Henrique Pedro

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As vacas e as moscas

O Admirável Mundo Novo ideado em 1931 por Aldous Huxley e para o qual caminhamos a passo estugado, não terá vacas, podemos agora augurar.

Mas também não será um mundo livre de moscas porque, paradoxalmente, os ambientalistas mais fervorosos

declararam guerra ao bife mas ignoraram os insectos que justificam os aerossóis.

Este assunto poderá fazer rir mas deve ser tomado a sério porque as amorosas vaquinhas estão a ser acusadas de serem as maiores produtoras de gás metano que, na opinião de cotados cientistas, é o grande responsável pelo aquecimento global e correlativas alterações climatéricas.

Razão pela qual os ambientalistas que agora enfatizam o papel do metano e minoram o do carbono (vá-se lá saber porquê), se atiram à carne de vaca como gato a bofe, reclamando que seja banida do cardápio dos humanos. Pobres cães e gatos e demais carnívoros que se alimentam exclusivamente de ruminantes!

Aparentemente o destino de bois e vacas está traçado, muito embora durante milénios tenham contribuído decisivamente para o progresso da Humanidade puxando carros e arados, tocando moinhos, malhando cereais e transportando deuses e mortais no seu dorso robusto.

Não admira, portanto, que em certas civilizações como na egípcia e na hindu, a vaca tenha ganho estatuto de divindade. Sem esquecer que foi uma vaquinha que com o seu bafo aqueceu o Deus Menino, no presépio. Gesto que hoje seria considerado, por certo, um gravíssimo contributo para o aquecimento global.

Vacas que os ambientalistas radicais inexoravelmente condenam a desaparecer da superfície da Terra porque, com o advento dos motores de explosão, deixaram de ter outra utilidade que não seja a produção de leite e carne agora considerada perniciosa. Desajeitadas que são para animais de companhia nem a sola dos sapatos as salvará, o que dá pena!

Fim inglório e injusto porque, em boa verdade, não são as vacas que ameaçam a vida na Terra. São, isso sim, os humanos que se multiplicaram fisicamente mas não cresceram espiritualmente conforme era vontade do Criador.

Substituíram a força de bois, vacas e muares pela dos motores de explosão e apostam agora em cocktails de petróleo, pastilhas radioactivas e pasteis de plástico para substituir os lacticínios e os pratos de carne bovina.

A verdade é que os grandes poluidores não são os ruminantes. São os automóveis, os tractores, os navios, os aviões, as indústrias e o comércio.

Não iludam o problema, portanto: o maior desafio que a Humanidade enfrenta é a mudança do sistema energético que implica ciências, tecnologias, economias e políticas e que passa pelo abandono do petróleo que não é inesgotável, nem renovável.

Acresce que a água que os ruminantes bebem e a erva que comem a devolvem à Natureza por inteiro. Ponham-lhes máscaras no focinho, ou onde melhor lhes parecer, para recolher o metano que expelem e não haverá razão para os excluir do biossistema.

Para lá de que erradicar a fome continua a ser um problema emergente pelo que dispensar o leite e a carne de vaca não é de todo sensato.

Que os humanos se deliciem por muitos séculos com a suculenta posta mirandesa, com conta, peso e medida, são os meus votos.

E que as amorosas vaquinhas continuem a enxotar as moscas com o rabo. Ainda que as moscas valham milhões.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Uma maioria absoluta que mete medo

Não há memória de haver uma ameaça de maioria absoluta tão assustadora.

Maioria absoluta que deve ser tida e respeitada como democrática, independentemente das vantagens ou dos inconvenientes que dela poderão, ou não, advir.

 Maioria absoluta que, lamentavelmente, ganhou, entre nós, por razões fundadas, um labéu profundamente negativo.

Tudo porque no permissivo regime político português instituições fundamentais como sejam os Tribunais, a Assembleia da República, a própria Presidência da República e os organismos reguladores, são ainda mais despudoradamente menorizadas e manipuladas pelos Governos, em função de interesse pessoais e partidários, quando dispõem de maioria absoluta.

Sobretudo agora que se diz que António Costa está à beira de a alcançar, quando a esquerda radical foi enxotada do poder em que aboborou à sombra da Geringonça e a direita se arrasta, sem tino, pelas ruas da amargura, os perigos que a maioria absoluta traz no ventre são, aos olhos da generalidade dos eleitores, mais assustadores do que em nenhuma outra circunstância.

Disso está ciente o próprio primeiro-ministro que procura ganhar votos de todas a formas e feitios, dando-se mesmo ao desfrute de arriar no governo que José Sócrates chefiou e do qual ele foi o ministro mais poderoso, numa hábil tentativa de despistar tal receio e disfarçar tal desejo.

Gesto que vários analistas consideraram uma encenação circunstancial, tacitamente concertada com o próprio José Sócrates que poderá ser um dos principais beneficiários da maioria absoluta, se ela se vier a concretizar.

A maioria dos portugueses tem, por estas e por outras, fundadas razões para temer a maioria absoluta tão desejada por António Costa quando, paradoxalmente, o próprio se ufana do sucesso do seu governo minoritário.

Temem os portugueses que a posse e aproveitamento abusivo de cargos governamentais e da administração pública e autárquica por famílias e correligionários socialistas se intensifique sem regra nem decoro.

 Temem que o combate à corrupção continue cinicamente iludido e que os crimes de traição à Nação cometidos por políticos e banqueiros fiquem definitivamente sem punição.

Temem que um governo socialista de maioria absoluta aumente perigosamente a dívida pública e a ineficácia dos serviços, como é seu timbre, contrariamente ao que apregoa.

Temem que a tenebrosa ideologia do género ganhe força nas escolas e acabe por dominar toda a sociedade portuguesa.

Temem que o islamismo intolerante saia de Lisboa com o apoio governamental e alastre a todo o país, acabando por, a prazo, liquidar a cosmopolita cultura portuguesa historicamente prevalecente e que desde sempre assentou no mais genuíno multiculturalismo.

Temem o cinismo político de António Costa que, porque não tem oposição à altura, ele mesmo encena a oposição ao seu próprio governo, invocando habilmente tudo o que até hoje não fez mas que agora mais uma vez cinicamente promete fazer, sendo certo que, uma vez senhor de maioria absoluta é absolutamente certo que o não fará. É o caso do investimento no Interior em geral e em Trás-os-Montes em particular.

Uma maioria absoluta que mete medo, portanto. Por tudo isto e por muito mais que fica por dizer.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

 

A novíssima Ideologia do Género

De entre as ideologias que continuam a inflamar o discurso político nos países democráticos destacam-se o socialismo e o fascismo.

Sobretudo porque a História da Humanidade regista, de forma indelével, tragédias planetárias protagonizadas pelo comunismo, a modalidade mais radical do socialismo, e pelo nazismo, a versão mais tenebrosa do fascismo.

Ideologias que ironicamente nasceram na velha Europa que, contrariamente, não produziu nenhuma grande religião muito embora tenha evoluído, positivamente, por força da doutrina de Cristo, no quadro de uma mais vasta civilização cujas raízes remontam a gregos e romanos.

Por tudo isso, foi já uma nova Europa a disseminar os princípios políticos e sociais prevalecentes no chamado mundo livre, do qual não fazem parte os países muçulmanos e os remanescentes regimes comunistas que se apresentam imunes às pérfidas ameaças que impendem sobre as sociedades democráticas.

É neste quadro que ganha agora força uma filosofia diabólica conhecida por Ideologia do Género, que defende a legalização da pedofilia e a licitude das relações sexuais incestuosas, designadamente entre pais e filhos, para lá de proclamar que os indivíduos podem e devem ser eles próprios a escolher o seu género sexual, contrariando o que a natureza à nascença determinar.

Ideologia do Género que fez o seu aparecimento formal, ainda que dissimulado, no cristianíssimo Portugal, pela mão do governo socialista de António Costa e com o beneplácito do Presidente da República (pasme-se!), que promulgou a lei da Autodeterminação (note-se bem!) da Identidade de Género.

Governo que, surpreendentemente, acaba de levantar mais uma ponta desse véu nebuloso com a publicação de um diploma que claramente promove a promiscuidade e a disputa sexual nas escolas.

Com tão controversa medida, António Costa não meteu o socialismo na gaveta, onde há muito tempo apodrece pela mão de não importa quem. Foi antes a civilização que ele meteu na retrete, de tão obcecado que parece andar com a maioria absoluta.

É que o diploma em causa, contrariamente ao que dizem os seus autores, legaliza a devassa e o enxovalho da intimidade sagrada das crianças transsexuais, a quem crucifica nos logotipos das portas das retretes escolares. Para lá de que converte as escolas em pequenos mundos orwellianos, sendo de prever que, em breve, entre outras bizarras actividades, também as paradas “gays” farão parte dos curricula escolares.

Ideologia do Género que, sem que se saiba a que poderes humanos ou sobrenaturais obedece, é apresentada subtilmente mascarada de humanista e progressista, para posteriormente reclamar as atrás citadas legalização da pedofilia e legitimação das relações incestuosas, reduzindo a família à função de procriar, sabe-se lá o quê.

Ideologia do Género que não serve, seguramente, o ser humano, antes conduz à destruição sub-reptícia da civilização ocidental e ao aniquilamento da própria Humanidade.

Ideologia do Género que não deve ser tratada como um mero facto político, como o PSD e o CDS o fizeram em clima de campanha eleitoral, até porque não pode ser qualificada de esquerda ou de direita, ainda que esteja a ser astuciosamente promovida pela mão sinistra.

 

Este texto não se conforma com o novo

Acordo Ortográfico.

Arte de Costa e graça de Marcelo

Portugal tem um Presidente da República que foi eleito à primeira volta com 52 % dos votos entrados nas urnas, ainda que apenas 24,75 % do eleitorado lhe tenha dado crédito, sendo que 51,34 % se absteve.
Não é desse que falo.
Refiro-me a um santo homem, anjo da guarda de António Costa, o político sagaz que ousou pôr a Geringonça a funcionar e com ela surfar as ondas de feição.
António Costa, consagrado ilusionista que encanta camelos e serpentes sem se deixar morder, caminha descalço sobre brasas incandescente sem se queimar, engole sapos e espadas sem se agoniar e, com um estalar de dedos, converteu o Estado numa agência socialista familiar.
Hábil político palaciano, sem dúvida, mas governante inábil, como ficou demonstrado nos roubos de paióis, nos incêndios florestais, nos escândalos governamentais, nas greves dos professores e dos enfermeiros e agora na dos camionistas em que, mais uma vez, foram os ministros a dar a cara (e uma no cravo e outra na ferradura), sendo altamente preocupante constatar que o PS não resiste à tentação totalitária que cresce no ventre da maioria absoluta.
Também porque o feito maior de António Costa depois da Geringonça foi converter à sua doutrina, promovendo-o a guardião mor da sua capelinha, o santo homem Marcelo, em tempos um brilhante analista político agora transfigurado em avalista governamental. 
É São Marcelo que, com sandálias de peregrino e rosários de selfies na mão, incansavelmente calcorreia Portugal de lés a lés, aplaudindo os melhores truques do mágico Costa e silenciando os seus fracassos mais estrondosos. 
São Marcelo que contemporiza com o descalabro da Justiça nos processos de corrupção, desobstrói as veredas sinuosas que conduzem a extrema-esquerda ao poder, exorciza os diabos da direita moribunda (de cujo alforge esfarrapado ele mesmo, um dia, caiu desamparado) e, por reflexo, franqueia o palco à extrema-direita, convicto de que assegura a estabilidade política varrendo o lixo do Regime para debaixo do tapete.
São Marcelo, padroeiro do Regime em que pontificam traidores da Nação e cujo maior ferrete é a política de alterne, mascarada de alternância democrática, agora em vias de acabar, embora o negócio continue florescente e sem concorrência. 
Quando nenhum serviço público funciona como deveria São Marcelo tudo abençoa com a água benta e a presunção que António Costa toma quanta quer.
Se os portugueses se queixam da Saúde lá está São Marcelo para dourar a pílula. Se há problemas no Ensino apressa-se São Marcelo a virar os professores contra a parede. Se a Segurança Interna derrapa de pronto São Marcelo desautoriza os polícias.
São Marcelo que frequentemente mete o nariz onde não é chamado, embora, quando lhe convém, meta o rabo entre as pernas.
Qual cana que brada no deserto democrático é escutado por multidões embevecidas, como se de Quim Barreiro ou de António Variações se tratasse, indiferente ao descalabro do Estado e ao descrédito do Regime, que continua partido e engessado.
Paradoxalmente, os portugueses andam felizes mas descontentes. 
Arte de Costa e graça de Marcelo. 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Um País indefeso

A engrossar o já extenso rol de queixas e lamúrias que continuam a abater-se sobre o Governo, veio agora a público, gaba-se-lhe o atrevimento, o almirante Silva Ribeiro, Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, topo da hierarquia militar.

Entre outras coisas de interesse nacional, Silva Ribeiro disse que “ o Exército tem carência de 4 mil praças ”, caceteando João Cravinho, ministro da Defesa que, enchouriçado, se apressou a desautorizar publicamente o almirante amotinado.

Silva Ribeiro, porém, podia e devia ter dito muito mais, fosse ou não inconveniente para o Governo e para ele próprio também, designadamente que as Forças Armadas nacionais têm soldados a menos e generais a mais.

Devia, se para tanto tivesse rasgo, ter posto em causa o utópico Conceito Estratégico de Defesa Nacional vigente, (do qual decorrem o Conceito Estratégico de Defesa Militar, o Sistema de Forças e suas Missões, bem como o Dispositivo Territorial), que privilegia Forças Armadas convencionais, permanentes, excessivas e enviesadas, ignorando a exiguidade do Território, o virtuosismo da Nação e a penúria do País.

E podia ter ido mais longe, ainda, dando a conhecer à Nação, o que só lhe ficaria bem, que Portugal é, faz tempo, um país indefeso e que vai continuar a sê-lo nas próximas décadas. Depois se verá!

Evidência que não foi comprovada, felizmente, por episódios de guerra recentes, mas ninguém poderá garantir que não venha a sê-lo, ainda que não se deseje. Porque, como é sabido, os conflitos militares acontecem quando menos se espera, enquanto a organização e a preparação para a guerra requerem décadas de antecedência. Sem esquecer a consagrada divisa latina atribuída ao romano Flávio Vegécio :“Si vis pacem, para bellum” (“se queres a paz, prepara-te para a guerra”), que continua a ter plena actualidade.

Portugal é um país indefeso, seja a ameaça militar ou dos elementos. Não é indefensável, porém, se a sua defesa for atribuída à Nação. Se todos os cidadãos de maior idade, com condições de saúde, independentemente do género, estiverem aptos a usar armas em defesa do país, devendo para tanto receber a adequada preparação e treino militares regularmente e em tempos livres, o que nada tem a ver com o tradicional serviço militar obrigatório.

À semelhança da República Suíça, exemplo por demais conhecido, que não possui forças armadas regulares, antes baseia a sua defesa terrestre numa milícia composta por todos os cidadãos de sexo masculino com idades compreendidas entre os 20 e os 42 anos, com os militares de carreira reduzidos a um pequeno núcleo de não mais de 1000, aos quais estão atribuídas as missões de treinar os milicianos e de assegurar o comando nos escalões superiores.

Modelo que possibilita que a República Suíça, que tem uma população de pouco mais de 7 milhões, mobilize, em menos de 48 horas, mais de 200 000 mil militares, devidamente equipados, armados e treinados, o que é impensável com o modelo português em apreço.

É óbvio que os desafios que hoje se colocam à Proteção Civil, designadamente os incêndios florestais, teriam soluções bem mais económicas, transparentes e eficientes.

Para lá de que os custos de implementação deste conceito de defesa de inspiração suíça seriam bem menores do que os requeridos para o Conceito Estratégico de Defesa Nacional português em vigor, que não será viável nos tempos mais próximos.

Se é que algum dia o virá a ser.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

 

Destruindo a Democracia democraticamente

A quatro meses de novo acto eleitoral a demagogia eleitoralista já é avassaladora. Persistem em destruir a Democracia (e Portugal), democraticamente. Prioritário, é endrominar o povo e arrebanhar votos.

No derradeiro debate da legislatura, Governo e deputados discutiram entre si e com mais ninguém, o monstro político, económico e financeiro que tomam por Nação, sendo que o futuro do País não constou da ordem do dia.

Uns e outros entenderam não distinguir o Estado da Nação e intencionalmente confundiram Sistema Democrático com Regime político. Um esquema bem urdido, como se vê.

Convém lembrar-lhes que os portugueses sabem que um Estado, soberano, pressupõe um povo, um território e um governo responsável pela organização e pela administração política, económica e social. E, já agora, com suficiente poder legítimo para fazer cumprir as leis e não só.

Já a Nação é universalmente entendida como uma comunidade estável, que possui Historia e Língua próprias e, acima de tudo, aspirações materiais e espirituais comuns. Uma Nação poderá não ter governo nem território próprio mas um Estado tem que ter, forçosamente, uma Nação. O Estado português assenta numa Nação com História e dignidade.

A Democracia, por seu lado, é um sistema político em que, no mínimo, há separação de poderes e os cidadãos elegem, livremente, os seus representantes nos órgãos de poder.

A democracia não elege ditadores mas poderá eleger demagogos e corruptos, o que vai dar ao mesmo, dado que poderá concertar-se em regimes políticos de duvidosa democraticidade, como é o caso português.

Na Assembleia da República, mais uma vez, não se debateu o estado da Nação em particular e muito menos o estado do Estado, em sentido lato.

Aos deputados não lhes interessou analisar, com seriedade, a situação da Nação porque teriam que evidenciar o abandono preocupante da Língua Pátria, a pobreza da cultura e da arte nacionais, a degradante educação cívica, a emigração dramática, o inquietante envelhecimento populacional, o persistente desinteresse dos portugueses pelos actos eleitorais ou o prestígio vergonhoso dos políticos e, sobretudo, os milhares de cidadãos que vivem abaixo do limiar da pobreza. Matérias que não lhes tiram o sono porque não rendem votos.

Também não lhes interessou falar no deficiente regime político porque teriam que se auto responsabilizar pela corrupção, pela asfixiante hegemonia partidária, pela obtusa lei eleitoral e por muitas outras ruindades. Astuciosamente limitaram-se a baralhar números e a tornar a dar como se a democracia fosse um jogo de sorte e de azar em que apenas o poder está em jogo.

Portugal está um poucochinho melhor, é certo, mas muito longe de estar bem, o que não iliba o Governo de fiascos a toda a linha. Tanto assim é que os serviços públicos vitais continuam a não responder convenientemente e quando aconteceram tragédias foi a solidariedade nacional que valeu mas acabou defraudada.

Pior mesmo só se António Costa ganhar as próximas legislativas com maioria absoluta: a Democracia ficará mais emaranhada, a Justiça mais entorpecida e o Governo mais perigosamente familiar.

 E Portugal mais próximo do abismo da dívida pública.

 

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

O míssil GRECO

Um novo míssil radioactivo de vergonha e humilhação acaba de ser lançado sobre o palácio de S. Bento, coração da Assembleia da República e do Governo, abalando fortemente os pilares do Regime. 
Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, e todos os deputados sem excepção, saltaram nas cadeiras com o sopro, sendo de prever que nas próximas sessões apareçam pintalgados de mercurocromo, a marca da Geringonça, e enfaixados com inócuos diplomas anticorrupção. 
Particularmente  mal  tratado  ficou  o  seu  vizinho e  correligionário,  o  primeiro-ministro  António  Costa,  que,  atordoado,  se  manteve  mudo  e  quedo  para não agravar mais a situação.
Tal foi a amplitude do abalo que se fez sentir no próprio palácio de Belém, deixando o beijoqueiro Marcelo Rebelo de Sousa seriamente chamuscado e sem fala. Tanto assim é que, distante do povo que apaparica com abraços e beijos, ao ser interpelado pela deputada espanhola Melisa Rodriguez, (que na pessoa do Presidente da República claramente humilhou todo o Estado português,) não conseguiu disfarçar as mossas que a bomba lhe causou. 
Que fique bem claro, porém, que a organização responsável pela deflagração não é nenhum movimento terrorista ou sequer populista. Bem pelo contrário: trata-se do Grupo de Estados contra a Corrupção (GRECO), do Conselho Europeu, que tem por missão melhorar a capacidade dos seus membros na luta contra a corrupção. 
Organismo que acaba de tornar público um relatório que estilhaça a competência e a seriedade dos políticos portugueses já que refere que, em dois anos, das 15 recomendações para que Portugal reduzisse os riscos de corrupção, apenas uma foi completamente implementada, três apenas o foram parcialmente, restando onze por implementar. 
Relatório que qualifica o regime político português ainda pior que o da Turquia (pasme-se!), quando todos pensávamos que estava mais próximo da Suíça ou da Islândia. Uma vergonha inqualificável. 
Relatório que reforça palavras recentes de Ramalho Eanes, prestigiado ex-Presidente da República, sobre a corrupção e dá crédito à opinião da não menos prestigiada ex-Procuradora Geral da República, Joana Marques Vidal, que afirmou publicamente haver “redes que capturaram o Estado”.
Perante tão evidente opressão, não seria de espantar se um qualquer partido genuinamente de esquerda se propusesse libertar a Nação por meios radicais, ou mesmo se um mais sentido “capitão de abril” tomasse a iniciativa de marchar sobre S. Bento. Tal seria excessivo, em qualquer caso. O mesmo se não diria se o Presidente da República dissolve-se a Assembleia.
 Marcelo Rebelo de Sousa, porém, fica-se pelas habituais considerações abnóxias para não perturbar o arraial e nem ao menos tem o rasgo de dirigir uma mensagem inequívoca e perentória à Assembleia da República, que é uma sua prorrogativa fundamental.
Não é de admirar, portanto, que António Costa, que por todos os meios tem tentado resgatar os fantasmas do governo Sócrates de que fez parte, embalado pela desgraça do PSD e confiante na atávica credulidade dos portugueses, esteja de novo a apostar na maioria absoluta. 
Que Nossa Senhora de Fátima afaste dos portugueses tal cálice!

Este texto não se conforma com o novo Acordo
Ortográfico.

A Assembleia da República dos Animais

Não é, sequer, o exemplo mais significativo: entre 1987, data das primeiras eleições europeias e 2019, ano das mais recentes, a abstenção saltou de 28% para 70%, o que indicia um claro e continuado fracasso do Regime político vigente. Por este andar apenas os militantes partidários e demais arregimentados, irão votar.

Trata-se de um sapo que os políticos continuam a engolir sem pestanejar, que lhes retira autoridade para representar quem quer que seja e governar seja lá o que for, mas não os demove da vidinha alegre e airada que a política lhes proporciona. A maioria sente-se como peixe na água pelo que, a coberto da mítica estabilidade política, se devota a garantir que tudo continue como está. Marcelo Rebelo de Sousa é um deles.

Enquanto Presidente da República incitou, sem êxito, os portugueses a ir às urnas, mas no rescaldo de mais este estrondoso desaire da democracia apenas se declarou preocupado com a hipotética crise da Direita. O que nos leva a pensar que para Marcelo de Sousa os abstencionistas são de Direita e que as demais desgraças do Regime, assim como o descalabro da generalidade dos serviços públicos, não merecem a atenção do Presidente da República. Ficamos sem saber se é o analista político que opina se o estadista que se demite.

Como se isto não bastasse Marcelo de Sousa reduz a Direita ao PSD, este sim claramente em queda, e ao CDS que está como sempre esteve, mas esquece que o PS, cuja vitória, nas próximas eleições legislativas inoportunamente augurou, também é de direita desde que Mário Soares meteu o socialismo na gaveta, pese embora António Costa, em desespero de causa, se ter concertado com Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, que por sua vez atiraram os pruridos ideológicos às urtigas, para juntos pedalarem furiosamente pelas autoestradas do capitalismo, montados na Geringonça.

No decorrer desta patriótica refrega Rui Rio veio a terreiro discordar do analista Marcelo de Sousa argumentando que a crise é do Regime. Não deixa de ter razão ainda que as aflições do PSD nada tenham a ver com as maleitas da democracia.

Pena é que o inefável líder do PSD não tenha tido tino para apresentar publicamente, aos eleitores e aos competidores, um pacote completo de reformas contemplando, por exemplo, as candidaturas independentes à Assembleia da República, já que a constituição de novos partidos apenas parece servir aos trânsfugas dos partidos tradicionais. Lamentavelmente, ficou-se pela ideia peregrina, avulsa, de reservar cadeiras vazias no Parlamento. Caiu no ridículo pois então.

 Imagine-se uma Assembleia em que os deputados debatem com cadeiras desocupadas, poiso de fantasmas, que não são de esquerda ou de direita, nem votam a favor ou contra. Melhor avisado teria andado Rui Rio se nas cadeiras vazias sentasse animais, antes que o PAN se apodere da iniciativa.

Teríamos assim uma Assembleia da República surrealista, maioritariamente composta por animais políticos, digníssimos cães, gatos e jumentos, entre outros, devidamente amestrados para ornear delicadamente, levantar a patinha e votar.

Perante tanta tontaria só apetece mesmo sair à rua e gritar: candidaturas independes à Assembleia da República. Já!

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Apita o comboio, lá vai a apitar…

Não são os toques de buzina do barco nem os apitos do comboio do Tua que incomodam os transmontanos. É o ruído ensurdecedor da notícia de que já não arrancam no presente ano como fora prometido, havendo mesmo receios de que tal possa não acontecer nos tempos mais próximos.

Jornais e rádios regionais deram o devido ênfase a tão frustrante notícia cujo eco ressoou por montes e vales e principalmente nos corações mirandelenses. As redes sociais regurgitaram de comentários sarcásticos e as conversas, públicas e privadas, carregados de azedume e ironia, foram mais que muitas. O caso não é para menos porquanto, quando já se esperavam turistas a rodos, um rio de desilusão tomou o seu lugar.

Pedro Marques, então ministro do Planeamento, veio a Vila Flor e Mirandela abrilhantar, agora melhor se vê com propósitos meramente eleitoralistas, a assinatura dos papéis relativos a tão prometedor empreendimento, que era suposto garantir a tradicional mobilidade das populações por via ferroviária e abrir portas ao desenvolvimento regional, como nunca se vira, pela via do turismo.

O mais certo é o ministro Pedro Marques ter deixado, por esquecimento ou premeditada intenção, alguns papéis por assinar talvez para que também o primeiro-ministro António Costa, ou alguém por ele, tenha o ensejo de vir pôr o preto no branco, ou novamente no cinzento, com igual pompa e circunstância, agora em vésperas das eleições legislativas.

O carinho que António Costa diz votar ao Interior em geral e a Trás-os-Montes em especial é, de facto enternecedor. Dir-se-ia mesmo, uma verdadeira canção de embalar.

O problema, porém, não se confina ao enguiçado Vale do Tua. Tem dimensão regional e ganha agora acrescida relevância histórica porquanto tem a ver já não apenas com o ermamento crónico das Terras de Trás-os-Montes cada vez mais despovoadas, mas com a desertificação real que começa a ganhar foros de aflição.

Confirma-o a Associação Natureza Portugal, representante do Fundo Mundial para a Natureza que recentemente alertou políticos, empresas e cidadãos para o facto provado de que Portugal já está “a viver além da água que tem”.

No caso particular de Trás-os-Montes, a águas dos seus rios, que durante milénios correram livremente para o mar apenas condicionadas por moinhos e azenhas e pela rega, à míngua, de hortas e pomares, inunda agora cofres chineses com os lucros da energia com ela produzida, depois que foi aprisionada pelas barragens da EDP. Fala-se até que, a prazo, projectarão vender a litro este recurso fundamental, também àqueles que sempre dela usufruíram livremente, pese embora os perigos de desertificação serem agora reais.

Talvez este governo mágico e os que se lhe seguirem, pensem colocar beduínos e camelos a deambular, pachorrentos, nas areias nordestinas e hipopótamos e crocodilos nas albufeiras remanescentes, à laia de chamarizes turísticos.

Ironia à parte, urge proteger, armazenar e distribuir as águas transmontanas de forma mais ampla, eficaz e justa, sem esquecer que pertencem, prioritariamente, às populações residentes.

Que as sacholadas do passado penoso não dêem lugar a revoltas populares no futuro sombrio.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Roubar o Estado não é crime, é serviço público

A corrupção é porca de muitos leitões que chafurdam nas pocilgas partidárias, em pântanos de perfume e falsidade, de bem vestir e melhor viver.

Veio agora à tona uma nova porcada, a das autoestradas, em que estarão indiciados cinco membros do governo Sócrates que inadvertidamente terão caído nas malhas de pesca artesanal do Ministério Público.

Entretanto o país assistiu, mais divertido do que sério, à representação do reputado comediante Joe Berardo na Assembleia da República que, na opinião de conceituados analistas, teve a colaboração eventualmente dolosa de altos dignitários, pelo que terá muito mais que dizer e que se lhe diga, o que também explica o seu riso galhofeiro e ter feito gato-sapato das inocentes deputadas inquiridoras.

Este despropósito de Joe Berardo poderá custar-lhe, nada mais que isso, a perda das comendas com que foi agraciado por dois excelsos presidentes da República vigente. Mera cosmética, contudo, com que pretendem agora limpar a face do Regime.

Enfim. Mais uma vez a casa da democracia a funcionar como caixa-de-ressonância das misérias do Regime que nela se alberga e que muitos continuam a taxar de democrático e a relacionar com o 25 de Abril quando, verdade seja dita, nada tem a ver uma coisa com a outra.

Consagra-se, isso sim, o lema da mal-afamada elite política lusitana: Roubar o Estado não é crime, é serviço público.

Entretanto o presidente da República Marcelo de Sousa apelou encarecidamente, mais uma vez, ao voto e alertou para os riscos dos populismos, embora sem esclarecer a quais deles se refere, se ao de esquerda, se ao de direita, se ao do poder instalado que é o pior de todos porque é pai de todos os demais.

Caso para perguntar: Portugal é o que é e os políticos são o que são só porque os portugueses se abstêm de votar, ou será que os portugueses se abstêm porque os políticos são o que são e a democracia portuguesa é o que é?

A verdade é que os portugueses têm feito uso do voto válido de forma pouco sábia, raramente do voto nulo e do voto em branco, os mais devotos do voto a Nossa Senhora de Fátima para que salve Portugal dos maus governantes e maioritariamente do voto por abstenção, perfeitamente legal contrariamente ao voto obrigatório que seria um atentado à liberdade individual, se tal viesse a ser deliberado.

Imagine-se o que seria retirar aos digníssimos deputados da Assembleia da República a faculdade de se absterem, obrigando-os a votar ou sim ou não fosse em que circunstâncias fosse!

Querem agora fazer-nos crer que o Estado está finalmente a ser gerido com rigor, que o País progride a todo o vapor, que a Democracia não fraqueja, que a corrupção já passou e que todos os corruptos estão ser meticulosamente julgados.

Nada mais falso. A corrupção, que é mãe da abstenção e avó do populismo de que a democracia portuguesa anda grávida e está prestes a dar luz, é cada vez maior e mais sofisticada, a impunidade prevalece mas os políticos dão a entender que assim é que deve ser.

O voto só terá bondade, sentido e força se for capaz de forçar a real democratização do Regime.

 

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.