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Inquisição – lutas políticas – limpeza de sangue Em Bragança, os Portilho e os Ferreira

Porventura nenhuma lei exerceu tamanha influência no viver coletivo dos Portugueses como as da limpeza de sangue. De certo modo, a nossa maneira de estar em sociedade foi moldada por essas leis.

E nenhuma outra lei se tornou instrumento de poder tão eficaz como esta, permitindo a uma pequena elite decidir do rumo do país e da vida de qualquer cidadão. Foi esta terrível arma que sustentou o poder político da inquisição, praticamente absoluto, durante quase 300 anos. Com estas leis, a inquisição dominou a sociedade, nos mais diversos sectores, instaurando em Portugal um autêntico reino de medo e terror. Com extraordinário apoio popular, obtido à custa da religião – refira-se.

Medo e terror, não apenas sobre os cristãos-novos, esses considerados, à partida, infetados de sangue herético. Também sobre os outros, os cristãos-velhos, aparentemente tidos como limpos de sangue. Aparentemente, porque, à partida, ninguém era considerado de sangue limpo e para qualquer um que pretendia ascender na escala social a qualquer cargo ou emprego, tornava-se necessário provar que era cristão-velho, provar a sua limpeza de sangue. Se não conseguia provar, o acesso era-lhe negado. 

Para isso, se instruía um processo no tribunal da inquisição, pois só os inquisidores podiam atestar a limpeza de sangue. E bastava alguém, por convicção ou má-fé, dizer que sobre o candidato pairava um rumor de ascendência hebreia para o processo se complicar. E se o pretendente via o pedido recusado, era o gáudio de seus inimigos, que arrastavam o seu nome pela “rua da amargura” – como em Trás-os-Montes se diz. Por vezes, um tal processo tornava-se um sorvedouro de fortunas, prolongando-se as comissões e as diligências por dezenas de anos.

Um caso que estudámos, verdadeiramente exemplar, foi o de Manuel Soeiro de Morais, filho do capitão-mor de Mogadouro. Para se ordenar padre, teve de provar, perante o Sr. Bispo, que era limpo de sangue. Ascendeu depois ao cargo de prior de Monsaraz, no Alentejo. Em julho de 1721, apresentou um requerimento para ser nomeado comissário da inquisição,(1) logo depositando uns 6 mil réis, para abertura do processo.

Iniciou-se o processo com investigações “secretas” em Monsaraz, sobre a personalidade do candidato, seus recursos financeiros, capacidades intelectuais, hábitos e modo de vida, conduzidas por um comissário do santo ofício.(2)

Idênticas investigações em Trás-os-Montes sobre a limpeza do seu sangue.

Nada em contrário foi assinalado nestas investigações preliminares e, por isso, o processo continuou com investigações formais, ouvindo-se, em declarações judiciais, juramentadas, um mínimo de 10 testemunhas.

Como seus avós eram originários de Mogadouro, Azinhoso, Moncorvo e Linhares (Carrazeda de Ansiães), o comissário nomeado para a diligência e o escrivão por este escolhido tiveram de se deslocar a essas terras, e em cada uma delas, fazer um interrogatório rigoroso às testemunhas escolhidas.

Em Torre de Moncorvo, uma testemunha disse que o candidato descendia de uma tal Mécia, vinda de Portilho, próximo de Valhadolid, para Vimioso e foi casar a Bragança, com Francisco Borges.

Foi a entrada num verdadeiro labirinto de investigações genealógicas, que se estenderam a Vimioso, Bragança, Vinhais, Chaves… Valhadolid, Portilho, Cuéllar, Madrid, Barcelona… arquivos paroquiais de muitas terras de Portugal e Castela… arquivos episcopais de Braga e Miranda do Douro…

Em fevereiro de 1739, ao cabo de 18 anos de investigação, à 5.ª vez que o processo foi julgado no conselho geral da inquisição e rios de dinheiro em despesas, pagas pelo interessado, foi o seu requerimento deferido, concluindo os inquisidores que Mécia Portilho era de ascendência “tão antiga como nobre e limpa de fama e mácula”.

Assim, deram como provado que Rui Gonçalves de Gusman, pai de Mécia portilho, fora um dos fidalgos castelhanos que prenderam o rei de Navarra, na “guerra dos comuneros”, em 1521. E derrotados que foram os “comuneros” por Carlos V, Rui Gonçalves fugiu de Espanha com a mulher e a filha. Esta casou em Bragança com Francisco Borges, um dos homens de maior nobreza de Trás-os-Montes com descendentes ilustrando a generalidade das casas nobres trasmontanas.

Obviamente que ao longo do processo ressaltam lutas políticas entre grupos familiares nas diferentes terras, especialmente em Freixo de Espada à Cinta, Torre de Moncorvo e Bragança.

O que não ficou bem clarificada foi a origem da fama de sangue judeu dos Portilho. Segundo algumas testemunhas o boato foi posto a correr logo no início, à data do casamento de Francisco Borges de Meireles com Mécia Portilho, pelos familiares daquele, os quais ambicionavam herdar a sua fortuna, pois era homem muito rico.

Não foi essa a versão apresentada pela generalidade das testemunhas, nomeadamente por José Cardoso Borges, escrivão da câmara e sargento-mor do concelho de Bragança, genealogista de grande seriedade e arguto documentalista. Depois de falar no casamento de Francisco Borges e Mécia Portilho, apresentou os filhos do casal:

Manuel Borges, que viveu em Vimioso e lá tinha descendentes.

Rui Borges Portilho, que foi cavaleiro da ordem de Malta(3) e, em 1537, deixou a sua assinatura “no tombo antigo e escrituras da câmara”, juntamente com o pai, os camaristas e Gonçalo Vaz do Rego, fidalgo de Vimioso.

Maria Borges Portilho, que casou em Torre de Moncorvo, com Francisco de Castro.

Ana Borges de Portilho, casada em Bragança, com Gaspar Mendes de Abreu, comendador de S. Nicolau de Basto, com descendência em Chaves e ligação à família de Martim de Sousa, que foi governador da Índia.

Sobre a fama de sangue infeto dos Portilho, Cardoso Borges e outras testemunhas contaram que tudo teve origem com Francisco Ferreira de Sá, morador em Bragança, comendador de Lamas. Querendo este casar com uma Portilho, viu negadas as suas pretensões e daí resultaram as inimizades.

Temendo-se dos Portilhos, Francisco Ferreira de Sá alcançou, do rei D. João III uma provisão que lhe permitia andar com seus criados armados de chulas.(4) Provisão “que eu vi” – acrescentou Cardoso Borges.

Facto é que dois membros da família dos Portilho foram mortos em uma escaramuça, por Francisco Ferreira de Sá, no sítio de Negreda, termo de Bragança. E por muitas décadas, ou até mais de um século, ele e os seus descendentes guardaram como troféu a lança do crime e disso se orgulhavam publicamente.

Entretanto, a fuga dos Portilhos, de Espanha para Portugal, foi pelos seus inimigos associada à fuga dos judeus, espalhando-se até o boato que a mãe de Mécia Portilho foi relaxada pela inquisição em Valhadolid. E, encontrando-se numa igreja de Bragança a mulher de Francisco Ferreira de Sá e uma mulher da família dos Portilho, aquela a insultou chamando-lhe judia.(5) E esta teria sido a origem da fama da infeção dos Portilho.

 

Notas:

1 - TSO-CG, Habilitações, Manuel, mç. 114, doc. 2083.

2 - Nas investigações deste processo participaram os seguintes comissários da inquisição: João Pinto Cardoso, abade do Felgar; Francisco Luís Henriques, Monsaraz; Gregório Trigo de Magalhães, do Vilarinho da Castanheira; Manuel Matos Falcão, de Braga; António Álvares Moreno, reitor de Mirandela; Roque de Sousa Pimentel, abade de Vinhas; Francisco Jácome Figueiredo, de Soutelo, Lamego; João de Sá Pereira do Lago, comissário em Bragança; José de Sá Pereira Cabral, de Viseu; António Luís Noga, reitor de Alfândega da Fé; Tomás Gomes da Costa, de Sobreiró, Vinhais e Manuel Reis Bernardes, do Porto.

3 - Idem, tif 432: — Consta outrossim, por instrumentos públicos autênticos e antigos, que fazem grande fé nesta matéria e um deles, feito no ano de 1577, que Ruy Borges foi cavaleiro do hábito de S. João de Malta…

4 - Idem, tif 232 — Francisco José Sarmento Lousada disse: — Por serem muitos mais os parentes da tal família dos Portilhos que os parentes do dito Francisco Ferreira de Sá, alcançou este, uma provisão de sua majestade, o senhor rei D. João III, para trazer consigo seus criados armados com chulas e outras armas secretas, enquanto durasse a inimizade do sobredito Francisco Ferreira de Sá com Pedro Álvares, desta cidade, descendente desta família Portilho, cuja certidão tem ele testemunha em seu poder.

5 - Idem, tif 513: — E a razão desta suspeita se funda na grande inimizade que sempre houve entre estas duas famílias dos Ferreira e Portilho, originária de os Portilho não quererem dar uma filha para casar com os Ferreira, de que resultou duas mulheres de ambas as famílias chegarem a rasgar os mantos na igreja do Colégio de Bragança.

Leques são a nova tendência do street style e os melhores amigos das fashionistas

O leque já não é apenas o “recuerdo” que trazemos de Espanha para a mãe, a tia ou a avozinha.

Efectivamente, o leque é o acessório “statement” e está a conquistar novas adeptas.

O leque é um acessório usado há séculos.

Segundo alguns autores o tipo de leque mais conhecido nos dias de hoje teve origem na China no século VII. Este mesmo leque inventado na China chegou ao Japão, e é lá que os europeus descobrem a novidade, trazendo-o para a Europa nos fins do século XV, pelas mãos dos portugueses quando começaram a estabelecer rotas comerciais com o Oriente. Há estudos que afirmam serem os padres jesuítas os responsáveis pela introdução do leque na Europa e não os comerciantes. Começou a ser muito utilizado por mulheres de classes sociais elevadas, mas rapidamente popularizou-se passando a ser utilizado por todas as classes sociais.

A rainha Isabel I de Inglaterra, no séc. VI, era sua adepta, e só aceitava um presente: o leque! Não surgia em público sem este acessório ao pescoço, preso por uma corrente de ouro.

Nos séculos seguintes, ele foi um símbolo da nobreza e alta burguesia. Sempre que havia uma festa, as mulheres abanavam o acessório com luxúria e, muitas vezes, tinham mesmo empregadas dedicadas a esse trabalho.

O mundo evoluiu e o leque tornou-se um acessório comum. As avós começaram a usá-lo nos dias de maior calor, enquanto tomavam o chá das cinco, e o leque passou a ser um dos melhores “recuerdos” que se traz de uma visita a Espanha , uma vez que está muito associado a este país, pois afinal, o leque faz parte do flamenco, dança culturalmente associada a este país.

Sempre foram muito usados por mulheres autoconfiantes, ícones de estilo, em dias de temperaturas elevadas.

Ao que parece, o leque promete ser um “must-have” deste verão. Nas ruas das principais capitais da moda, como Paris, as influencers têm adotado a tendência, normalmente conjugada com looks clássicos descomplicados, como um fato monocromático e sapatilhas.

Por isso, tudo o que temos a fazer é colocar um belo leque na carteira para nos refrescarmos quando o calor “aperta”! Nada mais chique e mais fashion!

A alergia do Taumaturgo

No dia 12 de Junho correspondi a convite da Âncora Editores, apresentei-me na Feira do Livro a fim de participar numa sessão de autógrafos na companhia do meu estimado amigo Paulo Amado director da revista de culto INTER onde escrevo desde o primeiro número. Assinados alguns livros, distribuídos beijos e abraços, o editor insistiu connosco para assistimos à apresentação do livro mais recente de António Monteiro dedicado às amêndoas da sua terra, Moncorvo.

A Feira do Livro no meu entendimento significa Jardim do Paraíso ou das Delícias literárias e afins dado número de obras em exposição, a presença dos cultores da língua na qual expressam sonhos, desejos cordatos ou extravagantes, teorias incluindo as conspirativas, proclamações e sentenças, enfim o referido Paraíso e suas periferias residuais ou remate de presunções ridículas. Entrei no auditório, palavras de cortesia de António Batista Lopes, passando de imediato a palavra ao apresentador da referente a amêndoas cobertas pelas mestras doceiras moncorvenses, que não identifico pois a perspicácia dos leitores o fará num ápice temporal.

O encarregue da tarefa de dissertar acerca do trabalho de António Monteiro, por quatro vezes aludiu à cozinha conventual colocando no alçapão da obscuridade a cozinha monacal (dos Mosteiros tão importantes no estabelecimento de fronteiras e identidades na Antiguidade e Idade Média). Falou de marmelos e marmelada, do pudim Abade de Priscos, no caderno de receitas da mãe, nas mãos de Maria de Lurdes Modesto, disse não ter pruridos em escrever como fala, conseguiu desconsiderar a nossa língua de modo a soltar a ira dos grandes prosadores caso estivessem a ouvir a diatribe, e não conseguiu referir que os «palavrões» inseridos no referido livro serem meros regionalismos tão bem plasmados nos nas suas importantes obras por Aquilino Ribeiro e Tomaz de Figueiredo. Os da língua charra foram pacientemente coligidos pelo escritor e investigador nosso conterrâneo A.M. Pires Cabral, autor de referência no reino maravilhoso e para lá dele.

A errante e caleidoscópica apresentação não passou de auto-elogiosa e rufada a bombo e prato a transmontanice, levou-me a perguntar a razão do esvaziamento da cozinha monacal ao que o falador não respondeu, no entanto, soltou palavras dizendo ser uso o termo conventual englobar os dois conceitos o que é uma redonda regueifa de falácias.

Se assim fosse apagava-se das crónicas e cronicões a formidável alta cozinha dos monges de Alcobaça, ou a do Mosteiro de Santa Maria e Arouca e a da doçaria do meu vizinho Mosteiro de Almoster, bem como de dezenas e dezenas de outros centros irradiadores da Cristandade. Sendo mais radical, tudo quanto emanasse dos mosteiros passava a conventual. Enfim, a asneira não paga imposto, dirão as monjas e monges ainda vivos e a honrarem os seus pergaminhos. Doutores da Igreja e Santos.

Ora, o tropeço deu-se na véspera do dia consagrado ao nosso Doctor Eximius, insigne pensador e pregador, Taumaturgo amigo dos namorados e milagreiro do considerado muito difícil de ser obtido. Confiado nisso pensei que o Santo concederia bom senso, sabedoria e substância ao discurso do dissonante dos mosteiros, engano rotundo. O parente do poeta Alexandre O’Neill revelou alergia a fazer o custoso milagre, preferiu verificar os prelúdios da festa nocturna da sardinha assada, da sangria, do vinho e da cerveja. O querido Santo é sábio não gastando energias em vão, sabe por experiência que quem não consegue acertar o passo não merece desfilar na parada, colar os cacos de uma bilha de descuidadas namoradeiras é fácil, assaz trabalhoso é refrear a tendência niveladora por baixo da presunção estrídula escorada «no deve ser».

Apesar do escusado gasto de energias tive feliz compensação ao encontrar no Auditório um Senhor de Avelanoso leitor deste jornal cujo filho está completar o doutoramento em Pequim, e também colaborador do Nordeste, trocamos pontos de vista e amenidades a apagarem as facécias acima referenciadas. Apesar da alergia do Santo padroeiro de Lisboa, acredito na sua bondade expressa no inopinado encontro.

Tenho esperança de esta crónica ir agradar a fiel leitor de Avelanoso. Espero que sim!

Espanha vence terceira edição da “Trasfronteriza”

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Seg, 17/06/2019 - 11:42


Foi batido o recorde de participantes no duelo ibérico de trail running. Este ano, a competição começou em Zamora, Espanha, e terminou em Portugal, na aldeia de Rio de Onor, no concelho de Bragança, e contou com 550 atletas.