José Mário Leite

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O Paulo, o Álvaro e o Mário

É de tal forma frequente e banal que os partidos políticos mudem de opinião de acordo com a sua situação em relação ao poder que já não deviam ter qualquer crédito as referências, que ainda se atrevem a fazer, ao passado dos seus opositores. E contudo, continuam a fazê-las. E, pior que isso, a comunicação social (o novo Tribunal Popular) dá-lhes palco, cobertura e chega a arremedar-lhe alguma credibilidade que os satisfaz e incentiva. Já, por outro lado, as posições devidamente fundamentadas, genuínas, sem contraposições passadas, parecem estranhas e bizarras e sem qualquer lugar de relevo na imprensa falada e escrita. Conseguem, quando muito, uma nota de rodapé, para cumprir calendário e “serviço público”. Nada mais! Vejamos casos concretos recentes.
Anda aí uma roda-viva por causa de uns supostos SMS. Alegamente Mário Centeno terá dito, num deles que António Domingues estava dispensado de apresentar a sua declaração de património por causa da alteração ao estatuto dos administradores da Caixa. Eu gostava muito de saber quantos dos que hoje rasgam as vestes e batem no peito sabiam, antes da “denúncia” de Marques Mendes, que eftivamente havia uma lei com dezenas de anos que mantinha aquela obrigação. Aposto que muito poucos, para não dizer nenhuns. Se lhe perguntassem, numa roda de amigos se a obrigação se mantinha (quase) todos teriam dito que não. Provavelmente Mário Centeno também. Talvez o tivesse escrevinhado, se lho sugerissem, numa toalha de papel de tasco onde tivesse ido petiscar ou na areia da praia, em tarde de veraneio. Ou num SMS particular, se questionado dessa forma. E depois? Não o terá escrito em nenhum documento oficial, que são esses que obrigam o governante. Terá, garantem, omitido tal “crime”. Em benefíco próprio? Em benefício de familiares, amigos ou correlegionários? Não. Pelo contrário toda a atuação ministerial, ao que se sabe e sem qualquer desmentido mesmo pelos seus maiores detratores, tem sido orientado para o benefício da Caixa, do país e dos portugueses. Porquê então tanto alarido?

Por outro lado a comunicação social que brande os SMS como archotes em noite escura e fria, relegou para pé-de-página as declarações de Álvaro Santos Pereira que se referiu de forma muito clara e acertiva à célebre demissão irrevogável, garantindo que Paulo Portas, com o intuito e o objetivo de obter poder pessoal (o que conseguiu) fez “intriga e chantagem com um país numa situação dramática”. Todos sabemos o custo que teve para o país e qual o ganho político assim obtido. Provavelmente não escondeu nenhuma comunicação incómoda nem garantiu nada que não pudesse fazer. Mas isso não impediu o prejuízo nacional que a sua atitude egoísta e irresponsável causou. E porque é que a imprensa não relevou, não releva nem irá, seguramente, relevar tão reprovável comportamento?

É bom que, em ano de eleições, os presidentes candidatos tenham em boa conta que a legitimidade das opções de gestão que as eleições lhes conferiram têm de ser moderadas e limitadas pela ética que lhes deverá impedir que usem os meios municipais para promoção puramente pessoal!
O importante e fundamental para todos os governates, seja a que nível for, é a defesa intransigente do interesse superior daqueles que os elegeram e a quem representam. O devido reconhecimento e recompensa individual, quando existir, terá de ser consequência. Nunca o contrário.

Sustentabilidade energética

Alfândega da Fé pertence à Associação de Municípios do Baixo Sabor e, como tal, integra o conjunto de autarquias que participaram com a cedência de terras para a construção e funcionamento do Aproveitamente Hidroelétrico do sul do distrito. Participou, na medida do que lhe foi solicitado, no esforço necessário à instalação de um sistema ecológico e renovável de energia. Esta energia é necessária ao desenvolvimento regional e nacional, bem como ao bem estar e satisfação de muitas necessidades indispensáveis na contemporaneidade.
Ao contrário dos sistemas eólicos de produção de energia, as barragens têm várias vantagens sobre outras fontes energéticas, mesmo sendo renováveis, como as eólicas. As barragens promovem a diversidade da fauna e da flora, compensando algum inpacto negativo, provocado, necessariamente, pela grande alteração do espaço onde se instalam. São menos agressivas quer na vertente ecológica quer, sobretudo, na vertente paisagística. Promovem igualmente o aumento da reserva de água doce e potável, um recurso cada vez mais precioso. Falando em reserva evidencia-se a maior das suas vantagens que é a capacidade de armazenar energia, permitindo o seu uso apenas quando for necessário o que é de enorme importância no seu papel de regulação e estabilização da rede elétrica nacional.
Imagine-se um sistema de produção puramente solar. À noite não haveria energia. E se a captação da luz solar fosse suficiente em dias médios, nos dias de maior calor haveria muita energia que teria de ser totalmente desaproveitada a menos que se investissem avultadas somas de dinheiro em grandes armazéns de baterias elétricas.
Se o sistema fosse exclusivamente eólico passar-se-ia o mesmo nos dias de calmaria e nos dias ventosos, respetivamente.
Contudo se for usado um sistema misto, embora não resolvendo todas as falhas na totalidade, acrescenta eficiência a qualquer um dos métodos pois as noites ventosas e os dias de calor sem vento terão energia suficiente para uso. Este passo tem um significado especial, como a seguir se verá.
Não havendo armazenamento a chave de funcionamento do sistema é o equilíbrio. A produção tem de igualar o consumo.
Ora a sustentabilidade, ao contrário do que alguns pensam, defendem e promovem, não passa necessariamente no aumento da produção de energia renovável, mas na redução racional, mas substantiva do consumo. E, claro, na mistura dos sistemas de produção, ou, pelas mesmas razões, na partilha do consumo. Assim se obterá uma situação mais equilibrada, mais ecológica e mais sustentável.
Foi essa a aposta do município alfandeguense, segundo notícia apresentada neste mesmo jornal na edição da semana passada. A opção pela iluminação pública à base de LED e, sobretudo, a instalação de paineis solares para autoconsumo partilhado é, sem qualquer margem para dúvidas, a opção certa no que ao futuro ecológico convém experimentar, melhorar e promover. Estão pois de parabéns, não só a Presidente Berta Nunes por ter apostado neste projeto que além do seu potencial garantido tem um financiamento excecional de 95%, como o Diretor Executivo da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana e coordenador da Agência de Energia de Trás-os-Montes, eng.º Manuel Miranda!

SOPA DE PEDRA(O)

Pedro Passos Coelho resolveu chumbar a redução da TSU porque, segundo ele, o PSD não vai ser a bengala do Governo. O suporte das decisões governamentais tem de ser assegurado pela Geringonça e não deve ser esperado nenhum outro apoio, vindo de qualquer partido fora da aliança de esquerda. Seja qual for a ação, o projeto ou a deliberação. A bondade intrínseca da matéria em análise não interessa, desde que a sua contestação possa representar um sinal de desunião na plataforma de apoio governamental. Acrescenta ainda que, no caso em apreço, era ao Partido Socialista que competia assegurar o respaldo político para o acordo estabelecido na Concertação Social. Foi, segundo o líder social-democrata, o partido socialista que esteve a negociar na mesa onde o PSD não teve assento. Portanto eles que se desenrasquem e que se libertem desta enrascada em que se meteram.
Começam aqui os equívocos. O PSD é representado pela sua direção mas não fica confinado na vivenda de S. Caetano à Lapa. É verdade que não houve dirigentes dos militantes, mas os trabalhadores social-democratas estavam bem representados pela delegação da UGT que aprovou e assinou o acordo em questão.
A segunda confusão vem com a descabida história das bengalas. É público que o ex-primeiro ministro anda com dificuldade de afirmação dentro do seu próprio partido e começa a olhar por cima do ombro pois são vários os lugares de onde podem surgir desafiadores da atual liderança. Provavelmente por isso, Pedro Passos Coelho resolveu mostrar serviço na tarefa de se opor ao atual governo e, como tal, trata de suportar e apoiar tudo o que, no seu entender, possa abrir qualquer brecha na maioria parlamentar do governo. Pretende com isso abanar a Geringonça e dificultar a sua continuidade. Ora o erro de avaliação, neste caso, é clamoroso. Pelo contrário, a atuação desastrada e lesa-património partidário, como Silva Peneda veio alertar em carta aberta, acaba por ser o maior seguro de vida do acordo governativo. Se não vejamos: Cumprido o primeiro ano geringonçal, com a reversão das medidas mais contestadas à esquerda, todos os analistas são unânimes em clamar que havia necessidade de encontrar novo leitmotiv capaz de reanimar e solidificar a união dos partidos da ala esquerda. Ora quem o está a fornecer é precisamente o PSD. Contrariamente ao que quer fazer crer, ao apoiar a iniciativa do PCP ao lado do Bloco de Esquerda está a ajudar estes dois partidos pois que ao obterem ganhos concretos em determinadas causas, ganham espaço para poderem continuar a apoiar a governação socialista sem terem de alienar os seus militantes.
A crer no que a imprensa vai divulgando esta união (PSD-PCP-BE) vai acontecer em outras iniciativas. A situação começa a ser idêntica à do célebre frade que na zona da Almeirim tentava, em vão, obter esmola que lhe aliviasse a fome. Conseguiu-a usando uma pedra que lavou muito bem, fazendo crer aos aldeãos que ela seria o principal condimento da sopa que se propôs confecionar, servindo apenas de indês para obter todos os outros condimentos que eram, na realidade, os verdadeiros condimentos da refeição. Consumido o repasto perguntaram-lhe o que iria fazer com a pedra. A resposta pode muito bem ser parafraseada por Jerónimo de Sousa ou Catarina Martins:
– O Pedro, perdão, a pedra? Vou guardá-la para a próxima vez!

José Mário Leite

Quando José Sócrates ganhou as eleições em 2005 convidou para ministro das Finanças Luis Campos e Cunha. Com curriculum coniderável preparou, juntamente com o Primeiro Ministro, uma série de medidas, algums polémicas, tendo em vista a contenção do déficit que teimava ultrapassar os valores impostos pela União Europeia aos países integrantes da Zona Euro. Entre estas houve algumas que mexiam com a idade da reforma, com as reformas antecipadas em complemento com um aumento generalizado de impostos. Sendo Campos e Cunha beneficiário de uma generosa reforma pela sua passagem (durante seis anos) pela Administração do Banco de Portugal houve quem questionasse a moralidade da imposição de tais sacrifícios aos seus concidadãos. O Primeiro Ministro veio em sua defesa acusando os que o atacavam de visarem o seu assassinato de caráter.
Foi público e notório o esforço primo-ministerial para segurar o titular da pasta das Finanças. Inglório, pois, passado pouco tempo, a 20 de julho desse ano, Luis Campos e Cunha apresentou o seu pedido de demissão por “razões familiares, pessoais e de cansaço”. O episódio da publicitação da sua reforma de que não quiz abdicar, tempos antes, não passara de mera coincidência. José Sócrates lamentou a saída, agradeceu-lhe o contributo e elogiou-lhe o desempenho. Substituiu-o por Fernando Teixeira dos Santos, como é sabido.
Recentemente, Luis Campos e Cunha veio “revelar” que afinal a verdadeira (ou a principal) razão da sua demissão tinha sido a pressão do Chefe do Governo de então para que demitisse a Equipa Gestora da Caixa Geral de Depósitos de então. Será dificíl apurar se foi exatamente assim. Admitamos que sim. É louvável que o ex-ministro tenha deixado que se tenha instalado uma falsa opinião sobre si para proteger o Primeiro-Ministro de então. Sim, porque não pode ter sido para proteger nem a Caixa nem o Governo já que ao recusar a substituição proposta só poderia ter por motivação a convicção que a fórmula existente era melhor que a que lhe era proposta e que depois veio a ser efetivada. A ser assim, porque razão SÓ AGORA (e porquê agora) vem a público fazer revelação tão polémica? Que benefício tem hoje para o país, para a Caixa, para o sistema bancário, tal afirmação que, mesmo sem a contestar, teremos sempre de admitir poder ter uma outra versão (todas as moedas têm duas faces!) dado que ele mesmo afirma não a ter devidamente documentada? Não teria sido mais útil ter feito esclarecido este facto, na altura, não só para preservação do seu próprio bom nome (a que tem inalienável direito), mas igualmente prevenindo ou tentando evitar uma solução que lhe parecia na altura e que hoje confirma ter sido prejudicial para o erário público que os servidores do Estado devem ter como fim primordial? Não posso crer que seja apenas porque na altura José Sócrates era primeiro-ministro e estava no centro do poder situação que o colocava nos antípodas da que hoje tem.
Mais do que incompreensível e de duvidosa utilidade foi a “informação” que no final de um almoço com Armando Vara rasgou, na frente deste, a fatura respetiva que pagara em dinheiro. O que quiz significar com este gesto? Que se o não fizesse se sentiria comprometido com o ex-governante? Um ministro tem de ser uma pessoa idónea e a quem é creditada essa idoneidade. Não é possível outra situação. Se o almoço foi de trabalho, nada mais natural que fosse paga pelo ministério. Mas se, pelo contrário, considerou o repasto na esfera pessoal, bastar-lhe-ia pagar e guardar a fatura. Que significado atribuir à teatrealização de a rasgar na presença do seu convidado? E, sendo assim, o que pretende ao revelá-lo todos estes anos depois? Que utilidade tem tudo isto?
Lembrei-me de Mateus 6:3 “... que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita”

 

(In)constitucionalidades

Foram muitos os municípios que, por esse país fora, comemoraram os quarenta anos da realização das primeiras eleiçoes autárquicas. Alguns centraram as festividades e as homenagens à volta da Câmara Municipal, havendo outros que entenderam que o lugar adequado para celebrar a instalação do Poder Local Democrático seria a Assembleia Municipal. O vinte e cinco de Abril comemora-se na Assembleia da República e não na Sede do Conselho de Ministros. 
Qualquer uma das opções é válida e terá os seus defensores que, justamente, carrearão várias e válidas justificações para qualquer uma das opções.
Em Lisboa o dia doze de dezembro originou uma sessão solene no Fórum Lisboa, antigo cinema Roma e sede da Assembleia Municipal da Capital. De entre os vários oradores teve especial relevo a intervenção do Deputado e Vice-Presidente da Assembleia da República, Jorge Lacão. Em resposta e por antecipação a algumas críticas sobre a eleição e o modo de funcionamento das assembleias municipais, fez um historial do processo e da legislação eleitoral, cuja possível alteração, aparentemente dada por todos como necessária e conveniente, necessita de consensos alargados por se tratar de matéria constitucional. Fez aliás um paralelo com o que se passa em termos nacionais com o Poder Legislativo e o Poder Executivo. Uma das questões recorrentes, neste capítulo, passa pela formação de executivos resultantes de vitórias maioritárias ou de acordos pós-eleitorais, mas que sejam expurgados da oposição pois a co-habitação de todos os eleitos não faz sentido, enfraquece a forças opositoras e foi, segundo ele, um dos principais motivos da perpetuação de alguns autarcas. A limitação de mandatos, não sendo a mais adequada e eficaz foi o paleativo encontrado. O que faz sentido e é necessário é que, com reforço de poderes, a oposição fique na Assembleia e exerça aí o seu poder de fiscalização e controlo da atuação camarária. Igualmente anacrónica será a presença em total igualdade de condições e poderes, dos Presidentes de Junta, no Parlamento Local. À época em que foi criado, o modelo fazia sentido, pois havia a necessidade de unir, juntar, congregar esforços, a seguir à revolução do cravos, para consolidar a Democracia ainda jovem e com necessidade de amadurecer e crescer. Não o fará hoje. Foi lembrado que a intergração dos Presidentes de Junta distorce a vontade popular pois a composição da assembleia deixa de obedecer ao Método de Hondt. Que pode ter especial relevo num daqueles que é o principal ato de exercício do poder local legislativo: a discussão e aprovação do Plano e Orçamento. 
A propósito desta matéria o deputado foi muito claro. No seu entender a lei das Autarquias Locais tem uma disposição que, no seu entender, não respeita a Constituição. Trata-se do normativo que determina que o Plano e Orçamento é de elaboração exclusiva do Executivo, não podendo a Assembleia analisá-lo na especialidade e estando-lhe igualmente vedada a possibilidade de alteração. O documento aparece como um todo e é como um todo que é analisado e votado. Ora se atentarmos na Constituição Portuguesa, os artigos 161 (alínea g)) e 237 (n.º 2) que estabelecem respetivamente as competências de aprovação orçamental pela Assembleia da República e pelas Assembleias Municipais, respetivamente, não diferem entre si o suficiente para darem cobertura ao normativo da Lei da Autarquias Locais, nesta matéria. Portanto esta última estará ferida de inconstitucionalidade. 
Assim sendo, é necessário corrigir o erro. 
Sem mais!

COMPETÊNCIA E MEDIOCRIDADE

A António Domingues foi-lhe apontado, não só a sua obstinada teimosia na recusa em apresentar, ao Tribunal Constitucional a sua Declaração de Rendimentos, mas igualmente o salário milionário que lhe foi atribuído. Curiosamente, quando foi anunciada a sucessão do ex-administrador do BPI pelo antigo ministro da saúde o mesmíssimo salário, antes qualificado como anormalmente alto, deixou de ser considerado exagerado. E porquê? Porque Paulo Macedo passou por um processo de intenções idêntico quando a então ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, o convidou para dirigir a máquina fiscal com uma remuneração que, na altura, escandalizou meio-mundo. Não tardou que os seus detratores metessem a viola no saco quando os resultados apareceram e demonstraram que na balança do deve e haver a luxuosa contratação afinal foi um excelente negócio, um investimento excecionalmente rentável para o erário público. Mas se essa evidência anterior não tivesse sido patenteada nada nem ninguém evitaria que os epítetos dirigidos ao ainda presidente da Caixa Geral de Depósitos fossem replicados para o senhor que o vai substituir.
O que arrastou a Caixa para a situação grave que agora enfrenta não foram, seguramente, os salários do seu Conselho de Administração. Bem pelo contrário, foi a atuação inadequada e incompetente dos seus mais altos dirigentes.
Diz a implacável lei do mercado que o é melhor e mais vantajoso tem, naturalmente um valor maior, logo um preço acrescido. Se o que se pretende é contratar uma equipa com competências melhores que as suas antecessoras, é natural que a remuneração seja igualmente e substancialmente superior.
Nesta gama de salários, seja qual for o montante, haverá sempre quem pense, julgue e ajuize que é exagerado. Mas há uma verdade inelutável. Em tudo, mas principalmente em lugares estratégicos e de alto risco, a competência costuma ser cara. Mas é igualmente certo que, nesses locais, a incompetência acaba por ser muitíssimo mais. A melhor forma de economizar e acautelar os recursos comuns passa, seguramente por não poupar na remuneração da gestão de qualidade. De outra forma a delapidação pode atingir proporções épicas.
Quando alguém reclama a demissão de outrém ou tenta justificar o seu afastamento, alegando o “exagero” da sua remuneração, só mostra o caráter redutor da sua forma de pensar e racicionar.  Infelizmente, esta atitude vulgarizou-se sobretudo em gente pequenina, muito miudinha e com reduzida capacidade de reciocínio, que não consegue ver para além dos números de um salário mensal, demonstrando a sua incapacidade de distinguir um custo de um investimento. E isso sim, é sinal de incompetência. Quando a fundamentação se resume ao “exagerado” salário, demonstra bem a ausência total de “qualidade” de quem alardeia falta de qualidade a outrém.
É verdade que poderá haver grandes salários imerecidos. Haverá, seguramente, quem seja remunerado acima das suas reais capacidades e volume de produção. Mas, nesses casos, o mais fácil é, precisamente, apontar as falhas, as deficiências ou a baixa produtividade. Por isso mesmo quando o único argumento carreado é o valor da folha mensal, mais do que ao beneficiário, caracteriza e qualifica quem brande tal alegação.
Este é, sem dúvida, o fundamento dos medíocres, por não serem capazes de articular, com credibilidade, mais nenhum outro.

OH DIABO!

A Pedro Passos Coelho estão, insistente e repetitivamente a atirar-lhe à cara a sua desastrada previsão da vinda do diabo em setembro, sobretudo quando o governo geringonçal pôde apresentar resultados que, provisórios ou não, conjunturais ou definitivos, constituem autêntico hino celestial para os cidadãos em vésperas de se prepararem para a quadra festiva e consumista que se avizinha. Foi um erro grave do ex-primeiro ministro, sem dúvida. A sua incapacidade de antecipar o cenário que se aproximava uma evidência de um handicap sério para quem se prepara para regressar ao ringue da disputa para a liderança governativa. Também o é. Mas não são os mais graves nem os que mais o penalizam. Os seus erros e incapacidades não são de agora antes têm de ser procurados em tempos anteriores a factos que remontam a maio de 2010 quando o líder laranja pedia desculpa ao país pelas medidas do governo que não liderava. Nunca mais o fez apesar da aplicação, já da sua lavra, de muitas outras mais duras e dolorosas que depois veio a protagonizar. Não foi esse ato de humildade que o catapultou para a ribalta política lusitana. O seu primeiro erro foi exatamente esse. Não ter percebido a verdadeira razão pela qual foi o escolhido para liderar os destinos desta nação valente e imortal. E esta foi simples e clara. Em 2011, quando o resgate se tornou inevitável o antigo líder da juventude laranja veio dizer o que, obviamente, era necessário ser dito: que não tinha qualquer objeção em governar durante a intervenção do FMI. Ora se era o FMI que nos vinha evitar cairmos na bancarrota o que era necessário era uma chefia que encarasse essa situação de forma normal e natural. Coisa diferente e bem diversa era a vontade posteriormente revelada de ser mais papista que o papa demosntrando uma vertinginosa determinação de ir muito além da troica. Esse foi o seu segundo erro. Muitos outros se seguiram. A par disto veio o primeiro dos handicaps: a vitória nas legislativas acabou por se revelar mais fácil e concludente que o que era esperado. Isto privou-o da aprendizagem que as dificuldades e, ainda mais, os falhanços necessariamente trazem. É hoje uma verdade totalmente aceitável, nos cursos de empreendedorismo, mesmo na europa, já que nos Estados Unidos há muito que é um axioma: quem erra aprende melhor e de forma mais marcante. São vários os investidores que procuram e valorizam jovens talentosos que já tenham soçobrado numa ou várias iniciativas anteriores. Passos teve poucos revezes e chegou a primeiro-ministro sem, na verdade, ter harduamente trabalhado para isso. Foi fruto das circunstâncias. Aconteceu-lhe.
Tal como lhe “aconteceu” deixar de o ser depois de ter conseguido obter mais votos, para o projeto que liderava, do que o seu opositor. Depois dos vários erros cometidos no quadriénio em S.Bento, veio o erro maior e esse sim é o que nesta altura o atira para a cauda da apreciação dos portugueses. Decidir não apresentar uma única proposta durante a discussão do orçamento para 2016 foi-lhe fatal. Dizer que vem aí o diabo ou que estamos a caminhar para o abismo, passe embora o exagero, faz parte do papel reservado ao chefe da oposição. Qualquer coisa que corra mal poderá sempre dizer vêem como eu tinha razão? O problema é quando a coisa corre bem não ter uma única ação, um único gesto, um único contributo para poder também partilhar parte do sucesso, mesmo que não fosse fácil demonstrá-lo por a mais b. Ninguém o poderia impedir de reclamar que o que há de bom também se deve à atuação e participação do PSD.

O MEL E AS MOSCAS

De novo a minha crónica quinzenal vai beber num editorial do meu amigo Teófilo Vaz. O diretor do Jornal Nordeste, na sua edição de 25 de outubro, queixava-se da falta de eficácia dos políticos nordestinos no que toca às verdadeiras reivindicações que é suposto fazerem e levarem a cabo junto do poder central. Houve quem, com razão, reclamasse que é preciso distinguir o trigo do joio pois políticos há e houve que nada ficaram a dever à consciência nem se sentem em falta com os eleitores que neles confiaram. Ambos têm razão. É verdade que temos que prestar homenagem aos que se bateram e batem pelo desenvolvimento nordestino, não se cansando de reclamar no Terreiro do Paço tudo quanto falta a norte do Douro e a leste do Marão. Mas também é inegável que as carências são muito maiores que as soluções encontradas. Aos poucos que muito fizeram e fazem, juntam-se os muitos a quem o que mais interessa é a sua capela, o seu cantinho, a sua carreira e, muitas vezes, o seu partido. Essa é a principal razão da média baixa que traduz a fraca eficiência no carrear dos meios públicos para resolver os muitos problemas que atormentam o interior nordestino. É fácil concordar e subscrever que “nenhum autarca do distrito pode alhear-se de soluções capazes de dinamizar as atividades produtivas” e igualmente se sentir apreço por todos os “autarcas que procurem, queiram e saibam encontrar formas de cooperação para além do quintalzinho...”.

Contudo o desenvolvimento nordestino não pode fazer-se exclusivamente à custa e com base no investimento público. Há igualmente os empreendedores privados cuja atividade é cada vez mais importante e decisiva para o futuro comum. Alguns dirigentes locais já o assumiram e trataram de cativar e atrair investidores que suportem e dêm massa crítica aos seus projetos. Oferecem-lhe facilidades, ajuda, suporte e apoio.

Outros preferem destratá-los em locais públicos. Há até quem, supondo e invejando-lhes largos lucros, prefira ameaçá-los com taxas e impostos supondo imitar a Câmara Lisboeta que, recentemente, iniciou a conclusão do Palácio da Ajuda com dinheiro arrecadado em impostos turísticos. Esquecem que o nordeste não é a capital e que o que ali teve bons resultados pode ser dramático, se implementado por cá. Qualquer agricultor sabe bem que as árvores se podam quando são adultas e com excesso de ramagem; qualquer amputação, quando são jovens e em fase de desenvolvimento, pode ser-lhes fatal. Em termos de turismo, no nordeste, estamos, infelizmente, muito longe do tempo da poda. É altura de regar, arar, adubar e tratar com cuidado e dedicação.

O empreendimento privado tem livre arbítrio e é, por estas terras, escasso e disputado.

Se nuns locais é acarinhado e valorizado, enquanto noutros, pelo contrário é taxado e ameaçado, adivinhem onde será que qualquer empresário vai, naturalmente, investir os seus recursos?

PEDAÇOS DO NORDESTE NO CÉU DE LISBOA

Em conversa amena com um velho amigo, veio à baila o editorial que o diretor do Jornal Nordeste, onde ambos cronicamos, publicou a 11 de outubro deste ano. Feito a propósito da notícia da festa de inauguração do novo MAAT, na capital, glorificando a rica EDP cuja parte significativa da energia que vende é produzida na bacia do Douro não se vislumbrando por cá grande coisa, como contrapartida. A poderosa Fundação dirigida e financiada pela elétrica nacional construiu um vistoso museu na capital engrandecendo, é certo, todo o país, mas, de maneira especial, a cidade ribeirinha do Tejo.
Teófilo Vaz afirma ainda que também nos cabe a nós exigir que os recursos que nos são sequestrados sejam devidamente valorizados. Sendo verdade que as barragens durienses e dos seus afluentes são fontes de riqueza e desenvolvimento, também é verdade que a maior valia vai para as grandes urbes cujo bem estar se faz à custa de privações nordestinas. Para que haja ar condicionado confortável, iluminação suficiente, força-motriz adequada na indústria e nos transportes públicos, programas lúdicos, telecomunicações e tantas outras regalias providenciadas em abundância e com comodidade aos alfacinhas e a todos os que os visitam, milhares de nordestinos tiveram de abdicar de incontável número de oliveiras, amendoeiras e outras árvores, de muitas praias fluviais e de uma incomensurável grandeza de paisagem perdida para sempre. Em boa verdade muito do encanto lisboeta faz-se com pesadas contribuições do interior. Uma enorme fatia do seu céu, é composto de pedaços arrancados ao firmamento nordestino.
É natural esperar que os sacrifícios sejam devidamente valorizados e recompensados.
Não será, concerteza, para responder ao excelente editorial do Diretor do Jornal Nordeste, nem tão-pouco com a rapidez que se deseja, muito menos no valor merecido, mas houve notícia recente da implementação de alguns projetos marcantes integradas no largo pacote das medidas compensatórias com que a EDP se comprometeu.
Um texto do Jornal Público de 15 de outubro do ano corrente deu conta da concessão da exploração turística da albufeira do Tua e de parte da linha férrea sobrevivente, em exclusivo,  ao empresário duriense, Mário Ferreira. Não terá sido fácil, garante o empreendedor. Tal acordo só foi concretizado depois de a EDP ter sido “obrigada” a fazer vultuosos investimentos para que o empreendimento fosse sustentável. Segundo o dono da Douro Azul a elétrica teve, na prática, de duplicar o seu investimento inicial de dez milhões de euros para tornar o projeto apetecível.
O Presidente da Câmara de Torre de Moncorvo anunciou recentemente um projeto turístico, embora sem se revelar os valores envolvidos, que vai catapultar a região do Baixo Sabor para um patamar cimeiro na oferta turística de qualidade. Trata-se do Sabor Lake Resort um conceito inovador de exploração da albufeira, com base em casas flutuantes que percorrerão os diferentes lagos que a barragem criou em Moncorvo, Mogadouro e Alfândega.

EXOPOTÂMIA (Manifesto por um vale discriminado)

O Sabor não é fronteira
Nem o vale da Vilariça se alcança
Da Senhora da Teixeira.
Para que haja boa lembrança
Apresento-o, na Junqueira!
Nasce em Bornes, alfandeguense
Mas a Moncorvo pertence
Dos Nozelos à Junqueira
Na margem esquerda da ribeira.
Estende-se, airoso, galhardo, singelo
Até ao Monte Meão.
Da Adeganha recebe benção
E, beijando a mão
Da Senhora do Castelo,
Expande-se nos Barrais.
A melhor vista é dos Estevais!
Mira’Douro em S. Gregório
E tudo mais em seu redor
Mas é a Póvoa
Que se espelha no Sabor.
Se a noite bater à porta
Acende luzes na Horta,
E a primavera vai chegar
Quando nas encostas da Vide
A amendoeira desabrochar.
Guarda lendas no Castedo
Da gente da Nação
Do seu duro degredo
E da fuga de Castela, ao rei cristão,
Em demanda do novo Vale do Jordão.
Nasce-lhe o sol na Cardanha
Olhando as  Cabanas de Cima
Com uma beleza tamanha
Que o aquece e ilumina.
Mas quando o dia esmorece
Aquieta-se, repousa,
Descansa e adormece
Aconchegado pela Lousa!

Feito na Junqueira a 21 de agosto em protesto por terem sido excluídas de uma reportagem da revista Passear, promovida pela Câmara de Moncorvo, grande parte do vale da Vilariça e as suas aldeia ribeirinhas, Junqueira, Nozelos, Adeganha, Estevais, Póvoa, Horta, Vide, Castedo, Cardanha, Cabanas de Cima e Lousa.