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AVC – O que deve saber

É fundamental prevenir o AVC, uma vez que está associado a elevada mortalidade, ocupando o nosso país o primeiro lugar na Europa Ocidental.
Estima-se que uma em cada seis pessoas em todo o mundo terá um AVC e a cada 6 segundos este é responsável pela morte de alguém.

NÓS TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - Duarte Nunes Nogueira ouvidor em Angola(1543 – depois de 1596)

Na generalidade dos compêndios de história de Portugal quando se fala da conquista e colonização de novas terras, destaca-se o esforço militar de alargamento do império e a ação dos missionários na expansão da fé cristã. É uma história de batalhas e milagres, de heróis e de mártires. Despercebido passa o papel dos mercadores e ignorada é a ação dos judeus e cristãos-novos.
O caso de Duarte Nunes Nogueira é exemplar a tal respeito. Mostra um cristão-novo de Bragança movimentando-se entre o poder político, as expedições militares, o clero regular e os jesuítas ao início da conquista, colonização e evangelização de Angola.
Corria o ano de 1575 quando Paulo Dias de Novais desembarcou na Ilha das Cabras (atual cidade de Luanda) com uma expedição militar e o título de “governador, capitão-mor, conquistador e povoador do reino de Sabaste na conquista da Etiópia ou Guiné Inferior”. Seguiam com ele 4 padres jesuítas para evangelizar os povos. À chegada, encontraram uns 40 mercadores e 7 embarcações para carregar escravos. (1)
Seguiu a conquista de terras junto ao mar e ao longo do rio Quanza, com a conversação ao cristianismo de alguns sobas e com eles os respetivos súbditos, que ali vivia-se em fechado sistema feudal. 5 anos depois as coisas não corriam muito bem para os Portugueses, com o “amigo” rei Ngola a revoltar-se e a somar vitórias militares. As tropas de Novais eram dizimadas pelas febres e pelas setas dos nativos, tendo também falecido 2  jesuítas.
De Lisboa seguiram reforços  e um padre jesuíta que faria alterar o curso dos acontecimentos. Chamava-se Baltasar Barreira e, por mais de 10 anos revelou-se o homem forte do novo reino de Angola, com extraordinária visão política, capacidade de organização e comando militar e muita habilidade no que respeita à economia.
Em compensação, o governador Paulo de Novais fez doação aos jesuítas de imensas terras e de uma dezena de sobas com os respetivos povos. E os sobas, que sempre prestaram vassalagem a outros senhores, passaram a prestá-la aos jesuítas. E a vassalagem traduzia-se principalmente no pagamento de impostos que eram feitos não em moeda mas em escravos. (2) E os jesuítas, sob a batuta do padre Barreira tudo faziam para ter os sobas do seu lado e contentes. Para isso quando os batizavam faziam cerimónias empolgantes, vestindo-os de gal, dando-lhe nomes portugueses e elevando-os à categoria de fidalgos, numa imitação das cerimónias de cavalaria que a nobreza fazia em Portugal. Nas “reduções” (fazendas) dos jesuítas trabalhavam multidões de escravos e acumulavam-se riquezas.
O poder do padre Barreira e dos jesuítas, era imenso e isso desagradava particularmente aos mercadores de escravos. Até ao provincial da Ordem, em Lisboa, estranhava o poder do padre Barreira e não podia tolerar o envolvimento (ou mesmo o domínio) dos seus “missionários” no negócio das “peças” humanas.
Em 1592 surgiu oportunidade para mudar o rumo dos acontecimentos. O rei Flipe nomeou para governador um homem cheio de prestígio, do ponto de vista militar e da governação colonial – o capitão-mor de Tanger, D. Francisco de Almeida. Este escolheu para seu “ouvidor geral” Duarte Nunes Nogueira. Infelizmente não encontramos qualquer documento que nos permita perceber as razões que levaram o governador a escolhê-lo para seu braço direito e homem de confiança. Seriam relações familiares mais ou menos próximas? Na verdade encontramos gente de Bragança, próxima da família de Duarte casar em Lisboa no seio de uma família Almeida, cristã-velha. Mas quem era este Duarte Nunes?
Sabemos que nasceu em Bragança, por 1543, sendo filho de Ambrósio Nunes e Helena Dias. O pai era natural da vila de Cortiços (3) e a mãe era de Vila Franca de Lampaças. Tinha um irmão (Pero Nunes Nogueira) casado em Lisboa, que era “criado d´el-rei”.
Andou pela América Latina, mais concretamente no Perú e em Tucumán, Argentina. Tinha 49 anos quando entrou no desempenho do cargo de “ouvidor geral do reino” de Angola, em Junho de 1592. Pouco tempo se manteve no cargo e muitas tribulações sofreu. Tal como o governador. Com efeito, este era portador de um decreto real que anulava todas as doações feitas em 1571 a Paulo de Novais, aos jesuítas e a outros particulares. Isto provocou uma tremenda revolta, chefiada também pelo padre Barreira. E terminou com a prisão do governador e sua expulsão de Angola em Março de 1593.
Em simultâneo, Duarte Nogueira foi denunciado na inquisição como judeu. Acusavam-no de ter dito que a sua vara de ouvidor devia ser respeitada tanto como a cruz; que chamava santa Úrsula à sua coura (espécie de avental de couro) e ao seu roupão Santa Marta; que a igreja canonizava santos falsos parecidos com a freira da “Anunciada” (4) de Lisboa…
O processo (5) instaurado a Duarte começou a ser instruído em Luanda pelo vigário geral, padre Manuel Rodrigues Teixeira, a pedido do próprio acusado. Depois de ouvir as testemunhas de acusação e de defesa, em 8.7.1593, enviou os autos para o inquisidor Heitor Mendes Furtado, que então assistia na cidade brasileira da Baía, em visitação do santo ofício e cujo poder se estendia a todas as terras portuguesas do Atlântico meridional, com o despacho seguinte:
- Por não haver prova bastante neles para prender o réu Duarte Nunes Nogueira, conteúdo neles, remeto os ditos autos, no estado em que estão (…) e o réu se embarque a aparecer em juízo, solto.
Mandava também uma carta para Furtado Mendonça escrevendo, entre outras coisas:
- Só lembro a V. M., por descargo da minha consciência, que todos quantos juraram contra este homem são seus capitais inimigos (…) Ele foi ouvidor geral do governador e com a justiça escandalizou alguns e por outras razões que o ameaçaram (…) Dos padres da Companhia nada digo porque dos autos verá V. M. ser isto assim e suas tenções danadas.
Seguiu para o Brasil o processo e o réu. Um mês depois, em 21.8. 1593, o inquisidor ditava a sentença:
- Que o réu seja repreendido nesta mesa e se lhe imponham penitências espirituais, que se confesse 5 vezes por ano (…) e pague 6 mil réis para despesas do santo ofício.
Foi uma sentença muito leve, reveladora de que o processo era essencialmente político e não religioso. E a sua resolução caberia ao rei, passando pelo castigo da rebelião encabeçada pelo padre Barreira com o despacho de um novo governador – João Furtado Mendonça – que seguiu para Angola acompanhado de uma forte expedição militar e de 12 raparigas órfãs, educadas em Lisboa no recolhimento da Misericórdia e terão sido as primeiras mulheres brancas que chegaram a Luanda para casar e contribuir para a expansão da fé e do império.
Não temos aqui espaço para apresentar o processo de Duarte. Diremos tão só que para além dos jesuítas e do padre Barreira, os seus inimigos e delatores foram alguns “nobres cavaleiros africanos” e um grupo de mercadores cristãos-novos beneficiados em tempo do governador Novais, agrupados em volta de Luís Gonçalves Bravo, que passou à história com o epíteto de “sol” e de João de Vitória, ouvidor geral anterior. Veja-se apenas um trecho da defesa de Duarte:
- João de Vitória é inimigo meu por razão da prisão do governador e alçamento e ser ele a principal pessoa neste delito e sabia que eu o havia de prender e castigar com as minhas mãos. E quando o fui prender, à meia-noite, a ele e seu cunhado Manuel Jorge, por ter sido avisado pelo pajem do governador escaparam e na noite seguinte foi o alçamento e prisão do governador. E demais (…) me tem roubado minha justiça em uma nau que fretei (…) que me importou mais de 100 escravos (…) E Diogo Dias Veloso é meu inimigo porque julguei contra ele (…) em paga de negros que me devia, em jogo que me não pagou.
Para descrever a personalidade de Duarte nada melhor do que utilizar expressões tiradas do processo:
- O dito Duarte Nunes não é mouro nem cristão nem judeu nem segue lei nenhuma (…) é zombador e se pela de dizer ditos e gracetas.
Terminamos dizendo que em 1596 o encontramos casado, a morar em lisboa na rua da Cutelaria.
NOTAS E BIBLIOGRAFIA
1-LEITÃO, José Augusto Duarte – A Missão do Pe Baltasar Barreira no Reino de Angola (1580-1592), in: Lusitania Sacra, 2ª série, 5, pp. 43-91, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 1993.
2-Ascendia a 300 escravos o tributo que os sobas entregavam anualmente aos jesuítas, que tinham ainda doações de outras entidades.
3-Esplendián Nunes, irmão de Ambrósio Nunes, foi o patriarca da família Cortiços, uma poderosa família de banqueiros e grandes mercadores da Europa.
4-Foi caso que uma freira do convento da Anunciada em Lisboa apareceu com chagas nas mãos e em volta da cabeça, tal como as chagas de Cristo. A fama do milagre espalhou-se rapidamente e ganhou muito crédito graças ao grande pregador Frei Luís de Granada que escreveu um trabalho contando o milagre (“Historia de la admirable vida de Soror Maria da Visitación, religiosa dominica”). Veio depois a descobrir-se que as chagas eram feitas por ela, sendo processada pela inquisição. – ANTT, inq. Lisboa, pº 1491. Sobre o assunto, Camilo Castelo Branco escreveu o livro: Virtudes Antigas A freira que fazia chagas…
5-ANTT, inq. Lisboa, pº 10875, de Duarte Nunes Nogueira.

Piedosos pagadores de promessas.

A semana passada tomei conhecimento de três estudos originais a que reconheço igual mérito e interesse.
O primeiro assegura que beber vinho tinto antes de adormecer faz emagrecer e o segundo defende que comer chocolate não engorda, para gáudio dos gulosos.
Devo acrescentar, porém, para afastar más interpretações, que o primeiro estudo refere um copo de vinho tinto apenas e não bebedeiras de caixão à cova, e o segundo chocolate genuíno, amargo e preto, não açucarado, portanto.
O terceiro estudo, a que dediquei mais atenção, é um trabalho científico do ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa) citado pela TSF, que foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e que garante estarem os portugueses profundamente enganados quando acreditam que os políticos não cumprem o que prometem.
Porque, segundo o ISCTE, os governos dos últimos 20 anos cumpriram cerca de 60% do que haviam prometido. Realizaram, portanto, mais de metade das promessas que muito honestamente haviam inscrito nos seus programas eleitorais.
Atrevo-me a discordar, desde já, desta conclusão, porque se apenas cumpriram 60% não honraram plenamente a palavra dada. Ainda ficaram a dever 40%, o que é demais.
Este estudo do ISCTE é mais preciso, contudo: diz que António Guterres é o campeão dos pagadores de promessas, apesar de ter chefiado um Governo minoritário, já que cumpriu cerca de 85% do prometido, total ou parcialmente.
Segue-se-lhe José Sócrates, com quase 80% de cumprimento no seu primeiro Governo e Passos Coelho que, apesar da intervenção da Troika, esteve quase, quase, a cumprir 60%.
Malvados são os portugueses que apenas se contentam com 100% e nem um mentirazinha desculpam! Ou então o mal está nos estudos de opinião que não interpretam fielmente aquilo que o povo pensa.
Mais acertado seria concluir, quanto a mim, que os nossos políticos só em parte cumprem o que prometem e nunca se comprometem. Para lá de que há muitas coisas que nem às paredes confessam.
Jamais algum político prometeu, por exemplo, que endividaria o País da forma que se sabe, que empurraria milhares de portugueses para a emigração e lançaria muitos mais na miséria, que aumentaria os impostos ou que faria o desemprego crescer.
Nunca António Guterres prometeu que fugiria do pântano em que Portugal caiu para se pôr a salvo e ser mais feliz lá pela ONU, ou Durão Barroso que abandonaria o País para se refugiar na EU e depois servir a Goldman Sachs. Isto citando apenas os dois exemplos mais sonantes. Será que honraram os compromissos firmados com o eleitorado que os elegeu?
Não foi tornado público se o estudo científico do ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa) igualmente demonstra, ou não, que os nossos políticos também são piedosos pagadores de promessas quando garantem empregos e mordomias aos correligionários e facilidades aos financiadores.
Que os portugueses são perversos e mal-agradecidos já nós sabemos.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

Bragança a um passo de Madrid

Bragança está a 40 quilómetros de Otero de Sanábria, aldeia onde, em 2018, vai parar o comboio de alta velocidade (AVE) na ligação Galiza-Madrid. São menos de 400 quilómetros até à capital espanhola, que se podem fazer em duas horas, ou menos, se houver bom-senso político nas duas capitais. Isto significa uma rodovia decente, que não obrigue a perigosos 54 minutos, no mínimo, para chegar a Puebla de Sanábria e a um lago magnífico, muito concorrido no Verão. Do lado de lá virão mais facilmente ao Parque Natural de Montesinho e à Domus Municipalis.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística, o crescimento do turismo em Bragança foi superior, na comparação entre 2014 e 2015, à média da região Norte, noticiou este jornal. Imagine-se, em regiões transfronteiriças deprimidas, o impacto de um AVE à porta. Conjugado com o aeródromo, Bragança estaria a distâncias próximas de Lisboa, Porto e Madrid: era um acto de justiça. Para isso servem as cimeiras ibéricas.
Quando se lançava o projecto do túnel do Marão, titulou o Expresso (7 de Abril de 2009): “Nove auto-estradas não são necessárias”. Mais do que erros de previsão, houvera cedências políticas. Em seis meses de abertura daquele, a empresa pública Infraestruturas de Portugal reconheceu ter o tráfego ultrapassado as expectativas. Só quem não conheceu o IP4 pode falar de favor político – quando, de facto, era o Estado que há muito estava em dívida com a região.
Melhor: está em dívida. Há estradas que não são deste milénio, tantas as viragens e reduções de velocidade, limitada a 50 quilómetros. Pagar cada país metade do percurso (e Portugal menos ainda) era um investimento de futuro nesta Europa dita das regiões. Como repete o presidente do município de Bragança, Hernâni Dias, tudo vai da vontade política, que um ano de eleições poderá clarificar. Roubado o comboio à cidade (roubado, literalmente, em noite cobarde), outro se aproxima, mais europeu, a menos de 30 quilómetros em linha recta. Haja vontade.

Sustentabilidade energética

Alfândega da Fé pertence à Associação de Municípios do Baixo Sabor e, como tal, integra o conjunto de autarquias que participaram com a cedência de terras para a construção e funcionamento do Aproveitamente Hidroelétrico do sul do distrito. Participou, na medida do que lhe foi solicitado, no esforço necessário à instalação de um sistema ecológico e renovável de energia. Esta energia é necessária ao desenvolvimento regional e nacional, bem como ao bem estar e satisfação de muitas necessidades indispensáveis na contemporaneidade.
Ao contrário dos sistemas eólicos de produção de energia, as barragens têm várias vantagens sobre outras fontes energéticas, mesmo sendo renováveis, como as eólicas. As barragens promovem a diversidade da fauna e da flora, compensando algum inpacto negativo, provocado, necessariamente, pela grande alteração do espaço onde se instalam. São menos agressivas quer na vertente ecológica quer, sobretudo, na vertente paisagística. Promovem igualmente o aumento da reserva de água doce e potável, um recurso cada vez mais precioso. Falando em reserva evidencia-se a maior das suas vantagens que é a capacidade de armazenar energia, permitindo o seu uso apenas quando for necessário o que é de enorme importância no seu papel de regulação e estabilização da rede elétrica nacional.
Imagine-se um sistema de produção puramente solar. À noite não haveria energia. E se a captação da luz solar fosse suficiente em dias médios, nos dias de maior calor haveria muita energia que teria de ser totalmente desaproveitada a menos que se investissem avultadas somas de dinheiro em grandes armazéns de baterias elétricas.
Se o sistema fosse exclusivamente eólico passar-se-ia o mesmo nos dias de calmaria e nos dias ventosos, respetivamente.
Contudo se for usado um sistema misto, embora não resolvendo todas as falhas na totalidade, acrescenta eficiência a qualquer um dos métodos pois as noites ventosas e os dias de calor sem vento terão energia suficiente para uso. Este passo tem um significado especial, como a seguir se verá.
Não havendo armazenamento a chave de funcionamento do sistema é o equilíbrio. A produção tem de igualar o consumo.
Ora a sustentabilidade, ao contrário do que alguns pensam, defendem e promovem, não passa necessariamente no aumento da produção de energia renovável, mas na redução racional, mas substantiva do consumo. E, claro, na mistura dos sistemas de produção, ou, pelas mesmas razões, na partilha do consumo. Assim se obterá uma situação mais equilibrada, mais ecológica e mais sustentável.
Foi essa a aposta do município alfandeguense, segundo notícia apresentada neste mesmo jornal na edição da semana passada. A opção pela iluminação pública à base de LED e, sobretudo, a instalação de paineis solares para autoconsumo partilhado é, sem qualquer margem para dúvidas, a opção certa no que ao futuro ecológico convém experimentar, melhorar e promover. Estão pois de parabéns, não só a Presidente Berta Nunes por ter apostado neste projeto que além do seu potencial garantido tem um financiamento excecional de 95%, como o Diretor Executivo da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana e coordenador da Agência de Energia de Trás-os-Montes, eng.º Manuel Miranda!