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Vespeiros

No dia de saída deste jornal, 24 de Agosto, celebram-se festejos em honra do Santo que acorrentou o Diabo fomentador de toda a sorte de vespeiros. O apóstolo Bartolomeu perdeu a paciência ante os desmandos de Lucífer e, para sossego de todos, acorrentou-o, assim o vi em imagens impressivas a impressionarem-me na meninice pois o esgar do Demo é programático a anunciar tumultos vingativos mal conseguisse livrar-se do garrote. Para o efeito criou os vespeiros de várias tonalidades, sons, roncos e catástrofes de múltiplos quilates tal como os diamantes ensanguentados expostos em bustos de pómulos salientes, chatos ou lisos, sem esquecer anéis, diademas da realeza. Se quando menino nas veredas de Lagarelhos vislumbrava um vespeiro escondido num buraco de uma parede o tal Mafarrico tentava-me a enfunar um pauzinho na entrada do covil, enfiava-o até ao meu punhos, remexia e depressa percebi o erro cometido ao receber ferrões enraivecidos que me inchavam o rosto e braços, lançando-me num pranto desalmado (sem ânima) sim animado pela promessa de nunca mais. E, após uma desastrada segunda investida entendi a lição. No entanto, manda a verdade escrever, que passados alguns dias voltei ao vespeiro, tapei o rosto com o lenço de assoar o nariz (coisa rara na aldeia) visto prevalecer o lenço de cinco pontas mesmo quando os candeeiros dos meninos luziam quais faróis de um Bentley (ronaldiano) em incessante monco amarelo entre as narinas e a boca. Blusa fechada no pescoço, lenço na face, enfiei o pau no ninho das vespas para logo a seguir com a ajuda do saudoso Arménio meter na sua toca estopa a arder. Fugimos para longe, passado algum tempo voltámos ao local do incêndio qual Nero a cantar e tocar lira julgando-me um anjo vingativo. Só que algumas vespas vagueavam enfurecidas devido a atribulada saída de cena e, num hara-kiri obsceno, conseguiram ferrar- -me numa mão levando a minha avó a censurar-me causticamente a estultícia enquanto colocava azeite e pingos de vinagre na buba inchada que nem uma grávida cereja bical. Como alguns sabem a História está prenha de vespeiros gerados, mexidos e remexidos pela imprudência, ausência de estudo, vingança e desejo de ficar nos anais, por políticos, militares, charlatães, aventureiros e demais comandita (termo comercial). Para não ir mais longe basta o século XX e o actual para lembrar as duas grandes guerras em geral, o sufoco americano no Vietnam, na fuga fandanga no Afeganistão em geral e a nível local a guerra colonial portuguesa. Os filhos do Tio Sam beneficiaram enormemente a Europa nas duas guerras mundiais, borraram a pintura na Ásia, Vietnam, Iraque e Afeganistão. Um grande amigo meu, felizmente ainda vivo encontrava-se em Saigão nos últimos dias do governo fantoche, contou-me o que viu, ouviu e cheirou nesses dias de chumbo, o vespeiro fervilhava, ele conseguiu cumprir a secreta missão, presenciou o selvagem crepúsculo do orgulho ianque, Saigão passou a ser episódio de estudos de mal sucedida estratégia militar. Ao tempo o sagaz Ho Chi Minh sorria feliz nas catacumbas de Hanói! Nesta altura a única potência mundial chora para dentro a humilhação que está a sofrer o “simpático” Biden tirou a máscara, cai nas sondagens, os republicanos casquilham gargalhadas. Tenho três netos americanos, eles irão ouvir toda a sua vida os pregoeiros da ciência política mencionar a repetida asneira de agora nas universidades e comunicação social, espero bem que a América retire as conclusões capazes de evitar outras semelhantes ou piores. Por fim o vespeiro português. O tacanho Botas de Santa Comba não entendeu a ventania da finitude do ciclo histórico do colonialismo, também fui mobilizado, na altura a publicação clandestina Cadernos Necessários alertou-me para o previsível colapso do nosso esforço. Durante 27 meses na floresta do Maiombe lia o PERINTREP e o SITREP, aqueles documentos não maquilhavam a situação, a Seara Nova ajudava-me a resolver a equação: estávamos metidos numa camisa sem mangas, de forças opostas, poderosas. Era uma questão de tempo. E, foi. O Caco (António de Spínola) deu o pontapé de saída. O Trasgo continua a chocalhar o cortiço vespeiro!

Bar da Santa Paciência

Ora muito boas tardes! Espero que vos encontreis bem de saúde, devidamente protegidos do sol abrasador, em casa, à sombra ou, tanto melhor, a molhar os pés pelo Azibo. Temperaturas altas e gentes da terra foi coisa que este ano voltou a trazer, aproximando-se dos níveis de afluência habituais para esta época calorosa e convivial que moldura o mês de Agosto. Tal como o Nordeste aqui noticiou, migrantes e emigrantes voltaram a preencher as casas, as ruas e os cafés das nossas pictóricas aldeias, o que é sempre de saudar e brindar. E aproveito este gancho dos cafés para contar uma anedota passada por estes dias em Avelanoso, uma aldeia como certamente muitas outras, já bafejadas pelas regulares brisas das campanhas eleitorais. Os peditórios das comissões de festas são este ano substituídos por peditórios de votos mais ou menos disfarçados. Aqui há uns anos botei um texto sobre a “Política dos últimos” - à imagem do icónico programa de futebol “Liga dos últimos” - com base numa conversa que apanhei numa camioneta Lisboa-Bragança em que o motorista dizia a um passageiro que por causa de políticas não falava com o irmão havia “quase 10 anos”. Como em muitos misteres, quem ganha milhões sabe sempre separar as águas, quem ganha tostões normalmente não tem intelecto para tanto. Quem ganha milhões põe os olhos na direção apontada, quem ganha tostões não alcança mais que a contemplação do dedo espetado. E essa é uma característica realmente definidora: a política dos pequenos é pessoal. É tacanha, é de ajuste de contas, é de canela até ao pescoço. É um anti-futebol e uma anti-política porque quando não se tem ideias a única obsessão é não deixar jogar, nada acrescentando ao jogo, à comunidade. E vale tudo nessa missão sarrafeira e caceteira de fazer política. Penso que quando se entra para a política deve haver duas portas. Há uma porta de entrada que por mais ou menos portas e travessas pode levar os políticos a algum lado e depois há uma porta que diz “curros” e que mal aberta leva outros a irromper pela praça a toda a velocidade, investindo contra tudo o que encontram, seja irmão, pai, vizinho, o que interessa é colidir, destruir, botar abaixo. Acredito que alguns destes se encostem às tábuas depois de tanto marrar e nada ganhar com isso, mas outros são bravos bovídeos capazes de levar essa política missão pela vida fora. Quiçá garbosos do seu contributo para a respetiva ganadaria. Voltando à anedota: a aldeia de Avelanoso não sendo pequena, tem desde há uns anos apenas um único bar. Um único ponto de encontro onde se pode tomar café, encontrar amigos, ver a bola: conviver. No fundo, conviver é o que nestes tempos mais faz falta para animar a malta e provavelmente a coisa que mais dá gosto fazer numa aldeia no mês de Agosto. O Bar da Santa é habitualmente gerido pelos mordomos das comissões de festas. Com a pandemia não se nomearam novos mordomos e alguns jovens pegaram no espaço simplesmente porque a aldeia precisa dele. Entre eles está o atual presidente da junta. Acontece que os candidatos do outro partido, começaram a campanha em modo “Bonito, 550kg, Ganadaria: António Brito Paes” e arrancaram praça adentro a toda a velocidade em direção a um capote rubro que diria incompatibilidade de funções ou uso inapropriado do espaço, pelo que forçaram o seu encerramento. Uma jogada de fino recorte político que mais não fez do que privar uma aldeia do seu único espaço público e social em pleno mês de Agosto. Espaço que os próprios frequentavam também. A primeira e quase de certeza última medida política que conseguiram produzir merece uma salva de palmas ou um “olé” lançado em uníssono pela afición nas bancadas. A população, a aldeia, agradece ter sido abatida pelas balas perdidas destas ferozes e impiedosas batalhas políticas de terceira divisão. Destes políticos-soldados da matarruanice pouco mais se pode esperar do que o bota-abaixismo. É pena que a esta data ainda se entre para a política sem ter nada para acrescentar, sem ter dois dedos de testa e, ironicamente, complicando a vida da comunidade em vez de a facilitar. Nossa Senhora da Saúde nos dê saúde e paciência para aturar estes políticos e estas politiquices de pé rapado. Antes de começarem, já deram um tiro no pé descalço, um autêntico tiro na nuca. Prevê-se uma vitória no sofá, ainda antes de entrar em campo, para o atual presidente ou uma campanha como a do professor Marcelo, sem precisar de gastar um cêntimo. Não bastasse ser rapaz solícito e disponível para ajudar, resolver e cooperar, os adversários... se a política tivesse mínimos nem se qualificavam. Precisamente, para este vasto número de atletas não qualificados proponho a fundação do PDU, o Partido dos Últimos. Um partido que vem para agregar, de norte a sul do país, todos os que entram para a política com a sensibilidade e a perspicácia de um rebolo dos grandes. Um partido sem segundas nem sequer primeiras intenções. Um partido dos que vêm verdadeiramente para partir. Um partido de U’s, Universal, de Últimos e de Ursos! Um partido em que os últimos são sem sombra de dúvida os primeiros! No PDU, vota tu! Além disso, a sigla do partido acaba em U, o que é bastante propício à criação de slogans ou lemas de teor elementar e cativante. O PDU, Partido dos Últimos, do qual, tristemente, nem todos os militantes sofrem dos gravitacionais e avançados efeitos da PDI. Fora (e dentro) de brincadeiras um saudoso e refrescante abraço a todos! E bons convívios (respeitando as normas) se não vos mandarem fechar o tasco. Saúde, um abraço!