class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-frontpage">

            

Divisão de Honra começa no domingo com dois dérbis

ESTA NOTÍCIA É EXCLUSIVA PARA ASSINANTES

 

Se já é Assinante, faça o seu Login

INFORMAÇÃO EXCLUSIVA, SEMPRE ACESSÍVEL

Ter, 03/10/2017 - 22:37


Contagem decrescente para a Divisão de Honra da A.F. Bragabça época 2017/2018. Em prova vão estar 11 equipas com destaque para o regresso do FC Carrazeda, após dez anos de ausência do futebol sénior, e o estreante Grupo Desportivo de Mós.

Falando de… Consolação às tribulações de Israel, de Samuel Usque

Há leituras que decorrem de acordo com a oportunidade. Acontecimentos, notícias e celebrações conduzem-nos, muitas vezes, aos livros numa tentativa de consolidação de informações soltas chegadas até nós.
Falar de judeus tem sido uma constante neste ano, a aproximar-se do seu fim.
Samuel Usque foi uma leitura adiada por muito tempo. Edições sobre a obra do escritor escasseiam no mercado, nomeadamente nos alfarrabistas. Socorremo-nos de uma edição da Fundação Calouste Gulbenkian, de 1985, em dois volumes, e de outra em três volumes acopulados, impressos na casa de Francisco Amado, em Coimbra, de 6 de Janeiro de 1906, a 30 de Outubro de 1907.
Pouco se sabe de Samuel Usque. De ascendentes judeus de origem espanhola, terá nascido em Lisboa, depois de 1492, data da expulsão dos judeus de Castela, pelos reis católicos, Fernando e Isabel. Segundo Mendes dos Remédios, que prefacia e revê a edição de França Amado, a sua existência deve ter passado, como a de muitos judeus instruídos nos finais do século XV, em Portugal, entre o ensino e o estudo.
Com primeira edição em Ferrara, em caracteres góticos, na tipografia do irmão Abraão Usque em 1553, terá uma segunda edição em Amsterdam em 1599, em caracteres redondos. O livro inicia-se com uma dedicatória à Ilustríssima Senhora Dona Gracia Nasci, a quem deseja por obras, escritos e feitos, satisfazer e mostrar-se em parte, grato das muitas mercês que da sua larga mão tem recebido, “como acostumada de fazer mercês benignamente”.
No Prólogo, o autor justifica a razão de ter escrito o livro em Português, porque sendo o seu principal intento falar com Portugueses e representando a memória deste seu desterro, era desconveniente (sic) fugir da língua em que mamou e buscar outra para falar aos seus naturais.
Constituído por três diálogos, tendo como interlocutores três pastores, segundo a edição da Gulbenkian, transformados em interlocutores na edição de França Amado, constroem um “Diálogo pastoril sobre coisas da sagrada escritura”. São eles, Jacob, com o anagrama de Yacob, simbolizando, segundo o autor, o povo judeu que pela sua boca se lamenta dos males que através dos tempos tem sofrido. Nahum e Zacharias, com os nomes de Numeo e Zicareo, procuram consolar Yacob representando-lhe o destino providencial do povo hebreu e sua missão na terra até à consecução da felicidade que Deus lhe tem reservado, segundo Mendes dos Remédios.
O diálogo primeiro, à semelhança do que acontece com a Menina e Moça, publicado, também, em Ferrara, em 1554, apresenta-se num quadro bucólico, de uma vida apaziguada em contacto com a natureza, abençoada por Deus. Actividades venatórias porão em causa este clima edénico, provocando a degradação do ambiente, pretexto para as tribulações que conduzirão ao lamento de Yacob e à dilatação do espaço a territórios onde os filhos de Israel se instalarão – Ásia, África e Europa, sendo esta o “inferno na terra”.
Tribulações, também, devidas ao comportamento do povo israelita, conduzirão à guerra, à idolatria, ao homicídio, ao cativeiro. A implantação da Realeza, com o rei a querer assemelhar-se a outras gentes, que em lugar de se dedicarem ao seu povo, são causadores de guerra, resultado da acção punitiva de Deus.
Com a vitória de Nabucodonosor e a consequente queda e cativeiro de Israel, inicia-se um período atribulado que, depois de liberto, e mercê de uma transgressão sistemática, conduz o povo de Israel a tempos de sofrimento e de dispersão.
Desvios à conduta moral e religiosa, agravados com a diáspora, são lições a reter no presente para correcção de uma prática que não se deve repetir. Citando Sócrates no Prólogo “Aos senhores do desterro de Portugal” a quem apoda de espelho e norte por onde se guiaram não somente os atenienses e inventores de toda a doutrina, mas o resto da gentilidade possuidora de todas as boas artes, afirma Samuel Usque:
       Vendo-se as pessoas em fadigas cotejassem os males que atrás ficavam com os
   presentes e facilmente lhe achariam consolação.
Confrontando o passado com o presente, desvalorizando o momento actual, não esquece as vicissitudes por que passou o povo judeu nos diferentes países, como Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Flandres e Portugal, onde não é esquecida a matança de 1506. A natureza é o lugar conveniente para chorar seus males e subir seus gemidos ao derradeiro céu. São seus interlocutores as árvores, as mansas águas, dispostas a ouvir, a quem pede que compartilhem as dores das suas lástimas. Numeo e Zicareo tentam animar Yacob, convidando-o a ir com eles para junto de um ribeiro onde lavará seus olhos, tão húmidos de chorar.
O diálogo terceiro elenca o conjunto de países onde os judeus foram vítimas de desventuras, depois de terem sido sacrificados pelos Romanos, até à sua entrada em Portugal em 1492 e acolhidos por D. João II, sendo cativos e deportados para a Ilha de São Tomé, onde os meninos foram comidos por lagartos. Depois foi D. Manuel quem mandou apregoar que os judeus se fizessem cristãos ou saíssem de Portugal num curto prazo. D. João III e a Inquisição não deixam de ser lembrados nas tribulações dos judeus, até à sua expulsão em 1531 para Espanha, Inglaterra e França, onde são mal recebidos. Numeo e Zicareo irão apontar a consolação que restará ao povo de Israel, depois de todas as tribulações por que passaram.
Antes da última fala da personagem Ycabo, o livro termina prevendo com satisfação o fim próximo das tribulações de Israel, clamando por vingança contra os seus inimigos, apelando à fé e à esperança.
Escrito por um judeu, o livro tem um carácter apologético, defendendo, naturalmente, uma causa por um indivíduo que na diáspora estava longe de sofrer quaisquer represálias, não receando apelidar os Ingleses , de maliciosos “quasi bárbaros Portugueses”.
A extrema raridade do livro deve-se ao facto de ter pertencido ao Index proibitório e principalmente expurgatório, de Madrid, de 1640. Encontra-se em Portugal um exemplar na Biblioteca do Paço Ducal de Vila Viçosa, que pertenceu a D. Manuel II, em excelente estado de conservação, numa encadernação antiga de valor artístico não muito elevado, segundo escreveu o Professor Pina Martins, existindo ainda uma segunda edição na Biblioteca Municipal de Viseu. Confrontando o texto de Mendes dos Remédios com o da edição da Fundação Calouste Gulbenkian, que apresenta a edição fac-similada da primeira publicação, é possível verificar que faltam na de Mendes dos Remédios os sinais calderónicos que assinalam os capítulos e parágrafos. Para quem não possui grande destreza em paleografia, é mais fácil a leitura do texto publicado no princípio do século passado, trabalhado por Mendes dos Remédios.
Tal como o livro que tentámos descrever, é possível afirmar que os manuscritos copiados e decorados em Lisboa, assim como os incunábulos editados na mesma cidade,  em Faro e em Leiria, na segunda metade do século XV, a partir de 1487, são na sua quase totalidade dedicados a temas religiosos. Alguns redigidos em hebraico, tiveram grande importância na formação de muitos judeus portugueses.
Livro avançado, em relação ao seu tempo, escrito por um homem fustigado por uma perseguição que vai lamentando, mas cujo fim augura.
Um hino à esperança, num mundo onde as injustiças tinham lugar. O tempo presente marcado por erros do passado. Um exame de consciência na procura da correcção e da remissão…

Não foi adoptado o Novo Acordo Ortográfico        
 

Poder Local - a lei da selva

O papel do Poder Local na democracia portuguesa, sobretudo no que às freguesias diz respeito, é simbólico, para não dizer de papel de embrulho, ainda que a Constituição da República lhe confira importância fundamental na governação do país, articuladamente com o Poder Central, (que compreende, como é sabido, o Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais) e o Poder Regional, que apenas se encontra estabelecido nas regiões autónomas da Madeira e dos Açores, já que o Portugal continental, lamentavelmente, continua não regionalizado.
Melhor dizendo: Portugal é na verdade governado como se estivesse divido em três regiões, considerando que o Continente, depois das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, é tratado erradamente como uma terceira região, una, homogénea e autónoma relativamente à União Europeia.
Isto explica a diminuta importância que as Câmaras Municipais provincianas e as Freguesias rurais merecem dos órgãos do Poder Central em geral e do Governo em particular o que, como é óbvio, mais afunda as escandalosas assimetrias regionais que estigmatizam o país, sendo que a maior de todas se consubstancia na macrocefalia de Lisboa.
Basta olhar para as competências das freguesias, seja qual for a sua população, como sejam o Equipamento rural e urbano, o Abastecimento público, a Educação, a Cultura, tempos livres e desporto, os Cuidados primários de saúde, a Ação social, a Proteção civil, o Ambiente e salubridade e o Desenvolvimento e o Ordenamento urbano e rural para concluirmos que o Poder Local vegeta num mundo de fantasia e penúria.
O panorama não é mais prestigiante para os Municípios provincianos que estão praticamente confinadas ao trato de parques, jardins, feiras e romarias, com total omissão das suas atribuições fundamentais como sejam o Ordenamento do território, a Energia, os Transportes e as comunicações, a Saúde, a Proteção civil, a Polícia municipal, a Promoção do desenvolvimento e a Cooperação externa, áreas em que o Governo central põe e dispõe a seu bel-prazer, sendo em Lisboa, capital do império fracassado, que tudo se decide ou se adia.
Neste quadro ganha especial gravidade o despovoamento de vastas regiões do interior, a principal causa, ainda que não a única, da manifesta inutilidade das Freguesias que são, por regra, canibalizadas pelas Câmaras Municipais, que por sua vez são canibalizadas pelos partidos instalados em Lisboa, que procuram conquistar autarquias como se de troféus de caça se trate, lançando mão de todas as armas e argumentos, tendo em vista a tomada do poder central e alimentar as clientelas com benesses e mordomias. É a lei da selva no Poder Local!
Só haverá vantagens, portanto, em estabelecer constitucionalmente que apenas movimentos de cidadãos independentes e partidos locais podem concorrer em eleições autárquicas para governar democraticamente as autarquias.
Na versão actual o Poder Local não passa de um enfeite democrático de duvidoso efeito, já que o próprio acto eleitoral autárquico, que se requer autêntico e dirigido aos assuntos locais, é sistematicamente adulterado e anulado em proveito dos interesses partidários centrais.
Os nossos doutos governantes não se demovem com verdades e crises sistémicas, porém. Tratam as autarquias provincianas como inúteis, subservientes ou mesmo escusadas e como se as populações remanescentes estivessem a mais, melhor servindo os seus propósitos nas metrópoles litorais.
Há mesmo muitos que gostariam de responder às necessidades locais com meia dúzia de serviços, públicos e privados, contratados em Lisboa, ainda que, politicamente correctos, afirmem o contrário.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

ASSEMBLEIAS MUNICIPAIS, A REALIDADE!

Quem, por ventura, tiver ainda alguma dúvida sobre a importância das assembleias municipais, o modo como são olhadas e consideradas na vasta panorâmica do Poder Local no nosso país, bastar-lhe-á dar alguma atenção sobre a cobertura que a comunicação social está a fazer da campanha para as eleições autárquicas que terão lugar no próximo dia 1 de Outubro de 2017.
Com efeito, todos os debates na rádio e televisão, publicidade nos gigantescos cartazes que enxameiam rotundas, parques e avenidas das nossas cidades, veículos com cores e símbolos partidários a gritar programas e recomendar a suposta melhor orientação no voto, apontam declarada, inequívoca e exclusivamente para o cabeça de cartaz candidato à Câmara Municipal, que de vez em quando e num habilidoso resguardo aparece acompanhado duma figura idónea de preferência com recente trajecto político de sucesso!
Bastariam, pois, os dedos duma só mão para contar os debates ou anúncios sobre as candidaturas à Assembleia Municipal, que como é sabido tem lista própria, e concluir a menor importância, se não mesmo o desconhecimento que os eleitores têm sobre este importante órgão municipal, como adiante tentaremos comprovar.
Tal realidade, é no nosso entendimento o mais visível e maior testemunho da prática municipalista presidencialista da política local, em Portugal que urge dissecar, divulgar e melhorar.
De facto, e de acordo com o que está regulamentado, é ao presidente de Câmara que compete representar o município, mas deste, segundo reza a Constituição da República Portuguesa e a Carta Europeia da Autonomia Local faz parte a Assembleia Municipal a quem compete deliberar sobre questões da maior responsabilidade e fiscalizar a actividade da Câmara Municipal que perante ela responde pelos seus actos.
Compreender-se-á assim facilmente quão importante é a eleição dos membros que irão constituir este órgão deliberativo e fiscalizador, e como a sua organização e desejada boa funcionalidade dependerá de elevada qualidade dos ora eleitos. Como se compreenderá também que para se obter este desiderato, a assembleia municipal necessita de ter instalações adequadas, pessoal qualificado por ela selecionado e total autonomia, sem a qual ficará seriamente comprometida a sua acção e competência. Mas este não é ainda infelizmente o retrato a “sépia” para a maioria das assembleias municipais no nosso país.
Reunindo em sessões ordinárias apenas 5 vezes por ano, com possibilidades reduzidas de manter contacto com os munícipes ou realizar iniciativas próprias do seu estatuto e simbolismo, sem visibilidade adequada na página do município, as assembleias municipais estão ainda muito longe de cumprir o papel que o legislador bem intencionado lhes atribuiu e ainda de fomentar uma cidadania activa.
É nesta ordem de ideias que foi recentemente criada a Associação Nacional das Assembleias Municipais, ANAM, cujos objectivos apontam na concretização dos horizontes atrás expostos assegurando e valorizando a sua dignidade e que conta já com cerca de uma centena de adesões o que lhe conferirá o estatuto de parceiro do Estado.
É nossa convicção que os dedicados autarcas fundadores desta associação, bem como aqueles que no primeiro dia do mês de Outubro conquistarem a confiança dos seus eleitores, irão prestar no futuro próximo, através deste novo órgão associativo um grande contributo à qualidade e dinâmica do municipalismo em Portugal.

O MANSO E O GUERREIRO IX – MIS ABUELOS

O encontro desta tarde cálida de setembro aconteceu em casa do Júlio Manso que esperava o seu velho amigo, Tomé Guerreiro, na varanda de madeira, logo ao cimo das escadas de cantaria, recostado numa velha cadeira de braços, encostada à parede. Lia calmamente um livrinho com marcas do tempo nas páginas amarelecidas.
– Hoje deu-lhe para a literatura?
– Estou a reler este exemplar que tinha ali no fundo da estante.
– De alguém conhecido? – perguntou, curioso o Tomé.
– Conhecidíssimo. Jorge Luís Borges.
– Ah sim, o moncorvense.
– Supostamente!
– Seguramente!
– Não está nada provado.
– Nada há para provar. O próprio não assumiu que eram portugueses e de Moncorvo “sus abuelos”?
– Mas isso não chega. Por isso mesmo a autarquia celebrou um acordo com a Universidade de San Martin para apurar a verdadeira genealogia do escritor argentino.
– Que desperdício de dinheiro!
– Essa agora? Porque acha que é desperdício?
– Simples. Pense comigo. Porque acha que a Universidade de Buenos Aires está interessada no estudo em causa?
– Para poder descobrir a verdade, porque haveria de ser?
– Sim, sem dúvida, mas com uma permissa clara e evidente.
– Que permissa? O que sabe o meu amigo disso?
– O que eu sei é o que a lógica me diz. Os investigadores argentinos querem estudar a genealogia dos Borges com a expetativa que não sejam efetivamente de Moncorvo.
– O que o leva a pensar assim?
– Veja bem, os investigadores trabalham, em qualquer ramo científico, para  poderem publicar, certo?
– Certo, e daí?
– Daí que só é digno de publicação o que trouxer novidade. A partir do momento em que o escritor se declarou moncorvense tendo até visitado a vila nordestina, as suas origens ali deixaram de ter qualquer originalidade. Singular e interessante seria descobrir que afinal a sua origem era noutro local do norte português. Ora se a Câmara, interpretando o sentimento dos munícipes, tem tanto orgulho e proa nas origens conhecidas pode na prática usar o dinheiro público para destruir esse “património” que obtivera diretamente das mãos do académico sulamericano.
– Mas pode chegar à conclusão que afinal é mesmo como se supunha.
– Pode. E nesse caso o que é que o município ganha? Nada. Pagou para obter o que já tinha.
– Mas agora certificado.
– E que valor tem essa certificação? Sabe como essas coisas são. Lançada uma dúvida haverá sempre quem a possa retomar no futuro. Mas agora imagine que a conclusão é contrária aos interesses da autarquia.
– Bem, nesse caso, efetivamente, a aplicação dos escassos recursos públicos não terá sido a mais acertada.
– Claro. Mas não só.
– Há mais?
– Claro que há mais. Muito mais. Porque se o estudo disser que a origem do Borges é outra que reação poderá ter a Câmara que  apoiou e patrocinou o projeto?
– Não será uma posição fácil, não.
– No mínimo não poderá contraditar um trabalho apoiado, promovido e sustentado por si. Pagou, perdeu e nem pode reclamar. Não parece boa ideia andar a jogar na roleta com o dinheiro de todos.
– Provavelmente tem indicadores que apontam no outro sentido.
– Mesmo assim. Nunca deveria ter admitido a dúvida. Porque a partir desse momento, sabemos bem por outros exemplos, alguém há-de, num qualquer dia, levantar de novo essa hipótese e explorá-la. Nessa altura, o Município, se não tivesse participado no estudo anterior, além de não ter desperdiçado dinheiro estaria em muito melhores condições para a contraditar
– Lá isso...