Luís Ferreira

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Vendavais - Os rios nascem no mar

palco redondo que gira e gira sem parar, parece que tudo está a girar ao contrário. Sem desprimor para a ordem natural que tudo comanda, por vezes temos a sensação de que realmente andamos ao contrário. Há qualquer coisa que nos leva a pensar que o que acontece não deveria acontecer deste ou daquele modo, o que nos leva a concluir que estará errado o que realmente se passa.

Desde há muitos séculos que falamos e admitimos que a democracia é o sistema que mais se aproxima da natural fluência de vida que aos humanos é atribuída. Claro que antes de os gregos terem experienciado e admitido a democracia como o regime que menos permitia aos governantes acessos à corrupção e à eternização do poder, outros regimes existiram e a humanidade não desapareceu e os governos não deixaram de exercer o seu poder executivo. Mas depois de tantos séculos e tantas lutas para conseguir afirmar a democracia como regime mais justo para governar em todos os sentidos e em todos os países, como é que ainda há governantes que não aprenderam nem o significado dessa palavra nem a necessidade da sua aplicação? Muito pior que isso é o facto de chamarem regime democrático a regimes puramente ditatoriais onde só um comanda, só um decide, só um governa.

O mundo está à beira de um conflito enorme se ninguém for capaz de explicar devidamente a Maduro o que significa democracia. Como é possível no século XXI um governante querer eternizar-se no poder e matar à fome os seus súbditos em nome do que chama democracia?

Também não se entende muito bem como é que tantos apoiam o regime, mesmo sabendo que não lhe darão o dinheiro para comprar o pão no dia seguinte. Será por medo ou convicção? Os que imbuídos de uma vontade férrea de mudança, se atrevem a mudar alguma coisa em nome da democracia, são considerados fascistas, capitalistas e imperialistas. Maduro estudou bem estas palavras, mas porque lhe interessava. Elas permitem-lhe ficar no poder e mudar as regras do jogo quando e sempre que quiser. Mas o peso da espada que pende sobre ele, pode cortar-lhe a cabeça de um momento para o outro e ele ainda não pensou nisso.

O movimento iniciado por Guaidó pretende para a Venezuela a mudança que todos esperam e a dignidade que todos os venezuelanos merecem. A transição é necessária e urgente, mas o que internamente é sentido de uma forma, para a comunidade internacional é diferente, principalmente para os países que ainda não aprenderam corretamente o significado da palavra democracia. Isto pode levar este mundo a girar de forma contrária, o que será desastroso.

Perante esta manifestação de oposição ao poder de Maduro que todos afirmam ser ilegítimo e fraudulento, logo se perfilaram países a defender o ditador e outros, mais politicamente cuidadosos, a exigir eleições antecipadas e sem cariz fraudulento. Aos poucos, por causa de um ditador, o mundo divide-se nas suas opiniões. E se formos a ver quem está de um lado e de outro da barricada, vemos que de um lado estão países como a Rússia e a China onde as ditaduras permanecem a seu bel-prazer, e do outro os países da União Europeia e os EUA. Afinal parece que nem todos os países sabem o significado real da democracia e como aplicar o regime que a ela subjaz. É verdade que da legislação internacional ressalta o facto de que nenhum país se pode ingerir no modo de governação de outro a não ser em casos muito específicos e urgentes. Será que este não é um desses casos? Não se entende de facto como é possível permitir que um país como a Venezuela que tanta riqueza tinha, tenha perdido tudo a favor da ganância e incoerência política de governantes como é o caso do atual.

O mundo está suspenso das movimentações que se irão seguir e esperemos que sejam tomadas com base na democracia, mas daquela que não conhece Maduro. Se ele anda ao contrário, o mundo terá de girar de outra forma. A verdade é que os rios não podem nascer no mar!

Vendavais - Mais um tiro no pé

É costume dizer-se Ano Novo, vida nova, mas nem sempre assim sucedem às ambições que legitimamente se têm. Contudo, há sempre a tentação de mudar algumas premissas de silogismos pouco lógicos.

Quando há alguns meses houve eleições no PSD e se perfilaram Rio e Santana, eu disse que era errado o risco que Rio corria e que melhor seria deixar Santana assumir uma vitória momentânea, deixando sempre o partido em situação de recuperar com mais certezas, um resultado favorável. Tal não aconteceu, como se sabe e, as consequências foram as que sabemos. Santana com quase 46% de votação achou-se no direito de fazer valer o seu valor e saiu do PSD para fazer a Aliança. Perdeu o PSD. Perdeu e continua a perder. Um tiro no pé.

Rui Rio ao ser eleito neste confronto amigável, levou os seus apoiantes a esperar dele muito mais do que tem mostrado, arrastando o partido para um lamaçal tremendo onde, aos poucos, todos se estão a enterrar.

As sondagens dão uma baixa considerável ao PSD o que leva a outras movimentações dentro do partido. O medo do afundanço é assustador e, antes que seja tarde, logo se estão a perfilar candidatos para a liderança numa tentativa de salvação rápida. É verdade que Rui Rio gorou as espectativas dos apoiantes e até dos que não o são. Parece-me que ele mesmo falhou consigo próprio. A verdade é que não conseguiu afirmar-se nem como líder nem como oposição ao governo. Não se vislumbram soluções. Mas também é verdade que não teve muito tempo para marcar um ritmo e descompassar o governo. De qualquer modo, até parece, em determinadas ocasiões, querer aliar-se ao PS, levando algumas soluções a afastarem-se da geringonça, encostando-se deste modo a um PS que está cada vez mais forte e afirmativo.

Estamos a meses de umas eleições e a sensatez diz que não se pode brincar nem com os eleitores, nem com os objetivos pessoais que aparecem só em tempos conturbados. Montenegro, que não quis assumir ser candidato para enfrentar Rio e Santana, vem agora desafiar Rui Rio, numa investida despropositada e sem assumir riscos, arrastando o partido para um desgoverno e desorientação interna assustadora, correndo sérios riscos de descer para níveis nunca antes atingidos. Neste momento o PSD já desceu 50% em relação ao que já conseguiu quando foi governo, mas esses tempos servem só para satisfazer a memória.

Perante este descalabro interno, resta a Rui Rio afirmar-se através do Conselho Nacional e deixar Montenegro a queixar-se com dores de mais um tiro que deu no pé. É que não há possibilidades de levar o partido para eleições internas neste momento quando há eleições nacionais a alguns meses de distância. Seria a maior irresponsabilidade jamais praticada pelo partido social democrata! Deste modo não se auguram tempos fáceis para o PSD e seus supostos líderes. Mas a Rui Rio falta-lhe o poder da liderança. Demasiado mole, diria o povo.

No meio do que se diz e não diz, lá estão os velhinhos do Restelo de quem o partido nunca se conseguiu desprender e que estão sempre a dar palpites. Os antigos barões não se desmarcam nem se desligam do partido. Vão dando opiniões e até são ouvidos, mas não seguidos. Isto leva-nos a concluir que o PSD não conseguiu ainda arranjar personalidades de nomeada que se afirmassem partidariamente de modo a conduzir o partido a praias serenas e seguras. Cavaco só houve um e com ele alguns foram formados e foram vistos num rodopio fantástico na governação, durante dez anos. Acabaram. Passos tentou, mas as condições não lhe foram favoráveis. Acabou. Santana, tentou, mas também falhou e foi embora. E agora?

Face a este cenário, quem se pode rir um pouco é realmente Santana Lopes que já chamou a terreiro os partidos da direita para se unirem após eleições para formar governo. Claro que ele está a contar com os votos divisionistas que a Aliança irá obter e que poderão equivaler aos que o PSD irá perder com toda esta balbúrdia interna. Mas para que isto aconteça serão necessários mais cerca de 700 mil votos. Onde estão eles?

Com eleições à porta e com este desacerto do PSD, Costa e o PS respiram um pouco de alívio. As sondagens são-lhe favoráveis e o mais certo é ganharem as eleições. Resta saber se Costa terá de aguentar com o PCP e com BE ou se seguir a batuta de Rio se coligar ao PSD ou ainda, se a direita coligada com a Aliança conseguirá formar governo em mais uma geringonça à direita. Tudo são possibilidades já que não vislumbro uma maioria absoluta para o Partido Socialista.

Seja como for, Montenegro acabou de dar mais um tiro no pé e arrastar o PSD para um buraco demasiado profundo. Resta saber se vai conseguir sair de lá rapidamente.

 

Vendavais: As falsas promessas

Na falsa educada utilização promíscua das palavras, todos acabam por adiantar algo em que talvez gostassem de acreditar, mas que no íntimo do seu ser, não acreditam ser possível, a não ser no vão contentamento de quem as ouve. Sempre foi assim no deslizar do tempo incomensurável e continuará a ser no que está para vir.
A despedida do ano que agora chega ao fim faz-nos desejar imensas coisas boas. Somos demasiado egoístas ou gananciosos. Deveríamos ser mais comedidos e desejar simplesmente um novo ano com saúde e paz e ficar por aqui. Só isto. Mas é impossível porque queremos tudo e acabamos por cair nos desmandos tremendos que nos levam aos abismos mais profundos. Exageros. Nada de novo. A ambição é própria do homem e a parcimónia raramente faz parte do seu comportamento habitual. Novidade é, ou talvez não, quando para conseguir esses desejos se promete muita coisa em troca, na firme convicção de que nunca vão passar de vãs promessas.
Antes do ano acabar tinha que ser aprovado o Orçamento de Estado para o próximo ano, como é normal, e ser homologado pelo Presidente da República, a fim de ser implementado a partir de janeiro. Discutiram na Assembleia todos os requisitos necessários a esse objetivo e os partidos políticos assumiram as suas responsabilidades tendentes à aprovação em causa. No meio desta discussão, bailava um decreto promessa antigo do governo sobre a contagem do tempo de serviço dos professores a ser implementado a partir de janeiro de 2019, após acordo com os sindicatos respetivos, mas que estava incluído no Orçamento, como sabemos. Estava. Antes da discussão do orçamento o governo tornou bem claro que isso não iria acontecer e fez uma proposta de contar somente dois anos e nove meses e alguns dias. Seguiram-se greves e negociações a par da intransigência do ministro da tutela. Nada se alterou.
Aprovado que foi o Orçamento e perante a teimosia do governo em apresentar ao Presidente da República o tal decreto de conceder apenas dois anos e nove meses aos professores, esperaria certamente que Marcelo o aprovasse e tudo ficaria resolvido. Mas não. Marcelo não só não aprovou como remeteu para nova discussão toda a problemática da contagem a ser cedida. Teremos assim a continuação da saga que já tem algum tempo e muita discussão sem soluções à vista. 
Quando o governo dava os primeiros passos nos meandros ministeriais, prometeu tudo e mais alguma coisa para se poder manter em exercício. Agora que já está a ver uma luz ao fundo do túnel, que é como quem diz eleições e a possibilidade de se manter nos gabinetes, puxa dos galões da teimosia e arroga-se da importância necessária para desdizer o que disse e faltar às promessas proferidas. Não está à espera do reverso da medalha!
Se os meus alunos me respeitam, por que razão não me há-de respeitar o governo? Pois bem. Vamos fazer uma proposta aos senhores ministros. Todo o tempo que têm de trabalho não contará nem como tempo de serviço nem para a reforma. Ficamos quites. Será que aceitam? Se os professores podem ficar sem quase dez anos de serviço, como se não tivessem exercido a sua profissão, então eles também podem ficar sem essa equivalência. Que percam todas as mordomias que têm e as regras especiais que os envolvem nos meandros e corredores do poder e vamos ver se aceitam ficar sem tudo isso. E nós não estamos a fazer promessas! São meras propostas. Aceitam? Claro que não.
Constatamos deste modo que as promessas têm sempre uma razão de ser, nem que não seja mais que uma simples promessa para atingir alguns dividendos imediatos, como foi o caso. A verdade é que as promessas ficaram, mas apesar de terem atingido um objetivo de curto prazo, terão de ser renegociadas, custe o que custar. Mas como este ano de 2019 tem eleições decisivas para o governo e para o partido socialista, as negociações poderão ser mais fáceis. No entanto, também se pode dar o caso de o partido socialista estar tão convicto da vitória que não vai arredar pé da sua promessa inicial e arrastar o caso até às eleições. E a ser assim, só um milagre de S. Marcelo pode resolver a contenda. 
Para já, resta-nos despedir de 2018 com um ligeiro amargo de boca e com a esperança de em 2019 os professores terem, não uma falsa promessa, mas um entendimento razoável que lhes permita reaver o que lhes foi tirado indevidamente.
Certo é que fica no ar a promessa dos professores de continuar a luta para adquirir o tempo perdido. O governo terá de enveredar pelo diálogo e pela negociação e ver se assim consegue tirar dividendos políticos em ano de eleições. Como diz o povo, assim como assim, as promessas são sempre falsas! Viva a esperança que é a última a morrer.

Vendavais - Tudo é uma questão de política

Numa época em que deveria prevalecer a sensatez, a paz, o amor e a amizade, eis que nos deparamos com a agressividade, com a loucura, com o fanatismo, com a insensatez e com a guerrilha fortuita.

Um pouco por todo o lado levantaram-se as manifestações, as greves, as ameaças, os tiroteios e as mortes sucedem-se numa injustiça incontida como se o preço da vida fosse comparável ao de uma alface que se adquire no supermercado da esquina. Em Estrasburgo um lunático que ainda acreditava que do outro lado tinha à sua espera uma dúzia de virgens, leite e mel para amaciar as dores da passagem, acabou por matar 4 pessoas e ferir catorze que, num momento de lazer, apreciavam o mercado de Natal da cidade. Acabou morto, pois outra coisa não seria de esperar perante tais atrocidades contra quem nem sequer conhecia e nem era culpado da sua loucura. Nem a época natalícia conseguiu amaciar-lhe a alma terrorista de infiel!

No Reino Unido a moção de censura imposta a Theresa May foi uma dura prova para provar coisa nenhuma, a não ser que ela era e continua a ser contestada como governante devido ao facto de ter engolido sapos enormes. Na verdade, ela que sempre foi contra a saída do Reino Unido da União Europeia, teve que enveredar pelo caminho inverso e defender a saída após um referendo que lhe saiu muito mal. O acordo conseguido não satisfaz os ingleses. Conseguiu ultrapassar a moção de censura, mas não conseguirá sair airosamente de toda a confusão, até porque o Parlamento irá impor-se e acabará por derrubar o governo e exigir novo referendo. E a ser assim, o Reino Unido dificilmente sairá da União Europeia. Isto será bom para os ingleses, para os irlandeses e para os europeus incluindo especialmente, os portugueses. A comunidade portuguesa no Reino Unido é grande e necessita de segurança quer no trabalho, quer nas condições que a União permite e impõe. Promessas leva-as o vento.

Voltando a França deparamos com as manifestações dos coletes amarelos. Nas ruas, acompanhados de violência, as manifestações que deveriam ser pacíficas, transformaram-se em loucuras terríveis e quase numa batalha campal que fez lembrar Maio de 68. Mas o que estavam a fazer os coletes amarelos que não eram amarelos e que se aproveitaram da onda de manifestação? Aproveitaram para incendiar a multidão contra tudo e todos e afirmar uma direita extremista que nada tinha a ver com os verdadeiros coletes amarelos. Há sempre quem se queira aproveitar de alguma coisa que outros fazem. Quem não pode aluga!

No entanto, a onda amarela parece querer espalhar-se por toda a Europa. Os países que estão a atravessar dificuldades económicas e sociais, estão a aceitar a entrada dos coletes amarelos para, dentro desta onda, se espraiarem pelas areias das injustiças e ganharem terrenos firme. Portugal está dentro dos países que querem vestir de amarelo. Haverá aqui alguma incongruência? Então num país onde tudo vai bem, onde a economia está a crescer, onde o Orçamento foi aprovado e traz benefícios para todos, um país que até as agências de rating classificam como estável e a recuperar, será necessário vestir de amarelo e contestar alguma coisa? Será?

Bem, se calhar estamos a esquecer alguns pormenores. De facto, estou a lembrar-me da greve dos estivadores que quase levavam ao fecho da fábrica de Palmela, das demissões no hospital Dª. Estefânia em Lisboa, da greve dos enfermeiros que acabam de adiar 5.000 cirurgias a nível nacional, da greve dos juízes que arrastam os processos sine die pelos tribunais, da greve anunciada pelos professores que não vêem as promessas cumpridas e outras tantas injustiças e falsas promessas deste governo que prepara já as eleições do ano que aí vem. Afinal, parece que será necessário vestirmos um colete amarelo e erguer a voz, pois será a única maneira de nos fazermos ouvir todos. A verdade é que alguma coisa tem de mudar.

É pena que em tempo de paz se faça guerra. Que em tempo de amor se criem inimizades. Que em tempo de entendimento se agrida o próximo. Quando apelamos à justiça e ao bom senso, fazemo-lo com a sinceridade com que queremos o seu cumprimento, nunca com a esperança de enfrentarmos a loucura de um fanatismo absurdo, a irreverência de políticos cegos pela politiquice que os cargos lhes permitem exercer ou pela necessidade que alguns têm de se imiscuírem nas políticas que outros aplicam e julgam como sensatas ou quase. Tudo é uma questão de política!

Em tempo de Natal, devemos esperar felicidade, amor, carinho, saúde e muita paz.

Espero que sejam todos muito felizes. Bom Natal e Boas Festas.

Vendavais - O Orçamento do desencontro

Apesar de toda a polémica que se levantou no que à discussão e aprovação do Orçamento diz respeito, o certo é que todos sabíamos que não haveria grandes novidades e que seria aprovado para bem de toda a geringonça e em especial para António Costa e o seu governo. Contudo, algumas desconfianças existiam no seio de alguns partidos, quer da oposição, quer dos partidos da geringonça.

Quando se aprovou na generalidade, os mais ansiosos pela polémica, ficaram descontentes já que não houve polémica. Aprovou-se simplesmente e sem grandes discussões. Depois, contava-se, seria uma questão de pormenores. Mas não foi. Ou talvez até fosse. Estamos para ver.

A discussão na especialidade trouxe algumas controvérsias para o governo. Costa não contava com algumas delas e Centeno estava a tremer com as propostas de alteração apresentadas na Assembleia. Cinco mil milhões de euros! Centeno estava em pânico e não era para menos. Foi uma maratona de discussão para que tudo fosse aprovado a tempo e entregue ao Presidente da República. No final Centeno respirou de alívio e Costa também. Igualmente o Bloco de Esquerda e o PCP que conseguiram impor a sua força juntamente com o CDS e o PSD. Coisa curiosa, mas felizmente boa para quem saía favorecido.

É facto que a contagem de tempo dos professores foi uma vitória para a esquerda e para os partidos que se coligaram nesta votação curiosa, mas será que para os professores vai ser também uma vitória? O governo vai continuar obrigatoriamente as negociações com os sindicatos e vai ter de ceder, resta saber como e quando e de que modo. Os quase três anos que o governo estava disposto a descongelar na carreira dos professores não vai ser objeto de apreciação de Marcelo e não vão ser equacionados para já. Esperemos como vão decorrer as negociações, mas não tenhamos muitas esperanças pois a serem repostos os quase dez anos das carreiras, sê-lo-ão ao longo de alguns anos certamente. Se foi um revés para Costa, possivelmente também o será para quem tem demasiadas esperanças na progressão. Enfim!

Pois Orçamento aprovado, trato acabado. Agora começa a campanha e será cada um por si. O PS já tem as estratégias todas delineadas para o ano que se aproxima. Aliás, já esta semana sai para a rua em campanha, porque não há tempo a perder. Costa não quer perder na caminhada por isso sai a tempo, pois perder seria demasiado mau. Dentro de pouco tempo não se ouvirá falar mais de Tancos, de greves, de Borba e de corrupção. Isso serão fait divers para entreter o povo quando for necessário. O que interessa no ano que vai começar é discutir promessas e arrasar os que podem erguer barreiras na caminhada dos socialistas. Aliás, quando se apregoa que tudo está muito bem e que a economia está a crescer e que até a agências de rating mantêm a sua posição em relação a Portugal, para quê falar de coisas más como as greves de norte a sul do país ou da própria geringonça ou de Tancos e da corrupção que grassa no país? Claro que não. Interessa sim preparar o caminho para as eleições e para uma possível vitória e ela só acontece se todos acharem que estamos muito bem e que o governo está a fazer milagres.

E onde pára a oposição? Não se sabe muito bem. Na assembleia faz pouca mossa e na rua nem Rio nem Cristas castigam o governo de forma assertada. São vergastadas que não abrem buracos, como diria Bruno de Carvalho. Mas atenção Rui Rio, pois com a sua própria oposição interna, pode acontecer um suicídio colectivo. E depois? A tudo isto, Sócrates assiste de camarote de luxo que, sendo de um amigo e familiar, era de um magnata angolano que resolveu pagar uma dívida cedendo a sua casa. Curioso! Mas já vamos estando habituados às manigâncias do antigo ex-primeiro ministro! Continuam as touradas! Já não chegava a redução para os 6% de IVA para as touradas… com touros!

E Marcelo? Será que também assiste de camarote a todo este alarido? Não parece muito incomodado, é certo, mas já deve estar a equacionar o modo de resolver uma certa questão que o remete para segundo plano na hierarquia nacional. Parece que o governo vai passar a dar posse aos oficiais generais que nomeia. Inédito! Então as Forças Armadas não estão na dependência do Presidente da República que é o Chefe Geral das Forças Armadas? Isto deve-se somente ao caso de Tancos. Pois é. As queimadelas não foram só as de Pedrógão ou de Monchique. Já vinham de trás. Tancos queimou alguns generais, ministros e secretários. Queimou o governo, claro. Agora Costa não quer correr mais riscos, mas será que Marcelo está de acordo? Afinal há ou não uma inversão de poderes na chefia do Estado? Parece-me que afinal, as touradas ainda não acabaram.

Afinal de contas, o Orçamento foi aprovado, mas há um desencanto enorme que não sei como vai ser resolvido! Pode ser que sim.

 

Vendavais - Tourada de galinhas

Cada vez mais fico estupefacto com o que por cá vai acontecendo. Do mundo chegam-nos, a cada passo, notícias de teores diversos que têm o condão de nos alertar para o que vai acontecendo. É esse o objetivo da comunicação social.

A verdade é que as notícias que correm em catadupa abrangem tantas vertentes que não conseguimos analisar tudo e termos uma opinião abalizada sobre todas elas, mas há sempre uma ou outra que nos deixam a pensar. Por vezes a incongruência entre elas é de tal maneira grave que temos de expressar a nossa opinião ou, pelo menos refletir sobre o assunto.

A este propósito, fiquei surpreendido com a zanga entre os compadres, Costa e César, sobre o IVA de 6% nas touradas. O governo é contra e a assembleia PS quer a proposta aprovada. E, o curioso da questão é que o PAN não se quis pronunciar sobre o assunto. Mas que tourada! Então o defensor dos animais nem sequer tem opinião sobre o que lhe deveria dizer mais respeito? Afinal é ou não contra as touradas? Se é, então não há espaço para IVA algum e muito menos a descida para 6%. Tem que o dizer obrigatoriamente, a não ser que ande a reboque de outros interesses, como os do IRA, por exemplo.

Mas voltemos a César e Costa. Então o grupo parlamentar não deveria estar em sintonia com o governo? Parece que não. António Costa ficou deveras estupefacto com a situação e disse imediatamente que se estivesse na Assembleia votaria contra. E o recado ficou, mas não valeu de grande coisa, já que a proponente manteve a sua posição e parece não querer desistir dela. Assim, caberá ao grupo parlamentar ajustar-se ou libertar-se do compromisso uníssono e unívoco e cada um votar como lhe parecer. Seja como for, ficará sempre a desavença e o desencontro entre o governo e, pelo menos o líder parlamentar do PS para não falar do grupo todo, ou melhor, e isso foi mais visível, entre o Primeiro-ministro o e líder parlamentar Carlos César. É bem demonstrativo da tourada que vai no parlamento! É sempre curioso o facto de se preocuparem com a tourada em aspetos económicos e não em outros como o direito dos animais, à custa dos quais e do seu sofrimento, se divertem milhares de pessoas. É deveras incompreensível o comportamento de determinadas pessoas quando o assunto não lhes convém discutir. O deputado do PAN deveria ser o primeiro a pronunciar-se, mas nada disse como se estivesse comprometido com o facto. Mas Costa que é contra as touradas, nada fez ainda para que as mesmas sejam objecto de análise legislativa. Mas mostra pelo menos uma coerência: se é contra as touradas também é contra a descida do IVA, claro. Mas é preciso fazer mais.

Outro aspeto com alguma graça e emparelhada com estas touradas é o facto de ter sido oferecida uma galinha ao Ministério do Ambiente para alertar para a necessidade de reciclar o lixo que produzimos diariamente. E chegou-se mesmo a apresentar contas sobre o que a galinha consegue consumir ou reciclar do lixo que efetivamente fazemos todos os dias. Tem a sua piada. Contudo, e sabendo que há necessidade de tomar providências sobre este assunto importantíssimo, não é isso que está em questão, a notícia em horário nobre das televisões nacionais e logo a seguir ao IVA das touradas, fez-me questionar, rindo, será que vão taxar a galinha com IVA por reciclar o lixo? Francamente!

A verdade é que parece que nos querem desviar dos assuntos nacionais de interesse para se discutirem minudências como as desavenças dos compadres sobre descida de IVA nas touradas e sobre a importância das galinhas na reciclagem de lixo. Parece ridículo. Será? Certo é que o IVA referente às touradas envolve seriamente o facto de se sacrificar um animal para gáudio de milhares e o caso da galinha envolve um animal que se quer pôr a trabalhar comendo o lixo que os outros fazem. Visto assim, parece-me de muito mau gosto toda esta tourada.

Bem, o melhor mesmo seria não ter touradas, não haver IVAs sobre o sacrifício dos touros e sobre quem se diverte à sua custa e, quiçá, pegar nas galinhas e, antes que desapareçam pois estão em extinção algumas das espécies nacionais, oferecê-las a quem quisesse, para reciclar todo o lixo que se faz neste país, a começar pela Assembleia da República.

Para concluir e porque também veio a lume em horário nobre, melhor seria que o governo se preocupasse em resolver definitivamente o caso das contratações dos estivadores portugueses que estão a pôr em risco a economia portuguesa e a funcionalidade da maior fábrica de automóveis em território nacional, obrigando os barcos a procurar outros portos para embarcar os quase seis mil automóveis que estão à espera de embarque. Isto é que é deveras sério e ultrapassa todas as touradas em que nos querem meter. Não brinquem connosco.

Vendavais - Nefrologistas precisam-se

O  bem mais precioso que podemos ter é a saúde. E quando ela começa a escassear, só nos resta recorrer aos serviços que a podem oferecer. Para isso, é necessário ter um bom serviço nacional de saúde.

Deixou-nos, ainda não há muito tempo, aquele que foi o mentor e implementador do Serviço Nacional de Saúde. Homem de visão e sagacidade que apostou no colmatar de uma falha existente para bem de todo o povo português. Dar saúde a todos por direito, num Estado de Direito. Uma das maiores conquistas de abril.

A sua implementação levou algum tempo, mas foi crucial para a saúde portuguesa. Altos e baixos, como em tudo o que se quer fazer bem, esteve sempre dependente dos dinheiros públicos, levando a ajustes dos vários orçamentos de Estado. Nos últimos tempos, a justeza dos orçamentos, levou os governos a retirar alguns serviços e a diminuir outros, alterando o que se pretendia com o bom funcionamento.

Lembramo-nos certamente que ao longo de todas estas décadas em que contámos com o Serviço Nacional de Saúde, nem sempre houve bom entendimento entre a administração e os médicos, o que levou à criação de serviços de periferia, que muito aborreceu corpo clínico que se viu afastado dos principais centros urbanos, como se as pessoas do interior não tivessem direito a ser assistidos ou os hospitais dispensassem algumas valências, descurando os seus utentes e a sua saúde. Foram tempos de exigência e em que se pensou mais neste interior votado ao abandono. Contudo, ficou a necessidade de não se descurarem os doentes crónicos, que a expensas do Estado, são atendidos mais ou menos bem, mas de acordo com premissas previamente estipuladas, tendo sempre ou quase em atenção a vertente económica do sistema.

É o que se passa com algumas valências, onde existem os doentes e muitos, mas não há médicos especialistas para todos eles, remetendo para o setor de enfermagem os cuidados a ter com eles. É o caso dos doentes sujeitos a hemodiálise, que deveriam ter sempre obrigatoriamente por lei, um médico nefrologistas diário, mas não têm.

O hospital de Bragança teve até há um ano atrás uma médica nefrologista que atendia os cerca de 80 doentes a fazer diálise. A médica saiu para um hospital do Porto e embora dissessem que seria substituída, o certo é que não foi. O serviço de hemodiálise do hospital de Bragança está sem médico nefrologista residente, valendo-lhe um médico da especialidade que vem uma vez por semana de Mirandela, onde tem uma clínica particular. Como é possível que isto aconteça?

A explicação dá-la-á quem souber ou quiser. Não sei se foram abertos concursos e ficaram desertos ou se nem sequer foram abertos para economizar dinheiros públicos. Mas uma coisa é certa: os doentes não podem estar todos os dias a fazer diálise e não ter um médico especialista que possa obviar a algum contratempo que possa surgir a um doente qualquer. A lei obriga a que o hospital tenha um especialista no serviço. Não pode ser ao sabor de quem manda, de quem quer ou não, ou mesmo do que interessa aos serviços. E se a vaga não é preenchida em concurso, então que se arranjem estratagemas que obriguem um médico nefrologista a ocupar o lugar. Se a lei existe e obriga, então que se cumpra.

O corpo de enfermagem tem assegurado esse serviço dentro das limitações a que se vê obrigado, mas não pode substituir o clínico. Neste trabalho insano, há que louvar esses profissionais, mas muito fica por fazer e cumprir. Como diz o povo, não se fazem morcelas sem sangue. Assim, correm-se riscos desnecessários e perigosos. Felizmente que no serviço de Diálise há médicos que por lá vão passando, pois que é necessário observar outros parâmetros dos doentes, mas não são nefrologistas e ninguém pode querer tapar o Sol com a peneira!

Quando o Serviço Nacional de Saúde foi criado não esperava certamente que estas situações se viessem a verificar. Infelizmente. De há uns anos para cá, a saúde tem andado aos trambolhões e só se pensa em como arranjar dinheiro ou em poupá-lo à custa dos doentes que estão à espera de ser bem atendidos. A crise de 2008 veio agravar toda a situação e como os dinheiros públicos eram escassos, os governos logo equacionaram um meio de os utentes terem de pagar e bem, para usufruir dos serviços. O problema agrava-se quando os serviços não são prestados porque não existe corpo clínico adequado. Culpamos os dirigentes, culpamos o Estado, mas não nos culpamos a nós porquê? Alguém tem de alertar para esta situação antes que seja tarde.

É pois urgente que no hospital de Bragança se faça cumprir a lei e que seja preenchida a vaga de nefrologia antes que seja demasiado tarde. Os riscos que os doentes em diálise correm são imensos e podem surgir quando menos se espera. Queira Deus que não se chegue a tanto!

Vendavais - Os trambolhões do Orçamento

As conclusões a que alguns investigadores chegaram sobre o que se passou  quanto ao suposto roubo de armamento de Tancos, vem no seguimento das desconfianças que muitos de nós tínhamos sobre o caso. Tudo era demasiado estranho e sem sentido plausível.

O desvendar de uma série de situações incriminatórias ao mais alto nível, acabou por levar à demissão do Ministro da Defesa e para passar um pano sobre o pó que se estava a levantar em alguns ministérios, Costa resolveu, num golpe de mágica, fazer uma remodelação governamental. Deste modo desviou a atenção da comunicação social e dos portugueses para outro nível, deixando para trás não só o caso de Tancos, mas também a análise e discussão do Orçamento.

O país está a fervilhar. Há um descontrolo total. Uma série de greves com impacto nacional para além do desejável, limita muito o sentido de análise particular sobre determinados assuntos. Na verdade, não sabemos o que devemos discutir ou sobre o que devemos supostamente dar opinião, tal é a dispersão de assuntos graves em curso no país e sobre os quais não há soluções à vista. Desde a greve dos professores à greve dos enfermeiros, passando por muitas outras situações como a dos taxistas, e a dos médicos, tudo tem sido confusão.

O ministro das Finanças entregou no último minuto do tempo disponível, o Orçamento pronto para ser analisado e discutido. Foi um trabalho árduo, suponho, até porque era necessário encontrar pontos de convergência e acordo com os partidos de esquerda. Havia ameaças no ar e não eram veladas. Foi necessário ultrapassá-las.

Para amenizar a situação e acalmar os portugueses, o governo desvendou alguns pormenores do Orçamento como o aumento das pensões, aumento dos salários, descongelamento de escalões da função pública, a descida do IRC, os incentivos ao emprego no interior do país e até a aposta de uma Secretaria de Estado nova em Castelo Branco. Se as coisas fossem tão simples assim, tudo estaria muito melhor e o Orçamento seria um luxo para quem anda há tanto tempo a penar sob uma austeridade destroçadora. Mas não são.

Ninguém dá nada a ninguém sem querer algo em troca. Ora o governo não seria um mãos largas se não tivesse outros trunfos na manga. Para dar por um lado, tem de tirar por outro. Todos sabemos disso. E ele vai tirar e muito. Os supostos aumentos anunciados no Orçamento para 2019, não são reais, pois serão retirados através de impostos diretos e indirectos, como por exemplo o IRS e o IVA e o corte nas reformas antecipadas, para não falar de outras situações como o aumento do imposto sobre veículos ou mesmo os salários que ao passar de escalão passam a ser taxados por outro índice, ficando a receber menos do que antes. Enfim.

Se a comunicação social por vezes dá realce a certas notícias menos interessantes, desta vez tem primado pelos pormenores orçamentais desvendando alguns itens que nos fazem pensar mais pausadamente sobre isto tudo e mostrando o quanto este Orçamento pode ser altamente lesivo para os bolsos dos portugueses.

Por outro lado, as situações que têm vindo baralhar esta discussão têm servido de distracção pura e simples para que o pensamento e análise dos portugueses se disperse o mais possível. Todos sabemos que o Orçamento em ano de eleições tem muito de eleitoralista e este não foge à regra. Nada contra, porque qualquer outro partido que estivesse no governo faria o mesmo, mas não é necessário tomar os portugueses por lorpas. Divulga-se o “toma lá” para que todos fiquem contentes e não se refere o “dá cá”. Mas a cantiga não se altera!

A verdade é que o que aconteceu em Tancos foi demasiado grave e teve gente graúda envolvida. Todos soubera, todos sabiam, todos participavam, todos estavam em conluio e resta saber com que finalidade. É muito triste quando nem nos quadros superiores da defesa nacional se pode confiar. É uma vergonha terrível. Já não bastavam os casos de corrupção e roubo como o caso do Turismo do Norte onde os responsáveis máximos desviaram cerca de cinco milhões, como ainda ficamos a saber que os ministros também andam metidos em situações, no mínimo, altamente comprometedoras.

De qualquer modo e por mais voltas que dê a todo este emaranhado de situações, ficamos sempre com a sensação de que o Orçamento, mesmo aos trambolhões dentro da geringonça, acabará por ser aprovado, mesmo com os votos contra do PSD. E se Tancos acaba por ser esquecido mais tarde ou mais cedo, o Orçamento terá de vigorar durante o próximo ano e é com ele que teremos de viver. Resta saber quem vai ficar a ganhar alguma coisa com ele.

 

Vendavais - Piores, pelas melhores razões

Todos gostamos dos monumentos, de os ver de perto, de os fotografar, de os estudar e até pagamos para os poder admirar e visitar. O homem tem o dom inato da observação e admiração do que o rodeia e isso nutre nele, sentimentos agradáveis ou não, consoante o que se lhe depara. Não é nem nunca foi preciso frequentar a escola para aprender a admirar a beleza, seja ela qual for. Homem e mulher têm essa possibilidade admirável e posicionam-se na sociedade, um pouco ao sabor dessa condição, até porque ela pode e é melhorada a cada dia que passa.

Se a tudo isto juntarmos um pouco de sorte e saber, tanto o homem como a mulher que o conseguem, passam a ter alguma projecção social que acarreta fama e inveja à mistura, numa amálgama explosiva.

A busca da fama, com ou sem proveito, sempre foi um objectivo de todos os tempos para todos os que tinham essa ambição. Nem sempre se consegue fama e glória e muito menos por dá cá aquela palha. Heróis, havia-os na antiga Grécia e esses só depois de ganharem os jogos que disputavam com os melhores. Hoje os tempos são outros. A comunicação social promove rapidamente quem quer ou o seu contrário. De um dia para o outro tudo pode mudar.

Pois é o que está a acontecer com o nosso Cristiano Ronaldo. A comunicação social não se cansou de o elogiar e promover durante anos. Em Portugal e no estrangeiro, é considerado o melhor do mundo. A fama e a riqueza são a sua imagem de marca. É natural que a inveja e as críticas de uns, sejam o gáudio de outros. Ele sabe disso. O seu nome, o seu físico, a sua performance, são capas de todas as revistas e programas de televisão, publicidade de muitas marcas, que à sua custa ganham fortunas e com ele repartem, obviamente, algum desses ganhos.

Rapaz de poucos estudos, subserviente e amigo da família, lutador incansável, subiu as escadas da fama à sua custa e sem ajudas de terceiros. Impôs o seu estilo, o seu saber, a sua arte futebolística e guindou-se ao último patamar da fama. Ao longo de quinze anos, subiu a pulso cada degrau dessa imensa escadaria. Muitos quiseram subir com ele ou ao seu lado essa escada imensa. Aproveitou-se de alguns, mas depressa foram afastados. As razões, sabe-as ele.

Ronaldo e mulheres e mulheres e milhões, são duplas explosivas e incontornáveis. Que mulher em busca de fama e poder não se vê tentada a interferir no seu caminho? Houve muitas e nós nem sabemos quais. A comunicação social deu-nos a conhecer alguns nomes dessas aventureiras pretensiosas a que ele deu mais ou menos atenção, em determinado momento. Casos passageiros e sem grande projecção. Nada de mais, sem ditos e contos, o normal de qualquer paparazzi para uma revista de mexericos.

Hoje, Ronaldo vê-se confrontado com um caso diferente. Esta rapariga americana com quem ele contracenou numa noite de verão num hotel de Las Vegas, vem, dez anos depois, dizer que ele a violou. Francamente! O que a comunicação social divulgou em vídeo e fotografia, dá para ver perfeitamente que ela está satisfeitíssima ao lado dele numa discoteca, sem qualquer objecção, pretendendo passar um bom bocado com o jogador mais famoso do mundo, o que lhe daria um pouco de visibilidade publicitária, já que era, parece, uma simples modelo. Aliás, ela era acompanhante de luxo e angariadora de clientes VIP dessa discoteca que pertencia ao hotel onde trabalhava. Ela aceitou ir para o quarto do Ronaldo, não para aprender a dar uns toques na bola, mas para passarem uns momentos de sexo escaldante a troco de dinheiro e muito. Violada!

A verdade é que ela foi para a cama pelas melhores razões e com a pior das intenções. Na cama com o melhor do mundo é caso para se gabar, nem que sejam dez anos depois, já que na altura não conseguiu mais do que alguns milhares de dólares. Agora é a possibilidade da fama fácil. Eu sou contra qualquer tipo de violação sexual. Não está isso em causa e defendo as mulheres que têm a coragem de o denunciar e provar cabalmente. Provar é que não é fácil e muito menos dez anos mais tarde. O que Kathryn Mayorga quer agora é acesso fácil à fama, pelas piores razões. Claro que louvo a sua coragem em expor-se a muitas opiniões, a favor ou contra, tanto tempo depois e sem ter como provar essa suposta violação. O que existe são fotos e vídeos onde aparece a rir, contente e feliz, ao lado de um engate bem-sucedido e com propósito bem definido. Nada mais. Se ele fosse um simples jogador, ou empresário medíocre, ela não se dava ao trabalho de denunciar o seu ato, seja qual for, até porque casos desses, ela tem todos os dias, pois é para isso que lhe pagam.

Perante isto, temos um Ronaldo que passa a ser considerado dos piores, mas pelas melhores razões. Gostar da beleza e mesmo ter de pagar por ela para a ver de perto e usufruir dela, é o mais comum quando queremos observar a arte. Pena é que esta arte, seja efémera e banal.

Vendavais - A fraqueza dos ministros

Quando se quer fazer crer que alguma coisa vai ser feita em prol de uma qualquer reivindicação, surgem as promessas e de igual modo se faz se queremos atingir um objetivo imediato ou mesmo retardar um determinado processo.

Antes do governo fechar as portas e ausentar-se para férias “administrativas” ou outros se ausentarem em férias legislativas, foram feitas algumas negociações ou pelo menos tentativas, com diversos sindicatos, deixando para depois do período de férias, uma agenda bem preenchida de promessas de resoluções, com uns e com outros. Todos foram gozar os seus merecidos dias de lazer na firma convicção de que na devida altura tudo se iria resolver ou no mínimo, elencar soluções possíveis para levar a um termo justo e digno, quer para o governo, quer para os que reivindicavam, essas soluções.

Agora, no tempo em que se esperavam algumas resoluções, eis que o país está, na sua plenitude, em manifestações de greve, arrastando para o caos a maior parte dos serviços nacionais dos diversos ministérios. O governo parece ainda estar de férias! Nada se diz e nada se faz. Os taxistas esperam que António Costa regresse do estrangeiro para conseguir chegar a algum entendimento, já que com o ministro do ambiente nada se consegue e eles também não estão interessados em conversar depois das últimas afirmações face ao problema que querem resolver. A lei não justifica tudo, pelos vistos.

Os enfermeiros entraram em greve nacional e entravaram completamente os serviços mais essenciais como as urgências e os Centros de Saúde que se vêm completamente entupidos. As cirurgias deixaram de se fazer por falta de profissionais suficientes do setor e os tratamentos mais prementes ficaram adiados por mais dois dias. Ao que chegámos!

O novo ano letivo iniciou-se este mês de setembro com alguns contratempos e com algumas esperanças no que se refere ao diálogo com o ministério da tutela. O senhor ministro não quis conversar e o governo continua a dizer que tem razão e que o orçamento, sempre o orçamento!!, não comporta os ajustamentos exigidos pelos professores.

Depois da greve nacional dos professores no final do ano letivo anterior, que criou alguns constrangimentos nas avaliações finais e nas entradas nas universidades, ficou prometido que o governo se sentaria à mesa das conversações para nova ronda de negociações. Promessas. Só promessas. Valeram somente para que durante as férias todos estivessem calados e esperassem calmamente pelo início do presente ano letivo. Mas no ar pairou sempre uma ameaça de greve se as negociações não fossem efetivas. E não foram. Até agora tudo continua na mesma e o governo mantem-se firme à margem de todas as promessas. Diálogo de surdos.

Assim, não admira que a convicção dos sindicatos de levar a cabo uma greve no início do ano letivo, se vá confirmar em outubro. Era uma promessa dos sindicatos. Pelo menos alguém cumpre as promessas. Mas se o objeto da greve é a contagem do tempo de serviço e a sua reposição perfeitamente legal e em tempos negociada e aprovada, já o mesmo não se verifica por parte do governo que continua a esgrimir o orçamento como uma espada de Dâmocles a cair não se sabe bem em que pescoço.

Para fazer esquecer toda esta problemática das carreiras dos professores e dos quase dez anos roubados, o governo inventou um processo para entreter os professores e levá-los a perder horas numa análise de uma ou duas leis sem sentido algum e que em nada contribuem para a melhoria do sucesso escolar. Estamos a construir escolas para alunos que supostamente, deveriam ser óptimos, mas que acabam por não ser, perante as alcavalas que lhes são impostas e o tempo que lhes é roubado ao seu currículo e aos professores que com isso têm de lidar. Não tem nexo esta alteração, principalmente quando este sistema, copiado, falhou completamente no norte da Europa. Nós copiamos sempre o que não presta. Como haveríamos nós de encaixar num sistema feito para um povo de mentalidade completamente diferente da nossa e cujos padrões de vida não se coadunam com os do sul da Europa? Impraticável. Aliás, já é a segunda vez que o tentamos e parece que não se aprende. Queremos uma escola inclusiva. Pois bem, a nossa escola sempre o foi, mas tem sabido fazer as adequações necessárias. Não se pode ser inclusivo quando se levantam barreiras para todos os alunos. Sempre tivemos e teremos alunos bons, menos bons, normais e com deficiências e não foram excluídos quer uns, quer outros. Seguiram sempre um rumo com objetivos certos e corretos. Agora este ministro quer abrir uma auto-estradas onde todos circulem, independentemente de saber ou não o código da estrada. Claro que vai haver acidentes. Aqui reside a grande fraqueza deste ministro. As outras já são conhecidas.