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Festa da História revive reinado de D. Afonso IV

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Ter, 14/08/2018 - 17:30


Com cenários e personagens a recriarem, este ano, o reinado de D. Afonso IV, não só a época como episódios históricos da cidade, o Castelo de Bragança, um dos mais bem preservados do país, regressa durante quatro dias à época medieval. 

Notícias da aldeia neste mês de Agosto

Agosto chegou. De longe vieram os que tinham saudades da terra, do abraço que se dá, do copo de vinho que se bebe na adega mais fresca junto do ribeiro. Já fizemos a festa, fomos à missa, cumprimos a promessa, choramos com o sermão emocionado do pregador, pegamos ao pálio e dançamos no terreiro, como antigamente, na memória do altifalante que acordava a aldeia. Durante um mês acreditamos que o nordeste tem futuro, que as aldeias se povoam e os jovens que falam várias línguas erguendo a magnífica torre de Babel hão-de regressar para sempre. Depois, terminam as férias e todos regressam às suas vidas e ao amanho das terras do fim do mundo. Os que ficam afagam as memórias, perseguem os silêncios e revivem lugares antiquíssimos que já regurgitaram de pessoas e de vidas.

Esquecemos o inverno que em breve tornará as terras do nordeste mais austeras, frias e carregadas de solidões.

Mas agosto ainda vai a meio e as noites estão quentes. Dezenas de automóveis animam a aldeia e os idosos cismam com os carros de bois carregados de trigo, com as eiras fartas na urgência das malhas, com os rebanhos na demanda dos prados, com as vacas pastando no verde do prado. Os mais novos bebem cerveja no café da aldeia e o vinho é tão bom repousando nas pipas seculares. Memórias. O meu vizinho fala como se mergulhasse fundo no paraíso perdido que se chama nordeste:

— Eu sou um analfabeto, criei-me com uma côdea de pão atrás dumas canhonas, mas sou mais fino que o gajo que manda nos Estados Unidos. Eu corro todo o termo e já não vejo um lagarto, uma cobra, milhares de passarinhos, como antigamente, estamos a dar cabo de tudo com a poluição, os adubos e os pesticidas, eu sei lá!

Faz-se silêncio. Olhos marejados de lágrimas. Destruímos os nossos campos tão verdes, fechamos as escolas, abrimos cinzentos lares de terceira idade, enterramos os idosos e praguejamos neste desencanto de assistirmos pesarosos e impotentes, paulatinamente, a uma morte anunciada.

Regressamos a casa. Noite quente. Ainda se houve o toque das Trindades. A mãe chegou ao portal vinda da fonte, contando os filhos. Memórias dolorosas. Ligamos a televisão. Uma senhora de fino recorte apresenta o seu último livro publicado. Uma história lancinante de alguém no país das sapatilhas. Um casal citadino cansou-se do bulício da cidade e vai para Trás-os-Montes explorar uma casa de turismo rural, numa aldeia miserável sem telemóvel nem internet. A locutora ainda deixa uma nota de rodapé, inteligente por sinal: — Ninguém vai abrir uma casa de turismo rural numa aldeia sem telemóvel, nem internet. A magnânima escritora sorri. Talvez não conheça Trás-os-Montes e embarque no estereótipo que é uma região de ninguém, mergulhada na longa noite dos mitos e preconceitos, povoada de lobos e almas penadas, onde ainda não chegou a internet e muito menos os telemóveis. E a trama do eloquente livro desenvolve-se à volta da tragédia e da psicanálise do casal citadino e principalmente dos seus filhos que estoicamente têm que sobreviver na lonjura da cidade, nos confins do mundo, na noite mais escura da aldeia transmontana, sem internet, nem redes sociais, nem telemóveis.

Eu por acaso vivo numa humílima aldeia transmontana e dentro de alguns minutos irei enviar esta deslavada reflexão ao director do jornal utilizando o normalíssimo recurso a um e-mail. Mas os esclarecidos escritores que têm acesso às televisões é que sabem e muitos dos sensatos e cultos escritores transmontanos ficam na prateleira do esquecimento televisivo. Na verdade a ignorância é atrevida.

Vou-me lá até à fonte mais fresca da aldeia beber da água mais pura e fresca que há milhares de anos nasce do coração da terra. Os incêndios assustam-me neste mês de agosto. O governo foi a banhos e regressa pra nos sossegar que tem imensos meios de combate às chamas avassaladoras, mas a floresta e muitas habitações arderam. Fica uma imensa paisagem cinzenta, fria, medonha. Desgostos.

Desligo a televisão. Uma coruja pia sinistra riscando o silêncio. Finalmente escrevo um e-mail, junto um anexo e a minha “redação” está no jornal. A longa noite transmontana iluminou-se e o futuro é possível. Haja vontade de fazer política para a “polis”, para o povo real e não somente para o populismo. Haja vontade e teremos futuro. Acredito.

Frenesim de Verão

Fui buscar o título da crónica à bibliografia de Erskine Caldwell escritor que muito admiro, sendo um dos sustentáculos de uma tripeça literária americana à qual rendo tributo por tudo quanto fez no sentido de aumentar o meu gosto pela leitura. Gostos não se discutem! Os estetas romanos soletravam a evidência após banquetes como o descrito no clássico Satyricon. Gostar e a amar a leitura é um privilégio não tão usual quanto – gosto –, porque a jeira da leitura também cansa apesar dos cuidados do distinto e conceituado oftalmologista bragançano António Sampaio, me dedica periodicamente.

Estamos no mês de Agosto, gosto dos livros de Caldwell, torrenciais, cuja escrita de sabor a manteiga de amendoim me envolve em calda branca e negra do sul da América profunda, puritana, sensual, saudosa do esclavagismo, onde Caldwell, Steinbeck e Faulkner (os pés da tripeça) causaram enorme tumulto em milhões de consciências malhando o ferro frio até ficar rubro a favor de todos terem os mesmos direitos e deveres.

Descobri Caldwell, na Livraria Cristal situada na rua Direita (porque directa ao Principal), onde o Nuno Álvaro Vaz me abriu conta com a anuência simpática do Senhor Álvaro Pereira. O Nuno guardava-me livros, os quais pagava conforme a disponibilidade, o Sr. Pereira fomentava oposição ao salazarismo inspirado nas ideias do reviralho, pós 25 de Abril terá sido fundador do PPD em Bragança (bem merece um homenagem pela sua conduta cívica). Era casado com uma professora de francês a Senhora Dra. Evangelina Pintado, a qual se esforçou no propósito de concitar o meu interesse no idioma de Racine, não terá tido grande êxito, porém lembrou-me outros autores para lá de Zola, Hugo e Balzac. O casal, além do filho, oficial da marinha de guerra, falecido prematuramente (tempo de aluno liceal exímio jogador de hóquei em patins a pedir meças ao Eduardo Gonçalves, queijinho), tiveram uma filha muito bonita, demolidora de corações apaixonados enquanto estudante em Coimbra, um deles professor e farmacêutico confessou-me a sua tristeza por não ter tido êxito na categoria de pinga-amor empedernido, pois recebeu rotunda nega após a apresentação do requerimento a pedir namoro. Nunca mais a vi, no entanto, retenho a imagem de beleza serena, sorridente.

Guardo vários títulos de Caldwell, reli a Jeira de Deus e a Estrada do Tabaco, acusados de obscenidade e crueza na época da grande depressão. Sem surpresa, o Partido Comunista não apreciava o autor dado o seu pendor na denúncia das desigualdades sociais a leste e longe da vulgata leninista, bem pelo contrário, exaltava a alegria de viver num fundo jubiloso dos sentidos derrubadores de barreiras e plenamente usufruídos. Os comunistas acorrentados ao denominado neo-realismo não toleravam tão e tanta satisfação de emoções contrastando com a escrita dos autores do socialismo real. Mais tarde julgo ter apreendido as causas do sectarismo propagandeado entre outros pelo temível Dimitroff, plenamente secundado em Portugal por Álvaro Cunhal e companheiros de rota. Leia-se o Diabo e Sol Nascente.

Na Livraria Cristal encontrava bons alimentos espirituais, a sua aparição na canhestra e circular cidade, de rotineiras livrarias, constituiu uma vibrante lufada de ar fresco arejando o ambiente ainda rufado politicamente pelas sapatorras do Coronel Machadinho e as botas do Coronel Salvador.

Nunca perguntei como chegavam os livros da editora Delfos, todavia chegavam. E, no rol de livros censurados e proibidos (edição policopiada) vindo a lume a seguir à data libertadora, constam títulos da referida editora. Também encontrava na Cristal as edições críticas da Portugália, na altura tais edições ensinavam e ensinam a gostar em Agosto e restantes meses do ano, de autores como Gil Vicente, Camões, Garrett e outros, nas antípodas daquelas lousas de resumo estilo Carlos Reis, um dos matões de Os Maias, sugestão de Maria Filomena Mónica (veja-se Expresso de 04 de Agosto).

Completo o Frenesim de Verão recorrendo ao isabelino e universal dramaturgo criador de Sonho de uma Noite de Verão.

Esta crónica canicular tem como elemento primacial a palavra Verão, por isso as referências a dois autores de obras a lembrarem a estação dos três meses de inferno, no intento de agradar a leitoras de recordações da plena e pujante juventude das mesmas, por nás e nefas o vou sabendo, procurando a todo o custo perseverar a sua identidade.

Nos verões do passado, cinquenta anos mais coisa menos coisa a nudez era interdita, mesmo o tapa/destapa analisado por Georges Bataille nos seus escritos sobre erotismo recebia forte censura. O multifacetado autor continua a justificar leitura (mesmo no Estio) as leitoras adicionem-lhe a recordação do uso de combinações e saiotes nos dias sudorosos e falem às netas nos tormentos passados não no pressuposto de cumprirem um evangelho de salvação, sim de obedecerem aos pais, especialmente ao pai, desgostando os rapazes privados de visões de contra-luz. E agora? Agora, segundo informações colhidas verbalmente de bocas femininas ninguém liga a desconfortáveis e vetustas usanças, mesmo o mote do que é bom é para se ver caiu em desuso, restando a moda de vestir à Eva antes de levar o rolo do Adão a morder a maçã. Os saborosos malápios do Gamboa provêm dessa espécie!

O fogo que nos consome

Passou quase um ano depois do fatídico braseiro que incendiou o centro do país e que matou umas dezenas de pessoas e atirou outras para o desespero da ignorância, para a pobreza arrastada, para a ingratidão e para o esquecimento. O país sofreu imenso com tudo o que aconteceu. Todos lamentaram e todos prometeram que não mais haveria de acontecer semelhante atrocidade. Promessas.

De tudo isto ficou essencialmente o nome de Pedrógão e o da estrada da morte. Sinais indicadores da localização da tragédia. Não são placas. Não são necessárias! Mas são avisos que deveriam levar os responsáveis a evitar repetição. Teatros de tragédias tão grandes, que os atores pereceram em plena cena de dois atos.

Depois disto, alimentou-se o ego dos portugueses com a interajuda em prol dos que tudo perderam. Era necessário ajudar a reconstruir o que se perdeu. Chegaram muitas ajudas e em várias formas, desde roupa a dinheiro. E o que não deveria acontecer, aconteceu. Uma confusão tremenda para saber como distribuir o dinheiro e por quem. Quando há dinheiro à mistura, há confusão! Por que será?

Quase um ano depois, vem a lume a triste notícia de que o dinheiro foi manipulado por quem não devia e não chegou a quem deveria. Alguém se aproveitou do que não lhe pertencia. Será possível? Claro que sim e não me causa estranheza. Estamos um pouco habituados a estas atitudes, infelizmente.

Assim, muitos que esperavam ter a sua casa de volta, ainda não têm porque alguém resolveu desviar para proveito próprio o que a outros pertencia. E as mentiras? Mais que muitas!

As promessas do governo e as certezas de atuação em massa com milhões à mistura para assegurar o bem-estar das populações, soaram como calmantes no coração dos portugueses. Não mais haveria de se correr riscos de tamanha enormidade. Assim se esperava!

Pois assim deveria ser. Mas eis que surge de novo o fogo que nos consome a alma e nos desestabiliza o ser. Monchique volta a ser notícia pela pior causa. Uma dúzia de anos depois de ter ardido e ter reduzido toda a serra a terra queimada, volta a arder e a invadir propriedades alheias, roubando casas, terras, herdades, automóveis num autêntico caos e desorganização total. Ninguém estava à espera de coisa semelhante depois de todas as promessas feitas e de todas as garantias de segurança, quer a nível de comunicações, de organização, de meios de combate e de homens no terreno. O governo ordenou que se limpassem as bermas das estradas e dos terrenos e isso foi feito. Gastou-se dinheiro e parece que valeu de muito pouco, pelo menos nas povoações da serra por onde agora lavra o fogo terrível que põe o Algarve em sobressalto.

No ano passado acusaram o Presidente Marcelo de andar pelo meio dos locais afectados, levando algum consolo a quem precisava de se sentir amparado. Este ano, ele afastou-se e preferiu banhar-se nas águas calmas dos rios por onde o fogo lavrou no ano transacto, mas não desligou do que está a acontecer no sul do país. Mas as críticas chovem de igual forma e se elas se transformassem em chuva, certamente que o fogo se apagaria bem mais depressa.

Se daqui a uma dúzia de anos voltar a acontecer, como no Algarve, o que aconteceu em Pedrógão e em Santa Comba Dão, voltaremos a falar da tal segurança que nunca mais chega e dos riscos que todos corremos quando chega o Verão. Oxalá que tal não aconteça!

Sem haver ainda culpados e explicações plausíveis para o desaparecimento do dinheiro que deveria ser aplicado em Pedrógão e nas localidades afetadas pelo fogo no ano passado, deparamo-nos com outra situação idêntica onde casas e terras desaparecem com a voracidade das labaredas infernais que tudo consomem e deixam na miséria os seus proprietários. E agora? Questionemo-nos pois, sobre o que poderá acontecer. Quem vai movimentar os dinheiros e as ajudas para estas pobres pessoas que ficaram sem nada? O governo? As Misericórdias? Os grupos (!!!) arranjados à pressa para levantamento dos prejuízos e para a aplicação do dinheiro destinado à reconstrução das casas?

Ainda os de Pedrógão não têm as suas casas todas pelas razões que sabemos e já estas estão perante situações iguais que levam, desde já, a desconfianças do mesmo teor. Ficaram sem as suas casas e quando voltarão a ter outra? Até lá, onde vão ficar?

Afinal o fogo não consome somente a floresta e as casas, consome do mesmo modo, o nosso interior, o nosso ego e a nossa identidade.

Nós trasmontanos, sefarditas e marranos - António Júlio Andrade / Maria Fernanda Guimarães - Joseph (David) António Pinto (n. Cótimos, 1647)

Na década de 1640 a inquisição lançou em Torre de Moncorvo aquela que seria a última grande operação de limpeza da heresia judaica e o início da decadência da “capital de Trás-os-Montes”, com a fuga de gente e capitais do elemento mais dinâmico e empreendedor da sua população.
Entre as famílias que abandonaram a terra, contou-se a de António Rodrigues Pinto, mercador e sua mulher Violante Rodrigues, com os seus 4 filhos e 2 filhas, que foram fixar residência na cidade da Guarda.

Uma das filhas, batizada por 1625, em Torre de Moncorvo, com o nome de Branca Rodrigues, casou na Guarda com Francisco Mendes Paredes, surrador e curtidor. Ambos viriam a ser presos pela inquisição, ao início da década de 1660.(1) Um dos filhos do casal chamou-se Belchior Mendes, o qual tinha 20 anos quando os pais foram presos e ele decidiu ir apresentar-se na inquisição de Coimbra, saindo penitenciado no auto-da-fé de 5.2.1668.(2) Mais adiante voltaremos a falar dele.

Um dos filhos de António e Violante dava pelo nome de Jorge Pinto. Foi casar a Cótimos, termo de Trancoso, com Beatriz Gonçalves. Em Cótimos residiram uns 9/10 anos e ali lhe nasceram 2 filhos: Luís, o mais velho e António. Este, batizado em 14.3.1647, adotaria o nome de Joseph António, uns 10 anos mais tarde, ao ser crismado em Málaga, terra para onde os pais e outros familiares se abalaram, por 1650, certamente fugindo da inquisição.

Fugidos do leão, foram cair nas garras do urso – como usa dizer-se. Com efeito, instalados em Málaga, foram levados para os cárceres da inquisição de Granada o pai e o avô, António Rodrigues Pinto. Por 1659, depois de saírem penitenciados e cumprirem a penitência, o avô e o tio Manuel Pinto terão regressado a Portugal.

Jorge Pinto e Brites Gonçalves, ao contrário, pegaram nos filhos e numa criada portuguesa que tinham e foram-se a Cádis e Alicante onde embarcaram em uma nau(3) com destino à cidade italiana de Livorno, sendo hospedados à chegada, em casa de Daniel e Jacob França,(4) com eles aparentados. Ali aderiram publicamente ao judaísmo, fazendo-se circuncidar e tomando nomes judeus: Isaac Israel Pinto, o pai; Sara Pinto, a mãe; Jacob Pinto, o irmão e David Pinto, o nosso biografado, que então andaria nos 12 anos.

É muito completa a descrição daquela cerimónia, que ele fez mais tarde, perante os inquisidores, bem como das orações, jejuns e frequência da sinagoga. Aliás, ele revelava uma boa instrução, sabendo ler e escrever em português, espanhol, francês e italiano.

Entretanto, o irmão atingiu a maioridade e dirigiu-se para o norte de África, a comerciar, estabelecendo-se na cidade de Tetuão. Certamente trabalhavam em rede, como era geral entre os da nação e, sendo já casado, deixou a mulher em Livorno a tomar conta da casa. E David, quando chegou aos 18 anos, seria mandado pelos pais a ter com o irmão, com ele assistindo em Tetuão uns 3 meses. Ali se apresentava como judeu, frequentando a sinagoga, se bem que “não andava de traje, como não costumam mudar os que vão só a negociar”.

Por ordem do irmão, dirigiu-se a Espanha, a cobrar um vale de 8 500 réis em Antequera e a comprar fazendas que enviaria para Tetuão. Talvez para melhor se movimentar num país que perseguia os judeus, David Pinto decidiu apresentar-se na inquisição de Sevilha dizendo que era judeu e vinha fugindo de seu pai e irmão, o qual “dissera que gastaria sua vida e fazenda para o matar, pelo propósito que tinha” de se tornar cristão.

Apresentado em 8.1.1670, contaria algumas pequenas mentiras, dizendo, nomeadamente, que se criara em Lisboa, que seu pai se chamava Jorge Saldanha Pinto e seu irmão era Don Luís Saldanha y Pinto. Em Sevilha travaria amizade com Don Henrique de La Torre, capitão de uma companhia de tropas estacionada em Mansilha, 5 léguas de Sevilha, certamente originário de uma família de Torre de Moncorvo, pois que o tratava por parente.

Pensaria que a inquisição o mandava logo batizar e lhe passava um salvo-conduto para se movimentar por Espanha. Mandaram, porém, que aguardasse e que não saísse da cidade. Demorando já uns 9 meses a decisão dos inquisidores, Joseph deixou Sevilha e foi-se a Madrid, dali seguindo para a Guarda. Ficaria hospedado em casa de seu primo Belchior Mendes, curtidor, de que atrás se falou.

Da Guarda foi para Lisboa, alojando-se numa estalagem ao Beco das Comédias, certamente com intenção de embarcar dali para Tetuão. Foi a sua desgraça. É que, entretanto, a inquisição de Sevilha mandou um relatório do caso para a sua congénere de Lisboa. E nesta cidade ele encontrou-se com dois negociantes originários da Arménia, seus conhecidos de Tetuão, que não tiveram quaisquer rebuços em denunciá-lo na inquisição, se bem que ignorassem o seu nome. Entre outras coisas, um deles, chamado Jacome Assucar, disse:

— Vindo a esta cidade ele denunciante viu nela o dito Fulano Pinto, o qual lhe falou e perguntou como ficara o seu irmão, Jacob Pinto. E ele lhe deu novas como o vira há perto de 2 meses, em Tetuão. E perguntando-lhe onde vivia, ele lhe respondeu que era junto onde faziam as comédias. Mas depois, ao outro dia, lhe disse que tinha tomado outra pousada, sem dizer aonde, tendo ele denunciante deduzindo que andava com receio de ser conhecido, porque nesta cidade não se trata como judeu público, antes o encobre. E anda vestido com uma capa de barregana, de cor cinzenta, forrada de baeta e uma casaca que não lhe lembra de que cor e chapéu branco.(5)

Idêntico testemunho foi dado pelo outro mercador arménio, companheiro daquele, que particularizou:

— Haverá um mês e meio que, vindo a esta cidade, viu nela o dito moço irmão de Jacob Pinto e em razão do conhecimento que tinha com ele em Tetuão, falou com ele muitas vezes e o levou a sua casa algumas vezes, e ele testemunha lhe perguntou como se atrevera a vir a esta terra sendo judeu. E o dito moço disse (…) que se aqui soubessem que ele era judeu, havia de dizer que era filho de pai judeu e que se queria fazer católico…

Ficava muito complicado o problema daquele homem de 23 anos, pois logo a inquisição o prendeu. No decurso do processo muita coisa teve de esclarecer mas, para nós, o mais importante são as informações que ele deu sobre outros marranos Trasmontanos, especialmente de Torre de Moncorvo, que ele conheceu em Livorno e Florença, vivendo como judeus assumidos.

Preso em Agosto de 1670, prolongou-se a sua estadia nas celas do santo ofício de Lisboa até dezembro de 1674, saindo condenado a 3 anos de degredo para o Brasil “e usará hábito penitencial por cima dos seus vestidos”.

Não estava, porém, em condições de viajar. Os 40 meses em que esteve metido nos cárceres, “durante os quais padeceu as doenças que são notórias e por sua matéria ficou arruinado de saúde” e o tormento que lhe deram (um trato esperto e outro corrido) deixou-o tolhido de braços e mãos e “para se vestir e calçar, lho faz qualquer preso, por amor de Deus”.

Assim, em Janeiro de 1674, requereu que lhe dessem licença para se ir curar. Foi-lhe concedida mas, “dando fiança segura e abonada”.

Como haveria de dar fiança e pagar aos médicos, se até para comer tinha de recorrer à misericórdia? Pediu, por isso que o recolhessem na enfermaria do Hospital de Todos os Santos. Pouca esperança de cura do “tolhimento de braços e mãos” lhe restava e, desesperado, dizia que era “melhor que o embarcassem nas naus e no mar morra de doença, que de fome em terra”.

Decidiram então os inquisidores mandá-lo cumprir a pena de desterro em Almeida. Certamente algum parente ou amigo, de Torre de Moncorvo ou da Guarda o haveria de ajudar.

XI Ancuontro de Blogueiros de l Praino Mirandés – Ruolos 2018

Die 11 d’Agosto atrasado fizo-se an Ruolos, cunceilho de Mogadouro, l XI Ancuontro de Blogueiros de l Praino Mirandés i fui apersentado l lhibro “Caminhos de l Demonho”, un trabalho d’ambestigaçon subre l’eimigraçon a salto na Tierra de Miranda.

L die ampeçou por essas 8.00h de la manhana, culas buonas benidas al lhugar de Ruolos, dados pul Persidente de la Junta, José Pedro Amaro i pul mardomo de l Ancuontro, David Casimiro.

Antes que calcessa más, fui tiempo de meter pies a camino para besitar l sbarrulho dela capielha de San Fagundo, culs sous dous arcos inda de pies, un románico i outro gótico, l que quererá dezir que l templo haberá sido “puosto de pies” an tiempos çfrentes.

Tornando al lhugar de Ruolos, apuis dua passaige pula eigreija, fui altura de besitar las bodegas. Falamos de “foias” scabadas ne l chano - lhastra, na barreira de la lhinha d’auga, adonde fui splicado q’antigamente la gente de Ruolos guardarie l bino i alguas cousas de quemer. Eisistiran hoije inda más de binte bodegas ne l sítio que besitemos, alguas yá sbarrulhadas (las raizes de las carrasqueiras que médran porriba fáien-las sbarrulhar), mas alguas inda bien cunserbadas, cumo tal aqueilha adonde l’ouganizaçon oufreciu la merenda als partecipantes.

Apuis de l’almuorço, adonde partecipórun más de 130 pessonas – antre eilhas l senhor D. José Cordeiro, Bispo de Miranda-Bergáncia – fui tiempo de fazer l’apersentaçon de l lhibro “Caminhos de l Demonho”, un trabalho d’ambestigaçon subre l’eimigraçon “a salto” que houbo na Tierra de Miranda (hoije cunceilhos de Miranda l Douro i Mogadouro) ne l seclo passado, fazido an co-outorie de David Casimiro (nacido i criado an Ruolos) i l conhecido ator de la talbison pertuesa, Guilherme Filipe (antre outras personaiges menos populares, fui l ator que fizo l porsor Sapinho de la nobela Morangos Cun Açucre).

Stubo l salon de la Junta de Fraguesie acuquelhado de gente i na mesa de apersentaçon stubírun, para alhá de ls outores an que yá amentemos, l persidente de la Junta, ls persidentes de la Cámara de Miranda l Douro i Mogadouro, la bariadora de la cultira de la Cámara de Mogadouro i D. José, l nuosso Bispo, de a ar de muitas de las pessonas que partecipórun n’ambestigaçon, dambos dous lhados de la raia, Pertual i Spanha.

Stá de parabienes l mardomo pula fiesta que fizo i la gente que fui capaç d’ajuntar. Amporta dezir q’estes ancuontros yá se fazírun onze anhos, repartidos por bariados lhugares de la Tierra de Miranda, ls cunceilhos de Miranda l Douro i Mogadouro. L’eideia i l antuante de l purmeiro fui Alcides Meirinhos, an 2008 ne l Naso, adonde stubírun 12 partecipantes de blogues screbidos an mirandés, antre eilhes i a la cabeça Amadeu Ferreira.

L lhugar para 2019 yá stá treminado: será an Dues Eigreijas nun die d’Agosto de l anhos que ben. Alhá staremos, se nun houbir mal ou muorte.