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NÓS, TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - António Henriques, o Fastio (f. Torre de Moncorvo c. 1580)

António Henriques, o Fastio, de alcunha, é figura incontornável na história dos cristãos-novos de Torre de Moncorvo. Antes de mais porque a ele se ligava, por laços familiares, uma boa parte da gente da nação hebreia da terra. Depois porque, dos casamentos de sua numerosa prole (11 filhos), se originaram famílias e personagens marcantes, não apenas ao nível local mas também nos territórios da diáspora sefardita.

Traçar a sua biografia é tarefa impossível, pois ao tempo em que ele nasceu não havia sequer registos oficiais de nascimentos, casamentos e óbitos. E todas as informações que sobre ele temos, foram dadas depois do seu falecimento, pouco antes de 1583, sendo que em 1580 ainda era vivo e morava na Rua Nova, (1) de Torre de Moncorvo. Era então casado com Filipa Rodrigues, originária de Trancoso. (2) Esta era a segunda mulher e antes fora casado com uma Fulana da Mesquita, que lhe deu pelo menos 2 filhos: Henrique Fernandes, que morou em Vila Nova de Fozcôa, casado com Filipa do Vale e Fernão Álvares, o Fastio, que casou em Trancoso com Francisca de Nágera. (3) Estes tiveram 8 filhos e na sua descendência encontramos homens tão importantes como o Dr. Fernando Mendes, médico da rainha de Inglaterra.

António Henriques, como o pai, se chamou um filho do segundo matrimónio, com Filipa Rodrigues. Era “baixo de corpo, preto e magro”. (4) Mercador, andava por Castela e foi preso pela inquisição de Toledo. Casou em Torre de Moncorvo com Inês Vaz e, em 1586, era já viúvo. Casou em segundas núpcias com Filipa da Mesquita e, face às prisões que a inquisição efetuava em Moncorvo e Vila Flor, abalou com a família para a Itália, estabelecendo casa na cidade de Pádua.

De sua descendência conhecemos uma filha, chamada Isabel da Mesquita, que casou com Francisco Álvares Frade, natural do Mogadouro. Da vivência de António Henriques em Castela, nasceria a alcunha de Malo, com que passou a ser distinguido.

Pero Henriques, Fastio, se chamou outro filho do casal. Casou com Ana Vaz, irmã de Filipa da Mesquita, sua cunhada, que acabamos de referir. Tiveram 5 filhos e 2 filhas, que se dispersaram por Itália, Holanda, França e 4 deles viveram na cidade do Recife, à época do chamado Brasil Holandês. Um deles, Diogo Henriques, aliás, Abraham, merece especial referência, por ter sido um dos primeiros a usar o sobrenome de “Bueno”, juntamente com o seu primo Filipe de Nágera. (5)

Dos 11 filhos do Fastio, da Rua Nova de Torre de Moncorvo, citemos ainda a filha Brites Henriques, que morou em Vila Flor onde foi casar com o mercador João (Jerónimo) Lopes e que foi presa pela inquisição em 1583. (6)

Para além dos filhos, importa ainda fazer outras ligações familiares do patriarca António Henriques Fastio, morador na Rua Nova, nomeadamente a Francisco da Silva, e seus pais, o Dr. Henrique Dias e a sua mulher, Isabel Henriques, moradores em Torre de Moncorvo, originários de Vila Nova de Fozcôa. (7)

Outra relação de parentesco é com Pero Henriques, que foi preso pela inquisição de Lisboa em 1556. Era filho de Henrique de Miranda e Filipa Dias, sua mulher. Preso pela inquisição de Lisboa em 1556,ao falar de sua família, disse que tinha um irmão chamado António Henriques. Cremos tratar-se do nosso biografado António Henriques Fastio, morador na Rua Nova. Contudo, por falta de documentos não podemos confirmar esta ligação de fraternidade entre eles. Mais uma nota sugestiva: depois que o soltaram, Pero Henriques foi-se “com sua mulher e casa para Florença”, na Itália. (8)

Apresentada a família do Fastio, voltemos ao início, à Torre de Moncorvo onde o inquisidor Jerónimo de Sousa estava de visitação, enviado pelo tribunal de Coimbra. Perante ele, no dia 9 de abril de 1583, (9) apresentou-se Beatriz, uma moça de 24 anos, criada de servir, natural de Sarzedo, terra de Lamego e fez o depoimento seguinte:

- Irá em 3 anos que ela saiu de casa de António Henriques, o fastio, cristão-novo, mercador já falecido, casado que era com Filipa Rodrigues, cristã-nova que agora está viúva, e vive nesta vila na Rua Direita, e esteve com eles um ano e viu no dito tempo que com eles morou, que muitas sextas-feiras à tarde uma Violante Henriques, filha dos ditos seus amos, que então era solteira e estava com seus pais, mas agora é casada (…) varria e limpava as casas e as concertava, o que não fazia por nenhum dos outros dias (…) e que a via aos sábados pela manhã tirar de uma câmara que tinham uma candeia de azeite morna, como se estivera de noite acesa na dita casa, e que aquelas noites de sexta-feira para sábado fechavam a dita casa, costumando estar aberta pelas outras noites, porque era casa de despejos, onde ela denunciante entrava muitas vezes, e por ela ver que na dita semana só fechavam naquela noite, atentou pela candeia que de lá tiravam ao sábado pela manhã. E declarou mais que vira fazer tudo isto e também fazia as camas nas ditas sextas-feiras à tarde e lhe deitava lençóis lavados, o que não fazia em nenhum dos outros dias, e que a dita sua filha vestia aos sábados camisa lavada. Disse mais que em nenhum do dito tempo viu comer na dita casa nenhuma carne de porco a nenhum deles, antes quando lhe mandavam alguma, ela denunciante a comia, porque eles lha davam, e a comia assada e o espeto em que a assava estava apartado, porque nele se não assava outra carne. (10)

 

Notas

1-A Rua Nova faz parte do núcleo medieval da vila e desenvolve-se em paralelo com a Rua Direita. Tomaria aquele nome no tempo do rei D. Manuel, depois da expulsão dos judeus. Corresponderia à antiga judiaria e nela se conserva uma casa que, segundo a tradição, foi a antiga sinagoga dos judeus.

2-Filipa Rodrigues foi presa pela inquisição em 1583. – ANTT, inq. Coimbra, pº 493. E depois dela foram presas duas irmãs suas. - ANTT, inq. Lisboa, pº 7555, de Florença Dias; pº 11945, de Ana Lopes.

3-ANDRADE e GUIMARÃES, Na Rota dos Judeus Celorico da Beira, ed. Câmara Municipal de Celorico da Beira, 2015. 

4-ANTT, inq. Coimbra, pº 1382, de Francisco da Silva: - Haverá 17 anos (1587), na vila da Torre, se achou com António Henriques, seu primo coirmão, viúvo mercador, que morava na Torre e que agora mora em Madrid, baixo de corpo, preto e magro.

5-Filipe de Nágera foi um dos 8 filhos de António Henriques e Francisca de Nágera. Estudou em Salamanca, formando-se em Medicina.

6-ANTT, inq. Coimbra, pº 4, de Brites Henriques.

7-IDEM, pº 43, de Francisca da Silva, irmã de Isabel Henriques; pº 1382, de Francisco da Silva: - Disse que haverá 17 anos (1586) na vila de Torre de Moncorvo, se encontrou com António Henriques, seu primo co- irmão, mercador, viúvo, que morava na Torre de Moncorvo e agora mora em Madrid…

8-ANTT, inq. Lisboa, pº 6771, de Pero Henriques; Nós Trasmontanos… in: jornal NORDESTE, nº 1069, de 9.5.2017.

9-Note-se que a visitação de Jerónimo de Sousa a Torre de Moncorvo decorreu nos dias 20 e 24 de Março, seguindo-se a visitação a Freixo de Espada à Cinta, Mogadouro e Felgar, termo do concelho de Mós. Algo estranho que ali se fosse apresentar Beatriz que, por acaso, era então criada do escrivão do vigário da Torre de Moncorvo. Teria sido mais uma das testemunhas arregimentadas pelos inimigos dos cristãos-novos, como eles disseram em uma petição dirigida ao inquisidor geral?

10-ANTT, inq. Coimbra, livro 662, fl 100v. Note-se que, depois da morte do marido, Filipa Rodrigues mudou a residência para a Rua Direita. Esta rua do núcleo medieval, atualmente com o nome de Campos Monteiro, ligava a porta norte da muralha medieval ao castelo da vila. O edifício mais importante desta rua é a igreja da misericórdia, construída em meados do século XVI. Nas suas traseiras era a judiaria.

Mundivivência

Minha boa gente, essa saúde como vai? Diz que agora afinal a laranja faz tão bem de dia como de noite. Aquela coisa do “à noite mata” tem de ser revista. Fica o conselho de nutrição e, em caso de estar a falar mais do que sei, o pedido de desculpas aos profissionais de saúde que aqui tão bem escrevem. Ora, por esta altura os largos milhões de leitores que costumam ler este ditoso jornal e esperar sofregamente pelas minhas maravilhosas conversas já se devem estar a perguntar “mas este título não é igual a um anterior?”. Nada disso meus caros, não há erro de impressão. Há um ‘v’ que muda. Da outra vez falei de mundividência, como os países vêem e concebem o mundo, e hoje vou falar com base na minha vivência e experiência do mundo (mundivivência). Viver na Ásia, num país com uma cultura social abissalmente diferente da nossa ajuda-me a ver a nossa cultura e o nosso país em perspectiva. Cidadãos do mundo. Engraçado que quando Sócrates (o filósofo) disse isto (isso, o filósofo grego) o mundo que ele conhecia era cerca de um terço do que é hoje. Ser cidadão do mundo naquele tempo pouco mais era do que ser cidadão da Europa. Hoje vou falar um pouco dessa instituição chamada “lá fora”, essa vírgula no nosso opinar, esse modelo a seguir impreterível e devotamente. Não sei bem onde estou, mas isto não é Europa de certeza. Porque lá fora é que é. Além disso não há placas em lado nenhum, uma pessoa perde-se pelo caminho. Se estivéssemos na Europa estava tudo cheio de plaquinhas, luzinhas e sinais e eu não precisava de andar aqui às voltas para saber onde estou, a abrir o vidro a cada 200 metros e a perguntar “chefe, podia dar-me uma informação” para ficar ainda mais perdido. Lá fora na Europa é totalmente diferente. Mas, perguntemo-nos, o que significará isso afinal? Ou pergunte-me apenas eu a mim mesmo (quanta redundância junta). Deixem-me só arregaçar as mangas. Lá fora é sempre exemplo, mas exemplo de quê? Onde está esse lugar onírico, maravilhoso, essa terra dos sonhos a que o português alude, esse el dorado onde tudo bate certo apesar de, provavelmente, estar sempre a chover. Ora bem. Estava agora a ouvir uma notícia na rádio que dizia que quase um terço dos portugueses vive no limiar da pobreza e outra que os jovens portugueses são os piores em não sei o quê, juntamente com os suecos e franceses, o que de repente acaba por transformar a notícia em algo entre o “hã?!” e o “podia repetir, por favor?”. Em relação ao Lumiar da pobreza, não desfazendo da adversidade de 2,9 milhões de concidadãos, lembro-me de três histórias. A do jovem viajante português na Mauritânia que falava de crise e o anfitrião respondia que sim, que sabia o que isso era, que quando as crises passavam por ali ficam semanas sem ter comida e que quando a chuva tardava em chegar faltava água até para mudar o balde da retrete. O miúdo chinês que caminha todos os dias 10 kms para chegar à escola e chega. No Inverno com o cabelo e as pestanas cheias de gelo como um pinheirinho de Natal, desses muito perfeitinhos como os dos centros comerciais. E sem luz ou aquecimento que o receba na sala de aula. O indiano amigo de um amigo meu que estudava em Espanha. Um dia levo-te à minha aldeia e levou-o mesmo lá para os lados de Tomar ou Torres Novas. E o indiano flipado com a aldeia, à espera de vir a encontrar tudo menos Internet e tv cabo e estradas alcatroadas e saneamento e asseio. O que é que acontece: nestes países – e se se derem ao trabalho de ir somando e excluindo partes verão que é a maioria da população mundial – cada vez que ouvem a ladainha de Portugal e pobreza, Portugal e crise, Portugal e ai vizinha quando chega o frio mal consigo andar, olhe eu ontem queimei-me a fazer o almoço não posso usar esta mão, olhe de um lado o ácido úrico do outro o meu marido que é um vagabundo... Quando ouvem isto é nestas realidades profundas que eles pensam. E é essa a imagem que cola. E depois uma pessoa tem que andar por aí a emendar a mão. Olhe que não amigo, não é bem assim. Ah, mas eu vi na televisão. Pois, mas é diferente. Ah, isso dizem vocês. E pronto, andamos nisto. Três coisas. Primeiro, claro que o “lá fora”, não é um verdadeiro lá fora no sentido global ou mundial do termo, refere-se a uma pequeníssima elite de países cujas sociedades desenvolvidas funcionam e oferecem aos seus cidadãos em geral um conjunto de valores e garantias que infelizmente não são (mesmo!) norma neste mundo. E estão quase todas na Europa. Segundo, é preciso dizer sem rodeios e com naturalidade que Portugal, este Portugal de hoje, pertence a esta elite de países que constituem uma percentagem muito, muito pequena a nível mundial. Terceiro, há que parar com esta neo-psicose de nos termos como medíocres e irremediáveis só porque algures num gabinete de Berlim ou num escritório de Nova Iorque políticos e agências calculistas nos consideram no limiar do lixo. Faz falta vermo-nos de longe e conhecermos melhor os cantos a este berlinde. Vivência ou experiência do mundo, mundivivência.

NÃO GOSTO DO BLOCO

Ponderei seriamente dar outro título a este texto: “Até gosto do Bloco” poderia muito bem encabeça-lo e tal não feriria a minha sensibilidade nem beliscava as minhas convicções democráticas, que convivem muito bem com a diversidade desde que os outros sejam capazes de respeitar os meus valores. O B.E. enquadra-se perfeitamente nesta lógica, até porque o ar desempoeirado dos seus membros e a imagem desajustada nos Passos Perdidos fazem-me recordar tempos de juventude nos quais, o sonho maior era pastorear ovelhas recitando poemas de Caieiro, ou, mais tarde, ir para Cabo Verde em busca do paraíso perdido.

No entanto, o meu “gosto” ficar-se-á por aqui pois na procura de uma identidade ideológica do Bloco não consegui aceder a uma matriz que demostrasse efetivamente as orientações que segue, nem tão pouco se, dizendo-se de esquerda, é uma esquerda mais para a esquerda ou uma esquerda mais para a direita. Por inferência, sou levado a pensar que dá jeito a alguns dizer que é mais da esquerda-esquerda (os políticos dizem radical) porque assim a esquerda existente preserva o espaço que já ocupava, e a direita-direita dirá o mesmo pois nem de longe nem de perto quer ser maculada por ideais revolucionários ou jovens inconformados.

Perante a forma como o Bloco tem atuado, desde que se tornou suporte do governo socialista, ancoro o meu pensamento nos eruditos de outros tempos que, da experiência, extraíram máximas: “Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.” – Abraham Lincoln ou, séculos antes, “Dê o poder ao homem, e descobrirá quem realmente é.” – Maquiavel. Neste caso substituir-se-ia a palavra “homem” por “partido” e o resultado será idêntico.

 Quando se voltou a falar da aplicação dos decretos saídos em 2006 e 2009 que obrigavam à limpeza dos terrenos por causa dos fogos, considerei, como tantos outros, que era uma medida excelente face aos acontecimentos do ano passado. Porém, dada a psicose vivida e ampliada pelos órgãos de comunicação, fui-me apercebendo de que autarquias e particulares foram muito além do estipulado por lei, e se antes vários hectares de terreno estavam abandonados mas com vida, agora estão definitivamente mortos. Tudo isto porque neste afã de limpezas, não só se destruíram habitats da avifauna, como se cometeram verdadeiros atentados contra a flora e exemplares protegidos ou em vias de extinção. Lá que a direita continuasse vesga até se tolera, que o partido socialista não veja, já é habitual, agora que o B.E. não ouça nem fale vai muito além do que é expectável de um partido dito de esquerda. A mesma posição foi assumida quando a questão dos aumentos aos assessores políticos veio para a praça pública, não tendo também havido qualquer tomada de posição sobre relatórios e auditorias não divulgadas, digam elas respeito a assuntos nacionais como o caso dos grandes incêndios ou a resultados das auditorias à Santa Casa da Misericórdia sejam eles favoráveis ou não ao anterior provedor.

Já em termos de políticas de educação, o pacto de silêncio mantém-se no que respeita aos programas de disciplinas nucleares seja em que nível de ensino for, os exames nacionais são unanimemente aceites e mais grave do que isso é que, se em círculos restritos já se fala que o governo se prepara para entregar de vez os cursos de dupla certificação a escolas privadas – e orçamento para o próximo ano aponta para isso – o certo é que o B.E. mantém a mesma posição silenciosa.

Por tudo isto e muito mais, sou levado a pensar que o B.E. não será verdadeiramente um partido mas sim uma agregação de vontades, com pessoas intelectualmente capazes mas em busca de uma identidade enquanto partido que não definiu, a priori, o seu espectro ideológico nem qual a missão, a visão e os valores pelos quais se pretende afirmar.

Para ser partido não basta a contestação sem ideologia, nem agarrar causas que de ideológicas pouco ou nada têm. É para isso necessário conhecer a realidade, não se deslumbrar com a proximidade do poder e, sobretudo, estar próximo dos contextos nacionais. Caso contrário, os membros do B.E. quedar-se-ão na contemplação onírica de uns instantes fugazes, sem se aperceberem que o tempo passa, e, quando caírem na realidade já terão cabelos brancos, rugas na testa e terão perdido todo o encanto porque deixaram a poeira cair-lhe nos ombros e não souberam sacudi-la a tempo.

Já agora, as questões ambientais não deverão ser ideologia e a preservação das espécies terá de ser um desígnio de todos para o nosso bem, dos que vierem e da humanidade, com a certeza de que, se cada um fizer o que lhe compete e pode no seu mundo, em breve haverá um Mundo diferente.        

INFEÇÕES HOSPITALARES

Na última viagem ao nordeste, estando bom tempo, fomos dar um passeio pela Vilariça e acabámos por encontrar e colher alguns espargos. Fomos logo à procura de mais. “Querida, vê além naquela espargueira grande, junto ao toro da oliveira” disse eu para a minha mulher. Por acaso não havia lá nenhum e, pelo contrário, encontrámos meia-dúzia deles por entre os seixos de uma velha parede. Não havia, mas era, seguramente grande a probabilidade que houvesse e por isso era correto procurá-los ali. Normalmente haverá mais espargos onde houver uma grande concentração de espargueiras.

O mesmo se passa com as infeções. Se alguém, por absurdo, pretendesse contrair uma infeção, o melhor lugar para a procurar seria, obviamente, num hospital. Porque é nos hospitais que se encontra o maior aglomerado de agentes patogénicos e, como tal, a probabilidade de ali se encontrar o “caldo” favorável e adequado para se ser infetado é enorme. A “auxiliar” este ambiente propício à contração de uma doença está o facto de os utentes destes espaços estarem, na sua generalidade, fragilizados por outras doenças e, muitas vezes, com o sistema imunitário debilitado. Paradoxalmente, os utentes procuram estas unidades com o objetivo oposto de melhorarem a saúde, debelarem moléstias e protegerem-se contra epidemias e demais riscos biológicos. Daí a importância do Projeto “STOP Infeção Hospitalar” idealizado, desenvolvido e implementado em 12 unidades hospitalares sob a direção da Fundação Gulbenkian e com o apoio da Direção-Geral de Saúde.

No passado dia 7, no Auditório 2 daquela Fundação foram apresentados os resultados com a comclusão da primeira fase em cerimónia onde, para além da Presidente do Conselho de Administração da FCG, estiveram o Ministro da Saúde e o Presidente da República. Os resultados ultrapassaram as melhores expetativas do ambicioso objetivo de redução em 50% em quatro tipos de infeções hospitalares (as diminuições foram de 51% nas infeções associadas a cateter vesicular e nas pneumonias relacionadas com a intubação, 55% nas cirurgias de prótese da anca e joelho e 56% nas ligadas ao cateter vascular central). No final foi assinado um protocolo com o Governo para continuar,  e consolidar esta iniciativa e alargá-la a outras unidades de saúde. Tendo o mais alto magistrado da nação reconhecido a gravidade do problema em questão, foi o titular da pasta da Saúde que constatou que “Nunca Portugal tinha alcançado resultados tão positivos numa batalha como esta”.

Este foi um dos programas que, desde o início, atraíram a minha atenção, não só pela importância, pelos intervenientes, mas, sobretudo, por entre as unidades escolhidas estar, desde a fase de arranque,  o Hospital de Bragança. Tive o prazer de cumprimentar, nesse mesmo dia à entrada da Conferência, no átrio do foyer do Grande Auditório, Carlos Vaz, presidente da ULSNordeste, e Eugénia Parreira, Diretora Clínica da mesma unidade. No dia seguinte em conversa com Jorge Soares, coordenador do programa, soube, com enorme satisfação, que a Unidade Brigantina tinha tido um dos melhores desempenhos. Estou certo que, a partir de agora, nos hospitais nordestinos, os utentes e os profissionais estarão muito mais protegidos e seguros, também no que às infeções hospitalares diz respeito. 

Partidos políticos ou associações de malfeitores?

Todos os portugueses que se prezam continuam a ter razões de peso e de sobra para se indignarem e picarem os maus governantes como quem pica mulas, não devendo limitar-se a dar um ar de sua graça apenas quando são convidados a votar. Só desta forma as coisas poderão mudar para melhor.

Que fique bem claro, porém e desde já, para que não haja lugar a más interpretações: conheço muitos distintos cidadãos e cidadãs e sou amigo preferencial de alguns, que militam em partidos políticos e desempenham cargos públicos com irrepreensível dignidade. E muitos mais haverá do que aqueles que eu conheço e de quem sou amigo. Esta não é a questão, portanto.

O problema reside no regime político que propicia tão graves desmandos e bafeja tantos artistas da corrupção porque confere aos partidos políticos o privilégio de serem apenas eles a governar. Donde resulta que a Democracia Liberal, ou Representativa, tal qual a conhecemos, todos os dias é maltratada pelos próprios partidos que açambarcam, estrangulam e viciam a função política, estando no poder ou na oposição.

Oposição que emudece, por regra, em matérias sensíveis como as que dizem respeito ao escandaloso descaminho do erário público por parte de caciques partidários e seus compinchas. Os partidos não se fiscalizam uns aos outros e antes tacitamente se congraçam e fazem valer como domínios imunes à Justiça.

Esta partidocracia opressiva é a verdadeira causa da imparável hemorragia financeira e moral do Estado, que agrava as desigualdades e abre caminho ao populismo subversivo e à ditadura, porque os partidos políticos trazem no ventre a tentação totalitária, o germe da corrupção e todos os apetites malignos que levam a democracia à ruína.

Partidos políticos que frequentemente dividem dramaticamente a Nação, entram em guerras intestinas, condicionam a Justiça, afugentam os cidadãos, manipulam a vontade dos eleitores, acoitam verdadeiros gangues no seu seio, privilegiam interesses privados em detrimento do interesse público, se alimentam do peculato dos organismos públicos que tutelam, provocam o endividamento incontrolado do Estado e vivem do nepotismo, do clientelismo e do tráfico de influências. E, o que não é menos grave, são incapazes de se unir em torno de projectos nacionais.

 É a vox populi, que assim fala!

É verdade que sem partidos políticos, por mais insignificantes que fossem, não haveria democracia verdadeiramente livre e representativa, o mesmo se dizendo de sindicatos ou de associações culturais, citados apenas como exemplos. Mas também é verdade que, quando como na situação vigente, apenas aos partidos é conferida a prerrogativa de governar, a democracia se transfigura na fraude monumental que se sabe. O mesmo aconteceria se, continuando com os exemplos, apenas os sindicatos pudessem eleger deputados à Assembleia da República.

Não basta, portanto, perante a gravíssima crise moral que o regime politico português atravessa, que uns tantos machuchos partidários (que só não sabem o que não querem), porque sentem o poder absoluto a fugir-lhes da mão em reflexo de casos perdidos na opinião pública, ou porque esgotaram todas as hipóteses de condicionar a Justiça, venham agora, tarde e a más horas, chorar lágrimas de crocodilo e proclamar-se envergonhados. Como também não tem sentido que a oposição, que desde a primeira hora guardou silêncio, só agora, na oportunidade, dê ares de indignação.

Gente desta categoria não sente vergonha, nem entende a dignidade, da mesma forma que o vulgar cidadão, pelo que terá outras inconfessas razões para tão estranho comportamento. Não é de espantar que também corra na opinião pública a ideia de que dinheiros manuseados na operação Marquês poderão ter beneficiado directamente o partido Socialista e que outros partidos, noutras circunstâncias, terão usufruído de dinheiros da mesma espécie. Estará agora a Justiça empenhada em investigar estas hipóteses por amor à democracia? Oxalá que assim seja.

A verdade é que a tudo continuar como está, os casos de corrupção vão continuar a acontecer, encobertos ou às escâncaras. Forçoso é, por isso, que os muitos militantes escorreitos dos actuais partidos se predisponham a refundar o Regime e a Reformar o Estado, abdicando do seu hegemonismo e, entre outras medidas fundamentais, abram o poder a instituições cívicas menos permeáveis à corrupção, designadamente às candidaturas independentes também à Assembleia da República e em pé de igualdade com as candidaturas partidárias.

Há mais e melhor democracia para lá dos partidos. E melhores governantes, também! De que têm medo os cabos partidários?

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

A “sementeira” tradicional das batatas

Ter, 15/05/2018 - 10:45


Olá familiazinha!

A Feira das Cantarinhas já lá vai, e este foi o primeiro ano em que eu não vi os típicos ramos de cerejas à venda, que embora ainda não estivessem totalmente maduras, eram sempre as primeiras do ano e por isso tinham um sabor diferente, além de já fazerem parte desta feira.

A nossa gente continua a puxar pelo lombo, como me disse a tia Maria Lúcia, de Pinelo (Vimioso), porque não arranja voluntários para fazer o trabalho dela.

Como a vida não são só alegrias, na semana passada deixou-

-nos a tia Maria Edite Cruz, esposa do tio João Castilho, de Bragança, que aos 64 anos partiu, depois de uma doença prolongada e muito dolorosa.

Os sentimentos para o nosso tio João Castilho e que saiba que, quando precisar de desabafar, somos milhares de ombros amigos à sua disposição.

Na semana passada festejámos a vida do tio Abílio (54), de Fonte Fria (Murça); André Pássaro (7), filho do nosso Carlos da Grua, emigrante na Suíça; Irene Hostettler (47), também emigrada na Suíça; tia Glória (65), de Alfaião (Bragança); tia Maria do Céu Lopes (68), de Freixeda (Bragança); tio José Bernardino (63), de Sacoias (Bragança); tia Anunciação (66), pastora de Milhão (Bragança) e o tio Hélder (40), de Barqueiros (Mesão Frio), filho do tio Isolino, emigrado na Áustria.

Saúde para todos e que para o ano voltemos a festejar-lhos.

Nesta edição vamos transcrever a participação radiofónica do nosso tio Belmiro dos Santos, de Grijó de Parada (Bragança), que foi muito apreciada pelo nossa família, onde nos conta a sua história verídica com as mulas da sua sogra.

Agora vamos à sementeira tradicional das batatas.