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SALVAR VIDAS: ESTÁ NAS SUAS MÃOS!

Anualmente, no dia 5 de maio, a Direção-Geral da Saúde comemora o Dia Mundial da Higiene das Mãos, de acordo com o projeto da Organização Mundial de Saúde “WHO Save Lives”, cuja linha orientadora é: “Lave as Mãos: Salve Vidas”. Este dia internacional destina se a chamar a atenção da população e dos profissionais de saúde para a importância da higienização das mãos, com o objetivo de melhorar as boas práticas a nível dos cuidados de saúde.

NÓS, TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - João Oliveira (relaxado em estátua em 1694-10-17)

O comissário Bartolomeu Gomes da Cruz procurou nos livros paroquiais de Carção o assento de batismo de João Oliveira, mas não encontrou. Foi à cadeia de Bragança onde estava presa Ana de Oliveira, (1) sua irmã, e esta lhe disse que João nascera por 1657, “em um lugar junto à vila de Mansilha de las Mulas, termo de Leão - Castela”, onde seus pais viveram alguns anos, no tempo da guerra da Restauração. Dele ficou ainda o seu retrato físico: “alto de corpo, grosso, cara morena, grande, redonda, olhos correspondentes a ela, cabelo negro, crespo e curto”. E ficou a memória de ter sido o único cristão-novo de Carção relaxado em estátua, no auto da fé celebrado em Coimbra em 17.10.1694.

António de Oliveira, e Catarina de Leão foram seus pais. O casal residiu em Izeda (2) e a família repartia-se ainda por Vimioso, Carção e Argozelo, indo, mais tarde, aumentar a emigração para Castela. De regresso à pátria, António Oliveira fixou-se em Carção, onde foi “obrigado do açougue”.
Em Carção se criou o pequeno João Oliveira que depois casou com Catarina Lopes ou Pires e ali assentou morada, dedicando-se à criação de sirgo e fabrico de seda. E tinha também uma criação de sirgo na aldeia de S. Martinho do Peso, termo da vila de Penas Roias, atualmente do concelho de Mogadouro, onde assistia às temporadas, especialmente no verão, acaso por ali haver maior abundância de alimentos.

Na sequência das denúncias de celebração “pública” do Kipur em Carção, nos anos de 1688 e 1689, bem como das noticiadas “missas” judaicas celebradas pelo seu primo Domingos, também João Oliveira e Catarina Pires, sua mulher, foram mandados prender pela inquisição de Coimbra, em 21.5.1691. A ordem foi dada ao comissário da inquisição Bartolomeu Gomes da Cruz que dessa honrosa missão encarregou o padre Ciríaco Annes, da vizinha aldeia de Santulhão. (3)
Planeou o padre Ciríaco proceder às referidas prisões na igreja, no decurso da missa do domingo, 17 de junho. Prendeu apenas a mulher, já que ele não estava. Disse-lhe aquela que João tinha ido buscar folha de amoreira para os bichos, mas que à tarde regressaria a casa. Não esperou o abade. Meteu-se a caminho da vila de Algoso e ali, deixou a prisioneira, entregue ao juiz de fora. Meteu-se depois a caminho, em busca de João. Foi encontrá-lo no caminho entre Algoso e Campo de Víboras, em sítio “ermo e despovoado”. Vinha conduzindo uma égua carregada com sacos de folha de amoreira.
Astuto, o abade cumprimentou-o e pediu que fosse indicar-lhe o caminho para a aldeia de Matela. Anuiu o criador de sirgo, certamente a custo, pois tinha de voltar para trás. Andaram a distância de um tiro de pistola e João, depois de apalpar os bolsos, disse que perdera o lenço e que tinha de voltar atrás a procurá-lo. Aceitou o padre, tentando nele inspirar confiança. Porém… breve topou que Oliveira se distanciava e não voltaria. Antes cortou as cordas da carga e deixou cair os sacos de folha, montando a égua e pondo-se em fuga pelo monte. Espicaçou o padre a sua égua, em perseguição do fugitivo, que apanhou. Envolveram-se então em luta feroz, corpo a corpo.
A história foi contada com todo o colorido pelo próprio padre e repetida por seus amigos e correligionários como o padre da vila de Algoso. Saboreiem um pouco da sua prosa:
- Tanto que viu que o dito padre se vinha chegando a ele, puxou da espada, requerendo-lhe que se fosse embora, que o deixasse; e com esta deliberação se apeou o dito padre puxando de uma catana que trazia e investiu e estiveram por espaço de meia hora brigando, tirando-lhe muitas estocadas (…) e lhe tirou a espada da mão e tratou de o prender com umas cordas, de pés e mãos, para melhor segurança… (4)
Devia ser forçudo e destemido o abade. Ou teria o Oliveira algum escrúpulo em o trespassar à espada? Facto é que, estando o padre a atar-lhe as mãos e os pés, João Oliveira ripou de uma navalha e “com ela lhe deu duas facadas, uma por baixo da teta esquerda, e penetrante, de sorte que por ela saía a respiração e outra da mesma parte, junto ao quadril; e vendo-se ele dito padre mortalmente ferido…”
Terminou a luta com o Oliveira a deixar no sítio o chapéu, a casaca, a espada e a sua bainha, enquanto o padre pegava na dita espada e, com a mula pela rédea, incapaz de montar, e se dirigia para a estrada. Logo apareceu um homem de Campo de Víboras, com um jumento carregado com duas “saqueadas” de pão que ali deixou para montar o abade no jumento e levá-lo à vila de Algoso onde foi assistido por um cirurgião, pois “vinha todo extravasado de sangue” – no dizer do pároco de Algoso.
Obviamente que de tudo se fez mais tarde um inquérito, com o padre Ciríaco a fazer uma descrição dramática dizendo que apenas queria “um confessor para se confessar e dispor de sua consciência por entender que poucas horas tinha de vida”. João Oliveira, por seu turno, foi visto passar pelo sítio da Fonte do Ladrão, picando a égua e dizendo: “anda égua dum cabrão, para me livrares desta ocasião”. Ali foi conhecido por uma tal Reyna que andava segando para Domingos Vaz, a quem contou que “o conhecera muito bem, indo a cavalo em uma égua vermelha, sem capa, nem chapéu, nem espada (…) e lhe disse que ia para Sendim”. Na verdade não tomou o caminho de Sendim mas o de Uva e Palaçoulo, onde o avistaram também, internando-se depois em Castela.
Claro que a inquisição sempre foi muito generosa para os seus fiéis servidores e, por isso, logo que a notícia do caso chegou a Coimbra ordenaram os inquisidores ao comissário Bartolomeu da Cruz (5) “que da parte desta mesa o busque, significando-lhe o nosso sentimento e mandando-lhe acudir com os cirurgiões mais peritos e médicos necessários e medicamentos que uns e outros lhe receitarem e o familiar Manuel Cardoso de Matos (6) concorra com o dinheiro necessário e a seu tempo mandaremos satisfazer o que se houver gastado”. Em resposta, diria o padre Ciríaco que “beijava os pés de Vossas Senhorias pela honra que lhe deram e que se achava já muito melhorado e livre de perigo e a ferida quase sã; e oferecendo-lhe todo o dinheiro que quisesse para satisfazer aos cirurgiões e mais gasto, o não quis aceitar”.
E pouco mais temos a dizer sobre o consequente processo instaurado a João de Oliveira, pelo tribunal do santo ofício de Coimbra, concluído com a sua condenação à morte, queimando-se a sua “estátua”. Logicamente, a “bandeira” com o seu retrato foi pendurada na igreja da terra de sua morada e seria a única que ali ficou depois do célebre roubo dos sambenitos de Carção, de acordo com o testemunho de Maria Cordeira, dizendo:
- Eram muitos, chegavam da parte da epístola até ao altar de Santo António e da outra parte ainda estava um que era de João de Oliveira que queimaram em estátua, que foi o que deu as facadas no padre Ciríaco de Santulhão e foi este que mais tempo ficou na parede da igreja, pois não tinha parentes no lugar. (7)
Notas:
1-Certamente que Ana de Oliveira estava na cadeia de Bragança à espera que se organizasse a leva de prisioneiros para Coimbra. ANTT, inq. Coimbra, pº 1244, de Ana de Oliveira.
2-Em Izeda viviam também os pais de Domingos Oliveira, que foi relaxado, conhecido como o “rabi de Carção”. – NORDESTE, Jornal nº 1117, de 10.4.2018. Catarina de Leão apresentou-se voluntariamente na inquisição de Coimbra em 30.9.1667 – ANTT, inq. Coimbra, pº 6421, de Catarina de Leão. ANDRADE e GUIMARÃES – Carção Capital do Marranismo  - Associação Cultural dos Almocreves de Carção, Associação CARAmigo, Junta de Freguesia de Carção e Câmara Municipal de Vimioso, 2008.
3-IDEM, pº 2173, de Catarina Pires, a Lebrata, de alcunha. Saiu condenada em confisco de bens, cárcere e hábito perpétuo, no auto da fé de 17.10.1694.
4-IDEM, pº 9411, de João de Oliveira.
5-Bartolomeu Gomes da Cruz era natural de Caminha, reitor da colegiada da igreja de Santa Maria de Bragança. Foi-lhe passada carta de comissário do santo ofício em 1689 – ANTT, Habilitações, mç. 2 doc. 51.
6-Manuel Cardoso de Matos, boticário, morador em Miranda do Douro, casado com Maria Rodrigues, obteve carta de familiar do santo ofício em 1676 – ANTT, Habilitações, mç. 27, doc. 623.
7-IDEM, pº 7503, de Tomás Lopes.

 

... de Tradição em tradição...

Recorda a D. Maria Antónia, que já conta 101 primaveras, os tempos onde, através da porta deste forno comunitário majestoso, eram cozidas as peças moldadas pela sua mãe, e outras louceiras a laborar neste ofício, na freguesia de Pinela. Com saudade, ainda vislumbra de madrugada o seu pai carregando a mula com pratos, panelas, cântaros, cantarinhas, púcaros e barrinhões rumo à Feira da Torre Dona Chama que dista em cerca de 46km.

A utilidade da louça era de tal ordem que, na década de 1950, encontravam-se em atividade centros oleiros nas aldeias de Vila Boa de Carçãozinho, Paredes e principalmente Pinela.  Nesta última, existiam seis louceiras (D. Maria Carolina Caravela, D. Eufêmia de Jesus, D. Laura Caravela, D. Encarnação dos Anjos, D. Felicidade Afonso e D. Maria de Cândida Afonso).  Além das lides da casa, estas Mulheres ainda regavam as suas hortas e ajudavam os seus maridos quantas vezes o fosse necessário. A olaria colmatava os poucos tempos livres, e permitia contribuir para o equilíbrio financeiro destas famílias que vendiam as suas produções nos concelhos de Bragança, Macedo de Cavaleiros, Vinhais, Vimioso e Mirandela.

Na década de 1970, o distrito de Bragança já só conta com dois centros oleiros. O primeiro no Felgar (Moncorvo) e o segundo, em Pinela (Bragança).

Em 1980, esta Tradição já só subsiste, no concelho de Bragança, através da D. Maria de Cândida Afonso conhecida como “pichorra”. O seu legado cumula agora com o de todas as louceiras, mulheres das suas casas, e Mães partidas para a Jerusalém Celeste.

Um estereótipo onde, entre a pobreza e o sacrifício, sobressaem a resistência e resiliência, aliado ao amor pela criação, pelo desejo de ser útil, e de servir destas mulheres transmontanas.

Foram com mãos duras, firmes, mas com toque macio, que se moldaram utensílios e autênticas peças de arte utilitárias. Nesse entretanto, foi com o “jeito” e paciência que estas mulheres aproveitavam para voar nos seus sonhos e mergulhavam nos seus pensamentos mais íntimos, enquanto os seus corações exprimiam, através das suas mãos, as vontades do subconsciente.

Com abril em caminho e maio a chegar, recordamos este passado com a mesma saudade que a D. Maria Antónia pois como ela, vimos a Tradição transmutar em tradição. A modernidade transformou o barro em porcelana, os carros de bois em automóveis, a produção artesanal em indústria mecanizada, automatizada e sujeita a um mercado cada vez mais globalizado e de massa.

Com abril em caminho e maio a chegar, vislumbramos a célebre Feira das Cantarinhas. Um certame secular que contribuiu e contribui, ainda hoje, para o desenvolvimento económico do Concelho de Bragança. Se outrora as louceiras escoavam nelas as suas produções para fins utilitários, assistimos hoje à transmutação desta cantarinha para um artefacto decorativo com profundo significado cultural e emocional.

A Tradição transmuta em tradição através das mãos da última oleira (D. Julieta Alves) da freguesia de Pinela que, através da sabedoria transmitida pelas suas antepassadas, mantém viva a chama das suas memórias, honrando o compromisso de perdurar a mestria deste ofício em via de extinção. Felizmente, este ano, não faltarão na feira as tradicionais cantarinhas.

Dir-me-ão que a tradição já não é o que era. Pois bem, não será preferível vê-la transmutar do que extinguir-se? - Eu prefiro.

Entendo ser dever dos Municípios, das Juntas e Uniões de Freguesias e principalmente das populações valorizar, proteger e procurar ser o recetáculo da Tradição sob pena desta sumir juntamente com as memórias dos nossos antepassados. Se uma das grandes questões existenciais assenta sobre o facto de nos questionarmos donde vimos, não descuremos o facto de sabermos quem fomos e, consequentemente, quem somos.                                            

Com abril a caminho e maio a chegar, o dia da Mãe na esquina espreita. Com ele, e para todas as Mães que, como as louceiras de outrora moldaram com Amor e educação retratada pelas suas mãos gastas, firmes mas ao mesmo tempo macias, os seus filhos. Ousemos dirigir-lhes um profundo agradecimento e reconhecimento, onde quer que estejam, pelo verdadeiro significado da palavra: Mãe.

Alex Rodrigues

Bibliografia:
- Francisco Manuel Alves – Memórias Arqueológico-históricas do distrito de Bragança, 1938.
- Belarmino Afonso – A cerâmica artesanal no distrito de Bragança, sua diversidade e extinção global, 1982.
- Artes e tradições do nordeste – Exposição (Catálogo), Mirandela, 1987.
 

“Já tenho a horta posta!”

Qua, 02/05/2018 - 16:37


Olá familiazinha!
Já entrámos em mais um mês de 31. É o quinto do ano e tempo de puxar bem pelo lombo. Além disso, Maio é o mês das flores e dedicado a Maria.
A Primavera já nos trouxe o Verão e no fim-de-semana passado, voltou a trazer o Inverno. Por isso também se voltou a fazer cinza.
Recordam-se de vos falar na Ana Beatriz, de cinco anos? Depois da operação, o nódulo foi extraído e parece que tudo voltou à normalidade. Entretanto tem falado para o programa, para mostrar a sua gratidão a todos quantos pediram por ela. Quem também nos deu conta da sua preocupação foi o nosso tio Sebastião José Eira Velha, de Cernadela (Macedo de Cavaleiros), visto que a sua neta, de 24 anos, está entre a vida e a morte, depois de ter sofrido um enfarte. Claro que a nossa família não se esquecerá dela nas suas orações e oxalá que em breve vos possa dar boas notícias.
Na passada semana, além do nosso tio Francisco Gomes, de Santalha (Vinhais), que comemorou um século de vida, também estiveram de parabéns a tia Maria Vieira (66), de Seixo de Ansiães (Carrazeda de Ansiães); o tio Fernando Correia (77), de Zava (Mogadouro); a tia Maria Lúcia (60), de Pinelo (Vimioso); o tio Óscar (40), de Couto de Ervededo (Chaves); a tia Sofia Machado Castro (56), de Sendim (Miranda do Douro); o tio Gualter, de Agrochão (Vinhais); a tia Justina Ferreira (81), de Grijó de Parada (Bragança) e, por fim, o filho da tia Maria da Perna Gorda, de Castelãos (Macedo de Cavaleiros), que veio ao mundo há 44 anos, à hora e no dia da revolução dos cravos. Parabéns a todos e que continuem a festejar a vida connosco.
Neste número vamos falar das “hortas postas” e homenagear o nosso tio centenário e também relembraremos as tradições do primeiro dia de Maio, que ainda se mantêm em algumas das nossas localidades.

LEGADO DO TIO SAM

A Base das Lajes traz-me de imediato à memória a célebre cimeira que carimbou a polémica e injustificada decisão de invadir o Iraque que fomentou e potenciou a escalada do radicalismo islâmico cujos efeitos nefastos estão ainda a atormentar-nos e a infernizar o dia a dia da atualidade. Dos participantes nessa reunião de má-memória, começa a ocupar-se o tempo, com o esquecimento que a história reserva a muitos dos seus menores atores e a irrelevância crescente dos que não souberam dar adequada dimensão às oportunidades que lhes foram disponibilizadas. Do terreiro ocupado pelas tropas americanas na Praia de Vitória, há agora que cuidar da contaminação ali perpetrada ao longos dos muitos anos de ocupação militar. E já não seria pouco para tão mitigadas “compensações”. Há, contudo, neste acordo de parceria com o outro lado do Atlântico, um “pequeno pormenor” em que o displicente interesse norte-americano pode, mais uma vez, representar um sério e grave prejuízo para os interesse lusitanos e para os superiores interesses nacionais.
Entre outros, um dos resultados das trapalhadas, incompetência e submissão ao poderoso loby das armas, do presidente Bush-filho, foi a infame prisão de Guantanamo, que o mesmo se encarregou de fazer ocupar por vários acusados, justa ou injustamente, de atos de terrorismo, fosse na sua execução, conceção ou cooperação. Não tenho pretensão de julgar quem quer que seja, muito menos, quem foi preso ilegalmente e mantido em cativeiro de forma desumana, mesmo que assumindo que possam ter cometido todos os crimes que lhe são imputados. Contudo tal não me pode impedir de ter as minhas convicções. Tenho para mim que a maioria dos ocupantes do presídio americano em solo cubano são radicais islâmicos ou porque já o eram quando ali foram retidos ou porque se radicalizaram fruto da revolta contra os seus captores e da convivência com muitos extremistas.
Barack Obama foi eleito a prometer encerrar a célebre prisão. O máximo que conseguiu foi dispersar parte dos prisioneiros por países amigos. Companheiros, desde o referido almoço da ilha Terceira em que o nosso primeiro-ministro de então resolveu ser anfitrião em nome e a mando do dirigente ianque, tocou-nos em sorte receber um dos encarcerados a quem foi concedida a “libertação”. Em agosto de 2009 foi acolhido em Portugal, Moammar Badawi Dokhan, capturado em 2002, sob a suspeita de pertencer à Al-Qaeda do Afeganistão. Desde então reside no nosso país, vigiado de perto pelas autoridades policiais portuguesas. Foi uma dor de cabeça para o DCIAP receoso que o sírio pudesse protagonizar alguma ação terrorista quando da visita do Papa a Portugal no ano passado levando em boa conta a revolta pela situação em que se encontra, revelada pelo próprio, numa entrevista ao Diário de Notícias.
Confio que o patrulhamento das autoridades policiais será eficaz, sem deixar de referir o custo acrescido da vigilância especial que lhe é dedicada. Não quero crer que possa haver um atentado no território português levado a cabo pelo ex-preso. O custo da possível perda de vidas é de um valor incomensurável, não havendo forma de o medir pelo que nem me atrevo a equacionar.
Contudo a simples existência de um possível gérmen de uma célula terrorista pode, só por ser possível, como esta é, configurar um prejuízo de uma dimensão enorme! Portugal atravessa uma fase positiva de desenvolvimento quer ao nível económico quer, sobretudo, ao nível de emprego. Um dos principais motores é, sem qualquer dúvida, o turismo. É verdade que temos bom tempo, simpatia, boa comida e bom acolhimento. Sempre tivémos. Não houve acréscimos significativos nem em termos absolutos, nem relativos. Aconteceu que muitos dos destinos tradicionais perderam ou viram diminuir drasticamente a segurança para pessoas e bens, enquanto que em Portugal se manteve. E esse sim é, provavelmente, o maior e mais precioso ativo lusitano. Perdê-lo ou diminui-lo teria consequências dramáticas!

O 25 de Abril ainda não passou à História

Três acontecimentos notáveis balizam a História de Portugal no século passado, dois dos quais são comemorados no mês de Abril: a batalha de La Lys, assim designada porque ocorreu no vale da ribeira de La Lys, na região da Flandres Francesa, no decurso da I Grande Guerra, com trágico fastígio no dia 9 de Abril de 1918 e, 56 anos mais tarde, o golpe de estado militar de 25 de Abril de 1974, que desencadeou a chamada Revolução dos Cravos.
Entrementes, mais precisamente a 18 de Dezembro de 1961, eclodiu outro inglório evento da História de Portugal - a Invasão de Goa, que as forças armadas indianas designaram por Operação Vijay, ou da Libertação de Goa, realizando-a por terra, mar e ar com forças esmagadoramente desproporcionadas, e pondo termo à presença portuguesa de quase 500 anos na chamada costa do Malabar, mais concretamente em Goa, Damão, Diu e outros locais menos conhecidos.
Todavia, é a batalha de La Lys, na qual o exército alemão infligiu uma derrota demolidora às tropas portuguesas que é considerada o maior insucesso militar depois da batalha de Alcácer-Quibir, que ocorreu em 1578.
O golpe militar de 1974 foi o derradeiro acto da vulgarmente designada Guerra Colonial, Guerra do Ultramar ou Guerra de África, que as forças opositoras preferiam chamar de Guerra de Libertação e que encerrou, definitivamente, o império português, o quinto império, o império místico de Pessoa e outros notáveis.
Três acontecimentos militares relevantes, portanto, que tiveram os seus próprios heróis e também, verdade seja dita, muitos mais de quem se costuma dizer que não reza a História.
Tenha-se em conta que “herói” é quem protagoniza ações de extrema coragem e abnegação, sem motivações egoístas, sempre em benefício de outrem e com respeito por princípios morais e éticos, podendo ser-se herói civil ou militar, na paz ou na guerra.
O herói mais celebrado de La Lys é sem dúvida o transmontano soldado Milhões, mas muitos outros houve que, muito embora não sejam assim tão conhecidos, também cometeram actos de insuperável coragem e abnegação, dos quais destaco os flavienses coronel Bento Roma e capitão Ribeiro de Carvalho que, entre outros feitos notáveis, efectuaram raides temerários às linhas inimigas fazendo prisioneiros.
Também na Invasão de Goa se cobriram de glória o comandante Cunha de Aragão que comandava o aviso Afonso de Albuquerque e que foi gravemente ferido, o segundo-tenente Oliveira e Carmo, comandante da Lancha Veja e o alferes Santiago de Carvalho, que morreram em combate.
Quanto ao 25 de Abril propriamente dito, não se poderá em rigor afirmar que teve heróis porquanto os riscos eram insignificantes face às reduzidas forças opositoras, para lá de que as motivações principais dos seus intervenientes foram fundamentalmente de natureza pessoal e corporativa e não patrióticas, na verdadeira acepção da palavra.
Poderá dizer-se, todavia, que o 25 de Abril ainda não passou à História, porquanto nem tudo já está escrito com a necessária isenção, justiça e rigor científico. Os factos estão consumados, é certo, as feridas do corpo saradas mas as mágoas da alma de muitos que no Ultramar viveram ou combateram, ainda não.
Uma coisa é certa, porém: quer em La Lys, quer em Goa ou em 25 de Abril, os militares portugueses foram os bodes expiatórios redentores das más políticas prevalecentes, devendo realçar-se que por três vezes as Forças Armada Portuguesas se assumiram como verdadeiras forças de libertação.
Assim foi em 25 de Abril com o golpe de estado que abriu as portas à democracia, assim foi em 25 de Novembro quando libertaram Portugal da barbárie anarco-comunista e assim foi anteriormente nas derradeiras guerras do Império, quando rasgaram estradas, edificaram escolas e hospitais, dispensaram cuidados médicos, promoveram desenvolvimento e harmonia racial e garantiram a paz em todas as povoações, grandes ou pequenas. Panorama esse que regrediu tragicamente quando a retirada se operou, dando lugar à fome e à miséria generalizadas e a guerras bem mais cruéis e devastadoras.
As Forças Armadas Portuguesas da Guerra do Ultramar foram, sem dúvida, o exército mais humano de que há memória, servido por milhares de heróis brancos, negros e amarelos, que merecem ser justamente glorificados e nunca aviltados. Pessoalmente sinto o maior orgulho em ter integrado as suas fileiras.
São estas Forças Armadas que, lamentavelmente, mais uma vez, os políticos de hoje, civis e militares, persistem em ostracizar, até ao dia em que, de novo, precisem de carne fresca para canhão.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

 

Cumprimentos

Minha gente, como tendes passado? Essa saúde? As andorinhas já se instalaram em força? Este ano promete, oxalá cheguemos ao castanho sem nos andarmos a queixar da falta de água. E se, ao contrário do ano passado, nos pudesse trazer já uns belos punhados de cerejas cairia que nem ginjas. Viva a Primavera e toda a cor e renovação que ela nos traz. Viva a luz radiosa do sol que é uma coisa que deixa sempre os portugueses particularmente bem-dispostos e com vontade de procurar uma esplanada para matar a sede. E viva Abril por todas as coisas que nos tem permitido construir. Hoje dedico-me principalmente a esta última parte, a do viva Abril. O 25 de Abril é pouco mais do que uma efeméride e uma efeméride é uma data meio perdida no tempo como quando um primo afastado faz anos e nós às vezes lhe damos os parabéns, outras não, e a vida continua sem por isso mudar um centímetro sequer. Aquela cerimónia com a Assembleia cheia de cravos, uns eventos ou exposições meias despercebidas pelas bibliotecas do país, um ou outro post no facebook sem grande emoção, pouco mais. O pessoal conta aquela do se fosse hoje a revolução tinha começado numa qualquer rede social, depois uns faziam likes outros não, nas ruas montes de fotos com bonequinhos e orelhinhas de coelho… Vão faltando palavras e imaginação para assinalar a data. O episódio repete-se ano após ano e acaba por perder a piada. Salva-se o feriado e com sorte uma ponte pelo meio. Estava a ler um artigo sobre os filmes censurados antes do 25 de Abril e era do género “este não porque tem pornografia” (um beijo), este não porque “os portugueses não vão conseguir interpretar” (essa cambada de burros, os professores bem lhes carregam mas nem assim eles aprendem), este nem pensar porque “sugere um amor entre duas mulheres” e isso coloca “severamente em causa a moral de uma sociedade conservadora” (estamos aqui estamos a fazer paradas gay em Bragança, uma sem vergonhice pegada). Bem, é ridículo de mais para ser verdade, mas foi-o mesmo durante tanto tempo. Depois há aquelas pessoas que dizem à boca cheia que dantes é que era bom. Não havia sequer direito de reunião, de associação ou livre expressão, mas essas pessoas desbocadas por natureza iriam conseguir certamente encontrar alguma forma de serem felizes. No entanto, em vez do orgulho em espalhar aos sete ventos “a minha filha é formada”, anunciariam com o mesmo brilho nos olhos “a minha filha sabe ler e escrever, foi até à 3ª classe”. O céu é o limite para ela e para a sua geração. Depois há os que insistem em salientar que falta cumprir Abril. Como se Abril viesse com uma missão encomendada tipo agente dos Serviços de Informação ou fosse aquele senhor da Nazaré que veio cá para nos salvar. Por acaso não estava a falar do americano do surf, mas do que andava por cima das águas sem precisar de prancha. Também se escreveu há uns tempos que faltava cumprir-se Portugal e Portugal, que eu tenha reparado, ainda não se cumpriu por aí além. Quanto muito vai-se cumprindo aos soluços e aos solavancos. A não ser que o cumprimento fosse ganhar o Europeu e a Eurovisão e pronto, está feito. Se calhar tenho andado um pouco distraído. Por isso não sei porque é que Abril carrega esse peso. Abril simplesmente abriu as portas como um porteiro de discoteca… Não, ao contrário, como um guarda abre as portas da saída da prisão. Agora faz o que quiseres, é contigo. E não fez pouco, deixem-me que vos diga, tendo em conta o estado em que a coisa estava. Vai, cai, levanta-te, mas sê feliz. Pelo menos tenta. Abril e o próprio Portugal, as duas únicas coisas eternamente por cumprir neste país. Não sei porquê esta constante ideia de algo inacabado ou imperfeito. Está bom mas falta-lhe um pouco mais de sal, eu gosto dos ovos mexidos mas dispenso a alheira, eu não lhe punha tanta cebola, para mim é um carioca de limão. Bem, não vale a pena porque afinal faz parte. Faz parte desta coisa de ser português e quanto a isso... É verdade, três, o défice. Também nos falta sempre cumprir o défice. Não há volta a dar. Quatro, o código da estrada. Também está sempre mal cumprido. Bem, é melhor parar por aqui. Abril trouxe liberdade. Só isso já é razão para um grande “viva”. Abril trouxe pelo menos outro paradigma para fazer as coisas. E sobretudo trouxe Europa, modernidade, desenvolvimento, mudança. É admirável como um país tão confrangedoramente atrasado a todos os níveis consegue após 40 anos desenvolver-se ou aprovar leis que estão na vanguarda do mais progressista que se legisla no mundo. Portugal vai-se cumprindo à sua maneira e, apesar da caminhada ser sempre longa e espinhosa, tem hoje razões de sobra para estar feliz. Eu vivo num país onde cabe 20% da população mundial, mas em que nenhum cidadão tem liberdade sequer suficiente para escrever abertamente um artigo tão perdido no mundo e inofensivo como o que acabo de escrever. Em que nenhum cidadão pode ter pelo menos a ilusão de que pode decidir o futuro do seu país através de um voto. Em que grande parte dos direitos fundamentais do meu país são aqui meras quimeras por sonhar. Eu dou valor. Viva Abril e viva a liberdade. Sempre!

 

O trabalho e a dignidade humana

Qua, 02/05/2018 - 11:10


A nossa relação com o trabalho não anda longe da que mantemos com o pecado original que o primeiro livro da Bíblia carregou com tons de tragédia irremediável, renovada a cada geração chegada a este mundo para se confrontar com um horizonte de má sorte de que só se libertará para além da dor, depo

Futuro do Grupo Desportivo de Bragança decide-se esta quinta-feira

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Ter, 01/05/2018 - 23:02


O Grupo Desportivo de Bragança vai a votos esta quinta-feira (dia 3 de Maio). Os sócios do emblema brigantino vão eleger o sucessor de Manuel Martins para um mandato de dois anos. Frente a frente estão a lista A, encabeçada por Batista Jerónimo, e B, liderada por Milton roque. 

Mirandela recebeu a edição mais participada de sempre dos Jogos Nacionais Salesianos

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Ter, 01/05/2018 - 22:23


Mirandela recebeu pela primeira vez os Jogos Nacionais Salesianos. Além da prática desportiva e dos valores que a ela estão associados, o evento é um verdadeiro ponto de encontro e de convívio entre jovens de vários pontos do país e de Cabo Verde.