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Medicina Geral e Familiar: A importância da prevenção e do acompanhamento adequado

A especialidade de Medicina Geral e Familiar tem a particularidade de acompanhar os utentes desde o nascimento até à morte, de acompanhar a saúde e a doença, de conhecer o seu contexto social e familiar ao longo de toda a vida e, assim, estabelecer uma relação de proximidade, de confiança e empatia, contribuindo para os melhores ganhos em saúde dos utentes. Citando a Organização Mundial de Saúde (OMS), que define saúde como um “estado completo de bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença”, é nesta perspetiva que se faz a abordagem ao indivíduo em Medicina Geral e Familiar, percebendo que à sua frente está sempre uma pessoa, com ou sem doença, mais do que um diagnóstico, um tratamento mais ou menos diferenciado, mas que também tem em conta o seu contexto social, familiar e psicológico e utiliza muitas vezes a relação médico-utente como aliança terapêutica privilegiada. Assim, falar da pedra basilar dos cuidados de saúde é falar das necessidades primárias da população e importa destacar a importância dos médicos de família, que têm o papel de proporcionar a todos oportunidades para uma vida longa e saudável, maximizando o seu potencial de saúde e orientando as doenças quando forem surgindo. Importa também aumentar o conhecimento e a literacia em saúde, fornecendo à população informação útil não só sobre a doença, mas também sobre estilos de vida saudáveis e formas de prevenção primária e secundária, já que a verdadeira saúde ultrapassa largamente a contabilidade das doenças. A maior parte de nós é saudável com episódios mais ou menos espaçados de doença, muitas vezes sem impacto significativo, no entanto, não devemos descurar a necessidade de cuidados e de diagnósticos atempados. No seguimento do anteriormente mencionado, importa falar sobre os programas de rastreio oncológico que existem, muitas vezes alvo de desconhecimento. Em Portugal, as doenças oncológicas constituem a segunda causa de morte, pelo que se compreende que os rastreios organizados sejam uma bandeira prioritária nos cuidados de saúde. O Plano Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Oncológicas está indicado em pessoas que não apresentam sintomas e tem como objetivo reduzir a morbilidade e a mortalidade por cancro, através de um diagnóstico mais precoce e melhorando a qualidade de vida e a satisfação dos utentes com os cuidados de saúde prestados. Em Portugal, a nível populacional, são recomendados os rastreios do cancro do colo do útero, do cancro da mama e do cancro colorretal. Estes rastreios têm demonstrado a redução de mortalidade aproximadamente de 30% no cancro da mama, 20% no cancro colorretal e 80% no cancro do colo do útero. Normalmente baseiam-se em exames simples e não invasivos. No caso do cancro de mama, o consenso inclui a realização de mamografia a cada dois anos, em mulheres dos 50 até aos 69 anos de idade. Relati- vamente ao rastreio do cancro colorretal, inclui o teste de pesquisa de sangue oculto nas fezes dos 50 aos 74 anos de idade em ambos os sexos. E finalmente, no rastreio do cancro do colo do útero, a população-alvo é constituída pelas mulheres com idades compreendidas entre os 25 e os 60 anos e é realizado através do exame de papanicolau, um procedimento simples e não invasivo. Ainda no contexto dos cuidados preventivos, destaca-se também, a importância da vacinação como um pilar fundamental na promoção da saúde. As vacinas desempenham um papel significativo na prevenção de doenças infeciosas, contribuindo para a proteção individual e coletiva da comunidade. Em última análise, a busca pelo conhecimento e a ação proativa são fundamentais para uma vida saudável e plena. Não subestime o poder da informação e da prevenção. Agende uma consulta com a sua equipa de saúde familiar para esclarecer quaisquer dúvidas e manter os seus exames de rastreio atualizados. Lembre-se, cuidar da sua saúde é um investimento va- lioso que pode salvar vidas.

Daniela Bento

Médica

Ovos da Páscoa política

No seguimento da empolgante eleição do novo presidente da Assembleia da República, Luís Montenegro, o novíssimo primeiro-ministro, presenteou a Nação com um delicioso ovo de Páscoa. À semelhança do simbólico ovo pascal, que é feito de chocolate e recheado de surpresas, o ovo governamental de Luís Montenegro, liberto que foi do habitual revestimento de celofane, mostrou ter sido confecionado com o melhor cacau partidário, desapontando os oposicionistas. Desapontamento que poderá crescer à medida que os portugueses lhe tomarem o gosto e, claro está, manifestarem agrado nos estudos de opinião que se seguirão. Ovo governamental que encerra muitas promessas, mas não inspira grandes esperanças, porquanto também comporta inúmeras dúvidas, sendo que a primeira é a sua duração, dado que poderá derreter-se logo que o tempo começar a aquecer. Ainda que igualmente possa manter-se bem conservado, por mais tempo do que o previsto e sem se deteriorar, no congelador em que PS e Chega, absurdamente, transformem o palácio de São Bento. Certo é que este ovo de Luís Montenegro sempre se apresenta mais tragável que o malcozinhado de António Costa que, como ficou provado e reprovado, era feito de cascas, raspas e sobras indigestas de governanças socialistas malpassadas. Também a nova situação política nacional tem a forma de um ovo amargo, sem ponta por onde se lhe pegue, tantos são os perigos que se lhe auguram. Branco é, o Regime Político o põe, será caso para se dizer. Ovo que o povo poderá esborrachar, quando menos se espera, nas cabeças dos principais actores do longo teatro eleitoral que terminou em10 de Março. Teatro que, se outro mérito não teve, serviu para melhor dar a conhecer a controversa classe política, representada por personalidades como Mariana Mortágua, a azougada coordenadora do Bloco de Esquerda, que não sabe bem o que quer para Portugal, nem para onde o quer levar; Inês Sousa Real, a vendedora de bíblias do Partido das Pessoas, dos Animais e da Natureza, que os eleitores deixaram só, a pregar aos peixes; o historiador Rui Tavares, o poeta do Livre, que encheu a campanha da melhor prosa; Paulo Raimundo, o novíssimo disc jockey do PCP que, como manda a tradição, virou o disco e tocou o mesmo; Rui Rocha, devotado missionário do virtuoso Iniciativa Liberal e Nuno Melo, o maestro trapalhão do ressuscitado CDS, agora promovido a cabo de guerra. Personalidades que à falta de ovos, vão continuar a mimar a democracia distribuindo amêndoas de Páscoa de todas a cores e para todos os gostos. Quatro personalidades maiores, porém, marcarão a vida política portuguesa nos próximos tempos: o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, desconcertante regente da banda presidencial, Luís Montenegro, o menino de coro do PSD que ousou tornar-se primeiro- -ministro, Pedro Nuno Santos, um robô produto da inteligência artificial socialista e o arruaceiro, ao que dizem, André Ventura, cacique do marginal, ao que consta, partido Chega. Personalidades que continuarão a planar sobre os três grandes conglomerados de cidadãos que presentemente compõem o eleitorado português: o Bloco Central, composto pelos fiéis do PS e do PSD, que têm governado e desgovernado Portugal; o Bloco da Abstenção, que continua desconforme, muito embora tenha diminuído significativamente e o Bloco do Descontentamento, de que o Chega já abocanhou parte significativa. Manda a verdade que se diga, a este respeito, que os mais de 1 milhão que votaram no Chega não o fizeram por serem fascistas, racistas, xenófobos ou saudosistas dos tempos da outra senhora, mas pura e simplesmente por não estarem minimamente contentes com o status quo, com as governanças do PS e do PSD, designadamente com a corrupção despudorada e sistemática, com o mau funcionamento da Justiça, com o estado lastimável do Serviço Nacional de Saúde, com a falta de habitações dignas, com o sem número de problemas que seria exaustivo aqui enumerar. Também não deixa de ser verdade que o Bloco Central, constituído pelo PS e pelo PSD, continua a recolher as maiores audiências, não só por consonância social e ideológica dos eleitores, mas sobretudo porque controla a comunicação social, parte e reparte o emprego público, vive em conúbio com a alta finança e se alimenta de clientelismo e nepotismo. Certo é que, a manter-se esta sistémica dinâmica negativa, o relapso Bloco Central irá definhar alegremente, o Bloco da Abstenção irá, felizmente, emagrecer e, lamentavelmente, o Bloco do Descontentamento irá aumentar, alargando os horizontes do Chega de André Ventura. Dinâmica que, tudo leva a crer, se manterá porquanto PS e PSD, continuam a não dar mostras de estarem interessados em se concertarem na promoção das indispensáveis reformas estruturais. Nada disto conduzirá, necessariamente, acalmem-se os espíritos mais exaltados, ao fim da democracia. Poderá até, bem pelo contrário, contribuir para o seu aperfeiçoamento.

Entrega da declaração do IRS

É já no dia 1 de abril que se inicia o prazo para a entrega da declaração do IRS (Imposto sobre o Rendimento de pessoas Singulares) relativamente aos rendimentos de 2023. Atendendo a isso, hoje vou falar-lhe de alguns aspetos que deve ter em conta na hora de entregar a sua declaração, para ajudá- lo a evitar algum tipo de ansiedade ou contratempo, que muitas vezes surgem nesta altura.

Sobre o seu acesso ao portal das finanças – Entre na sua conta pessoal no portal das finanças para confirmar que o seu acesso se encontra ativo, o que é essencial para entregar a declaração. Se tiver algum problema, e depois de garantir que está a introduzir os dados corretos, o melhor será solicitar uma nova senha de acesso. Para isso siga o link “Recuperar Senha” existente na página do login. Se, por outro lado, ainda não fez o seu registo no portal das finanças, então é altura de o fazer. Carregue no botão “Registar-se” no topo da página principal e siga as instruções.

Sobre o simulador que está disponível no site – O simulador do IRS disponível no site das finanças, é uma ferramenta poderosa, nem sempre explorada pelos contribuintes. Existem decisões que nem sempre são óbvias, como optar por uma declaração conjunta de rendimentos - caso seja casado ou viva em união de facto – ou optar pelo englobamento dos rendimentos, por exemplo. O simulador é uma ótima ferramenta para o ajudar na decisão. Use e abuse dele até ficar esclarecido.

Sobre o preenchimento automático da declaração – Este automatismo é muito prático e, na maioria dos casos, assegura quase 100% do trabalho. No entanto, não confie inteiramente neste preenchimento e confira sempre os valores pré-preenchidos (os rendimentos e as deduções) para ter a certeza que estão todos contemplados. Tenha presente que, se verificar alguma incorreção, e introduzir alterações aos dados pré-preenchidos, deve ter consigo e guardar bem os comprovativos que justificam essas alterações, para o caso de a AT os solicitar no futuro.

Sobre os anexos à declaração do IRS – Os documentos entregues pela maioria dos contribuintes são o modelo 3 (que é o documento que contém os dados de identificação do contribuinte), mais o anexo A - referente aos rendimentos obtidos pelo trabalho dependente, e pensões, e mais o anexo H – referente às deduções fiscais. No entanto, para muitos contribuintes não é óbvio saber quais os anexos que devem ser adicionados à sua declaração do IRS. Para além dos anexos A e H (para aqueles que são trabalhadores dependentes ou pensionistas), podem existir outros que devam fazer parte da declaração. Por exemplo, deve juntar o anexo B, se tiver realizado algum trabalho como independente, ou o anexo E, se tiver rendi- mentos de capitais. Procure ter a certeza que entrega todos os anexos que lhe são devidos, para evitar proble- mas futuros.

Sobre as dúvidas que possa ter - O mais normal nesta altura, é que possam subsistir dúvidas sobre al- gumas questões relaciona- das com o seu caso específico. Sei que o esclarecimento dessas dúvidas por vezes é complicado, ou porque a informação não é fácil de encontrar, ou porque a in- formação disponível não é clara. A minha sugestão para si nestas situações é que use a funcionalidade e-balcão que está disponí- vel no site das finanças. É uma opção fácil de utilizar, onde pode colocar as suas dúvidas, e habitualmente tem um nível de resposta rápido e de qualidade. Isto pode poupar-lhe horas de pesquisa ou de deslocações, e ainda tem a vantagem de ser uma informação segura e fidedigna, porque, afinal, é prestada pela própria AT.

Luís Lourenço

Your Money Whatcher

LIMÃOS – A Serra da Velha

No passado, o ritual da Serra da Velha celebrava-se em Limãos (tal como em muitas aldeias do distrito) na noite da quarta-feira a meio da Quaresma. O despovoamento que atinge o mundo rural contribuiu para a perda desta tradição. Contudo, o fenómeno associativo está dando os seus frutos, no que respeita a este e a muitos outros eventos da nossa cultura popular. Assim é que o Centro Cultural e Recreativo de Limãos, em parceria com a Junta de Freguesia, fez sentir à comunidade a necessidade e as vantagens em recuperar a tradição da Serra da Velha, um facto que tem vindo a acontecer desde há meia dúzia de anos. A decisão da mudança da data para o Sábado de Aleluia, segundo Abrandino Ledesma, presidente da Direção do Centro Cultural, justifica-se pela maior afluência de moradores a viver fota da terra e visitantes que, por altura da Páscoa, acodem à terra. Especula-se a origem e razão de ser desta tradição que, no passado, teria como finalidade achincalhar as mulheres que naquele ano tinham ascendido ao estatuto de avós. Porém, ou- tros etnólogos defendem precisamente o contrário: uma homenagem a estas mulheres que, com a vinda ao mundo de mais crian- ças, seus “netinhos”, contribuem para a manutenção da espécie humana e para o futuro da sua comunidade. Um olhar atento do ritual que hoje se celebra permite-nos constatar ser este o seu significado mais profundo. Aliás, também pela baixíssima natalidade (ou mesmo nula, em alguns anos), hoje homenageiam-se todas as avós da terra, independentemente da sua idade e do ano em que ascenderam a esse estatuto. Tudo num ambiente de compreensão e de alegria, chegando ao ponto de as ditas “velhas” saírem à janela ou à varanda para agradecer e aplaudir o pregão que os celebrantes lhes dedicaram, assim como o “choro” dos autoproclamados “netinhos”. A fórmula do ritual do pre- gão aprovada pela organização para os tempos que correm, em Limãos, acaba por contemplar humor, ironia e poesia popular sobre a temática do amor sem idade:

“Venho da Senhora da Serra

De enterrar o meu marido.

Pelo caminho me disseram:

Ó velha, casa comigo.

Eu casar bem casava

Se não fosse a minha gente.

Olha o diabo da velha Qu’inda tem o forno quente”.

Ato contínuo, o grupo dos serradores, com recurso a alfaias próprias, simula a serração em paus, latas ou cortiços e os “netinhos” gritam, num choro misturado com risos que a toda a assistência contagia. Na continuação, os celebrantes atribuem às “velhas” os dotes mais apropriados à sua condição, atividade que exercem, gos- tos ou preferências de todos conhecidas. De certa forma, também os dotes acabam por configurar a homenagem que todos lhes querem atribuir. E elas reconhecem e aplaudem, num gesto de simpatia vindo da janela ou da varanda de onde assistem agradecidas. Já próximo da meia-noite, o ritual da confissão apresenta-se sob a forma de uma peça de teatro popular, representada pelos respetivos atores: o padre confessor e a velha confessada, num diálogo carregado de humor, sarcasmo e crítica social. São os pecados de toda a comunidade ali tornados públicos, pecados (da velha e do próprio confessor) que, no final, serão extintos pelo fogo.

António Pinelo Tiza