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Forças Armadas: o espelho do Regime

Dizia-se, noutros tempos, que as Forças Armada eram o espelho da Nação. Havia muito de verdade nessa conhecida asserção porquanto todos os jovens com idade para tanto, independentemente da sua naturalidade ou condição social, eram ajuramentados para servir militarmente Portugal. Graciosamente, note-se. Eram o melhor que a Nação tinha, que a representava com fidelidade e por isso a Nação neles se revia e dessa forma muito os valorizava. Presentemente não é bem assim. As Forças Armadas são, bem pelo contrário, o espelho em que se reflectem as piores malformações do Regime, as decisões mais gravosas de governos sucessivos, com destaque para o chefiado pelo primeiro-ministro António Costa. Governo que foi malfadado pela Geringonça, como se sabe e que tem envolvido as Forças Armadas num chorrilho de escândalos tão desprestigiantes quanto injustos. Geringonça que faliu na forma, mas não no conteúdo, já que a sua ideologia, chamemos-lhe “gerigoncianismo”, uma caldeirada de comunismo, capitalismo e oportunismo, de que o próprio António Costa é ideólogo principal, continua a condicionar negativamente a vida política, económica e social. E militar, como é óbvio. Aos sucessivos escândalos que têm rebentado no seio das Forças Armadas na vigência formal da Geringonça, com destaque para o assalto aos paióis de Tancos, que continua por esclarecer, se é que algum dia o será, mesmo depois das habituais bocas do Comandante Supremo que as comanda por megafone a partir das varandas do palácio de Belém, acaba de se juntar um outro ainda de maior amplitude e gravidade já que não se confina ao mundo menor da NATO e tem forte repercussão internacional. Escândalo que, quer os senhores do “establishment” queiram quer não, afecta gravosamente não apenas as Forças Armadas mas o Estado no seu todo. Como era de esperar, agora no caso dos diamantes que municiam as armas dos combatentes da Operação Miríade, como no assalto aos paióis de Tancos, nenhum digníssimo governante assumiu a sua responsabilidade e se demitiu. Quando muito aceitaram, seraficamente, o digno papel de ignorantes, a começar pelo Presidente da República e pelo primeiro-ministro. Escovaram a água do capote como soe dizer-se. A verdade, porém, é que na Operação Miríade como no assalto de Tancos, a culpa é de todos. Desde alto a baixo e daqui para cima. É do soldado que comete o crime, do sargento que não controla o soldado, do comandante de pelotão que não conhece os homens que comanda, do coronel que não prepara e treina devidamente os militares que envia para o campo de batalha, do ministro que não acerta uma no cravo, do primeiro-ministro que mais uma vez dá provas de não ser capaz de coordenar eficazmente o governo e do próprio comandante supremo que o finge ser para português ver. Abre-se aqui, todavia, uma outra memória do antigamente quando se dizia que que “as Forças Armadas são um mal necessário”. Máxima atribuída ao ditador Salazar mas que julgo ter sido empregue noutros tempos e espaços e por muitas outras personalidades. Ideia que não deixa de ter sentido, dependendo, muito embora, do contexto e da intencionalidade com que é proferida. Males desnecessários, porém, não faltam no Regime e no Estado português. No espírito do“gerigoncianismo” as Forças Armados são, isso sim, um mal desnecessário. A abater, portanto. Poi isso o governo de António Costa as tem reduzido a uns tantos generais com os peitos enfeitados de condecorações para ornamentar tribunas cerimoniais e a grupos de mercenários, sem alma nem pátria, como agora se viu na República Centro Africana. E que o próprio Comandante Supremo confirma quando afirma publicamente que se trata de forças da ONU e não de Portugal. Mercenários, sem dúvida. Governo que só ainda não enxovalhou ainda mais as Forças Armadas porque sabe que há milhares de portugueses vivos que não se coíbem de manifestar os seu orgulho de terem militado no Exército mais humano da História que no extinto Ultramar rasgou estradas, ergueu escolas e hospitais, tratou, curou, ensinou a ler e a escrever e matou a fome a milhares de infelizes, em simultâneo com o cumprimento das missões de combate. Que promoveu a paz e harmonia interétnicas e corrigiu os desmandos prevalecentes do colonialismo ancestral. E que jamais deixarão de evocar e de honrar os muitos camaradas, brancos e negros, que tombaram no campo de batalha ou de lá saíram fisicamente diminuídos. Sem esquecer que face à miséria que grassa pelo Mundo, em África em particular e Angola em especial, a descolonização criminosa foi uma grande perda para a Humanidade. É por demais evidente que o “gerigoncianismo” de António Costa está apostado em converter o Estado-Nação num Estado Novo de Negação da História. Do passado e do futuro. Começando por destruir o que de mais essencial uma Nação possui-as suas Forças Armadas, enquanto alfobre de virtudes cívicas e de garante da integridade e independência nacionais. E da própria democracia. Quem semeia ventos colhe tempestades. 

A Bandeira, a TAP e a CP

Ao mesmo tempo que sabia que os anunciados investimentos na ferrovia não só estavam atrasados como muitos deles já não teriam lugar no Portugal 2020 e têm a sua execução no Portugal 2030 dependente de nova avaliação porque o chumbo do Orçamento impediu o saneamento financeiro da CP, igualmente era público que, para além dos milhares de milhões já injetados na TAP, iriam ser disponibilizados mais cento e cinquenta milhões na transportadora que cancelava vários voos (com os enormes custos associados) e anunciava que seguiria o exemplo das operadoras de low-cost com quem concorre. Não é fácil entender esta dualidade de uso dos dinheiros públicos que, como é sabido, se sustentam dos impostos dos cidadãos. Os impostos, para além da afirmação da soberania, servem para financiar obras e atividades comuns, de utilidade pública, que não seria possível levar a bom termo exclusivamente com a contribuição voluntária de cada um e sobretudo para permitirem a redistribuição de riqueza exigindo mais a quem mais tem, para benefício de quem tem menos e pode menos. Ora, o que acontece com estas duas empresas públicas, está nos antípodas desta função de correção das desigualdades da sociedade. Os utentes da CP são, efetivamente, os desfavorecidos e foram estes os mais prejudicados com o encerramento das várias linhas, no século passado. Como os impostos são progressivos, os investimentos na ferrovia cumprem a nobre missão de apoio aos mais necessitados com maior contributo dos mais abastados. Já a TAP transporta sobretudo os que têm mais recursos e, como apesar das contribuições estatais, apresenta prejuízos pagos com os impostos de todos, favorece quem mais tem com o suporte, mesmo que menor, de quem tem menos e nada beneficia com isso. As justificações que são dadas para tão injusta discriminação, não convencem, por não resistirem a uma análise fria e racional. A TAP tem de ser uma empresa de bandeira. Não vejo porquê. A atividade exportadora passa, cada vez mais, pelos portos marítimos onde os barcos que aí operam o fazem sob os mais diversos estandartes sem que isso constitua qualquer óbice à sua atividade normal. É verdade que as aeronaves levam as cores nacionais na cauda mas são pouco visíveis pois o acesso aos aeroportos é limitado e, quando em voo, não se enxergam. Mais visíveis são os camiões que cruzam as rodovias europeias e não se conhece nenhum empenho especial, do Governo, no apoio às rodoviárias. A TAP é uma grande empresa exportadora. Exporta porque vende muitos bilhetes a cidadãos estrangeiros. Mas também importa porque compra, nos locais para onde voa, muitas das matérias e serviços que suportam a sua atividade. Como dá prejuízo, é bem possível que o que compra fora de portas seja superior ao que vende. Não é líquido que tenha um contributo positivo para a balança de pagamentos. É preciso proteger os empregos da TAP. Mas a injeção de avultados recursos foi acompanhada por uma considerável redução do número de trabalhadores. Também aqui foram os mais humildes os mais fustigados. O que a TAP não fizer, outra empresa o fará e não pode, por razões económicas, dispensar funcionários e fornecedores lusitanos no que for competitivo. O mesmo não se passa com a CP que, sendo mais ecológica, não se restringe a Porto, Lisboa e Faro, antes leva o desenvolvimento a todo o país, integrando o interior, desfavorecido, distante e desertificado. 

Artistas amadores e decepções de trazer por casa

Já vos aconteceu estarem a caminhar, a conduzir, a limpar a casa ou noutro cenário em que estejam a ouvir música acima dos decibéis permitidos por lei e pelo bom senso, a pensar na vossa vida, e, de repente, tudo à vossa volta se tornar no próprio videoclip do que estão a ouvir? Uma criança que passa e vos sorri, o céu extremamente azul com um aviãozinho ali no meio, os pára-brisas frenéticos numa tempestade, como que a limpar as vossas próprias lágrimas, uma peça de roupa atirada em fúria para dentro da máquina de lavar, porque já não temos meias emparelhadas e isso não tem jeito nenhum. Tudo com uma carga simbólica fortíssima, enquanto somos actores filmados por várias câmaras, em ângulos artísticos. Podemos (e devemos) cantar a plenos pulmões, sendo até permitido assassinar a canção. Vão com tudo. Não tenham dó. Tenho ideia que isto só acontece quando estamos ou muito felizes ou muito tristes. Não há um meio termo para criar todo um guião assim. A música, de resto, é uma arte que tem este dom - realça a vida, seja o bom ou mau. Dei eu por mim a caminhar na rua, totalmente alheada da realidade por conta do que trazia nos ouvidos, a ponto de me ensurdecer (crianças, isto é perigoso, não reproduzam este comportamento irresponsável, ou podem acabar atropeladas). E, aconteceu. Um dia de sol, apesar de o Inverno estar a chegar e isso se fazer notar. Mas o céu estava limpo, brilhante. Um avião passou a baixa altitude. Outro voava mais acima, só um pequeno pontinho, lá no alto. Ouvia uma das músicas que está a bombar no momento - Love Tonight - o que nem faria muito o meu género, por norma. Bom, a música fala de duas almas que se encontram, que se sentem bem uma com a outra e que prometem que nunca vão falhar, que vão estar sempre lá quando for preciso, porque, finalmente (acrescento eu), é um alguém para a vida toda. É, pelos menos, isto que eu ouço enquanto controlo a vontade de dançar. Isto lembra-me que é mais fácil alguém nos decepcionar do que surpreender, pela positiva. Porque a decepção também pode ser uma surpresa, como levar com uma porta a grande velocidade na cara. O que se promete nesta música é idílico. E é muito mais usual decepcionar do que ser alguém fora da caixa. Porque a decepção vem associada ao corriqueiro, ao previsível. Difícil é ser diferente. Ou talvez a palavra certa seja verdadeiro. Talvez a chave seja não criar expectativas. Mas, a expectativa é humana. Assim como a tristeza de uma decepção nos torna mais humanos. Quem não quereria encontrar outra pessoa que, com a certeza absoluta do mundo, nunca nos decepcionaria? Talvez exista, algures. Talvez seja aquela pessoa com quem nunca perdemos grande tempo porque não nos chamou a atenção, ou com quem deixámos de falar porque o assunto não desenvolvia. Ou, quem sabe, esteja naquele pedido de amizade nas redes sociais que nunca aceitamos. Ou talvez esteja mesmo à nossa frente, a aguardar o momento certo. Isto, sim, é verdadeiramente idílico. Mas, deixem-me continuar a sonhar, entre videoclips caseiros.

Falando de… Chopin

Chopin é polaco. Nasceu em 1810. De seu nome de baptismo Fryderyk Franciszek Chopin. Não se sabe ao certo a data do seu nascimento. Terá nascido em 22 de Fevereiro, mas, como muitas vezes acontece, só foi registado mais tarde em 1 de Março. Os estudiosos de Chopin, inclinam-se para esta data, em detrimento de 22 de Fevereiro, embora não existam provas concretas que confirmem nenhuma delas. O local é certo: uma casa rural térrea na propriedade do conde Sharbek, em Zelazowa Wola, pequena aldeia na margem do rio Utrata, a cerca de trinta quilómetros a oeste de Varsóvia. Hoje, a casa onde Chopin nasceu atrai anualmente um número considerável de peregrinos apesar de ali ter passado os primeiros sete meses da sua vida e do seu verdadeiro local de nascimento ter sofrido muitas modificações ao longo dos anos. Filho de Nicolas Chopin (1771-1844), nascido no seio de uma família de camponeses, em Marainville, aldeia da região de Vosges, no nordeste de França, o jovem Nicolas despertou a atenção de um polaco, Jan Weydlich, administrador da propriedade agrícola de um nobre polaco, o conde Michal Pac. Nicholas Chopin conviveu com os polacos desde tenra idade e quando em 1787, Weydlich resolveu voltar ao seu país de origem, Nicolas acompanhou-o, para fugir ao recrutamento para o exército francês. Uma vez na Polónia, Nicolas Chopin alistou-se na Guarda Nacional de Varsóvia, chegando ao posto de capitão, tendo sido ferido. Na sequência da derrota das forças polacas pela Rússia e pela Prússia, viu-se desempregado, sendo salvo pela sua língua materna. O francês era na altura a língua franca da aristocracia e da sociedade culta na Rússia e na Polónia, sendo moda essas famílias terem preceptores de língua francesa para os filhos, em 1794, Nicolas Chopin teve a sorte de conseguir esse trabalho junto da rica família Laczynki, nos arredores de Varsóvia. Perfeitamente integrado na sociedade polaca, Nicolas adoptou os hábitos, a cultura e a língua da sua pátria, ao ponto de ter mudado o nome de Nicolas para Mikolaj. A mãe Tekla Justyna Krzyzanowska, tinha vinte e seis anos quando casou com Mikolaj, em 1806. Do casamento nasceram, além do compositor, três raparigas: Ludwika(1807-1855), Izabela (1811- 1881) e Emília(1812-1827). Mikolaj lecionou língua e literatura francesa, no liceu de Varsóvia, que havia fundado recentemente um internato para os filhos da fidalguia. Ao mesmo tempo que Mikolaj se impunha como director de estudos, Justyna era preceptora de alguns rapazes. Foi neste enquadramento que decorreram os primeiros anos de vida de Chopin. O pai tocava um pouco de flauta, não podendo considerar- -se propriamente um músico. A mãe de Chopin tinha aprendido a tocar razoavelmente piano. Este instrumento tinha-se tornado um símbolo de distinção e tocá-lo era um dom indispensável para qualquer menino de boas famílias. Foi a mãe quem deu a Chopin as primeiras lições, aos seis anos já era evidente que o talento do rapaz justificasse um professor a sério, o que levou a família a recorrer a um velho amigo, um excelente pianista chamado Adalbert Zywny que foi seu orientador de 1816 a 1822, instilando em Chopin um perene amor a Bach, Haydn e Mozart e um cepticismo em relação a Beethoven, Hummel e Mascheles. A música de Bach, em particular, iria ter uma profunda influência no pensamento musical de Chopin, ao mesmo tempo que se interessava pela música polaca. Nos salões de Varsóvia, a forma mais popular de música era, na altura, a polonaise. Dois anos depois das suas primeiras lições com Zywny, por volta de 1818, era publicada a primeira composição de Chopin. Tratava-se de uma edição particular feita por um amigo de Chopin com a seguinte informação:” Polonaise em Sol menor, dedicada a Sua Excelência a Condessa Victoria Skarbek, composta por Frederik Chopin, músico de 8 anos de idade”. Mais ou menos, pela mesma altura, Chopin fazia a sua primeira aparição pública como pianista, sendo o seu talento extraordinário, motivo de conversa em Varsóvia. A Revista de Varsóvia, na sua edição de Janeiro de 1818, dedica-lhe um texto afirmando que Fryderyk era um autêntico génio nacional. Depressa Chopin se torna atracção, sendo muito requisitado para os salões da cidade. O seu talento abria-lhe as portas para todas as camadas da sociedade polaca, habituada a ouvir os melhores intérpretes de música erudita. Ainda, com 8 anos, a Imperatriz Maria Fyodorovna, mãe do czar e do Grão-Duque Constantino, visitou a sala de aula de Chopin e no liceu foi presenteada com duas Polonaises pelo compositor. Mais tarde, em 1822, aquando da criação do Conservatório de Varsóvia, Chopin terá como professor Jósef Elsner que lhe dará lições de teoria musical e de harmonia, tendo sido o seu único professor de composição. Em Setembro de 1825, Chopin iniciou o seu último ano no liceu. Aos seus trabalhos escolares e às frequentes apresentações nos salões de Varsóvia, vinha somar-se ao domingo o lugar de organista na Igreja das Visitandinas. Escreveu obras de todo o género – oratória, ópera, sinfonia, variações para piano, rondós, danças e uma adaptação da Paixão. Durante a segunda metade de 1827 e início de 1828, Chopin compôs a sua primeira obra para piano e orquestra. Depois dos exames, Chopin parte para Viena, aí, dará um concerto triunfal no Teatro Karntuerthon. Os seus amigos tinham partido; a situação política tinha mudado drasticamente. O país tinha-se transformado. Não sendo Chopin um activista político, a vida emocional lançara-o numa depressão, embora tivesse conseguido declarar-se a Konstancja Gladkowska. Obstinado, sai da Polónia, chegando a Paris com alguma dificuldade em meados de Setembro de 1831. Um ano depois, em 1832, a Polónia tornar-se-á uma província do Império Russo. Depressa fica conhecido como Fréderic Chopin. Paris era a capital do século XIX. Talvez inspirado pelo espírito da Revolução de 1789, aí se encontravam os espíritos criativos do século. Hugo, Heine, Lamartine, Chateaubriand, Baudelaire, Balzac, De Vigny, De Musset,George Sand, Ingres, Delacroix, e compositores pianistas como Liszt, Kalkbrenner, Pixis, Hiller, Herz e Alkan. Verdi e Wagner estavam ainda na adolescência. Listz tinha acabado de fazer vinte anos. Schumann e Chopin tinham vinte e um. Mendelssohn vinte e dois, Berlioz vinte e oito. Desde sempre existiu uma forte ligação entre a Polónia e a França. Grande número de refugiados, com destaque para muitas das famílias endinheiradas da aristocracia, com as quais Chopin se tinha relacionado em Varsóvia, procuraram o conforto que a sua terra pátria não lhes proporcionava. Em Paris estavam, também, os amigos dos tempos de estudante de Chopin. Os pianistas afluíam em massa à capital. Chopin estava no lugar certo na altura certa. Não faltavam senhoras que manifestassem interesse por ele. Finalmente, ao cabo de vários adiamentos, chegou a estreia de Chopin em Paris, com o apoio de Kalkbrenner. O local de estreia seria a Salle Pleyel a 15 de Janeiro de 1832, mas adiada para 25 de Fevereiro por Kalkbrenner estar a passar mal. O público, em que se incluíam Liszt, Mendelssohn, Heize e Pixis aplaudiram entusiasticamente. Apesar dos êxitos alcançados, Chopin confessava que não tinha vocação para dar concertos. A multidão intimidava-o e sentia-se asfixiado pela sua respiração ansiosa, paralisado pelos seus olhares inquisitivos, silenciado pelas suas faces estranhas. Vivendo um período de alguma dificuldade, é apresentado ao Barão Rothschild, o filho mais novo da mais importante família de banqueiros da Europa do século XIX. Com Rothschild abriram-se as portas de todas as famílias mais importantes de Paris. Em poucos meses Chopin tinha-se mudado para um apartamento de luxo, gabando-se de ter criado e carruagem, vestindo- -se em algumas das lojas mais elegantes de Paris, ao mesmo tempo que se sentava à mesa com embaixadores, príncipes e ministros. Dava lições, praticando honorários excepcionalmente altos, podendo cobrar vinte francos por lição, quando o salário médio de um parisiense não qualificado não ia além de um franco diário. Em Paris, raramente punha os pés na igreja, onde em todas as missas se rezava pela libertação da Polónia, sendo dos poucos compositores que não escreveu música religiosa. A relação de amor e ódio de Chopin com Liszt data dos seus primeiros dias. Chopin tinha cerca de metro e setenta de altura, olhos azuis acinzentados, cabelo louro escuro e sedoso e um pronunciado nariz Bourbon. Em 1840 pesava menos de quarenta e cinco quilos Liszt achava que a sua figura franzina e transparente enfeitiçava o olhar. O seu porte distinto, os seus modos tão instintivamente artísticos que toda a gente o tratava como se ele fosse um príncipe. Os seus modos eram cheios de graciosidade e falava num tom de voz tão baixo que chegava a ser sibilado. Chopin não deu mais de trinta concertos públicos, mas a impressão deixada por essas poucas apresentações foi suficiente para fazer dele um intérprete lendário. Os seus rendimentos provinham sobretudo das aulas e das vendas da sua música. Para além de um compositor de génio, era também um professor exímio. Durante muitos anos, a sua fama de pedagogo chegou muito longe, trazendo-lhe alunos, não só de França e Polónia, mas também da Lituânia, Rússia, Boémia, Áustria, Alemanha, Suíça, Grã-Bretanha, Suécia e Noruega. Chopin tratava os seus alunos com exemplar cortesia, paciência e perseverança, embora as aulas, por vezes, chegassem a ser tumultuosas. A epidemia da gripe de 1835, deixou Chopin com bronquite e a tossir sangue. Em resultado de doença grave contraída em Heidelberg, começaram a correr rumores da morte de Chopin, que chegaram a Varsóvia Em Setembro de 1836. Chopin propôs casamento a Maria Wodzinska. Ela aceitou, mas a família foi mais prudente, aconselhando-o a evitar as noitadas e a cuidar da saúde, embora o relacionamento se mantivesse através de cartas. Os Wodzinska tinham decidido que a filha não poderia casar-se com um homem de tão frágil constituição. Sendo a vida e as vontades de Maria controladas pelos pais. Entretanto conheceu George Sand. Chopin não ficou nada impressionado com aquela escritora baixa e roliça que vestia roupas de homem, fumava charuto e escrevia sob pseudónimo masculino, ao ponto de ter um dia comentado: “Que mulher tão pouco atraente é La Sand. Será mesmo mulher?”. Na noite de 8 de Março de 1838, Chopin foi um dos convidados para jantar no apartamento do seu amigo Marquês de Custine. Entre os convidados estava George Sand que ao ouvi-lo tocar se apaixonou por ele. Afinal, quem era esta mulher que usava calças, fumava charuto e escrevia romances sob pseudónimo masculino, frequentadora habitual dos salões mais chiques, amiga da nata de Paris? George Sand nasceu em 1804 e foi baptizada como Amandine Aurore Lucie Dupin. Segundo escreve na sua biografia Histoire de ma vie, publicada em 1855, foram os conflitos de classe no seio da sua família mais próxima que enformaram a sua vida e a sua consciência social. Aos 18 anos casou-se com Casimir, filho do barão Dudevant de quem teve dois filhos, Maurice (1823) e Solange (1828). Casimir era um parceiro inadequado para um espírito independente, boémio e amante da vida. Ao fim de nove anos deixou-o e mudou-se para Paris com os filhos, decidida a ganhar a vida como escritora. O primeiro de uma série de amantes de Aurora, foi o escritor Jules Sandeau, a cujo apelido foi buscar o pseudónimo. A este seguiram-se Prosper Merimée, Alfred de Musset, Michel de Bourges, Pietro Paello e, quase de certeza, Liszt. Em Inglaterra, George Sand era considerada uma influência nefasta, anti-casamento e uma ameaça à unidade familiar. Fisicamente não era uma beldade convencional, media menos de metro e meio de altura e era roliça, mas o seu magnetismo compensava tudo. Sand iria ser para Chopin durante nove anos, um esteio e de longe, a pessoa mais influente que entrou na sua vida. Nessa altura, Sand já estava legalmente separada do marido, mas ainda estava no meio de um caso amoroso com o dramaturgo Mallefille(1813-1868). Vivendo juntos, decidiram ir residir para Maiorca, juntamente com os filhos, Maurice, Solange e a criada. Inicialmente, tiveram alguma dificuldade em arranjar alojamento. Finalmente descobriram a cerca de cinco quilómetros da cidade uma casinha chamada “Villa Sou Vent”. Passado pouco tempo, em Dezembro de 1838, confessava que andava com uma tosse de cão. Os médicos diagnosticaram-lhe tuberculose, e como era seu dever, participaram o caso às autoridades. O senhorio foi informado e apressou- -se a exigir a partida da família, além de uma quantia exorbitante para substituir a mobília e decorar de novo toda a casa. Chopin e Sand escolheram, então, um espaço alternativo para viver: um velho mosteiro cartuxo, abandonado, em Valldemosa. As instalações eram deficientes. Os camponeses de Valldemosa tinha tomado de ponta os seus estranhos visitantes que se isolavam, não iam à igreja e menosprezavam todo o tipo de convenções sociais, ao mesmo tempo que tinham ganho grande aversão ao comportamento daquela mulher impaciente e arrogante que voltava as costas à igreja, mas mesmo assim ousava instalar-se numa cela monástica com um homem que não era seu marido. A 11 de Fevereiro de 1839, Chopin e Sand resolveram, de repente, fazer as malas e regressar a Paris, adiantando a partida que estava programada para Maio. Instalado em Nohant, propriedade herdada por George Sand, Chopin desfruta de uma vida familiar estável, o que não lhe acontecia desde que partira de Varsóvia. O Verão no campo era mais propício a um trabalho continuado de composição, ao ponto de quase toda a música de Chopin dos anos seguintes ter sido composta em Nohant. Em 1840, Chopin adoece com dores no peito, Jan Matuszynski, médico, seu amigo, estava convencido que Chopin estava a ser consumido pela tuberculose. A convite da família real, deu um concerto nas Tulherias a 2 de Dezembro, na presença de 500 convidados. Apesar do generoso presente de peças de porcelana com que foi brindado, o acontecimento deixou-o deprimido. Foi a última vez que tocou na corte francesa. Depois de ter estado quinze dias de cama com uma inflamação na boca e nas amígdalas, sendo levado para Nohant por George Sand, em Fevereiro de 1844 voltou a adoecer, desta vez, da epidemia de gripe que tinha assolado Paris. No Inverno, os ataques matinais de tosse de Chopin tornam-se mais longos, deixando-o, muitas vezes, sem forças para andar, com dificuldade em respirar, raramente convivendo. Chopin e George Sand chegam à incompatibilidade. George Sand destruirá todas as cartas que Chopin lhe tinha escrito, Chopin, por seu turno, guardará todas as cartas de Sand, conservando uma madeixa do cabelo dela. Levando consigo, até à morte para toda a parte o primeiro bilhete que dela tinha recebido. Com a revolução em França, de 1848, que acabara com a monarquia e levara à constituição da república, Chopin viu-se a viver sozinho com rendimentos muito reduzidos. O seu estado de saúde tinha-o obrigado a reduzir o número de aulas que dava, diminuindo os seus proventos. Face às dificuldades que enfrentava, surge por parte de Jane Stirling uma oportunidade para se deslocar a Inglaterra, onde poderia dar concertos, ganhar dinheiro e divertir-se. Tudo estaria à sua disposição por parte de Jane. Na última semana da sua vida, amigos e conhecidos acotovelavam-se para apresentar asvsuas últimas homenagens. Deu instruções para que todos os seus manuscritos incompletos fossem destruídos, só sendo publicadas as obras acabadas. No seu funeral devia ser tocado o Requiem, de Mozart. O seu coração devia ser extraído do corpo e enviado para Varsóvia. Pediu, ainda, para que o seu corpo fosse aberto para não ser enterrado vivo. No dia 16 de Outubro de 1849, Chopin entrou em agonia. Pediu música. Tocaram Mozart. Eram cerca das 2 horas da madrugada quando expirou. Tinha trinta e nove anos. O coração de Chopin foi retirado, e depois, levado o corpo para a cripta da Madeleine. Quase duas semanas depois, a 30 de Outubro, realizava-se o funeral. Tinham sido convidadas três mil pessoas. Milhares de pessoas acompanharam o féretro de cerca de cinco quilómetros, até ao cemitério do Père Lachaise, onde a campa se encontra adornada por um monumento de autoria de Clésinger. George Sand não esteve presente, tendo Jane Stirling custeado todas as despesas do funeral. Chopin não compôs mais de trinta canções em toda a sua vida. Algumas nunca foram passadas a escrito, outras não passaram de esboços. Nenhuma foi publicada em vida do compositor. Todas as canções de Chopin são arranjos de poemas polacos, na sua maioria escritos por contemporâneos das suas relações. Chopin escreveu quatro Sonatas – três para piano solo e uma para violoncelo e piano. Das Valsas de Chopin, apenas oito foram publicadas em vida do compositor. As Mazurcas são as obras mais características de Chopin, aquelas que revelam todas as facetas da sua personalidade e todas as suas emoções. Foi uma forma a que se dedicou desde a adolescência até à morte. Existe um total de sessenta e duas Mazurcas, sendo quarenta e uma publicadas em vida de Chopin. O nocturno é uma forma musical associada a Chopin, designando um serviço da Igreja, originariamente destinado a ser celebrado à noite. O primeiro dos dezoito Nocturnos publicado em vida, foi escrito em 1827, editado postumamente. Um prelúdio é normalmente uma peça de música introdutória, por exemplo, a abertura de uma suite. Estes Prelúdios não prefaciam nada, são simplesmente ideias autónomas, poemas tonais em miniatura, que exploram uma infinidade de cambiantes, de sentimentos e humores. Oito deles duram menos de um minuto, só três duram mais de três minutos. Só por si os 24 Prelúdios teriam bastado para dar a Chopin o direito à imortalidade. E foi a leitura de livros encontrados em espaços distantes do público, que se vão mantendo vivos, que encontrámos o conhecimento que nos faz indivíduos cada vez mais capazes, em condições de compartilhar o que nos vai sendo proporcionado. De Chopin, figura existente em nós desde há muito, finalmente, em palavras escritas. Compositor e George Sand a fazer parte do nosso acervo memorial. Texto partilhado com quem quiser saber, não fosse a vida, o viver melhor uma partilha constante e diária…

O tio Mário Melo é mais um artista do nosso povo

Ter, 23/11/2021 - 09:46


Este mês é das almas, por isso tivemos no nosso programa a tia Maria Falcão de Caçarelhos, Vimioso e a tia Felisbina de Constantim, Miranda do Douro, a cantar a encomendação das almas, embora, na maior parte das aldeias, esta tradição só realize na Quaresma.
O tio João Santos, de Torre de Dª Chama, que é um apaixonado por cabaças, este ano teve dezenas delas de um só pé e de várias formas como se pode ver na foto.

Diga NÃO à violência

A reação de cada mulher à sua situação de vitimação é única. Estas reações devem ser encaradas como mecanismos de sobrevivência psicológica que, cada uma, aciona de maneira diferente para suportar o problema.
As mulheres encontram-se, na maior parte dos casos, em situações de violência doméstica pelo domínio e controlo que os seus agressores exercem sobre elas através de vários mecanismos, tais como: isolamento relacional, o exercício de violência física e psicológica, a intimidação, o domínio económico, entre outros.