“SER FILÓSOFO”

Além dos alunos que iniciam o estudo da filosofia, ouve-se muitas vezes a expressão quando uma greve paralisa os transportes, quando o tempo nos surpreende ou quando a vida corre menos bem. Há os que se chateiam e discutem e os que se “mostram filósofos”, dizem também os comentadores de rádio e televisão.
Esta interferência mexe com os filósofos de profissão: a filosofia, apesar de tudo, é outra coisa, é Descartes, é Platão. É Kant! Não é uma moral superficial, do dia-a-dia, por favor! Tudo isto, é o fundo de comércio de práticas algo irritantes, um género de sofrologia. Porém, é Descartes mesmo que diz “preferir mudar os seus desejos à ordem do mundo”.
No fundo, se fosse isso mesmo, o papel da filosofia ? Uma sabedoria? O regresso ao sentido etimológico, o amor, filia, da sabedoria, sofia ? 
Os filósofos, em geral, nos seus textos e obras defendem esta ideia da filosofia, inspirada da antiguidade, essencialmente dos Estóicos: os filósofos da Antiguidade grega e romana não eram construtores de sistemas ou de conceitos. Para eles a filosofia, é o desejo de fazer pesar sobre o quotidiano e a vida as disposições de espírito descobertas através da análise e raciocínio científico ou filosófico.
Daí a tradição destes « exercícios espirituais », uma espécie de treino destinado a introduzir no quotidiano os princípios da doutrina. O sentido da palavra foi amplamente desviado pelo uso feito pelo jesuíta, Inácio de Loyola, que os orienta na direção exclusiva da salvação da alma. Contudo a tradição antiga tem um significado bem diferente não no sentido de salvar a alma mas sim de salvar a sua pele: sofrer menos aprendendo a modificar o olhar que nós consagramos aos acontecimentos da nossa vida. E isso vai bem mais além do mundo antigo, por exemplo com Goethe, “Não te esqueças de viver”.
Trata-se de desenvolver a nossa atenção em duas direções: a concentração e a atenção ao momento presente e o olhar do alto. De fugir ao medo do passado e à angústia do que está para acontecer. E de tomar a devida distância em relação aos acontecimentos para melhor os suportar.
Não é exatamente o que pretende pôr em prática conscientemente ou não o aluno que começa a filosofar, aquele que faz greve ou o que passeia solitário, que consegue mostrar-se “filósofo”?
Percebo perfeitamente a objeção. E sobretudo a objeção política. Mostrar-se filósofo face aos defeitos e vícios do mundo, não será finalmente aceitar que nada mude? Parar de se “indignar”, cessar de encontrar insuportável o estado do mundo? É uma verdadeira questão…
Era sem dúvida uma filosofia necessária antes das grandes possibilidades oferecidas pela ciência e a técnica. Recordemos no entanto que haverá sempre coisas que não podemos alterar: como por exemplo a passagem do tempo, a morte. Então, apesar de tudo, guardemos esta ideia da sabedoria quando ela nos diz: muda o teu olhar sobre as coisas se queres ser menos infeliz.

Bate soft, softemente

Ora bons dias, como têm passado, estamos todos presentes então vamos lá começar que não temos assim tanto tempo. O conceito da aula de hoje é soft power, que é como quem diz poder leve. Hoje em dia explica muito do que a China anda a fazer por aí. Digamos que soft power é a imagem que temos junto dos outros e é sobretudo chegar aos outros sem parecer que queremos alguma coisa deles ou que somos aquele amigo interesseiro que páginas tantas na hora de pagar repete sempre o mesmo truque do “epá, esqueci-me da carteira”. Esqueçam este último exemplo que não serve para o caso. O conceito de soft power surgiu de um economista americano já nos medievais anos 90 do século passado e significa levar os outros países a quererem o mesmo que nós, a quererem ser nossos amigalhaços e a abrirem-nos as portas de casa, mas sem ser a pontapé ou através do uso da força. Por contraponto com o poder duro, inflexível, do quero posso e mando surge agora este conceito mais floreado de poder. Vamos a exemplos práticos: Ultimatum inglês, invasões francesas, vinda da Troika = hard power, poder duro, onde só há duas hipóteses: sim ou sim. Como dizem os espanhóis “ou vai pelo civil ou vai pelo criminal”. Por outro lado, emerge um novo tipo de poder, não pela força ou pela imposição mas pela simples compra ou participação em empresas/instituições e sectores estratégicos. Mais baseado no dinheiro, no capital propriamente dito. Não me interessa que tipo de governo ou como vos governais, o que fazeis ou deixais de fazer é lá convosco, só vim aqui para comprar este bocadinho. E assim comprando, assim adquirindo um bocadinho aqui outro ali vou possuindo. Está à venda eu compro e assim vou aumentando a minha área de influência a nível mundial. Às vezes nem é que eu quisesse, mas o preço é uma ninharia, até é um favor que vos faço. Por isso também há quem diga que apesar de formalmente parecer mais discreto e mais bem-intencionado não deixa de ser imperialismo. Há posse e um domínio efectivo, mas quase parece que não. Não é necessário levantar grandes ondas. Ora, a este tipo de poder falta juntar a imagem e, infelizmente, o dinheiro nem sempre ajuda a compor a ideia que os outros constroem de nós. É por isso que a China nos últimos anos se tem empenhado fortemente em difundir uma imagem diferente fora de portas, mais leve e prazerosa, desligada dos vários preconceitos que muitas vezes lhe são associados. Aprender línguas estrangeiras para se aproximar do outro (o inglês é obrigatório desde o primeiro ano de escolaridade – antigamente era o russo), abertura a produtos e posturas ocidentalizadas, espalhar o Instituto Confúcio (centro de ensino da língua e cultura chinesa) por todo o mundo – Portugal tem três – ou difundir directivas para os turistas chineses – suplantaram os EUA como país com mais turistas no mundo – se comportarem segundo a conduta lá de fora e respeitarem as filas ou não cuspirem no chão... Tudo isso em prol de uma forte campanha centrada na imagem a transmitir para que os outros povos se tornem mais receptivos. Para que os países não se casem com os chineses só por amor ao dinheiro, mas que haja também algum amor envolvido. Só amor. Torna sempre tudo mais fácil. Aquela coisa de o mundo não ser de todo um lugar de equilíbrios assenta aqui como uma luva. Reparem. Nós portugueses andamos sem cobres para power, mas temos a imagem do nosso lado. Sol, bom tempo, praia e campo, comida boa e hospitalidade. Os portugueses são gajos porreiros que não se metem em confusões e ainda sabem dar uns pontapés na bola. A sério, somos um dos países do mundo cujo passaporte permite entrar em mais países sem precisar de visto, 172 – Alemanha em primeiro com 177. Num mundo de desequilíbrios este soft power é mais um produto meio sub-reptício dos tempos modernos, cheios de tiradas de bastidores, de coisas que não se descobrem, de papéis e panamás do lado de lá da cortina. Por isso talvez este poder leve seja um pouco como os produtos light. Nem sempre nos podemos deixar iludir. Temos de ler com atenção as letras minúsculas para ver se as calorias, os conservantes ou as gorduras causadoras de mau colesterol continuam lá. É que às vezes só muda a embalagem. Por hoje ficamos por aqui. Podem sair. Cuidem-se. Até para a semana.

GRATIDÃO

Mesmo nas lojas de curiosidades excêntricas, raras, a gratidão não se encontra à venda. Ao contrário a ingratidão oferece-se a granel, ao copo, a todo o tempo, a todo o momento. Sendo um fragmento escasso, quando leio ou ouço notícias a darem conta de nótulas de gratidão alegro-mo ao modo de menino esfomeado de carinho a quem mão suave faz afago na sua cabeça.
Neste Verão a Câmara de Vinhais expressou o seu reconhecimento ao musicólogo Jorge Lima Barreto levando a efeito a II Bienal a ele dedicada. Terem convidado Mário Vieira de Carvalho a dissertar sobre a obra do vinhaense foi uma boa escolha, no mais interessa-me o gesto da Autarquia, o acto de gratidão.
Também o Nordeste me informou ter a Câmara de Mirandela ter homenageado o seu famoso filho que ficou conhecido pelo nome corográfico da terra onde nasceu, Doutor Mirandela, entenda-se Francisco da Fonseca Henriques. No decurso de uma investigação centrada em documentos existentes na Academia de Ciências tomei conhecimento da existência do saliente facultativo, médico do rei Magnânimo, o qual abusava dos prazeres em especial das doçuras levando-o a ficar gotoso. Para lá do alargamento dos sapatos, as reais articulações rangiam provocando-lhe dores terríveis na companhia de remorsos ante o receio de ir parar às profundezas do Inferno.
Trazer o médico pioneiro no estudo do papel dos alimentos na obtenção de corpo saudável para a ribalta, além de prazenteiro ajuste cultural, é outro registo de gratidão.
Embalado pela feliz circunstância destes dois planturosos exemplos atrevo-me a enumerar quatro personalidades, duas de Vinhais, os Barahona Fernandes, uma de Bragança, o exímio pedagogo Carlos Silva, conceituado professor de Matemática.
Sobre os Barahona Fernandes, existem várias referências de realçar o facto de terem nascido em solo transmontano porque o pai, o médico António Augusto, a residir em Lisboa, ter feito questão de os filhos nasceram em Vinhais. Bonito! Ao tempo, dealbar do século XX, as comunicações eram precárias, as estradas más, piores ainda quando as viajantes estavam em adiantado estado de gravidez.
Na Marinha, na Medicina, na Universidade não escasseiam reputados Mestres dos que sabem, à altura de lhe formularem o panegírico. Deixo a sugestão, de resto neste e noutros jornais já aludi à figura do filho Enrique João eminente psiquiatra, catedrático e Reitor da Universidade a seguir ao 25 de Abril, não por acaso.
No tocante ao Dr. Carlos Silva pode parecer excessivo sugerir a sua exaltação na aura da gratidão. O leitor distraído ou pouco informado (invejoso?) pode confiar à sua camisa o resmungo sem ponto admirativo: era um professor como tantos. Engana-se o leitor. Redondamente.
O Carlos Silva detinha e expandia um fascínio particular no ensinar a gostar-se da matemática, explicável, pela facilidade na apreensão epistemológica da matemática clássica a escorar a matemática moderna. Não vou fazer citações, mas todos quantos conviveram ou partilharam afinidades electivas com o bem-humorado Carlos, nunca poderão esquecer quão arguto era nas formulações dos raciocínios sobre o assunto em discussão ou análise.
A diáspora impediu-me de melhor e mais íntimo convívio com ele nos últimos anos do seu viver, no entanto, em qualquer parte do Mundo onde topo transmontanos antigos estudantes em Bragança, de imediato recordam Carlos Silva. No Rio de Janeiro, um médico no decurso de um almoço regionalista elogiou o contributo de Carlos para ele ultrapassar as dificuldades de acesso à Universidade, em Moçambique e em Macau ouvi louvores ao professor despido de doutorice do mesmo teor.
Não ouso acrescentar aos ilustres acima referidos que no meu entender devem ser recordados os de personalidades vivas, a causa reside na certeza de granjear resmungos de estridência de maior volume porque o despeito é pulsão virulenta a enciumar os nossos corações. Agora, que há mulheres e homens de todas as condições a justificarem pública exaltação, isso há. 

A festa é sempre em Lisboa

Ter, 11/10/2016 - 10:24


Cento e seis anos depois do golpe republicano o ex-presidente da Fundação da Casa Real de Bragança, agora eleito primeiro magistrado da nação, festejou, entre o povo, mais uma obra grandiosa na margem direita do estuário do Tejo, cartão de visita da capital desde os tempos da Torre de Belém.

NÓS TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - Francisco (Benjamim) Raba Junior (1743-02-26 – 1827-05-14)

O mais novo dos irmãos Raba nasceu em Bragança meses depois de falecer seu pai. Foi batizado com o nome de Francisco e mudou-o para Benjamim quando chegou a França e se fez circuncidar. Tinha 20 anos e logo depois, em 1765, abalou para as Antilhas. Regressou a Bordéus em 1781,com uma boa fortuna. No ano seguinte casou com Esther Félicité Henriques Azevedo, 20 anos mais nova do que ele, filha de Jacob Azevedo, “um modesto agente de seguros quando chegou a Bordéus em 1746” (1) e que se guindou a um lugar de destaque no seio da nação, construindo uma forte casa de câmbios e seguros.
No seguimento da revolução francesa, Benjamim Raba, então mais conhecido por Raba Junior, foi um dos 6 deputados judeus eleitos à Assembleia Nacional de França, facto bem revelador da sua influência e prestígio. (2)
A pouco e pouco o irmão mais velho (Abraham) foi deixando a direção da firma “Societé Raba Frères” para o irmão mais novo – o único que tinha filhos machos e, portanto, em condições de assegurar a continuidade do nome da família. Esta liderança foi bem aceite pelos irmãos. Veja-se, a propósito, como esta preocupação pela unidade da família e conservação da sociedade empresarial familiar animava o irmão Aaron quando fez seu testamento em 28.6.1810:
-Deixo ao meu irmão Henriques Raba Júnior a parte que eu tenho na propriedade de Talence, assim como os meus bens móveis que ali se encontram e na sua falta deixo aos filhos machos do mesmo. Desejo que meus outros irmãos disponham da sua parte a favor de Mr. Raba Júnior e seus filhos machos, a fim de que a propriedade à qual estamos muito apegados permaneça na propriedade dos seus filhos fazendo bom uso da mesma, tomando de seus tios o bom exemplo. No caso de qualquer dos meus 3 sobrinhos, filhos de Raba Júnior, ou os 3 pretenderem casar, devem ter o consentimento do pai e da mãe e dos outros dois irmãos que estejam vivos e neste caso os meus irmãos Jacob e Gabriel, devem dar-lhe, cada um 12 000 francos a cada um, os quais eu lhes entreguei. E também a Elisée, um dos meus sobrinhos, devem ser-lhe pagos 3 000 francos adicionais (…) e esta pequena soma adicional é a prova da minha afeição especial por ele… (3)
Em 1774, vivendo ainda Sara, a matriarca, os Raba compraram uma quinta denominada Coudourne, em Talence, arredores de Bordéus. A quinta albergava um velho e arruinado castelo que os Raba reconstruíram e transformaram num verdadeiro centro de atração, conforme anunciava um guia turístico publicado em 1803:
- Talence fica no caminho entre Bordéus e Bayonne. Aí existe uma das mais belas casas de campo existentes em todo o país. Os seus proprietários, diferentes de todos aqueles que apenas desejam para si a fruição das suas propriedades, permitem a sua visita pelo público em geral e o apreço de todos aqueles que o fazem encontra-se testemunhado pelas muitas inscrições de reconhecimento que por todo o lado podemos encontrar. À entrada dos jardins estacionam sempre muitas carruagens. No dia em que fiz a minha visita, era domingo de Páscoa, contei mais de 100… (4)
Obviamente que, em tempos de revolução, semelhante moradia despertava os mais diversos sentimentos. E se, em tempos de paz, os Raba ali recebiam graves figuras do campo da política, das artes ou das letras, (5) no tempo do terror e revoltas populares que faziam rolar cabeças a torto e a direito, os proprietários, judeus, não dormiriam descansados. Assim se explica um jantar oferecido pelos Raba no palácio de Talence a um grupo de 40 importantes revolucionários dos “sans-cullotes”, entre eles o célebre Jean Baptiste Lacombe, presidente da comissão revolucionária de Bordéus, falando-se também de uma oferta de 200 000 libras. (6)
Com o seu próprio trabalho e com o apoio dos 8 irmãos, que todos o fizeram herdeiro principal de seus bens, Benjamim teve a “sorte” de um morgado e tornou-se um dos homens mais ricos de Bordéus. Para além do comércio com as Antilhas, ele exercia atividades de banqueiro e armador de barcos.
Na rede de negócios da família Raba aconteceu, porém, uma rotura. Vamos explicar. O irmão António, aliás, Moisés que viveu em S. Domingos durante 24 anos, entre 1763 e 1887, casou na colónia com Maria Cecile Fromangeau que lhe deu duas filhas. Uma delas chamou-se Luísa Maria Celeste e casou com Daniel Lopes Pereira. (7) Obviamente que Daniel foi integrado na rede como parceiro comercial dos cunhados. Os negócios correram-lhe mal e “a sua fortuna teve um acidente fatal”. Valeram-lhe os cunhados. Jacob, por exemplo, emprestou-lhe 40 000 francos. Outro tando o Aaron. Todos os irmãos Raba se referem ao caso em seus testamentos, fazendo questão de que ele deve tentar pagar a dívida e respeitar a família. A sobrinha, Luísa Celeste, no entanto, é contemplada por todos. Veja-se, por exemplo, as disposições do testamento de Jacob Henriques:
-Deixo a Mrs. Luísa Celeste, mulher de Daniel Lopes Pereira, a quantia de 20 000 francos como compensação pelo acidente fatal que sofreu a fortuna do seu marido (…) No que diz respeito aos 40 000 francos que da minha conta emprestei a Mr. Lopes Pereira, ao tempo do pagamento do seu compromisso com os credores, pelo que me está devendo parte do pagamento, dou autorização aos meus herdeiros que lhe dêem um recibo do que me deve. E futuramente deve Mr. Lopes Pereira pagar ele próprio as suas dívidas e que não perca de vista ou não se esqueça que os meus irmãos são os seus benfeitores. Se, contra o esperado, Mr. Lopes Pereira, a mulher ou os filhos levantarem algum litígio contra os meus herdeiros, sob qualquer pretexto, autorizo os meus herdeiros a não desistirem das reclamações que eu tenho contra Mr. Lopes Pereira. Nessa situação, cancelo todas as disposições que tomei a favor de Mr. Lopes pereira e seus filhos…
Resta dizer que a descendência de Raba Júnior se perpetuou até aos nossos dias. De seus filhos (3) e filhas (1), referência para o já citado Elisée Henriques Raba que ficou gerindo os negócios da família e para Joseph Henriques Raba que foi cônsul de Portugal (como o tio Salomon) e agraciado pelo rei D. João VI em 24.11.1823. (8) Está enterrado no cemitério Père-Lachaise, Division 7, e a sua lápide ostenta a seguinte inscrição:
-Ici reposeJoseph Henriques Raba, né a Bordeaux le 25 décembre 1793, décédé le 7 août 1849.

1- CAVIGNAC, Jean - Dictinnaire du judaisme Bordelais aux XVIII et XIX sieceles, pp. 16 e 17.
2-– SCHWARZFUCHS, Simon - Le Registre des Deliberations de la Nation Juive Portuguaise de Bordeaux (1711-1787), p. 578.
3- The National Archives – Record Offi Will of Aaron Henriques Raba. O testamento foi traduzido para a língua inglesa em 18.2.1826.
4-BERNARDAU, M. – Promenade a Talence, Bordeaux, 1803. O autor do projeto foi o famoso arquiteto Victor Louis que em Bordéus projetou também o Grand Thêatre  e em Paris construiu o Palais Royal e o edifício da Comédie Francaise.
5-O dramaturgo Pierre-Augustin Beaumarchais, criador da personagem Fígaro foi uma das personalidades que estiveram do palácio dos Raba, tal como o imperador Napoleão e a imperatriz Josephine.
6-SZAJKOWSKI, Zosa – Jews and the French Revolutions of 1789, 1830 and 1848, p. 532, New York, 1970.
7-Um dos filhos de Daniel e Celeste camou-se Joseph Emille Lopes Pereira e foi médico, com um cargo muito importante: inspetor dos banhos de Arcachon. Era casado com Maria Cardosa. Outros dois filhos do casal, Gabriel e Aristides, casaram na família Lopes Dubec, uma das mais importantes da “nação” de Bordéus. Lopes Dubec foi com Raba Junior, deputado à Assembleia nacional.
8-ANTT, Registo geral das mercês, li, 17, fl 232.

Por António Júlio Andrade / Maria Fernanda Guimarães

Vendavais - Alertas vermelhos

Li num diário que o governo e a oposição estavam de acordo e como achei que deveria ser uma piada, acabei por ler mais um pouco para perceber que premissa me estaria a falhar para ter uma conclusão tão óbvia. Fiquei decepcionado.
Na verdade, estavam de acordo sobre a queda do investimento público, o que é um enorme problema. Mas mais admirado fiquei ao ler que o PS assegura que as coisas vão melhorar com a execução do Portugal 2020. Caramba! Exclamei para mim próprio. Então temos de esperar mais quatro anos para ver crescer o investimento público e a economia nacional? E será que os portugueses vão ficar sossegados à espera desse momento? E como irá funcionar a geringonça daqui para a frente com um Orçamento à porta para aprovar?
A oposição acredita que “neste momento” o primeiro-ministro está a travar a fundo para conseguir as tão almejadas metas do défice. A verdade é que parece que há uma série de pagamentos em atraso e a economia está mesmo a asfixiar. Como é possível o Estado estar com pagamentos em atraso? Então não é suposto ser uma pessoa de bem?
Seja como for, nem as desculpas com os atrasos na execução dos fundos comunitários que o governo está a usar, servem para acalmar a onda enorme que se está a levantar contra esta geringonça. Nem Costa ainda encontrou a forma de lhe dar a volta! Embora tenha andado a aprender, a verdade é que não é um mestre do surf. Esta onda é pior que a da Nazaré que deu fama ao americano. Aqui, na Europa, os surfistas andam mais por baixo.
António Costa está cercado. Nem os parceiros do entendimento “pouco sustentável” lhe dão o apoio esperado. Da Europa vêm exigências para mais austeridade em 2016. Como é que ele se vai acomodar com as exigências de toda a extrema-esquerda? Ela não quer mais austeridade. Antes pelo contrário. Já pedem aumentos para inserir no Orçamento. É preciso ter em conta as promessas feitas.
Nos últimos dias, o Parlamento foi palco de uma esgrima confusa. Enquanto a oposição acusava o governo referindo que a economia está em estagnação, António Costa defendia-se dizendo que está em recuperação. Assim, a economia estaria a crescer segundo o governo, mas do outro lado dizem que o investimento está a cair e as exportações a descer. Quem fala verdade?
Se tudo estivesse bem, Costa não se sentiria cercado por todos e acossado pelos próprios parceiros e ainda mais por Bruxelas. Estes pedem mais austeridade, a estrema-esquerda pede aumentos e a oposição acusa Costa de não saber entender-se com ninguém.
O primeiro-ministro tem de se defender de qualquer modo e para isso servem também as crises que se vivem no Brasil e em Angola, que diminuíram as suas importações. Talvez tenha razão, pois a esse nível houve um decréscimo das importações, mas a economia de um país não se restringe às importações e exportações de dois países. Há muito mais do que isso.
Não sei se os portugueses já se aperceberam de todos estes alertas que são realmente vermelhos. A verdade é que nem tudo o que parece é. Se por um lado os portugueses ficam agradados com as promessas de reposição de salários e aumentos de pensões e descida de impostos, outros vêm aí o perigo de ter de suportar tais encargos quando a Europa exige que se façam cortes. Os sinais vermelhos piscam constantemente e quando o sinal está vermelho, manda o bom senso, que se pare. Parar para reflectir e decidir bem.
De um modo ou de outro, as coisas não estão bem para os lados do governo. Costa tem um Orçamento para apresentar e aprovar e os seus parceiros só aprovam se lá constarem as suas exigências e até este momento ainda não se vislumbram. A quem Costa vai dar ouvidos?

Rebofa (O Tsunami do Nordeste)

A última grande rebofa aconteceu no final dos anos sessenta. Ainda hoje me lembro dela. Se bem que, tenho de confessar, alguns dos pormenores da mesma provavelmente não serão genuínos e originais dessa longínqua vivência mas uma mistura do que vivi e do que li do belíssimo texto que Campos Monteiro dedica a este tsunami nordestino.
Esta cheia destruidora que, ao contrário das enchurradas normais, cresce da foz para a nascente é característico do Vale da Vilariça e, sendo um drama sempre que acontece, pela destruição com que se faz acompanhar, não deixa de ser uma das causas do excelente solo de aluvião que atapeta o mais fértil vale lusitano.
O Douro, depois de passar o Pocinho, em vez de se encaminhar diretamente para o mar, entre o Porto e Gaia, contorna o Vale Meão, célebre pela excelência dos seus vinhos e vem receber o Sabor na parte final da Vilariça. Este apresenta-se à centenária estrada fluvial do Vinho do Porto, na recente companhia da ribeira que desde a sua génese na Burga, no sopé da Serra de Bornes sublinha e marca o Vale. É, aliás, esta que acaba por acarretar com as consequências da fúria dos elementos quando estes assumem proporções de catástrofe.
Quando o rio Douro enche em demasia, as suas águas caudalosas chegam à aldeia da Foz do Sabor em oposição frontal às do seu afluente e entram por este dentro. Não se compara o caudal de um e outro rio, e, obviamente, é o Sabor que recua cedendo à força duriense. Mas é um recuo contido, não só, porque apesar de diferentes, as torrentes têm forças de ordem de grandeza parecidas como porque o vale onde este corre é apertado  e a subida das águas só se faz desde que outra escapatória não encontrem. Esta “válvula de escape” é, precisamente, a ribeira da Vilariça que, sendo de grandeza incomparavelmente inferior, corre num território plano e que fica completamente inundado pelas águas barrentas e revoltosas que, desde Espanha, se precipitam pelo vale acima destruindo tudo à sua passagem.

A construção de barragens no rio Douro veio “domesticar” esta fúria e as rebofas deixaram de aparecer, pelo menos com a ferocidade e poder destrutivo que tinham antigamente. Era suposto que as duas barragens do Baixo Sabor (uma delas de contra-embalse – portanto com capacidade de bombear água para montante) pusessem os agricultores de região a salvo dos caprichos metereológicos. O que aconteceu este ano e a que a comunicação social deu relevo, veio demonstrar que não.
Não porque não é possível lidar com a “fera” ou porque a EDP não acionou os meios e mecanismo que deveria fazer? É urgente saber-se para que, quem investe a vida e os meios disponíveis, por estas paragens, saiba afinal com o que pode contar, para além das afirmações genéricas de que o aproveitamento hidroelétrico contribuirá para a regulação e controlo dos caudais. Provavelmente a EDP já terá dado as suas justificações nos locais e às entidades onde é obrigada a fazê-lo. Mas era bom que as publicitasse e tornasse acessíveis para a generalidade da população.

Será que vão fazer de Portugal uma nova Venezuela?

Portugal já é um Brasil em ponto pequeno tendo em conta a corrupção, a aldrabice, a desigualdade e a pobreza. Obra da direita, isto é, do PS, do PSD e do CDS, partidos que foram poder no Portugal democrático.
Acontece que a partir do momento em que António Costa ousou unir a esquerda no imbróglio a que se convencionou chamar geringonça começaram a surgir sinais preocupantes de que Portugal se poderá tornar numa nova Venezuela.
A maior evidência é dada agora por Mariana Mortágua, putativa ministra das Finanças que, mesmo sem ainda ter assento no Conselho de Ministros, já dita a política tributária, ensaiando a pasta que o BE muito provavelmente irá reclamar num eventual próximo governo da geringonça.
Por isso os portugueses estão mais confusos e receosos que nunca. Porque a economia, para a esquerda unida, é um cozido à portuguesa em que se metem nabos, batatas e impostos no caldeirão de São Bento e se distribui o rancho pelos pobrezinhos.
Tudo de acordo com um conceito de igualdade e justiça um tanto primário: passam-se os ricos a pobres e promovem-se os pobres a ricos e tudo fica igual, mas de pantanas, não importando saber o que faz os pobres serem pobres e os ricos serem ricos.
Ora isso não é justiça e muito menos solidariedade e segurança social. Justiça é tratar a todos por igual, sancionar os criminosos e premiar os cumpridores. Há ricos que enriqueceram ilicitamente, sim, mas também os há que geram emprego e desenvolvimento.
Fica-se, portanto, com a ideia de que a esquerda unida está votada a fazer de Portugal uma nova Venezuela, ou uma nova Cuba. Outros modelos não se lhe conhecem, para lá da Coreia do Norte, de formato mitigado, porque, para já, não pensam em bombas atómicas e o BE até defende a extinção das tropas especiais. Embora possa vir a criar a sua própria guarda revolucionária, se o deixarem, para meter os aforradores na cadeia.
Esquerda unida que não tem tido o braço suficientemente lesto e comprido para apanhar aos grandes agiotas nos distantes paraísos fiscais, nem mesmo no próprio palácio de São Bento, mas a quem não escapa o humilde contribuinte.
É com o PS esparramado à esquerda, portanto, que a geringonça tem vindo a derivar para ocidente rumo a Cuba e à Venezuela. Um tanto ao arrepio de Jerónimo de Sousa que vê mais longe, e preferiria, por certo, voar para o extremo oriente, para a Coreia do Norte do senhor Kim Jong-un.
Está visto: lamentavelmente os nossos políticos não sabem como curar Portugal. São aprendizes de feiticeiro que pretendem salvar o paciente com mezinhas de esquerda, ou panaceias de direita, que mais agravam a doença.
Resta-nos a esperança de que mais lúcidos e sensatos governantes surjam enquanto é tempo, ministrem mais adequadas medicinas e coloquem o país em rumos mais saudáveis. Os da Suíça ou da Noruega, por exemplo.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

A brama dos veados no Parque Natural de Montesinho

Ter, 04/10/2016 - 09:28


Olá familiazinha! Segundo reza o «Seringador», no mês de Outubro, devem-se semear ervilhas, favas, lentilhas, nabos, rabanetes, cenouras, espinafres (que se colhem pelo natal), coentros e agriões. No mesmo mês também se plantam espargos, couves, beterrabas e alhos, que devem ser plantados cedo e agradecem uma boa adubação potássica.
O que se pode colher ou apanhar são as castanhas, as nozes, as avelãs, as amêndoas, as abóboras, e os melões de inverno. Apanham-se ainda ameixas, figos, limões, maçãs, pêras, romãs e uvas. Nesta altura acabam-se as desfolhadas e as vindimas.