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Mais duradoura que o mármore e o metal

Em dezembro de 1983 a Imprensa Nacional – Casa da Moeda fez uma edição, fac-similada do livro Bragança e Benquerença escrita pelo coronel Albino dos Santos Pereira Lopo em 1988 e 1989 e dada ao prelo em 1900 na Imprensa Nacional. O ilustre brigantino justifica a sua obra dizendo que “Não tem Bragança uma história, e ahi ficam alguns materiais, que pouco a pouco fui descobrindo e ajuntando para ella;”. Passa depois ao relato de vários episódios documentados ou deduzidos, bem como à descrição de muitos monumentos, achados arqueológicos, ruínas e restos da passagem dos nossos antepassados que, em boa verdade, constituem a trama da História de Bragança. Mas não a fazem só por si. E foi, precisamente, por reconhecer tal evidência que a autarquia bragançana encomendou ao CEPESE a excelente obra “Bragança, das origens à Revolução de 1820” como complemento da outra, “Bragança na época contemporânea – de 1820 até aos nossas dias” com valiosos contributos de vários e reputados autores, coordenadas ambas por Fernando de Sousa. Estes quatro volumes fazem a história de capital do nordeste baseados nas evidências históricas existentes desde há muito (desde os primórdios) e é assim que Bragança ganha a história que no início do século XX não tinha. Porque, no dizer de Borges, as “palavras são mais duradouras que os mármores e os metais”. Este postulado foi enunciado pelo escritor argentino na sequência da história do poema “Kubla Khan” publicado por Samuel Taylor Coleridge em 1816. Esta obra é o fragmento de um sonho do autor, uma vintena de anos antes em que lhe fora descrito o palácio mandado construir por Kublai Khan. A conclusão de Jorge Luís Borges resulta da observação factual: o grandioso edifício mandado erguer pelo sucessor do grande e temido Gengis Kahn há muito que desapareceu mas o poema do autor britânico, apesar de incompleto, continua intacto e perdurará. Ao contrário das construções em pedra, os livros têm a virtualidade de, podendo ser facilmente transportáveis e havendo sempre vários originais da mesma obra literária, resistem à erosão do tempo e dos ataques que lhes possam ser movidos. O Estado Islâmico destrui milhares de livros mas não há notícia de nenhuma perda irrecuperável, para a humanidade, ao contrário do que aconteceu com a cidade histórica de Palmira que já não há qualquer hipótese de recuperação. As estátuas, as rotundas, as pontes suspensas e até os museus, poderão ter muitos anos de vida mas, por muito que durem, nunca terão a mesma longevidade das palavras que, impressas, são eternas. Numa altura de campanha eleitoral, os autarcas e candidatos deveriam refletir se querem ter uma atuação cultural efémera ou que perdure para lá dos seus mandatos provisórios. Finalizando e em jeito de conclusão, é necessário e adequado reconhecer que uma atuação equilibrada não implica a exclusão de nenhum dos campos em análise. O edil brigantino demonstrou, ao contrário de outros, menos esclarecidos, que é possível erguer museus, instalar rotundas, levantar estátuas, patrocinar celebrações históricas sem deixar de apoiar a escrita e os escritores. Porque é com palavras, “mais duradouras que o mármore e o metal” que se faz a história.

O 25 de Abril de novo nas mãos do general Eanes.

I mporta começar por relembrar a história ainda que seja recente, por demais conhecida e não requeira grandes lucubrações. Em 25 de Novembro de 1975, no auge do PREC de triste memória, forças de pendor comunista indiferenciado, desencadearam um alargado golpe militar com o objectivo de instaurar em Portugal uma réplica de uma das repúblicas populares na altura existentes: russa, chinesa, cubana ou mesmo albanesa. Acabou num cozido à portuguesa socialista que ainda fumega. António Ramalho Eanes foi o coordenador principal das forças militares escorreitas que restavam e que patrioticamente neutralizaram o golpe comunizante, recolocando Portugal na senda da plena integração no espaço político, económico e cultural europeu, como era pensamento, ainda que vago, da maioria dos militares empenhados no golpe de 25 de Abril d 1974. Lamentavelmente, porém, o processo político já havia sido perniciosamente inquinado pelo PREC que de forma violenta, convém não esquecer, condicionou a Assembleia Constituinte da qual derivou a nova Lei Fundamental e a associada Organização do Estado, que continua a ter na hegemonia partidária e na impunidade dos políticos e afins a sua marca de água. Acresce que as forças que derrotaram o golpe comunista de 25 de Novembro não tinham meios, nem poder e muito menos vocação para corrigir os erros cometidos no decurso do PREC, donde resultou que o Estado continuou desbragadamente a atolar-se num pântano político, económico, social e ideológico. Assim se compreende que o Regime político em vigor seja de duvidosa democraticidade, escandalosamente corrupto e se alimente impunemente do nepotismo, do compadrio e do sistémico endividamento público. Como se de um bacalhau com todos se trate mas cujas espinhas é o povo que as come. O pecado original, porém, é bom que se diga, não está nos políticos e nos governantes em geral, que o mesmo é dizer no senhor Marcelo de Sousa, no senhor António Costa, no senhor Rui Rio, na senhora Catarina Martins ou mesmo no senhor Jerónimo de Sousa, em particular. Está, isso sim, no Regime político vigente comprovadamente incapaz de se reformar e de gerar e promover melhores governantes e mais justos magistrados, pedras angulares do edifício democrático. Regime que acaba de alcançar o seu maior esplendor com a governança de António Costa, coroada do nepotismo mais desavergonhado e bem recheada de pequenos títeres disfarçados de democratas que, entre outras coisas não menos graves, não se coíbem de colaborar com déspotas do calibre do russo Putin, pondo em perigo a vida de manifestantes opositores desta sinistra personalidade, como será o caso dos que foram referenciados à embaixada russa, por forças afins da Câmara Municipal de Lisboa. Não há inocência de burocratas, neste caso, mas incompetência senão mesmo conivência de políticos. O que faz lembrar o sinistro envio para Moscovo, em 1975, dos ficheiros da PIDE/DGS de má memória. Manda a verdade que se diga, porém, que António Costa não tem a exclusividade das maldades que desfiguram a democracia. Outros enfermam dos mesmos vícios, embora não deixe de ser verdade que António Costa e o PS que o suporta são campeões nesta matéria. António Costa que se tornou mais presunçoso do que já era desde que o BE, que agora se diz social-democrata, e o PCP, que se rendeu à democracia liberal, têm dado cobertura aos seus maiores dislates, tendo como música de fundo o fado vadio socialista. Em consonância com Rui Rio que lhe tem estendido o tapete vermelho e do próprio Presidente da República que com palavrinhas seráficas e cafunés o tem apaparicado, porque de outra coisa não será capaz ou para mais não terá rasgo, ou sensatez. Como se os escândalos não bastassem, António Costa acaba de nomear um super “boy”, super bem pago, servido por uma super equipe, para organizar uma super comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, com os folguedos da corte a distender-se por 5 longos anos. É por demais óbvio que em causa estão, tão-somente, a glorificação do PS e a simultânea consagração do Regime corrupto. Para maior brilho e glória Marcelo de Sousa ousou que o prestigiadíssimo Ramalho Eanes aceitasse presidir ao acto, o que é, sem dúvida, a cereja no topo do bolo. Ironia do destino! Eanes, depois de tantas vicissitudes, tem novamente nas mãos a possibilidade de liderar um novo 25 de Novembro, regenerador do 25 de Abril, que poderá acontecer em Abril ou em Maio, quando melhor lhe aprouver. Basta que faça uso, motivos já não lhe faltam, das armas da dignidade e do prestígio, da força da sua palavra e do seu patriotismo e mais um alto serviço prestará a Portugal e à Democracia. Uma coisa é comemorar o 25 de Abril que instaurou a democracia. Outra será celebrar as traições, os crimes e as tragédias cometidas sob a égide do PREC..

Bragança : A Nação Judaica em Movimento - 11 - Os Albuquerque em Bragança com as raízes em Vinhais

Corria a segunda semana do mês de Setembro de 1589. Na cela do canto do corredor da cadeia da inquisição de Coimbra, estavam presas 5 mulheres Trasmontanas, por culpas de judaísmo. Uma delas chamada Ana Fernandes, 50 anos, era natural e moradora em Vila Real, outra era de Vimioso, dava pelo nome de Isabel Álvares e 3 eram moradoras em Vinhais. Vamos identificar estas: Maria Dias, natural de Miranda do Douro, viúva de Afonso Cardoso; Joana Barba, 17 anos, solteira, “cosedeira” de profissão, filha de Francisco Lopes e Filipa Serrão; Genebra Lopes, 19 anos, presa há mais de um ano, que acabara de ser mudada para aquele cárcere. (1) Naquele dia, as 5 mulheres foram alertadas por uma voz “que vinha pelo corredor” misturada com alguns espirros e que repetia: - O bem feito bem parece… Apurando o ouvido e impondo silêncio, Genebra Lopes, concluiu para as companheiras: - Eu conheço aqueles espirros… Aquela voz… parece a minha irmã! E depois, falando mais alto, respondeu: - Bicha. Deus vos deixe ver vosso esposo em bem. Bicha esperixilada, era a alcunha com que Genebra e os irmãos “crismaram” em criança a sua irmã Beatriz Nunes, que se apresentava como “cosedeira e aprendeu costura com sua irmã Genebra Lopes e se criou com sua mãe até ser mulher”. Nos dias seguintes as duas irmãs continuaram comunicando-se. Genebra perguntou à irmã se tinha já confessado seus pecados. Ela respondeu que não. A partir daí, Genebra, que era mais velha que a irmã, tudo fez para a convencer a que confessasse, conforme contou Francisca Dias, (2) solteira, 19 anos, também natural e moradora em Vinhais, companheira de cela de Beatriz: - Dali em diante, por espaço de 4 dias, falaram sempre sobre isso, até segunda-feira em que a dita Beatriz Nunes se determinou a confessar (…) até que ela declarante lhe disse que falasse e que dissesse “o que era bem feito bem parecia” para que Genebra Lopes entendesse que ela estava confitente; e Genebra Lopes deu sinais de folgar muito com isso dizendo-lhe que “boa bênção a cobrisse” (…) segunda- -feira deixaram de falar porque, sendo pressentidas, o alcaide lhes fechou a porta e as mudaram. (3) Vamos até Vinhais, ao ano de 1582, quando o abade de Vila Flor, inquisidor de Évora, andava por ali à “caça de judeus”. No caminho de Agrochão para Vinhais seguiam dois homens novos, que viriam a ser contra-cunhados: o médico Francisco Ramos e o seu amigo Bernardo Serrão, casado com Genebra Lopes. (4) E comentando a visita de Jerónimo de Sousa a Vinhais, os dois se declararam crentes na lei de Moisés. Isto contou o médico, 6 anos depois, aos inquisidores, estando preso em Coimbra. E acrescentou que, 4 anos depois, “foi ele denunciante a casa de Bernardo Serrão, em Vinhais, o qual já estava apartado com sua mulher e ele confitente ia a curar uma sua criada. E depois de curar, estando ele confitente com o dito Bernardo Serrão e a dita sua mulher Genebra Lopes e Beatriz Nunes, irmã da mesma, agora esposada com Pedro Vaz (…) e estando os 4, jejuaram todos naquele dia até à noite”. Esta foi uma das denúncias que levaram à prisão de Bernardo Lopes e sua mulher, em Junho de 1588, sendo moradores na Rua Nova de Vinhais e também à prisão de Beatriz Nunes, que então já morava “ao pé do castelo”, em Bragança, onde casara com Pedro Vaz, mercador e rendeiro. (5) Não vamos analisar estes processos. Diremos tão só que Beatriz Nunes saiu no auto da fé de 26.11.1689, condenada em confisco de bens, cárcere e hábito perpétuo, que lhe foi tirado em Julho de 1596, contra o pagamento de uma “esmola de 100 cruzados” – 40 000 réis! Melhor sorte teve Leonor Nunes, outra irmã de Beatriz e Genebra, a qual não terá sido incomodada pela inquisição. Viveu em Vinhais, casada com Francisco de Albuquerque, mercador e tiveram 2 filhas que foram casar e morar em Bragança. Situemo-nos então em Bragança no ano de 1661, quando a inquisição para ali deslocou o inquisidor Manuel Pimentel de Sousa a iniciar a instrução de processos, evitando que o tribunal de Coimbra ficasse “entupido” dada a quantidade de judaizantes brigantinos que desejavam apresentar-se. Pois, entre aquelas dezenas de processos, encontramos 5 instaurados a filhos e netos de António Albuquerque, irmão de Francisco, casado em Bragança com Josefa Pimentel. Um destes processos respeita ao filho, Manuel Pimentel Albuquerque, preso em Janeiro de 1661. Tinha 39 anos e era casado com Maria de Faro, a qual, vendo o marido preso, resolveu apresentar- -se ao inquisidor Pimentel de Sousa, em Bragança, em Março seguinte. Também ela acabou por ser presa, em Julho de 1662, saindo ambos condenados em confisco de bens, cárcere e hábito no auto de 9.7.1662. (6) Outro dos filhos, chamava-se Francisco de Albuquerque, como o tio paterno morador em Vinhais, acima referido. Era ourives da prata, uma profissão muito comum na família dos Albuquerque - Pimentel. Em 11.2.1661, contando uns 45 anos, Francisco Albuquerque apresentou-se na inquisição de Coimbra. (7) No dia seguinte foi-lhe dada ordem para regressar a Bragança, de onde não poderia ausentar-se, sem licença. Em 1685 foi novamente chamado a Coimbra com sua mulher, Filipa Serrão… mas seria já falecido, na cidade do Porto. No mesmo ano de 1661, foram também apresentar- -se na inquisição uma filha e um filho de Francisco Albuquerque. A filha chamava-se Catarina da Costa e era moradora em Mirandela, casada com outro Francisco Pimentel, ourives da prata. E também ourives da prata como o cunhado e o pai, António Albuquerque tinha 18 anos quando se apresentou em Coimbra, sendo igualmente mandado regressar a Bragança. Chamado de novo em Dezembro de 1665, foi sentenciado no auto de 9.2.1666. (8) Feliciano Albuquerque, um terceiro filho de António Albuquerque e Josefa Pimentel, contava 34 anos quando se apresentou, em 1661, juntamente com a sua mulher, Luísa Mendes, e foram autuadas as suas confissões. Anos depois, em 5.1.1666, foi preso pela inquisição e sentenciado no auto de 13.2.1667, enquanto a mulher seria chamada a Coimbra em Abril de 1670 para ser sentenciada em 14.3.1671. (9) De entre os irmãos de Francisco e Josefa Pimentel, uma referência para Maria Nunes que casou com João de Sória, membro de uma família que foi muito importante em Castela, chegando um dos seus membros, António de Sória, a tornar-se rendeiro, com o monopólio da venda do tabaco em Múrcia, bem como a cobrança dos “millones” (imposto sobre o pão e o vinho) e do imposto sobre “os currales de comédias”. Foi preso pela inquisição de Cuenca em 1654, no seguimento das exéquias, com cerimónias eivadas de judaísmo, de Manuel Cortiços, do qual, António de Sória foi representante e testemunhou a sua limpeza de sangue no processo para a entrada na Ordem de Calatrava. Para além de outras penas, António de Sória foi condenado a pagar mil ducados (1 conto e 600 mil réis). (10) A sua mulher, Maria de Sória, nascida em Madrid, fugiu para Bayonne. Maria Nunes e João de Sória tiveram um filho, chamado Francisco de Sória Pimentel, que foi homem de negócios em Toledo e trazia dois filhos a estudar em Salamanca. No próximo jornal falaremos de outra irmã, Francisca Henriques e sua filha Ana Pimentel.