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Quem governa Portugal, afinal?

Há sinais preocupantes de que a pandemia ameaça lançar Portugal num verdadeiro pandemónio. 
Sobretudo no que à política diz respeito com a generalidade dos políticos a dar provas de não estar à altura dos acontecimentos, dando crédito ao sentimento popular que aponta nesse sentido. 
O exemplo mais recente é a tragédia do lar de Reguengos de Monsaraz à qual o truculento António Costa respondeu com a grosseria que é seu timbre, procurando redimir-se de mais um trágico fracasso da sua administração. 
Valeu-lhe, desta vez, a inocência do bastonário da Ordem dos Médicos que se prestou a passar de acusador a cúmplice.
No ataque à crise sanitária o Governo continua a não saber às quantas anda e a Oposição dá uma no cravo e outra na ferradura.
No que à gestão da crise económica diz respeito a direita tradicional nada de bom acrescenta, nem de mau tira, à política avulsa do Governo, enquanto as esquerdas peregrinas persistem na agitação social e na demagogia irresponsável.
O BE, mais precisamente, travestido de social-democrata para o baile eleitoral, anda a promover o racismo a preto e branco, que diz combater, esquecendo os ciganos, entre outros, porque estes não estão pelos ajustes.
Emblemática é a teimosia do PCP que persiste em realizar a Festa do Avante contra tudo e contra todos, desafiando ostensivamente o Governo que mete os pés pelas mãos e responde com a costumeira frouxidão. 
Entretanto continuam palpitantes, quiçá para sempre, porque envolvem altos governantes e banqueiros, múltiplos crimes de colarinho branco com contornos de traição à Pátria.
Também não é novidade para ninguém que o primeiro-ministro dá prioridade à gestão dos interesses da alargada família socialista em detrimento do interesse nacional e do governo da Nação.
Enquanto o presidente da república, na opinião de analistas autorizados, continua apostado em bater o record de votos da desgraçada democracia portuguesa, em competição com o defunto Mário Soares.
Governar, porém, é muito mais do que prostituir o poder democrático, arte em que António Costa se celebrizou.
Não é de espantar, por isso, que a massa anónima de descontentes em que prevalece o atávico sentimento nacional esteja a crescer a olhos vistos e a ganhar decisiva força eleitoral.
De tudo isto tira partido a novíssima direita, ainda em formação, para se afirmar e crescer vertiginosamente.
Enquanto os partidos situacionistas e os depredadores do Estado, tentam desesperadamente debelar o fenómeno associando-o a fantasmagóricas emanações fascistas.
Melhor seria que parassem de gritar “aí vem lobo” e tratassem de concertar as reformas fundamentais, enquanto é tempo.
Nunca a democracia esteve tão periclitante e tantas dúvidas houve sobre quem na verdade governa Portugal.
Serão os chineses da EDP? Os agiotas do Novo Banco? É Bruxelas? Serão sociedades secretas? Será o velho e alquebrado Jerónimo de Sousa? A teatral Catarina Martins? O inefável Mamadou Ba? A encantadora Joceline Moreira?
Serão as televisões? Os jornais? Os “entertainers” Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira? 
São os cães? São os gatos?
Eu diria que todos desgovernam à vez e que ninguém governa coisa nenhuma. E que Portugal continua ao deus-dará.
Que está nas mãos dos incendiários políticos e florestais.
Ao sabor do Covid.

Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.
 

Senhora da Assunção

No verão, muito mais do que no inverno, chegam saudades da Terra Quente Transmontana. Este ano, por causa da Covid, são maiores, compreensivelmente, por ter feito muito menos visitas. A receita é clássica e tem já vários anos: aproveito os momentos de lazer para ler os bons autores do nordeste. João de Sá é um dos eleitos. 
A prosa do escritor vilaflorense é de leitura muito agradável e muito poética. A minuciosa descrição da paisagem, dos edifícios e dos vários intervenientes está recheada de metáforas e de várias considerações pessoais emocionadas e de enorme sensibilidade. Não lhe conheço (ainda) a obra toda mas as “Últimas Memórias” é, sem dúvida, das que li, a mais elaborada e envolvente. São variados os quadros vivos que desfilam pela pena do autor remetendo-nos para as suas lembranças de Vila Flor, desde a meninice até há poucos anos atrás, com uma sensibilidade realista, transportando-nos para o passado recente de muita gente da vila da Flor de Lis. Leio-o e sinto, inevitavelmente, nas minhas costas a presença do anterior autarca de Vila Flor, Artur Guilherme Vaz Pimentel, sussurrando-me ao ouvido: “Ó engenheiro, ora leia, ora leia... Isto é tão lindo!”. Foi ele que me deu a conhecer o poeta e narrador João de Sá, com os seus elogiosos e contagiantes comentários. O escritor faz-lhe justa homenagem, nas suas memórias, enaltecendo o genuíno e empenhado labor do saudoso Presidente da Câmara em prol da cultura. Porque esta, como muito bem refere, não se inventa nem se compra; vive-se e partilha-se. A memória de hoje versou a grandiosa romaria da Senhora da Assunção. Lembrei-me, a propósito, do livro “A Romaria do Cabeço” escrito pelo meu tio padre Joaquim da Assunção Leite, igualmente com o patrocínio da autarquia de Vila Flor. Complementam-se. O padre Leite relata-nos a participação na festividade, pelo lado de dentro, pelos olhos dos devotos e romeiros, enquanto João de Sá nos retrata a vila que, na véspera, saía à rua para ver a alegre, festiva e ruidosa chegada dos ranchos de populares, na madrugada seguinte assomava às janelas para lhes observar o cansado regresso e que, no próprio dia, ficava deserta pois todos os moradores, com raríssimas exceções, a 15 de agosto, rumavam ao monte sobranceiro a Vilas-Boas para homenagear a Virgem Maria. 
Por razões que não vale a pena esclarecer, conheço bem esta segunda visão. Durante muitos anos vi, nesse festivo dia, despovoar-se completamente a minha aldeia. A povoação acordava depois, languidamente e cansada, ao som das cornetas de plástico que os mais novos insistentemente tocavam, sem parar. 
Em conversa recente, com
o meu tio, soube da apreensão com que este ano se preparou a festividade. Soube, posteriormente, dos cuidados e das enormes restrições com que, apesar de tudo, se realizou a mais importante romaria transmontana. A Covid veio fazer a súmula dos dois textos, sem poesia, sem qualquer consideração pela fé do povo, sem qualquer pingo de humanidade. 
Sinais dos tempos.