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Luís Ferreira

Vendavais- Combates desiguais

Combater é a palavra de ordem sempre que lutamos contra alguma coisa. Gritou-a muitas vezes Napoleão e não foi por isso que venceu todos os combates em que se viu envolvido. Outros grandes chefes o fizeram, não porque lhes soava bem, mas porque enfrentavam grandes batalhas e era necessário estimular os que os seguiam. Era necessário levá-los à vitória. A História está repleta de enormes combates, batalhas memoráveis e, obviamente, vitórias e derrotas marcantes e inesquecíveis. Alguns desses combates foram pensados e avaliados pelas duas partes em presença. Foram combates justos na forma e até nos objetivos, mas muitos foram desiguais pela conjuntura e pelas forças nos campos de batalha. Lembremo-nos, por exemplo, de Aljubarrota que o exército português venceu contra os espanhóis seis vezes mais numerosos que nós. Foi desigual nas forças que se enfrentaram, mas não na determinação e na vontade de vencer. À partida era um combate desigual, mas a vitória caiu para o lado que à partida seria o derrotado. E como este exemplo, muitos outros se poderiam apontar. Hoje os combates são quase todos desiguais, não pelas forças em presença, mas pelos objetivos que deturpam o bom senso e a democracia já que se envolvem numa enorme falta de respeito e responsabilidade. O civismo que tanto gostamos de apregoar, parece fugir do cenário desses combates. Costa ao dar a cara como secretário-geral do PS não pode esquecer-se que é primeiro- -ministro e que não pode confundir os pelouros nem usar as armas de primeiro-ministro para combater como secretário-geral de um partido que se apresenta às eleições autárquicas. Assim, vai distribuindo a sua “propaganda” governativa, esquecendo o dever de “neutralidade” que a CNE lhe exige. Vai esgrimindo as armas que o governo tem, indevidamente, para ganhar votos, como se elas fossem do partido, mas não são. Onde está a imparcialidade? Isto sim, é um combate altamente desigual. Os outros partidos não têm estas armas e resta-lhes acusar Costa de ser imparcial e com razão. O combate que temos enfrentado contra o Covid19 é igualmente desigual. Ele já matou quase cinco milhões de pessoas em todo o mundo e nós não sabemos quantos vírus se conseguiram matar. Será que é possível saber? Não. Mas o combate continua e, ao que parece, estamos a conseguir vencer o inimigo, mas o caminho é longo e desconhecido. Continuará a ser um combate muito desigual e sem fim à vista. No entanto, em Portugal já há 8,1 milhões de pessoas completamente vacinadas. Mas não podemos esquecer que ainda há pelo menos 1.400 funcionários de lares sem estarem vacinados. Irresponsabilidade. Que não precisa de combater muito é Putin pois parece que tem as próximas eleições ganhas antes de tempo. Não tem opositores porque ele os elimina antes que façam estragos irremediáveis. Deste modo, o combate tem vencedor antecipado. Altamente desigual, antidemocrático e irresponsável. O amanhã é sempre imprevisível! Para os lados de Almada já não se passa assim. O combate é entre as duas presidentes, uma que o foi e outra que ainda o é. Aqui parece que o combate é mais ou menos igual e justo. Será que o resultado também o será? A ver vamos. Já no Porto as coisas são diferentes. Ventura, sonhador, quer ganhar o Porto para depois chegar ao governo. Não sei onde está a escada para subir tanto! No Porto não há escadas nem escadotes, mas há rio e … barcos que sobem e descem o Douro. Combates diferentes e de alguma forma também desiguais. O que já não é tão entendível é a candidata do CDS em Palmela ser alvejada a tiro quando colava cartazes da campanha. Não a atingiram e até dizem que o objetivo era outro. Talvez, mas a dúvida instalou-se e dificilmente se apagará. Combates destes são indignos e francamente desiguais. Os atiradores deslocavam-se em moto e estavam armados disparando contra uma mulher desarmada e que estava a pé e sossegada. Isto é um combate igual? Claro que não. Nem é combate. É tentativa de homicídio. A liberdade dada ou a falta dela, que os jovens em Lisboa resolveram assumir, teve como resultado um combate em plena rua, às duas da madrugada, acabando com o esfaqueamento de dois jovens. Um combate desnecessário, irresponsável e desigual. A necessidade de extravasar a energia acumulada durante todo este tempo de confinamento, deu asneira e enquanto a responsabilidade não superar a falta dela, o resultado nunca será bom. Todos nos indignamos com a subida dos preços dos combustíveis, mas ninguém se dispôs a combater este desplante que o governo permite, embora fale e volte a falar sobre o assunto, mas nada fez até agora. A descida parece estar a caminho, mas quando falam de descer de 0,9 a 2 cêntimos por litro, dá-me vontade de rir. Aqui sim, era necessário haver um combate mais justo contra este abuso, porque nós estamos em desvantagem e somos obrigados a pagar e sem refilar. É justo? Não. Definitivamente, não

Vendavais- Os custos da liberdade

Diz a canção que “somos de livres de sonhar”. Nada mais certo e racional. É uma das formas de liberdade que não está sujeita a leis, normas sociais ou imposições seja de quem for. E se o “sonho comanda a vida” como diz o poeta, então que seja o sonho a guiar todos os que não podem fazer a sua vida em plena liberdade. E quer se queira, quer não, isto tem um custo tremendo. Em toda a História da Humanidade, o homem sempre lutou de uma forma ou de outra para poder ser livre e viver em plenitude esse momento que lhe permite decidir livremente o caminho a seguir e concretizar um sonho. Mas, a verdade é que também aqui, os custos foram enormes e nem sempre o homem conseguiu atingir os seus objetivos, acabando por pagar um preço demasiado alto pela tentativa. Não importa particularizar este ou aquele país neste aspeto, mas esta Europa em que vivemos foi palco de enormes lutas em que a liberdade era o principal objetivo e se alguns conseguiram conquistar a liberdade, pagaram bem caro por ela. Mas será que ela tem um preço? Uns tornaram- -se heróis nacionais e exemplo dessa heroicidade, apesar de soçobrarem, como Joana D’Arc outros acabaram no seu próprio suicídio por falharem nos seus propósitos como o Conde de Ericeira. Enfim, exemplos há-os em demasia desde as civilizações clássicas até aos dias de hoje. A questão que se impõe é quanto custou ou custa essa liberdade. Claro que não é facilmente contabilizável, mas as consequências que daí retiramos dão-nos uma perspetiva aproximada do preço pago pela conquista, ou não, dessa liberdade e não é uma questão de dinheiro, como se pode imaginar. As vidas humanas não têm preço. Reprimir o sonho que se acalentou durante séculos e que levou à conquista da liberdade e perdê-la de um momento para o outro, é ainda mais acabrunhante e impiedoso do que se possa imaginar. Foi o que aconteceu em muitos países e mais recentemente no Afeganistão. Seria quase inimaginável se se dissesse que os afegãos desistiriam de lutar pela manutenção das liberdades conquistadas, mas foi o que aconteceu. Porquê? Um povo que provou a democracia e a liberdade, só não gostando poderia tomar uma decisão tão adversa como esta. A suportar isto só o medo coletivo de um enfrentamento com os radicais islâmicos, é justificação aceitável. Que custos terá esta decisão? Serão enormes certamente a começar pelo modo como serão tratadas as mulheres e as crianças deste país apesar de todas as promessas de liberdade feitas. O mundo inteiro não acredita e já se começaram a evidenciar algumas decisões desse radicalismo que porão um preço tremendo à liberdade perdida e à falsa democracia prometida. Não há democracia sem liberdade e muito menos quando se quer governar com o poder assente numa sharia assassina e cerceadora da liberdade. Num tempo em que se luta pela igualdade entre homens e mulheres, não faz qualquer sentido a comunidade internacional aceitar que num qualquer país se governe minimizando a mulher em todos os sentidos, desqualificando as suas capacidades, reduzindo- -a a um mero instrumento do homem e a uma simples escrava sexual. A indignação que o mundo vive neste momento e a incerteza pelo futuro dos afegãos e das afegãs, deverá ser o motor para uma ação política concertada de modo a obrigar os futuros governantes a exercer o seu poder assente na democracia plena e não numa tradição atroz e radical. Os tempos mudaram e a tradição já não é o que era, como se costuma dizer. Pois seria bom que estes talibãs afegãos se consciencializassem dessas mudanças e se modernizassem politicamente para bem deles e de todos. O Afeganistão não poder ser o cemitério das liberdades e da democracia. O retrocesso em termos democráticos é o pior dos preços a pagar por qualquer povo depois de ter vivido em liberdade e ter sonhado com um futuro mais promissor e risonho. São muitos os culpados. Não vamos pôr culpas em ninguém pois possivelmente alguma dessa culpa cairia nos próprios afegãos, mas o que interessa é que o futuro não é interessante nem para este povo nem para quem o vai governar, porque até o governo não terá a liberdade que julga ter conquistado. Eles vão ficar prisioneiros de uma política internacional que os obrigará a tomar decisões mais consensuais possivelmente. A ver vamos. Neste canto do planeta, onde tudo é muito mais difícil, uma coisa é certa: os custos da liberdade são incomensuráveis.

Vendavais- Uma ópera ao radicalismo

Ei-los que voltam! Sem oposição aparente, nem dos soldados do governo, nem da população, os afegãos atravessaram o país e entraram calmamente em Cabul sem terem pela frente alguma oposição credível. Demasiado fácil. Depois de vinte anos afastados das decisões políticas e confinados a esconderijos nas montanhas ou disfarçados um pouco por todo o lado, eles regressaram sem necessidade de grandes confrontos. Porquê? Os EUA cansaram-se de estar no Afeganistão e manter uma situação que não tinha solução plausível já que não conseguiam calar definitivamente os talibãs. Assim, resolveram anunciar que se retiravam deixando ao governo do Afeganistão e aos afegãos a escolha da sua defesa e do seu destino. Isto foi música para os ouvidos dos talibãs. Sem grande oposição, tudo seria mais fácil. E foi. Cidade após cidade, foram ocupando o território antes governado por eles. Cabul estava perto. Em poucas semanas ficaram às portas de Cabul. Entrar, foi muito fácil. Nenhuma oposição. Os soldados preparados pelos EUA, desertaram. Não quiseram enfrentar os radicais afegãos e eles agradeceram. O Presidente fugiu do país. O caos sobreveio. O medo das perseguições políticas, o terror da tomada das crianças e das raparigas que costumavam submeter às leis da Charia, as penas que poderiam aplicar aos que trabalharam com os EUA, aos colaboradores nos vários setores da administração e governo, tudo levou a que quisessem fugir o mais depressa possível. O aeroporto da capital torna-se o local de encontro e o símbolo da liberdade. Sem grandes preocupações, os talibãs anunciaram à comunicação social que estavam com boas intenções e que não queriam perseguir ninguém. As crianças poderiam ir à escola, incluindo as raparigas e os colaboradores não seriam presos ou perseguidos. Mas as imagens e os relatos chegados às cadeias internacionais não eram bem assim. Grupos de talibãs iam de porta a porta à procura de pessoas que colaboraram com os americanos, com os ingleses ou com outros países. A intenção era bem clara. Quem não der informação é preso e castigado ou morto. Começa uma das mais assustadoras evacuações da História da Humanidade. O único aeroporto transforma-se numa plataforma giratória onde acontece de tudo um pouco. Uma multidão estonteante luta pela sua sobrevivência. O terror é enorme e assustador. Uns são esmagados, outros estropiados, outros simplesmente mortos. Sufocados pela fome, pela sede e pelo medo, lutam por um lugar num avião que os leva rumo à liberdade. É o desespero de quem não tem outra alternativa. Os talibãs não falam verdade e culpam o ocidente de não ter um plano melhor organizado para evacuação. Ficar e submeter-se ao radicalismo dos talibãs, é retroceder vinte anos e encarar uma política demasiado conservadora, radical, baseada numa religião amalgamada, rebuscada, anti- -social onde a Charia é a lei geral a que leva todo e qualquer crime. Para quem viveu alguns anos num regime mais democrático e conheceu outras possibilidades de vida, não quer voltar a uma submissão onde o terror paira em cada momento. De Bush a Biden passando por Obama e por Trump, nenhum conseguiu vencer os talibãs. A Rússia também tentou e desistiu. Todos foram derrotados nos seus propósitos. Vinte anos depois eles voltam para conquistar o seu país, o seu território e pôr em prática as suas leis. Regressaram para governar o país contra tudo e contra todos. O Mundo viu-os conquistar sem grande dificuldade esse mesmo território e avançar para a capital. Só faltou a música de fundo que se ouve nos grandes eventos. Uma ópera ao radicalismo ficou a faltar. Agora, no meio do caos, o aeroporto de Cabul, está a arder. Os EUA tentam manter a calma ainda que aparente e apelam a que não se dirijam para lá, mas o desespero é enorme e se alguma vez a liberdade teve maior sentido e significado, foi neste momento. O que será dos afegãos que ficam e que não se identificam com estes terroristas radicais tribalistas? Não vai ser fácil a sobrevivência. Cabe certamente à comunidade internacional tomar medidas para evitar o pior. O descalabro pode acontecer e se já conhecemos o que estes radicais conseguem fazer, podemos imaginar um país miserável, desgovernado que será o ninho de muitos mais radicais terroristas que amedrontarão o mundo. Não nos deixemos enganar. Eles não são meigos nas suas decisões, nem falam a verdade. O governo que vai sair da última reunião, vai ter de se justificar. Aguardemos as novidades. Se as houver.

Vendavais - Medo e risco de mãos dadas

Na insofismável mentalidade de cada ser e dependendo de cada momento que o mesmo vive, há sempre presente uma percentagem de medo acompanhado de um risco que por vezes o medo não consegue controlar.

Embora muitos neguem a ausência de medo perante situações desconhecidas, a verdade é que ele está presente, sendo que o risco faz com que o medo passe para segundo plano. Isto é válido para qualquer situação, seja um simples jogo disputado numa mesa de xadrez ou uma partida de futebol onde a necessidade de pontuar é um objetivo real.

Mas a realidade vai muito para além do que se possa imaginar e até do que o medo pode controlar no atual momento que atravessamos. Assumir riscos faz parte da natureza do homem, ser pensante, mas nem por isso mais atinado ou assertivo. Diz o povo e com alguma razão, que quem não arrisca, não petisca, o que significa que a necessidade de correr riscos é inevitável se queremos atingir objetivos. Na verdade, até pode ser assim, mas há riscos e risco, assim como necessidades. Estas fazem com que os riscos que se correm sejam mais ou menos perigoso e tenham consequências diferentes. Por exemplo, os treinadores de futebol fazem substituições com o objetivo de conseguir melhores resultados e de ganhar os jogos, mas podem não resultar, como sabemos. Joga-se no campo e com os jogadores, planos de jogo e correm-se riscos que por vezes não compensam. Perdem-se os jogos. Pois se cada vez que se fazem substituições se ganhassem jogos, então tudo estaria resolvido e todos os riscos compensariam, mas não é assim a realidade. O treinador corre riscos porque tem medo de perder o jogo ou, numa perspetiva mais animadora, para manter um resultado positivo. Mas nada lhe diz que até ao final do encontro, o resultado não possa ser diferente. O medo mantém-se.

Alargando horizontes, vejamos o que se está a passar em vários países incluindo Portugal, no que se refere ao alargamento das restrições face ao Covid19. O Verão chegou com baixas perspetivas económicas já que se impunham restrições a alguma circulação aérea e as zonas mais procuradas viram goradas as suas expectativas. Procurando salvar um pouco a nossa economia, o governo abriu o leque das liberdades, que económicas, quer sociais e as consequências podem ser desastrosas. Muitos perderam o medo e correram riscos tremendos, sem pensarem nas consequências que daí possam advir. Outros, para não perderem a oportunidade de salvar uns dias de férias depois de tanto confinamento, correram o risco de ir até ao Algarve, por exemplo, acompanhados pelo medo terrível de se encontrarem com o vírus invisível, que por lá se passeia, também ele a banhos. De mãos dadas, medo e risco, por lá se passeiam, ambos de férias, juntos com os veraneantes que a medo, pedem aos deuses que afaste deles o cálice do desespero e da dor e deixem gozar os poucos dias a que têm direito depois de tanto trabalho em confinamento imposto.

Mas, mais longe ainda e abrangendo o Mundo inteiro, não podemos esquecer os Jogos Olímpicos e todo o medo que o Japão viveu e viverá e o risco que correu para manter a realização destes jogos. Foram os primeiros jogos da Humanidade em confinamento. Sem público e sem glamour eles aconteceram, mas o medo e o risco, estiveram presentes em todos os momentos, fazendo com que, no fundo, fossem uns jogos falhados. Os atletas não conviveram, o público esteve ausente, não houve confraternização entre delegações, não houve calor humano, não se ouviram os aplausos, não existiu o entrosamento necessário entre os atletas e os apoiantes. Existiram somente e com muito medo, os atletas competindo, cada um por si, solitários, para depois, ainda solitários, se enfiarem no seu quarto, sozinhos e deitarem-se em camas de cartão, remetidos a um silêncio sepulcral. Aqui, só a possibilidade das medalhas, diminuiu o risco e o medo dos atletas. De mãos dadas, o medo e o risco, ensombraram estes jogos e o Japão não saiu vencedor.

Vendavais- A irreverência da juventude

Não é defeito nenhum ser-se irreverente. Antes pelo contrário. O que é preciso é ser-se sensato e responsável simultaneamente. Ao longo de todos os tempos temos assistido a grandes mudanças promovidas pela irreverência da juventude, umas melhores que outras e com consequências diversas, mas marcaram o seu tempo e ficaram inscritas nas páginas da História Universal. Lembremo-nos, por exemplo, dos anos 60, o festival de Woodstock, o aparecimento e consumo de drogas duras, a geração hippie, o lema Make Love, not War, a influência e irreverência dos Beatles, o uso da minissaia, os cabelos compridos dos rapazes, enfim, um sem número de mudanças, boas e más, a que a tal irreverência nos foi habituando. Hoje, dez anos depois de um louco neonazi ter massacrado 77 pessoas, entre elas 69 adolescentes que estavam em retiro na ilha de Utoya na Noruega, podemos questionar-nos se nessa ocasião já houvesse Covid, como teria sido? Será que esse louco irreverente e fanático neonazi, teria agido da mesma forma? Possivelmente poderia ter sido apanhado pelo Covid e ter morrido para descanso de todos e para a salvação dos 69 adolescentes que não tinham feito mal nenhum a ninguém. O horror de tal evento não nos pode passar ao lado como se fosse um simples vendaval que nunca mais volta. A sua imagem e a lembrança que dela temos, formam a recordação que jamais olvidaremos. Os factos fazem parte da História e esta não tem folhas soltas como se de um livro se tratasse. Estas folhas da História não se arrancam, não se rasgam e nem se apagam, mesmo que se tente. De igual modo não se apagam as consequências dessa mesma irreverência da juventude ou mesmo dos adultos que ainda pensam que são jovens. Se não vejamos o que está a acontecer no mundo no que respeita ao alastramento do Covid19. Quando todos pensávamos que estava em regressão, eis que ele aumenta exponencialmente de um momento para o outro especialmente na faixa etária dos mais jovens, os tais que se manifestaram contra a vacinação e contra o confinamento. A tal irreverência que sempre se manifestou, mas que nunca quis ganhar caminho certo. As consequências não poderiam ser piores. Mas é bom questionar se essa irreverência é só da juventude. Será que é? Penso que não, muito embora se levantem outras questões associadas. Claro que a vacinação por grupos etários mais idosos foi o que pareceu mais aceitável dado o enorme número de óbitos nas pessoas mais fragilizadas, mas houve alguma relutância em vacinar outros grupos mais novos como se eles fossem resistentes ao vírus, como alguma informação foi adiantada na altura. Errado. O tempo veio a comprovar que assim não era, nem poderia ser. Vírus que se preza ataca qualquer pessoa e de qualquer idade. Outra informação desconforme dada foi que o vírus não se dava bem com o calor e o Verão iria travar a sua propagação. Errado. O Verão passado não foi exemplo disso e este também não está a ser. Voltamos aos números assustadores de Janeiro e de Março. A realidade é realmente cada vez mais assustadora. Neste momento há falta de vacinas. Está a vacinar-se a toda a velocidade para criar imunidade de grupo o mais rápido possível, mas se não houver vacinas, nada feito. Corre-se contra o tempo enquanto o vírus se passeia juntamente com a irreverência da juventude e dos responsáveis, que afinal são igualmente irresponsáveis e irreverentes. Tenta-se ganhar tempo nesta corrida que não tem fim. Em todo o mundo, esta juventude que não se habitua aos graus de responsabilidade que a sociedade moderna exige, vai gerando ondas de violência e desrespeito que acabam, quase sempre, em intervenção policial musculada, prisões e hospital. Alguém se importa com o vírus? Não. Cada um pensa em si e na sua liberdade sem se importar com a liberdade dos outros. A saúde não se compra, não se apanha na rua. Ela nasce com cada um de nós e cabe- -nos cuidar dela como se fosse uma flor de um jardim esplendoroso que é necessário tratar e regar todos os dias para não murchar. E se matamos os bichos que atacam as flores, também temos de matar os vírus que nos atacam e debilitam a nossa saúde. O contrário é crime. É uma sentença de morte. É tempo de acordar antes que seja tarde. É necessário acabar com esta irreverência juvenil e pensar que os outros não estão a salvo de coisa nenhuma. Nem uns, nem outros. Em tempo de Verão e de praia, os números assustam-nos cada vez mais. Os óbitos aumentam e os jovens estão cada vez mais nos cuidados intensivos. Será que vão acordar desta vez?

Vendavais- Rede furada

Paira no ar a desilusão de quem acreditava e defendia com todas as suas forças, a dignidade e a seriedade dos seus dirigentes clubísticos. Nada que não fosse esperado ou recorrente, mas quão maior é o barco, maior é a tormenta. Não nos cabe julgar seja quem for, nem aqui nem agora, como se compreende, até porque quem tem o direito de o fazer são os tribunais através dos juízes destacados para cada caso. Contudo, o que nos choca mais é a realidade do que está a acontecer. Num país tão pequeno e onde tudo se descobre mais cedo ou mais tarde, como é que ainda há atrevidos corajosos que se metem por estes atalhos, sabendo que os trabalhos vêm a caminho. Temos assistido a um corrupio de corrupção em quase todos os setores onde o governo não está isento, o que é ainda mais gravoso. No entanto, apesar de não ser capaz de servir de exemplo para nada e ninguém, outros teimam em seguir os mesmos passos acabando por cair nas malhas da justiça. Será que não acreditavam que tudo se vem a saber? Tudo se descobre mais tarde ou mais cedo. É verdade que constatamos que os meios de o fazer são cada vez mais ardilosos e dignos de um prémio pelo estudo aturado que fazem para despistar os investigadores, sejam eles quais forem. Vimos recentemente o que está a acontecer a Joe Berardo, o homem que dizia que não devia nada a ninguém e que nada possuía de seu a não ser uma garagem. Santa ingenuidade! Será que queria fazer dos outros tontos ou acreditava mesmo que não fosse possível descobrir toda a tramóia engendrada pelos seus correligionários? Mas que o esquema estava bem montado, lá isso estava, mas não o suficiente para não ser desmantelado. Não seria possível ser dono de uma tão grande fortuna e não ter nada de seu. Só nos contos de fadas em que as crianças acreditam piamente em tudo o que se lhes conta e ainda bem, pois a realidade é bem diferente. Na idade adulta descobrirão que afinal havia uma outra história, mas fica para sempre a lição aprendida. Mas falar de Berardo ou de qualquer membro do governo é quase igual, pelo menos num aspeto e que se refere aos adeptos que têm. Não têm nenhuns. Não movimentam massas nem fanatismos e só o facto de serem acusados de corrupção arrasta uma indignação enorme a nível nacional e uma crítica tremenda que os leva a afastarem-se e caírem numa penumbra onde deixam de ser vistos, mas não criticados. Caso diferente é o mais recente que se refere a Filipe Vieira e ao Benfica. Digno de parangonas de noticiários e de primeiras páginas de jornais de todo o mundo, revela indícios de corrupção que envolve uma rede de empresas e de familiares, arrastando para a lama o sonho de muitos que ainda defendiam o presidente do maior clube de futebol do país. Tudo já se vinha arrastando há alguns meses e até parece que estavam a dar tempo a Vieira para esconder o que não se devia ver ou o que o poderia incriminar diretamente. Foi chamado ao Parlamento para prestar declarações e disse quase o mesmo que Berardo tinha dito quando lá esteve. Claro que a culpa morreu solteira e há de continuar a morrer já que ninguém a quer por companheira. Mas a verdade é que a procuram para com ela fazer panelinhas, abandonando-a logo de seguida dizendo que não a conhecem de lado algum. Típico e normal. Mas voltemos a Vieira e ao futebol. Custa certamente aos adeptos benfiquistas enfrentar uma situação destas e ver o seu clube empurrado para os becos da desgraça e o presidente ser preso por suspeita de corrupção. Mais grave é ter-se servido de dinheiros do Benfica para negócios seus, segundo o que veio a público. Mais grave ainda é desviar para outras empresas esse dinheiro, pensando que o rasto se diluiria nas vielas da rede tão bem engendrada. O facto é que quem compra, por exemplo, uma empresa falida por cinquenta milhões e a vende a seguir por um euro a outra empresa de modo a pagar a sua própria dívida, é um esquema bem feito, mas facilmente desmontável, como parece. Isto leva-nos a acreditar que em Portugal há cabeças demasiado inteligentes, pena é que só lhes dê para pensar mal. Não está aqui em causa o futebol ou o clube, seja ele qual for, o que está em análise é o facto de haver tanta corrupção num país tão pobre como o nosso. Afinal de onde vem tanto dinheiro? Todos estes milhões serviriam perfeitamente para ajudar os que vivem com imensas dificuldades, especialmente agora em tempos de pandemia. É pena que assim seja. Tanto falou Vieira sobre tantas coisas feitas e sobre intenções de fazer que se esqueceu de referir que tinha feito asneira e que deixou furar a rede por onde a bola vai continuar a passar. Não se lembrou!

Vendavais- Avisos em saco roto

Quando as coisas não correm tão bem como se queria, o povo costuma dizer que não foi por falta de avisos. É verdade. Os avisos e conselhos são grátis, porque se tivessem de ser pagos, ninguém ou muito poucos os aceitariam. Contudo, elevados na enorme sapiência que cada um de nós arvora, sempre vamos entregando conselhos a quem os quer ouvir. Não custam nada e se não os seguirem, nada se perde a não ser o facto de poderem a ser verdadeiros e o resultado ser desastroso. Muito embora ninguém tenha a certeza sobre os avisos que dá ou os conselhos que, delicadamente despeja nos ouvidos dos mais incautos, o certo é que muitos deles em vez de caírem em saco roto, bem poderiam ser seguidos para evitar maiores constrangimentos. Há algumas semanas que venho dizendo em jeito de aviso ou conselho, se quisermos, que o vírus que nos anda a alterar completamente a vida, não está a brincar com o tempo, mas sim com as pessoas e que estas deveriam ter mais responsabilidade no modo como tratam este assassina que mais parece o fantasma da ópera. Tão depressa aparece com um nome como depois reaparece travestido de nome diferente e ainda mais mortífero. Não se dá a conhecer e nem se mostra, talvez com receio que alguém o reconheça na face do parceiro que está em frente. Não me faz mossa que as pessoas não tivessem seguido os meus conselhos sobre este assunto, mas a verdade é que quando referi que a época de praia e lazer poderia ser totalmente diferente se as pessoas não se acautelassem e procurassem evitar os aglomerados e as festas e festividades por que todos anseiam, estava com alguma certeza do que poderia acontecer. Agora está a acontecer. Não sei se será tarde demais, mas a continuar desta maneira, ninguém duvide que o país inteiro e não só Lisboa e vale do Tejo e Porto, vai ficar novamente confinado ou pelo menos em condições muito restritas, roubando-nos a pouca liberdade de que já estávamos a gozar. Sabemos que a capital e arredores é uma área enorme e que depressa o vírus se propaga de um dia para o outro. Todos sabem disso. Então por que razão não param para pensar e se coíbem de fazer alarde dessa liberdade que pensam que têm, mas que depressa irão perder? A irresponsabilidade de uns é paga pelos que, com receio, vão andando pela rua bem resguardados e a uma distância recomendável e, que não têm culpa dos que se atravessam pela frente embrulhados em fatos de sapiência científica. É pena. Apesar da vacinação estar ainda numa fase em que a faixa abaixo dos 35 anos não está vacinada, estes deveriam ter muito mais cuidado já que a realidade nos mostra que são eles, os mais jovens, que estão a ser atingidos pelo vírus e estão a entrar nos hospitais e a encher as enfermarias e as UCI’s. Pensavam os mais jovens que não seriam atingidos, talvez porque a DGS inicialmente afirmou que as camadas mais jovens estariam mais a salvo da ação do vírus. Puro engano, como se está a constatar. Agora todos correm à procura de centros de vacinação antes que seja tarde demais, mas as vacinas tardam em chegar e não são suficientes para tanta procura. O medo aperta. Voltando ao que referi há tempos, parece-me efetivamente que as belas praias do Algarve e da costa alentejana ficarão mais vazias do que se pensava. Já não chegava a contingentação obrigatória em cada areal, medida com os ridículos semáforos, como se tratasse de uma autoestrada para o inferno, como agora o espalhar dos casos com vírus por esses areais que esperavam os portugueses dispostos passearem-se à beira mar. Portugueses sim, porque os ingleses parece que continuam proibidos de se pavonearem pelo sul do país e até de poisarem em solo luso. Coisas dos nossos aliados! Tontos ou eles ou nós! Como se nada disto chegasse, a chanceler Merkel também veio dizer que tudo isto poderia ter sido evitado em Portugal. Grande descoberta! Eu disse isso primeiro e não sou chanceler de coisa nenhuma! Todos sabiam disso. O problema é que só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja. Só começamos a ter medo quando a casa do vizinho pega fogo. É pena. Há semanas éramos os melhores da Europa e uma referência extraordinária e de repente, passámos para um dos piores. Porquê? Ninguém quer ouvir os conselhos gratuitos nem seguir os avisos mais inocentes e depois pode ser tarde demais. Era bem melhor que os avisos não caíssem em saco roto!

Vendavais- O vírus veio à bola

É escusado ficarmos i n d i g n a d o s . Sempre fomos um povo pacífico e condescendente e como não queremos o mal dos outros, não nos importamos de arcar com o mal que nos possa caber em sorte. Enfim, nada a fazer. A História ensina-nos muitas coisas e particularmente estes pequenos pormenores que justificam as asneiras que fazemos ou que os nossos governantes fazem em nosso nome. Não é que alguém lhes dê autorização para isso, mas eles tomam esse direito abusivamente agarrando-se a justificações que nada justificam a não ser a bondade que o nosso povo tem em aturar tudo isso. Pois ao longo de toda a nossa História a aliança com a Inglaterra serviu muito bem aos ingleses, mas muito mal aos portugueses. A nós só justifica o facto de sermos aliados para permitir que em alguns momentos e perante determinados assuntos políticos e económicos, não tenhamos tido a coragem de dizer Não aos ingleses para ficarmos bem vistos aos olhos da Inglaterra como se isso lhes interessasse sobremaneira. Definitivamente Não. Não interessava nada. Eles sempre quiseram defender os seus interesses e não os de Portugal. Foi o que aconteceu com o Tratado de Methuen tão desastroso para economia nacional, mas tão importante para eles. De facto trocar lã por vinho do Porto, era ditado só pela necessidade de escoar os nossos vinhos e não pela falta de lã em Portugal. Enfim! E para os que não sabem, também abdicámos do famoso Mapa cor- -de-rosa em África, porque os ingleses nos ameaçaram e teríamos de abandonar esse território entre Angola e Moçambique, a bem ou a mal, para eles ligarem a cidade do Cairo à cidade do Cabo na África do Sul. D. Carlos acedeu e talvez por isso, mas não só, acabou assassinado pelo Manuel Buíça de Vinhais. Coisas da História. Agora, uma vez mais, abrimos as pernas aos ingleses e à UEFA para receber a final da Champions entre duas equipas inglesas. Neste caso, eles não têm culpa. A culpa é de quem aceitou que isso tivesse lugar no nosso país e até ficasse contente com a vinda de mais de dezasseis mil ingleses para a cidade do Porto para assistir ao jogo. Ia ser muito bom para a economia nacional, como disseram os responsáveis portugueses. Será que vai ser bom? Será que foi bom? Será que o Porto e as pessoas do Porto não vão pagar caro esse evento? A chegada de tantos adeptos vindos de um país onde o vírus se passeia livremente pelas ruas de Londres e de outras cidades inglesas, não abona nada a favor de tal solução para nós, especialmente porque nada temos a ver com esses clubes que se vão gladiar em arena neutra. Que o fizessem na terra deles. E isto não é ter nada contra os ingleses, mas sim contra o facto de estarmos em plena pandemia e se os portugueses não se podem reunir porque a polícia logo aparece para dispersar toda a gente, então porque é que os ingleses podem? Aliás, eles para treinar, começaram logo a agredir-se em plena cidade, aos milhares, com toda a raiva que o fanatismo clubístico permite. Completa loucura. Dentro de alguns dias saberemos se essa final tão polémica e tão publicitada a nível internacional, foi ou não um sucesso. Se ganhou o Chelsea ou o City não é o mais importante. O importante é que tenha ganho o Porto, mas isso só veremos daqui a dias. A escolha do estádio do Dragão seria sempre uma boa escolha se nada se passasse de extraordinário. Em tempos de acalmia e serenidade, o acontecimento era relevante e, obviamente de saudar a escolha. Mas o momento presente e perante os perigos que correm, penso que dispensávamos tal evento. Mas o que está feito, feito está. Aconteceu. O vírus terá vindo ver a bola, ou não. Esperemos que ele não tenha assistido ao jogo, já por si tão renhido, e não viesse a acompanhar os fanáticos ingleses, que não sabem ver futebol e não se sabem conter perante estes momentos únicos no desporto internacional. Sabemos bem que para estes adeptos o que interessa é beber uns finos bem bebidos, dar uns murros e partir umas montras pelo caminho. Tudo pacífico. O vírus, bem, alguém ouviu falar dele? Eles também não. Perante tudo isto, parece que se justifica a indignação dos portugueses que, em Lisboa foram dispersados pela polícia por se juntarem sem respeitar o distanciamento e a colocação de máscaras. Máscaras? Os ingleses também não sabem o que isso é! Francamente! Pois no meio de tantos milhares de pessoas será difícil afirmar que o vírus não se passeou pelo meio do pessoal, mas eu espero que ele, pelo menos, não seja fanático de nenhum dos clubes e se tenha mantido quietinho em território britânico. Nós dispensamos.

Vendavais- Portão aberto à liberdade

Se a liberdade se conquistasse com a simples passagem de um portão ou uma porta aberta à nossa curiosidade e apetência, não faltaria quem quisesse tentar passar. Mas não. Não é assim tão fácil e não existe nenhuma porta secreta que dê acesso à liberdade. Na verdade, a passagem para a liberdade está sempre condicionada por obstáculos enormes, quase intransponíveis, que nos impedem ir muito além do desejável. É facto que neste momento tão condicionante da liberdade de todos nós, muitos aspiram ansiosamente à liberdade que perderam ou mesmo a uma liberdade que lhes permita “movimentar-se”. Com a chegada de tempos mais claros e quentes e, por isso convidativos a essa movimentação, iniciaram-se já intenções de ir para lugares onde alguma dessa liberdade seja conseguida. Sempre que o Verão se aproxima e as férias se tornam realidades não dispensáveis, todos querem aproveitar ao máximo esse período de descanso, para recarregar energias para o resto do ano. Falta passar o tal portão. Mas o tempo não é de facilidades. Apesar de os números de contágios de Covid19, de internamentos e de óbitos estejam a melhorar, isso não pode significar que o portão está aberto para uma liberdade sem limites. De modo algum. É certo que as praias portugueses, sedentas de gente a calcorrear as areias peregrinas, não se foram embora e continuam, à espera das enchentes de outrora que parecem não voltar tão cedo. Temos de aguardar mais um pouco. A sensação de liberdade que o mar e a areia imensa nos dão, são relevantes e demasiado importantes para todos nós, mas não se pode escancarar o portão e passar além sem contenção. Comedimento e sensatez são regras a seguir para chegar à tal liberdade. As praias da esperança de uma liberdade sem limites já não pertencem a estes tempos de pandemia. Só de for com vista a um novo confinamento indesejável. Na realidade, a procura de lugares exóticos e praias idílicas de águas quentes e sol escaldante, já começou e as nossas estão entre muitas das procuradas. Os ingleses buscam rapidamente ocupar o Algarve tão desejado e os hoteleiros e comerciantes da região estão ansiosos por esse momento para reverter a situação económica tão depreciada que os últimos meses trouxeram. Poucos equacionam o perigo que isso possa trazer já que os números de contágio podem aumentar exponencialmente em pouco tempo. Era bom que assim não acontecesse. Para isso o governo já decretou que o modo de procedimento nas praias deverá ser o mesmo do ano anterior. Usemos máscaras, atenção ao semáforo e ao distanciamento que será bem medido. Do mesmo modo os organizadores de eventos, sejam eles festivais ao ar livre ou outros em recintos fechados, anseiam pela mesma liberdade de atuação com o mesmo objetivo. Mas, segundo parece, ainda não vai ser este Verão que os tais festivais terão lugar, pelo menos na forma a que nos habituaram. Essa liberdade ainda está longe de acontecer. Com todos estes requisitos que condicionam a liberdade de todos nós, só temos de nos conformar com a pouca que conseguirmos ter, para que amanhã ela seja bem maior e nos permita ter menos receio de abraçar os nossos amigos e de conviver juntos sem ter de contar quantos somos nesta mesa. Dito assim, o portão da liberdade, embora parecendo largo, ele é bem estreito e não pode abrir demasiado porque a passagem para o outro lado pode trazer consequências que abortam completamente a liberdade de quem passar e de quem já está na outra banda. Infelizmente, mais de dezassete mil libertaram-se sem querer desta realidade assustadora que a todos afeta. Nada se pôde fazer para evitar tal conquista de liberdade, que não foi procurada nem desejada por ninguém. Passaram o portão sem querer. Ganharam uma liberdade que não queriam e de que nada lhes serve. Outros ficaram presos do lado de cá, desejando não passar. Essa liberdade não se quer, não se deseja, não se ambiciona. Dentro de alguns dias começa a época balnear e a corrida para as praias na ânsia de desfrutar tempo de lazer na maior alegria e liberdade. É bom não esquecer os condicionalismos que a isso nos obriga o tal bichinho que por aí se passeia e não se mostra a ninguém. As vacinas que já muitos tomaram, podem não ser suficientes para o travar. Imaginem pois, o portão enorme e escancarado que à vossa frente se abre, convidativo e enganador, e não mergulhem na insensatez de conquistar a liberdade do momento. A passagem pode ser dolorosa. Seja como for, em julho e agosto haverá uma invasão a sul e só esperamos todos certamente, que ela não nos obrigue a novo confinamento. Isso seria o fim do tal portão aberto para a liberdade.

Vendavais- Um soco no futebol

Acho eu que sempre o homem se relacionou mais com o ter do que com o ser. Erro tremendo. Ter muito e ter pouco, é sempre ter alguma coisa, mas isso não o qualifica como ser, principalmente se o querer ter é suportado pela inveja, pela ganância e pela opulência. Infelizmente, sempre foi isso que o homem procurou, ao longo dos tempos. O ter dá poder e pode sustentar o ser, seja de que forma for, se bem que isso seja o menos importante para quem se quer servir desse poder de forma aleatória e em proveito próprio. O que em tudo isto não parece soar nada é o facto desse poder se rodear de intenso fanatismo que obscurece a razão, vertente essencial que impede quem quer apenas ser. A comprovar isto estão os vários movimentos políticos e religiosos e até culturais que apenas querem mostrar o seu poder e não se importam com o que são. Em todo o mundo os exemplos são imensos e nada recomendáveis, desde os fanatismos religiosos aos separatistas passando pelos simples adeptos clubistas que, não tendo o poder dos outros, o querem mostrar através da agressividade, da irreverência, da irresponsabilidade e da estupidez. Simplesmente porque não são e querem ser e porque não podem e querem poder. A este respeito temos o exemplo do que tem surgido nos nossos campos de futebol e das situações que se têm verificado durante e depois dos jogos, por parte dos adeptos, dos árbitros e dos dirigentes. Em qualquer clube de qualquer divisão ou liga, tem acontecido manifestações que a nada levam e em nada alteram os resultados dos jogos, mas o clubismo natural, e o fanatismo exacerbado, nada recomendável, pensam que sim e não olham a meios para se fazerem sentir, amedrontando os árbitros e até os dirigentes federativos. Temos assistido, principalmente nos grandes clubes nacionais, a situações deste género que em nada favorecem este desporto e até o descredibilizam perante as associações estrangeiras. Na semana passada o caso mais ventilado e absurdo aconteceu com a agressão a um repórter da TVI no jogo entre o Moreirense e o Futebol Clube do Porto. O Porto empatou, mas não ficou contente com o resultado nem com a atuação do árbitro, segundo as informações posteriores. Tem o seu direito de reclamar e exigir a si mesmo mais e melhores prestações em campo para conseguir resultados mais positivos. O que não tem direito é a agredir um repórter de televisão que está a fazer o seu trabalho e que nada tem a ver com o resultado do jogo. Que culpa tem que o jogo tenha ficado empatado e que o resultado não agradasse ao Porto? E quem é esse senhor empresário que se dá o direito de vir “defender” com agressões, o “seu clube” como se fosse o dono de tudo, mesmo tendo ao seu lado o presidente Pinto da Costa? Este assistiu a tudo e depois disse nada ter visto. É cego? Ficou cego com o resultado ou com a indignação? Isto é inconcebível! Então o senhor Pinto da Costa não viu nada quando está a três metros da agressão e como quer que os árbitros vejam tudo quando estão a quinze ou vinte metros do que acontece em campo? Como é que ele diz que o árbitro não marcou três “penáltis claros”, que ele viu, e afinal não conseguiu ver a agressão que o seu amigo e correligionário fez ao repórter da TVI, mesmo ali ao seu lado? Pois é, a isto chama-se não clubismo, mas fanatismo clubístico. Também a atitude do treinador do Porto não foi a melhor ao agredir verbalmente a equipa de arbitragem, valendo- -lhe a expulsão, impedindo-o de orientar em campo a equipa até ao final da temporada. Isto é mau. Mau para o clube, mau para os jogadores, mau para a imagem que o Porto quer fazer passar e muito mau para o treinador. Mas todos sabem disso. Então por que razão agem com este fervor fanático, ultrapassando todas as barreiras do bom senso e da razoabilidade? Acabado o jogo, o resultado está definido e não há nada a fazer para alterar isso. As agressões posteriores só agravam a situação do clube e dos dirigentes e treinador. O caso do Porto é o mais recente, mas outros tem havido e que são noticiados por razões idênticas no que respeita ao clubismo, mas não a agressões aos trabalhadores que, fazendo o seu trabalho, nada têm a ver com os resultados dos jogos. É simplesmente inadmissível. Claro que me refiro a qualquer clube nacional. Todos têm culpas no cartório. Lembram-se o que aconteceu na Academia do Sporting. Claro. O fanatismo clubístico e qualquer outro, devia ser banido da mente humana, impedindo-a de agir desconformemente a uma realidade que todos querem que decorra para bem e divertimento de todos. É para isso que serve o desporto. A continuar assim, perde o desporto, perdem os jogadores e dirigentes e perdem os adeptos, principalmente aqueles que, embora vivendo as emoções naturais de um clubismo saudável e natural, esperam bons jogos de futebol. Estas agressões são autênticos socos no futebol e nos adeptos. Dispensamos o fanatismo, seja ele qual for. A luta é em campo e tem de ser lícita.