai ser arguido no caso Lex, o que não abona nada na credibilidade dele, do Benfica ou de Costa e mesmo do Presidente da Câmara de Lisboa. Está tudo ligado. O que significa isto? Que estão todos com falta de saúde? Ou que estão todos bem demais? Também é verdade, que o Covid19 ainda não atingiu nenhum ministro ou secretário de Estado. Quererá isto dizer que eles possuem o antídoto para combater o Corona? Ou será que esta estirpe de vírus não quer nada com pessoas já por si doentes e apanhadas? Seja como for, o tribunal julgará o caso Vieira e o Benfica sofrerá, ou não, as consequências desses favores. Por outro lado, Marta Temido, terá ainda muito para mostrar pela sua atuação mito contestada e até por uma certa arrogância e desprendimento sobre a saúde e o combate a este vírus que se espalha cada vez mais pelo país inteiro. A segunda vaga está à porta. Pois, parece que não bastava este vírus abanar a saúde nacional, como agora o governo e o futebol serem atingidos por esta vaga de virose. Enfim!

O que o povo quer é festa

Quando era rapazote ouvia dizer frequentemente que o que o povo queria era Fátima, Futebol e Festa. Outros diziam Fado, Futebol e Fátima. De um modo ou de outro eram os três ou quatro F’s mais adorados dos portugueses. No fundo, todos eles indiciavam uma associação a festividade, fosse ela qual fosse. Muitos anos se passaram e políticas de igual modo foram implementadas, mas nada alterou o que ao povo diz respeito nesta plataforma de entendimento. Continuamos a gostar de Fado, de futebol e de ir a Fátima, pelo menos uma vez por ano. Faz parte do nosso íntimo, da nossa crença e da nossa maneira de estar na vida. E claro que gostamos das festas. Quem não gosta dos grandes arraiais de Verão que em todas as aldeias se costumam fazer? Hoje, infelizmente, é o único dia em que as aldeias se enchem de gente, passe o eufemismo, porque afinal de contas, o arraial resume-se ao bailarico no centro da aldeia onde um conjunto musical se esforça por juntar e animar os poucos que se dignam estar presentes. Já não se dança como antigamente, já não se anda ao “engate” das raparigas novas porque as não há e os mais velhos, cansados da vida, limitam-se a apreciar de longe, os elementos do conjunto e as dançarinas que, em palco, dançam e saltam de saia curta e braços no ar. Mas haja música porque ela é sinónimo de festa, de alegria e de convívio e isto faz esquecer as agruras do dia-a-dia. Na verdade, as festas sempre tiveram duas vertentes muito importantes: a que serve de razão para a sua realização e a que leva as pessoas a afluírem ao local onde se realiza. Digamos que uma delas será talvez religiosa porque tem um patrono em honra do qual se faz a festa e a outra será a necessidade social que embrulha o sentimento das pessoas e as leva a procurarem e a reverem amigos e a conhecerem outros que o podem vir a ser. Mas não nos enganemos, pois nada do que era antigamente voltará a repetir-se nos dias de hoje. Não há gente. As aldeias estão despovoadas e os novos procuraram outras paragens. O seu regresso só é efectivo nas festividades de Natal ou da Páscoa e, claro, no Verão. São dias escassos para colmatar a falta que se faz sentir nas terras do interior. No litoral as coisas são um pouco diferentes. Há mais gente e é natural que as festas sejam mais concorridas. Este ano, completamente atípico devido ao Covid 19, não se realizaram as festas e os festivais que eram habituais e marcavam os meses de verão. O governo e a DGS acharam por bem e com alguma razão, impedir a sua realização. Contudo, isto não impediu que alguns desvarios acontecessem e que se tivesse de tomar medidas mais ásperas. Mesmo assim, houve sempre quem pensasse que o vírus era para ser encarado de frente e sem temor. O que era preciso era festejar. Dançar, saltar e beber até fartar. As consequências começaram a notar-se e não estão a ser nada agradáveis. Os números aí estão para confirmar que as coisas se estão a complicar cada vez mais. Mas não se pense que é só em Portugal. Não, não é. A Europa está à beira do abismo. Os desmandos que verificamos nos países europeus, também se verificam por cá. O que se passou em duas ou três ocasiões, não abona em nada, a justeza do governo ou mesmo da Direção Geral de Saúde. Todos criticaram o que se passou no Parlamento e na comemoração do 10 de Junho, mas fez-se. Todos falaram e falam da realização da Festa do Avante e dos riscos que podia trazer, mas fez- -se. Menos gente, mais distanciada mas, quase quarenta mil pessoas a passear- -se pelo terreiro é muita gente, convenhamos. Se não fosse a ameaça do vírus e as restrições impostas, seriam certamente o dobro de pessoas, como é habitual, mesmo com o vírus à porta, porque o que é preciso é Festa para descontrair. É disto que o meu povo gosta! Só tenho esperança que este gostinho especial, não se transforme num amargo de boca atroz.

Vendavais- O vírus não é racista

Num tempo em que todos correm sem saber exatamente para onde, ainda parece haver quem tenha a certeza de alguma coisa. Possivelmente têm essa noção, mas não passa disso mesmo. Não sei se andam a fugir de alguma coisa ou de encontro a outras coisas, mas correm como loucos. Parece-me que vão de encontro a qualquer coisa, seja o que for, mas vão. O tempo de veraneio a que alguns têm direito neste agosto tão diversificado, já que chove no Norte e há Sol e calor no Sul, vai sendo marcado pelo mesmo tema que nos entra pela casa dentro há já quatro ou cinco meses e do qual estamos todos fartos. Falar do vírus e das suas vagas que atropelam os mais audazes e os menos prevenidos em todo o mundo, é recorrente. O mundo parou com a chegada deste Corona vírus. Nomes, tem e demais, mas todos dizem o mesmo. Morte. Todos esperávamos que aproveitasse este tempo de férias para ir para bem longe, mas tal não aconteceu e instalou-se com armas e bagagens em todos os recantos deste planeta. Resta saber se não veio de outro recanto do universo, enviado por alguma nuvem de poeira cósmica. A verdade é que chegou e ficou, obrigando todos a obedecer-lhe como se fosse o rei único e universal. E será. É rei de todos os povos e raças. Não é racista. É rei e a todos castiga sem dó nem piedade, especialmente os que não obedecem às suas regras, fazendo lembrar os de antigamente, os que tinham poder absoluto e o justificavam como sendo divino. Não, este não será divino, mas parece. Castigar, castiga. Ora, não sendo este rei, racista, que lei permite que alguns o sejam impunemente? Num tempo em que não nos preocupamos muito com assuntos paralelos ao vírus, há pessoas que resolvem divertir-se com o facto de estarem em confinamento e enviarem e-mails aos amigos a ameaçar os que calham, assustando-os ainda mais que o próprio vírus. Não está certo. Brincadeira tem hora! Podiam aprender com o rei universal que, parece não os amedrontar. E se fossem castigados pela vara da justiça vírica? É que muitos são castigados sem nada ter feito que justifique tal sanção. Pois, este ato racista, altamente condenável numa sociedade democrática, sendo antidemocrático, merece castigo. Mas como castigar quem não mostra a cara? Pode ser que acabando o confinamento a que estão sujeitos ou se sujeitam livremente, saiam à rua e mostrem, além do suposto nome, a face da injustiça que o rodeia. As raças não passam de designações que os europeus atribuíram aos povos que foram descobrindo ao longo dos séculos. Eram diferentes na coloração da pele, só isso e assim uns passaram a ser negros, ouros amarelos ou vermelhos e outros brancos. Pois, mas a origem de todas as raças está em África onde todos eram negros e a coloração da pele só mudou devido à menor incidência do Sol e à diferença climática dos diferentes locais ao longo de muitos milhares de anos, o que nos leva a ter uma mesma origem ancestral. Isto não nos torna diferentes nem permite que sejamos racistas. Nada o justifica e muito menos justifica certas atitudes completamente antidemocráticas. Em pleno século XXI e inseridos em sociedades democráticas que têm por trás anos de luta para se afirmarem com tal, não é admissível que subsistam radicalismos deste género em pequenos recantos de alguns países, especialmente aqueles onde o vírus ainda não entrou. O Verão está a dar os últimos suspiros, mas o receio deste vírus que não desaparece não quer ir de quarentena, mas vai-nos obrigando a fazê-la. Contra a nossa vontade, vem aí um tempo de aperto e de muito receio onde muitos serão apanhados por este rei universal, cujo desfecho será sempre imprevisível. Não sendo este rei de estirpe rácica, bem podia apanhar os que o são e ensiná-los a temer as leis que regem este mundo de todos nós.

Vendavais- Preocupação sem férias

Agosto é usualmente tempo de férias e descanso merecido para quem trabalhou durante o ano inteiro. Sempre se referenciou este mês como o mês em que todos vão de férias. Algarve ou estrangeiro, era o que se pensava escolher conforme a carteira de cada um. Destinos sonhados, ambições atingíveis, programas e projetos bem organizados, tudo numa amálgama de desejos a concluir num Agosto de um Verão próximo, pautado pelo calor e pelas ondas refrescantes de um mar aberto à concretização de todas as aspirações sem preocupações maiores. Mas o destino ou seja lá o que for, troca-nos as voltas quando menos se espera e prega-nos partidas tremendas que deitam por terra os projetos que esperavam conclusão. O destino, desta vez, mais uma, tem nome: Covid 19. As férias tão ambicionadas mudam de rumo, de tempo e de lugar. Os desejos são limitados a um confinamento espacial, bem diferente do pensado e rodeados de uma preocupação renovada. Os destinos paradisíacos, ficam demasiado longínquos da sua concretização e os desejos são muito diferentes dos inicialmente previstos. O vírus mudou a tradição e Agosto deixou de ser o mês das ansiadas féria de verão, numa praia do pacífico, do Mediterrâneo ou mesmo da costa algarvia. Para muitos, as férias passaram a ser uma preocupação constante e um receio atroz, uma fuga a um inimigo invisível, que pode estar ao virar da esquina. Mas não são só preocupações pessoais e sazonais as que pesam no dia-a-dia nacional. A falta de movimentação da população, leva a consequências económicas terríveis para o Turismo nacional. De fora, os turistas que habitualmente nos visitavam, deixaram de vir. Confinados a regras duras, para evitar o alastramento da epidemia, ficam nos seus países, mesmo contra a sua vontade e deixam os nossos hotéis e os cofres vazios e cheios de preocupações futuras. Os donos da hotelaria passam a ter férias forçadas por falta de clientes e os empregados passam a viver com a preocupação de um despedimento inesperado. Já me tinha referido anteriormente a uma possibilidade deste género vir a concretizar-se. Aí a temos. Quando nos outros países já se fala de uma possível segunda vaga perante um novo crescimento do número infetados e de óbitos, nós ainda estamos a conter a primeira vaga, muito embora haja locais assinalados com vários surtos epidemiológicos. Mas não descartemos a segunda vaga depois de Agosto. Setembro e Outubro podem trazer tempos difíceis a todos os níveis. De facto, as aulas iniciam- -se em setembro. Os alunos voltam às escolas para fazer exames e depois iniciar o ano letivo, de contornos ainda por definir. São imensas as preocupações, quer dos professores, quer dos alunos, quer das comunidades escolares. São milhares de alunos e professores a cruzarem-se em todos o lado, pelos corredores das escolas, nas salas de aula e nos recreios. Olham todos de soslaio, com receio, com desconfiança, mas com vontade de estarem perto quando se devem manter afastados. Depois de Agosto, tudo vai ser diferente. Nada disto nos surpreende. As férias serão sempre férias, mesmo que seja somente um tempo de descanso à beira do rio que passa ao lado da OPINIÃO aldeia, onde as águas frescas sempre refrescam os ânimos ressequidos de uma frustração imposta por um vírus que não veio de férias, mas que parece querer ficar mais tempo do que o mês de Agosto. Mas as férias não terão o mesmo significado para a grande maioria das pessoas. Outras vieram mesmo assim, de França ou da Alemanha, matar as saudades imensas de meses de separação. Arriscaram para usufruir do mês de férias junto dos seus. Atravessaram a Europa e nós cá, esperamos que não tragam na bagagem o que não se consegue ver a olho nu. As preocupações, mesmo em férias, não acabam. Elas não têm direito ao descanso que nós gostaríamos de ter. Como não chagava o vírus para nos preocupar, vieram as preocupações para acabar com as parcas férias que esperávamos ter. Já nada é como era! Nem será.

Vendavais- 50 anos mais tarde

Naquele dia, levantei-me cedo e estava nervoso porque na quarta-feira da semana anterior, durante a instrução da Mocidade Portuguesa no colégio que eu frequentava, nos tinham dito que teríamos de estar bem preparados para fazer formação e prestar homenagem ao Presidente do Conselho de Ministros que se deslocava à sua terra, como tantas vezes fazia. Nunca o tinha visto, mas sabia que era uma pessoa da terra e que era estimado pela maior parte delas. Como o respeito é muito bonito, também eu aprendi a respeitar os outros e com os meus 12 anos de idade não tinha outras preocupações além dos estudos, onde me exigiam que tirasse as melhores notas. Assim, nesse dia, vesti a farda da Mocidade Portuguesa e com a vaidade natural de uma criança dessa idade e do motivo que a tal ação levava, aperaltei-me e lá me levaram até Santa Comba Dão, onde o senhor Presidente do Conselho iria passar revista e à Juventude da Mocidade Portuguesa, eu incluído. À hora esperada, apareceu o senhor Presidente e, em passo lento, foi passando à frente dos que por ali estavam perfilados. Quando chegou em frente a mim, parou, estendeu a mão e proferiu secamente “Como estás meu jovem? Parabéns”. Não consegui pronunciar uma única palavra, tal era o nervosismo. Em casa, disse à minha mãe e aos meus avós o que tinha acontecido e lembro-me a minha avó dizer “olha que ele ainda é da nossa família”. Mais tarde, depois de algumas investigações, cheguei à conclusão que era primo afastado da minha avó. Anos mais tarde, já a acabar o Liceu, com outras ideias e outras leituras a ocuparem o espaço intelectual, fui-me apercebendo de duas coisas: não queria regimes comunistas nem regimes de estrema-direita. Era contra as ditaduras, claramente. Contudo, tinha lido já livros de Dostoievsky, de Maximo Gorky, de Léon Tolstoy, entre outros. Os meus colegas criticavam as minhas leituras, mas também não referenciavam as deles. Nessa altura lia-se mais do que agora. Não havia vários canais de televisão, nem novelas nem Big Brother. Enfim, outros tempos. Quando chegou o dia do baile de finalistas, tínhamos convidado um conjunto conhecido de Coimbra e o Zeca Afonso. Este logo disse “vejam primeiro se eu posso ir aí cantar”. Não achei isso estranho, mas nunca pensei que fosse tão perigoso para ele ir cantar umas “cantigas” a um baile de finalistas. Foi proibido. Ficámos sem Zeca Afonso. Fiquei furioso, até porque eu pertencia à comissão organizadora e achei que tinha falhado nesse objetivo. Falhei, ou talvez não. Estávamos em 1972 e a criança de 12 anos já estava prestes a ir para a Universidade. As responsabilidades já eram outras e o Presidente do Conselho que me tinha cumprimentado, já tinha falecido. Em 27 de Julho de 1970. A minha mãe não me deixou sair de casa, mas na varanda ouvi os disparos de artilharia que foram dados no cemitérios de Vimieiro, na altura em que foi sepultado em campa rasa. Hoje, passados cinquenta anos, a imagem do governante autoritário e ditador de Santa Comba Dão, ainda mexe e é referenciada frequentemente, pelas boas e pelas más obras que fez. Como todos os governantes, governou como sabia e como quis e com as ideias que tinha. O projeto de fazer na sua humilde casa um Museu do estado Novo, não está a ser digerida de igual forma pela sociedade portuguesa, a mesma que o elegeu há três ou quatro anos atrás, a figura número um do século vinte em Portugal. Detesto hipocrisias, como detesto “fazer o jeito” aos que querem que se pense como eles. Não estaria certo. Cada um que pense com a sua cabeça e que não tenha receio de se afirmar como tal e por esse meio. Aprendi a criticar Salazar e o seu governo como aprendi a criticar o governo de outros ditadores, uns que passaram e outros que ainda sobrevivem num mundo que diz moderno e progressista. E são ainda muitos. Afinal, cinquenta anos depois da morte do ditador de Santa Comba Dão, como estamos? O que foi feito? Pois, à parte a democracia que se conquistou e foi muito, temos três bancarrotas pelo meio, várias crises e agora mais uma graças ao vírus fatal do desassossego. E o ouro foi-se embora!

Vendavais: Os vândalos racistas

Há alguns séculos atrás, mais concretamente no século V, a Norte da Europa foi invadida por vários povos bárbaros que destruíram o grandioso Império Romano do Ocidente. Várias investidas dos diferentes povos germânicos, acabaram com um domínio de muitos séculos, quer na Europa, quer mesmo no norte de África, circundando o Mediterrâneo, a que os romanos chamavam Mare Nostrum. Entre os vários povos bárbaros, vinham Vândalos, Suevos, Visigodos, Saxões, Francos e tantos outros que não vale a pena referir. Por cá se estabeleceram, criaram raízes e ficaram a governar criando reinos que se transformaram em países e em nações prósperas, mas diferenciadas, quer na civilização, quer na cultura intrínseca de cada um. Talvez por um acaso qualquer ou porque não conseguiram resistir ao avanço de quem vinha atrás ou determinação do destino, os Vândalos tiveram de atravessar o Mediterrâneo e refugiar-se no Norte de África, abandonando a Península onde pensavam permanecer. Nada mais havia a não ser o Atlântico desconhecido e o Mediterrâneo insondável. Por cá não ficaram. Mas deixaram um rasto de destruição tão grande que ainda hoje nos referimos a quem tem igual comportament, como autênticos Vândalos. No caminho da afirmação das nações, cada uma agiu a seu modo, teve os líderes que de alguma forma surgiram e se afirmaram, teve os governos que escolheu, ou não, mas mantiveram as suas identidades culturais, a sua força, o seu querer e idolatraram mesmo alguns dos seus heróis, eternizando-os em estátuas artísticas e significativas, que um qualquer artista sublimou. Nesse percurso, cada nação soube adaptar-se às vicissitudes que enfrentou, soube conviver com os seus vizinhos, a bem ou esgrimindo razões e direitos, tentou ser melhor, e conseguiram moldar a sua identidade e a própria mentalidade. No fundo, criaram as páginas da História Universal que nada nem ninguém conseguem apagar. Todos eram iguais? Não. Todos eram diferentes? Claro que sim. Raças, credos, mentalidades, civilizações, tudo era diferente e será sempre diferente. Ninguém pode alterar isso. E não é força de um determinismo etéreo. É a realidade. O modo como encarar as diferenças é que pode ser desigual e é. A História tem imensas páginas, mas a História é só uma. Ao longo dessas páginas estão pessoas boas e pessoas más, pessoas compreensivas e menos compreensivas, pessoas rudes e menos rudes, tiranos e ditadores, exterminadores, assassinos e alguns Nobel da paz. Lado a lado nas páginas da História, não se tocam, não se ofendem, não se destroem. Tiveram o seu tempo, ocuparam o seu espaço, com a anuência de uns e a oposição de outros, mas agiram de acordo com a consciência de quem tem de fazer algo para resolver situações que se lhes depararam. Uns receberam aplausos, outros apupos, outros fugiram para não serem punidos pelos raivosos. Hoje, em quase todos os locais, cidades e vilas, países deste planeta, existem monumentos, estátuas de pessoas relevantes que, de uma qualquer forma mereceram distinção, ainda que alguns vindouros, achem que houve desmerecimento. Estão no seu direito. A discordância é uma valência do discurso. Mas não confundamos discurso e discordância com destruição de ícones, ainda que relativizados. Como simples historiador e professor, não posso admitir que se destrua os representantes da História, como sei que não é possível destruir a História. Ela é indestrutível e os seus homens, bons ou maus, ícones ou simplesmente meros representantes de um ato isolado, igualmente são indestrutíveis e rasgados das páginas a que pertencem. Não sou racista, não sou xenófobo, não sou assassino e muito menos terrorista, mas sou contra os que são destruidores de um património histórico, usando os mesmos métodos que os Vândalos que destruíram tudo à sua passagem, na tentativa de dominar um território que não era deles. A destruição não apaga a memória nem a História. E não pode ser em nome de um epíteto racista, que se pode ter semelhante atitude. O Padre António Vieira usou a palavra para pregar, para convencer, para evangelizar e agora criticam a sua atitude apelidando-o de racista. Um ícone da língua portuguesa? Um nome alto e digno da Cultura nacional? Ele como tantos outros pelo mundo fora, viveram o seu tempo. Alguém apagou Estaline da História? Apagaram Hitler? Apagaram Lenine? Apagaram Nero? Não. Uns bem, outros muito mal, mas não será por isso que serão apagados da memória dos povos e das páginas da História Universal. Simplesmente porque existiram e agiram.

Vendavais e a culpa vai ser das galinhas

As ameaças que nos têm chegado dos quatro cantos do mundo, umas mais sérias do que outras, têm alarmado a sociedade mundial e com alguma razoabilidade, diga-se.

Nos últimos anos tem-se vivido sob a incredibilidade de uma possível ameaça se tornar verdadeira e de um momento para o outro a verdade é bem mais terrível do que a suspeita lançada ao vento. O certo é que nós acabamos por apanhar com a verdade e toda a realidade que a envolve e com as consequências a ela inerente.

Quantas vezes fomos avisados da vinda de um vírus terrível que mataria muita gente? Quantas vezes alguém se arvorou em vidente e avançou com previsões aparentemente tontas e sem nexo algum e, tornaram-se reais?

Pois é verdade. Se formos atrás no tempo e não é preciso recuar muito, todos nos lembramos de uma ameaça de um vírus que viria de umas aves, que não chegámos a identificar, mas que alarmou de tal modo a sociedade mundial que logo surgiu um medicamento que poderia ser usado e que curaria ou evitaria a propagação do vírus e da doença então apelidada de gripe das aves. Lá se difundiu rapidamente o tal gel alcoólico em todos os locais, mas especialmente nas escolas. O gesto do tossir foi difundido tal e qual como agora. A desinfecção das mãos a mesma coisa.

Depois veio também a chamada gripe suína. Agora já não eram as aves as culpadas, mas os porcos. Quase acabaram as criações de suínos em todo o mundo. As recomendações foram as mesmas desde o tossir ao desinfectar das mãos. O mundo tremeu novamente. As mortes sucederam- -se um pouco por todo o lado. O medo alastrou identicamente. No meio desse vai e vem de medos e previsões catastróficas, apareceu a doença das vacas loucas. Terrível. Ninguém conseguia explicar o que acontecia às vacas, mas a partir do momento em que alguém disse que era uma doença de possível transmissão aos humanos, todos ou quase, deixaram de comer carne de vaca. Os criadores interrogaram-se sobre o que deveriam fazer. Algumas pecuárias passaram momentos difíceis. Algumas fecharam os estábulos de vez. Tempos difíceis.

O caricato no meio destas notícias todas é o facto de aparecer sempre alguém a acusar esta ou aquela empresa americana de ser a causadora desta ou daquela epidemia e de logo aparecer com o medicamento, como por magia, porque tudo estava preparado. Por trás estariam as grandes empresas farmacêuticas que ganhariam, e ganharam, enormes somas de dinheiro, à custa da morte de umas centenas de pessoas. Assustador.

A verdade é que a questão nunca se pôs a nível político. É sempre uma questão económica. Tem sido, pelo menos. Mas parece estar a mudar este pressuposto. O actual vírus que terá surgido aparentemente dos morcegos na China e alastrado por todo o mundo, vá-se lá saber se é verdade, põe em causa outros pressupostos, em que a vertente política ganha cada vez mais força. Inicialmente, tudo avançou como se se tratasse de uma má experiência originária da China ou dos EUA e que por azar dos Távoras, se espalhou rapidamente por todos os Continentes e países. Rodam informações sobre 127 possíveis vacinas quase prontas a serem realidade no tratamento da pandemia. Aventam- -se hipóteses e no entretanto, somam-se os milhares de mortes no planeta. Mais do que as últimas catástrofes acontecidas.

Ainda sem certeza de coisa alguma, vem agora mais um vidente agoirento, adiantar que virá um vírus ainda mais terrível que os últimos e que matará metade da população mundial. E adianta que esse vírus virás das galinhas. Uma vez mais, um vírus que vem dos animais caseiros e que servem de repasto frequentemente aos humanos. Uma vez mais a economia a ser atingida. Os avicultores que se cuidem. Desta feita, a culpa do vírus mortal, será das galinhas. Então o que fazer? Se o tal vidente cientista tem a certeza do que afirma, que informe como chegou a tal conclusão e como debelar a futura enfermidade. É que a ser assim, a culpa não será das galinhas, mas do próprio homem que as cria. Que fazer então? As galinhas vão ficar com a culpa?

Vendavais - O regresso

Eles não chegaram a partir. Talvez tivessem gostado de o fazer, mas não lhes deixaram alternativa. Não permitiram que abandonassem o seu lugar de permanência. Obrigatoriamente, ficaram retidos, para o bem e para o mal, mas retidos. Simplesmente retidos.
Na inimaginável sensatez e docilidade do jovem ser humano, eis que cumprem contrafeitos, mas sensatamente a determinação que os impede de sair e ir ver a namorada, o amigo, o tio, a avó. Durante quase dois meses ficaram presos a dois mundos: ao interior e ao exterior. Parecem antagónicos e talvez o sejam, mas são duas realidades a que não puderam fugir. O mundo interior que se resume ao local onde permanecem e o exterior ao qual não têm acesso e lhes está vedado. É como se estivessem numa encruzilhada, mas sem alternativa de escolha. Quem são eles afinal?
Todos estamos a viver uma situação para a qual não estávamos preparados e nem sequer sonhávamos que pudesse vir a acontecer. Enfrentar uma tão terrível epidemia é uma obra que arrasta toda a humanidade, que a responsabiliza e não lhe deixa alternativa. Tem de participar na luta global. 
As escolas fecharam antes da Páscoa e os alunos, retidos, não puderam continuar as aulas como costumavam. Não voltaram à escola, não voltaram a ver os colegas, os professores, os auxiliares, o espaço por onde corriam, saltavam, jogavam ou simplesmente se sentavam para ouvir a lição do mestre. Daí para a frente não saíram de suas casas. Mas um período novo surgiu nas suas vidas e tiveram de se adaptar. As aulas começaram a ser dadas por várias plataformas e eles, alunos e professores, viram as suas vidas seguirem rumos paralelos, mas totalmente diferentes do que era habitual. Ficaram todos retidos. Confinados. Presos em casa e ao computador. Por quanto tempo? Incógnita.
Depois do confinamento a que praticamente todos ficámos sujeitos, a etapa seguinte é quiçá mais ligeira, mas de igual se não maior responsabilidade. O mundo está a alargar o cerco e a permitir mais liberdade, mas a luta terá de continuar. O vírus não está vencido!
Em Portugal, o tempo de catástrofe continua, mas dia 18 de maio marca o início de uma nova etapa para toda a sociedade. Tudo vai abrir lentamente até porque a economia tem de iniciar o seu caminho de recuperação. Não acabam as aulas dadas à distância, nem o teletrabalho de quem quer que seja. As aulas continuam para os alunos mais novos e que não têm exame este ano a qualquer disciplina. Mas outros, os que têm exame a alguma disciplina, têm de regressar à escola. Vão ter aulas presenciais. Vão ver os seus professores nas salas de aula, mas sob novas orientações rigorosas e confrangedoras. 
Não sei como é que se pode proibir a uma criança de dois anos, por exemplo, de estar numa sala e não brincar com os colegas, mexer nos brinquedos habituais, repartir com os amigos o que está na sala e até mesmo, impedir o tal abraço há tanto tempo esperado. Como também me custa a acreditar que, apesar de toda a sagacidade juvenil, se impeça o João de abraçar a Paula, sua namorada e que não via há dois meses. E como manter dois metros de distanciamento entre os alunos que percorrem os corredores e se dirigem para as salas de aula onde terão de cumprir esse mesmo distanciamento. Difícil. Mas a verdade é que é um primeiro passo para que tudo possa acabar bem.
O regresso é difícil. Há regressos abençoados. Há regressos esperados e costuma-se dizer que quem regressa é por bem. Pois que seja. A minha esperança é que este regresso às aulas, não traga mais um confinamento forçado que se alargue até ao final do ano e tenhamos que passar o Natal entre quatro paredes. É que já há quem diga que a segunda vaga vem em Outubro. Pode ser que até lá nos deixe dar um mergulho no nosso mar, numa qualquer costa e pisar as areias quentes onde o vírus certamente não se esconderá.

Vendavais - E se a areia escaldar?

Em pleno Agosto, há alguns anos atrás, fui como muitos de nós, gozar uns dias merecidos de Sol e calor à beira mar, local preferencial para quem passa um ano inteiro a olhar os montes que nos rodeiam. A beleza deliciosa da paisagem, porventura agreste, dilui-se na orla marítima onde o horizonte é demasiado longínquo e o olhar se perde na distância, por cima de um mar sereno, que vem de mansinho, beijar a areia onde se espraia. Contraste absoluto.

Cheio de confiança e ansiedade por pisar aquelas areias vulcânicas e mergulhar o corpo no mar salgado e quente da praia das Américas, logo me vi em situação crítica e tive de retornar pois a areia escaldava de tal sorte que descalço era proibitivo avançar. Ao lado, uma vendedeira de chinelos, sorriu e mostrou-me que só comprando uns poderia entrar pelas areias fora. Mas eu já levava uns calçados. Não foi preciso. Não esperava que fossem tão quentes os areais de Tenerife. Mas eram. Apesar disso, desfrutei, logicamente, do Sol e do calor quase africano, e fiquei com vontade de um dia voltar.

Os pequenos “gostos” que queremos concretizar, levam-nos a tomar decisões audaciosas e que só confrontados com elas podemos avaliar se valeu a pena ou não tomá-las. Mas todos temos de tomar decisões seja para concretizar desejos ou simplesmente agir. E agora estamos à beira de uma decisão importante.

Acabada a emergência, entramos em período de calamidade, o que não é muito diferente, mas obriga a tomar as tais decisões, simplesmente porque há mudanças que, tal como nos automóveis, nos levam a desligar o limitador de velocidade, mas o excesso de velocidade continua a ser penalizado com coima grave. Quer isto dizer que embora em autoestrada, não podemos ir demasiado depressa, pois é crime e põe a segurança em risco, a nossa e a dos outros.

O estado de calamidade não vem alterar a responsabilidade das pessoas, só retira às pessoas a proibição de tomar determinadas decisões. As pessoas são mais livres para agir como em tempos normais, que não é o caso. Então continua a existir a exigência de um comportamento regrado, cujas balizas nos devem permitir não correr riscos. E os riscos são enormes.

O mundo inteiro está a viver a grande vaga de alarmismo e realidade severa de um avanço viral que já causou uma taxa de mortalidade elevadíssima. Mesmo assim, há os que não acreditam na letalidade apregoada que o “bicho” causa e há os que já mudaram de opinião. Mas também há os que vão alertando para uma possível segunda vaga que pode ser ainda mais mortífera que esta. E se for isso mesmo?

Quando Julho e Agosto chegarem, as autoestradas que nos conduzem às areias mornas do Sul, ficarão repletas de veraneantes que buscam novos horizontes e que querem chegar o mais depressa possível. As praias esperam, claro. A ansiedade é inimiga do bom senso e parceira do risco.

As regras para usufruir das areias quentes e das ondas do mar sereno, já estão a ser apregoadas para avisar os incautos, mas ainda falta muito para Agosto. E se a calamidade der lugar ao desrespeito, à falta de bom senso, ao não cumprimento de regras e sobrevier a necessidade de um novo confinamento para travar a segunda vaga? Não será muito pior perder novamente a liberdade? Travar a euforia e a ansiedade é da responsabilidade de cada um, mas é um direito de todos.

E se as areias escaldassem? Parece-me que se os areais queimassem como o que eu apanhei na praia das Américas, isso contribuiria para impedir a correria desmesurada que irá encher as orlas marítimas do sul. Mas atenção. Não venham a ser queimados pelo vírus, porque é bem pior que as areias e para ele não há chinelos que valham. Nem as máscaras e as luvas.

Vendavais - Um risco sem seguro

O Mundo está assolado por um vírus altamente letal e que está a transformar as pessoas, os países e o planeta, em palcos enormes onde dança a seu bel prazer uma dança mortal, em que os dois dançarinos, pessoa e vírus, acabam por ter um final idêntico. Ambos morrem, qual Romeu e Julieta.

Os milhares de mortos causados já por este assassino silencioso e invisível, são demasiados para que não haja um redobrar de atenção e um isolamento, ainda que penoso, eficaz de modo a enganar o atacante. É importante desviar-lhe a atenção. Não é fácil. Por todo o lado, todos os dias, a comunicação social informa, como se nada mais houvesse para informar, o número de pessoas que morreram e os que acabaram de ser apanhados pelo coronavírus. Já estamos fartos de ouvir sempre a mesma coisa. É só coronavírus. É só Covid19. Até há dois meses atrás, o espaço informativo entretinha-se com o terrorismo, com a Catalunha, com a guerra na Síria, com a Palestina e a relação com Israel, com os mísseis da Coreia do Norte e com a política em Portugal. Vários temas para distrair o povo e mantê-lo informado do que se passava um pouco por todo o lado. O povo sim, esse que agora anda apavorado com uma só coisa: o Covid19. Parece que agora nada mais interessa informar ainda que se torne enfadonho estar sempre a falar da mesma coisa, amedrontando cada vez mais, os que ainda têm esperança de fugir do temível atacante.

Os portugueses têm feito um trabalho exemplar de confinamento. Dizem-no os números dos que foram atingidos pelo vírus. Comparativamente aos outros países, Portugal até já foi considerado como um país atingido por um milagre fantástico, perante esses mesmos números. Não. Não é um milagre, mas é um esforço, um medo atroz e uma vontade imensa de querer estar vivo. E ainda estamos longe de ver um fim. Ainda a procissão vai no adro, como diz o povo.

Perante tanto medo e tanto isolamento e, novamente, um estado de emergência, o Governo e a Assembleia da República querem festejar o 25 de Abril. Metendo 300 pessoas dentro da Assembleia. Será possível? Então não é permitido andar na rua a menos de 2 metros de distância uns dos outros, não são permitidas mais do que três pessoas juntas na rua, são proibidos ajuntamentos, reuniões, festas e outras coisas similares e os que ordenam tudo isto, querem juntar 300 pessoas no mesmo recinto para festejar o 25 de Abril? Parece impossível!

A liberdade foi uma conquista fantástica e merece ser sempre festejada. Concordo e concordamos todos certamente. Mas será que permitir uma celebração desta natureza é festejar a liberdade? Não será antes um atentado à liberdade? Não será um atentado à saúde de cada um? Não será uma tentativa de assassinato? Se queremos travar o avanço do vírus e a sua disseminação, não se pode permitir tais atitudes, especialmente porque se põem em risco pessoas que podem acabar com a sua própria liberdade. O 25 de Abril jamais acabará e sempre se fará a sua comemoração e há muitas formas de o celebrar, sem precisar de pôr em risco a saúde de 300 pessoas só para mostrar ao país a festa que se faz na Assembleia da República em nome da liberdade. Qual liberdade? Qual democracia? Chama-se a isto democracia? Será democrático pôr trezentas pessoas em risco de contaminação quando se pede à população que fique em casa, de quarentena, e não ponha os pés na rua a não ser para buscar comida para não morrer à fome? Será democrático festejar o 25 de Abril e a liberdade, correndo o risco de morrer daí a 5 dias? Aliás, quantos deputados e outros indivíduos irão participar nesta celebração que têm mais do que70 anos? Nem sequer podem ir à rua, pois são pessoas de risco e por Decreto estão proibidos de sair à rua?  Usem uma vídeo-conferência e deixem-se de avarias. Agora está na moda.